Comissão presta solidariedade ao povo palestino em audiência pública
Participantes de reunião na ALMG nesta quinta (4) denunciam suposta prática de genocídio e defendem rompimento de relações do Brasil com Israel.
04/07/2024 - 20:10A audiência pública da Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizada na tarde desta quinta-feira (4/7/24) foi um grande ato de solidariedade ao povo palestino e de críticas ao suposto genocídio em curso promovido pelo Estado de Israel devido à disparidade de forças e métodos cruéis empregados na invasão da Faixa de Gaza. A reunião atendeu a requerimento do deputado Leleco Pimentel (PT), que comandou a reunião.
Ao longo da reunião foram dezenas de manifestações com o objetivo de diferenciar o antissionismo do antissemitismo e assim denunciar suposto assédio jurídico de entidades judaicas àqueles que defendem o povo palestino. Também foram recorrentes as declarações para dimensionar o nível injustificado de destruição imposto à Faixa de Gaza e, ainda, para defender o rompimento imediato de quaisquer tipos de relações diplomáticas, econômicas e militares do governo brasileiro com o Estado de Israel.
O grito “Palestina livre do rio ao mar!” também foi ecoado em diversas oportunidades, em alusão ao Rio Jordão e ao Mar Vermelho. Após um minuto de silêncio pelos milhares de palestinos mortos e desaparecidos, foi exibido um vídeo com diversas ações promovidas em Belo Horizonte pelo Comitê Mineiro de Solidariedade ao Povo Palestino. Conforme relatado, a entidade é alvo de ação judicial da Federação Israelita de Minas Gerais por suposta prática de xenofobia e antissemitismo.
O Comitê ainda entregou um dossiê reunindo informações sobre a situação trágica do povo palestino aos deputados Leleco Pimentel e Betão (PT) e à deputada Beatriz Cerqueira (PT), que participaram da audiência, assim como o deputado federal Padre João (PT-MG).
Leleco Pimentel anunciou que o documento será encaminhado pela Comissão de Cultura, juntamente com outros requerimentos, a várias instâncias do governo brasileiro para reforçar a luta pelo rompimento de relações brasileiras com Israel. “Essa audiência pública é uma contribuição para a preservação e reconhecimento do Estado Palestino. Hoje somos todos Palestina”, afirmou.
Em defesa da causa, o parlamentar citou dois projetos de lei de sua autoria, o primeiro deles instituindo o Dia Estadual de Solidariedade ao Povo Palestino, a ser celebrado em 29 de novembro, mesma data celebrada internacionalmente que faz referência ao dia, no ano de 1947, em que foi formalizada a partição da Palestina sem consulta prévia aos palestinos. O outro projeto reconhece o Comitê Mineiro de Solidariedade ao Povo Palestino como de relevância cultural, social e educacional.
Betão também se solidarizou com o povo palestino. “O ataque de Israel se tornou uma tentativa declarada de acabar com aquela população. E, infelizmente, a guerra em todo o mundo é algo extremamente lucrativo”, lamentou.
O parlamentar defendeu a criação de um único estado laico e democrático sobre todo o território histórico da Palestina, diante da constatação de que a experiência de dois estados não está dando certo desde 1948, ano de fundação do Estado de Israel. “Ninguém aguenta mais conviver com essa situação, sobretudo palestinos e judeus”, resumiu.
Incursão do Hamas foi seguida de guerra total de Israel
O mais recente conflito na região, que já dura décadas, começou após uma incursão surpresa de militantes armados do Hamas na fronteira de Israel em 7 de outubro do ano passado, que resultou na morte de centenas de israelenses e em dezenas de reféns. Como resposta, ainda no mesmo mês, as forças armadas israelenses invadiram a Palestina, dando início a uma crise humanitária sem precedentes na região.
Em contato permanente, mesmo que de forma precária, com familiares e amigos que enfrentam diariamente o caos em que se transformou a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, Tania Correa Abdala lembrou que alguns dos últimos números dão conta de aproximadamente 38 mil mortos, 40 mil feridos, 10 mil desaparecidos sob os escombros, 15 mil crianças órfãs.
“Quero deixar claro que somos antissionistas e não antissemitas. O que acontece lá é uma limpeza étnica promovida por um estado colonial sionista e racista. Eles nos consideram pior do que ratos e baratas. Israel agora foi atrás do futuro de Gaza e não está poupando nem mesmo médicos, professores e jornalistas, que ou são mortos ou presos e torturados”, exemplificou.
Por fim, Tania Abdala lembrou que as oliveiras são o símbolo do povo palestino. “Essas árvores têm raízes profundas, são resistentes, igual aos palestinos. E assim como elas, algumas milenares, nós vamos sobreviver a tudo isso, independentemente de quantos de nós tenham que morrer”, afirmou, emocionada.
Ela e outros defensores do povo palestino que participaram da audiência denunciaram que entre as ações genocidas de Israel está o impedimento do acesso à água, comida e medicamentos como forma de ampliar o número indireto de mortos entre os palestinos por meio da fome e das doenças. Dessa forma, defenderam a inversão da classificação do lado terrorista no conflito.
A médica Vera Maria Velloso Prates, da Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia, lembrou a desproporção dos números de vítimas de cada lado após o ataque do Hamas. “Dos mortos, 44% são crianças. Ninguém vai me convencer de que crianças são terroristas. E muitas delas, quando não morrem, ficam gravemente feridas e estão tendo os membros amputados sem anestesia. Dá pra imaginar uma cena dessas?”, indignou-se.
O presidente do Instituto Brasil-Palestina, Ahmed Shehada, lembrou que as críticas às ações de Israel não podem ser reduzidas a antissemitismo. “O anti-israelismo não significa antissemitismo. Nunca houve organização mais terrorista e criminosa do que o sionismo. E a luta do povo palestino não começou em 7 de outubro, mas vem de 106 anos de ocupação, primeiro britânica e agora israelense", afirmou.
Ele, no mesmo tom de outros convidados, denunciou a suposta tática sionista perpetrada em todo o mundo de tentar confundir os dois conceitos e assim intimidar o ativismo palestino por meio de assédio judicial. “Eles pretendem soterrar sob processos judiciais os críticos antissionistas, para que estes sejam levados a exaustão física e financeira, sejam desmoralizados e levados ao silenciamento”, esclareceu o criador do site OperaMundi, Breno Altman, que se define como judeu antissionista.
“O sionismo tenta sequestrar o judaísmo”, emendou Thiago de Ávila e Silva Oliveira, que se identifica como comunicador internacionalista. “As organizações sionistas vêm sistematicamente perseguindo quem se alia à luta do povo palestino”, sentenciou Maria Dirlene Trindade Marques, do Comitê Mineiro de Solidariedade ao Povo Palestino.
Ao lembrar o assédio judicial que a entidade estaria sofrendo, aliada a uma suposta campanha de difamação perpetrada por parte da Imprensa, ela lembrou que o propósito da entidade é apenas o de sensibilizar o povo mineiro para a causa palestina.
“Como diria o revolucionário Che Guevara, se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros”, finalizou.