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Comissão pede investigação policial e serviços básicos para comunidade 

Pedidos de providências vêm após relatos de moradores da ocupação Construindo Sonhos; prefeitura de BH não mandou representantes para reunião na Assembleia.

13/03/2024 - 19:44
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A Comissão de Direitos Humanos vai pedir providências, após ouvir relatos de violência contra moradores da Ocupação Construindo Sonhos, em Belo Horizonte. As queixas foram apresentadas em reunião nesta quarta-feira (13/3/24), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

O deputado Betão, que requereu a audiência pública e a presidiu, anunciou que solicitará à Polícia Militar de Minas Gerais a investigação dos casos trazidos por lideranças dessa comunidade, que fica no bairro Ribeiro de Abreu. Também propôs a criação de um grupo de trabalho para buscar uma solução definitiva para o conflito. Do grupo, deverão participar membros de secretarias municipais relacionadas a essa temática, da Defensoria Pública, do Ministério Público e da própria ALMG. 

O parlamentar ainda solicitou o início do fornecimento de serviços básicos, de água, luz e rede de esgoto, àquela comunidade. 

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A Ocupação Construindo Sonhos surgiu em 2019, quando cerca de 80 famílias em situação de vulnerabilidade social ocuparam a área na região nordeste da Capital. Segundo Betão, a maioria das famílias tem de 3 a 4 pessoas, lideradas por mulheres. Ainda de acordo com o parlamentar, são recorrentes as intimidações por pessoas armadas, que exigem que os moradores saiam do local. 

A defensora pública Cleide Aparecida Nepomuceno, da Defensoria Especializada em Direitos Humanos, Coletivos e Socioambientais complementou a fala do deputado, informando que a ocupação está sofrendo ameaça de despejo, numa ação de reintegração de posse movida pela Associação Novo Rumo.

A associação, conforme relatou a defensora, iniciou há alguns anos um loteamento no local hoje ocupado. Mas o empreendimento não foi regularizado pela Prefeitura de Belo Horizonte, por não cumprir os requisitos de prover a infraestrutura necessária, como asfaltamento de ruas e fornecimento de serviços básicos.

Ainda segundo Cleide Nepomuceno, essa ação de reintegração, assim como outras já existentes, foi suspensa com a edição da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 828/21.

Baixada durante a pandemia, em 2021, pelo Supremo Tribunal Federal, a medida suspendeu ordens de remoção e despejos de áreas coletivas habitadas antes da pandemia. Além disso, o STF determinou aos Tribunais de Justiça dos Estados que instalassem comissões para mediar despejos antes de qualquer decisão judicial. E previu que o poder público propusesse uma solução habitacional para os ocupantes. 

No caso da ocupação em questão, não foi marcada a audiência de conciliação entre as partes, afirmou a defensora. Ela acrescentou que as pessoas que compraram lotes vizinhos à ocupação passam também por problemas de infraestrutura, uma vez que na área há vários loteamentos clandestinos.

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O vereador de Belo Horizonte Pedro Patrus relatou que a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal realizou recentemente visita técnica à Ocupação Construindo Sonhos e confirmou o clima de insegurança vivenciado pelos moradores, diante das ameaças. Lamentou a omissão da PBH no caso, demonstrada pela ausência de representante na audiência e pela recusa do prefeito em recebê-lo. Também disse que a Construtora Novo Rumo não é proprietária da área e que seu real dono deve muito dinheiro à Prefeitura, pela falta de pagamento de IPTU e outras taxas. 

Na sequência, o Frei Gilvander Moreira, assessor da Comissão Pastoral da Terra de Minas Gerais, fez referência à lei que obrigaria as prefeituras a regularizarem as ocupações na área de seus municípios. Também considerou crimes as ameaças sofridas pelos moradores. “Se tem gente querendo tirar as pessoas com base na força, podemos pensar que se trata de uma milícia; e milícia é crime”, alertou. 

Moradores relatam intimidações

Vários líderes e outros integrantes da Ocupação Construindo Sonhos relataram episódios de violência sofridos, especialmente intimidações e ameaças, e criticaram a omissão da PM. O líder Fábio Martins afirmou que há vídeo, fotos e outros materiais documentando as violações de direitos humanos cometidas lá. Ele citou o caso de uma senhora que teria tido a perna quebrada por um militar aposentado, o qual também teria sido responsável pela derrubada de uma casa na ocupação.

Uma das moradoras relatou não apenas omissão da PM mas tomada de partido por parte dos agentes, que estariam indo com as viaturas em apoio às incursões da “milícia”. Outra registrou que pediu a entrega de um lanche de hamburgueria próxima e que o entregador, após ser seguido por dois carros, desistiu de entregar, pois ficou com medo. 

Tenente afirma que haverá aumento do policiamento

Em resposta, o tenente-coronel Israel Calixto Júnior, comandante do 16º Batalhão de Polícia Militar, anunciou que vai aumentar o policiamento na região, “para evitar novos problemas”. Ele contextualizou que a divergência jurídica é o que causa o conflito no local, entre as pessoas que adquiriram lotes da Associação Novo Rumo e o pessoal da ocupação. E defendeu uma solução pela via legal.

Sobre as denúncias de violência, afirmou que o papel da Polícia é “proteger a todos, para garantir direitos humanos a todos”. Reforçou que, em todas as situações de ameaça, intimidação ou outro tipo de violência, os canais de comunicação da PM devem ser acionados, para que sejam tomadas as providências necessárias.

Moradores de ocupação em BH denunciam ameaças e falta de estrutura TV Assembleia

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