Com crise climática, Noroeste de Minas pode ter deixado de arrecadar quase R$ 925 mi com grãos
Estimativa foi apresentada, nesta sexta (21), por especialista em encontro regional de seminário sobre crise climática em Unaí.
21/06/2024 - 16:16As mudanças climáticas podem ter causado queda de arrecadação de cerca de R$ 925 milhões nas safras de 2023 e 2024 de grãos no Noroeste de Minas, uma das principais regiões de produção agrícola do Estado. A estimativa foi apresentada, nesta sexta-feira (21/6/24), pelo engenheiro agrônomo Anderson Barbosa Evaristo, professor do Instituto de Ciências Agrárias (ICA) da Universidade Federal dos Vales Jequitinhonha e Mucuri.
Ele participou, em Unaí, do sétimo e último encontro regional do Seminário Técnico Crise Climática em Minas Gerais: Desafios na Convivência com a Seca e a Chuva Extrema, promovido pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
De acordo com Anderson Barbosa, ondas de calor e estiagem geraram quebra da produtividade nas culturas de soja, milho, feijão e sorgo. A maior estimativa de perda no Valor Bruto da Produção (VBP) diz respeito à soja (R$ 745 milhões), seguida do milho (R$ 132,6 milhões), feijão (R$ 24,2 milhões) e sorgo (R$ 22,1 milhões).
Os números, como contou, foram obtidos a partir do cruzamento de dados da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater–MG) e de cooperativas de produtores agrícolas.
Conforme o professor, a crise climática afetou o desenvolvimento das plantas e causou atraso nos plantios. Também houve alta intensidade de problemas com pragas, além da ocorrência de pragas não tradicionais.
Além disso, o contexto gerou alto consumo de água nas áreas irrigadas. Dessa forma, os custos de produção aumentaram e tem havido grande perda de rentabilidade da atividade.
Segundo o professor, para mitigar os efeitos da crise climática, é necessário investir em melhoramento genético e biotecnologias, manejo sustentável do solo e da água, sistemas integrados de produção, tecnologias de agricultura digital e de precisão, diversificação e planejamento agrícola, educação e capacitação dos agricultores, políticas e incentivos governamentais e pesquisa e desenvolvimento.
Diminuição das chuvas no Noroeste
O engenheiro florestal e professor do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais - Campus Arinos, Carlos Magno Moreira, abordou a redução das chuvas no Noroeste do Estado. Como disse, dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) mostram que, nas últimas décadas, a precipitação reduziu na região, sobretudo, no período chuvoso, em dezembro e janeiro.
Em Arinos, a redução foi de 60 milímetros; em Unaí, de 48 milímetros; e em Paracatu, de 50 milímetros. Conforme reforçou, a diminuição é significativa. Ao mesmo tempo, contou, houve aumento da temperatura média na região. Essa situação, na opinião dele, demanda atenção.
Boas práticas
O encontro também contou com painel sobre boas práticas para fazer frente às mudanças climáticas. Integrante da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Sérgio de Carvalho Coelho apresentou o programa Nosso Ambiente para impulsionar frentes de trabalho com produtores rurais pela conservação dos recursos naturais.
Alguns dos trabalhos, como citou, estão relacionados à melhoria da qualidade e da quantidade da água, recuperação de áreas degradadas, manejo de solo e divulgação de leis ambientais para produtores.
Já o integrante da Cruz Vermelha Tiago Leite abordou o cartão humanitário, um processo de transferência de renda utilizado pela organização em locais onde há desastres e que pode ser aplicado em situação de seca e de chuva excessiva.
Deputados reforçam impactos da mudança climática
O presidente da ALMG, deputado Tadeu Martins Leite (MDB), abordou as consequências da estiagem no Noroeste de Minas. “Nós já tivemos uma queda muito grande do agronegócio, especialmente por conta da questão da seca, que nos últimos sete anos vem se agravando”, disse.
Em coletiva que antecedeu o seminário, o parlamentar ainda fez um balanço dos encontros regionais que se encerraram nesta sexta (21).
O presidente da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Tito Torres (PSD), reforçou que Unaí é uma região produtora importante para o Estado e tem vivido a realidade da estiagem.
A deputada Marli Ribeiro (PL) corroborou as falas anteriores. Conforme disse, a mudança climática já impacta a vida de pequenos, médios e grandes produtores da região. Por causa disso, na opinião dela, é preciso aproveitar técnicas e tecnologias existentes para minimizar o problema.
De acordo com a deputada Lud Falcão (Pode), a estiagem que atinge o Noroeste é preocupante. Conforme ponderou, quando o excesso de chuva atinge cidades, a comunidade se mobiliza mais. “A seca fica mais na zona rural. Não existe uma ação emergencial e prática para fazer frente a isso”, disse. Nesse contexto, ela defendeu a ampliação de linhas de crédito.
Para a deputada Maria Clara Marra (PSDB), os impactos da crise climática são sentidos não só na área ambiental e de produção agrícola, mas também na qualidade de vida de cada um dos mineiros, com consequências, inclusive, na saúde da população, haja vista a epidemia de dengue no Estado recentemente.
O Seminário Técnico Crise Climática tem o objetivo de buscar soluções para minimizar os impactos da crise climática. Na etapa de interiorização, a ALMG fez a escuta da comunidade para conhecer as realidades regionais.
Paralelamente a esses encontros, grupos de trabalho discutem planos e políticas públicas já existentes e apresentam sugestões para aprimorá-los. A etapa final do seminário será realizada na ALMG nos dias 8 e 9 de agosto. Resultará desse processo um relatório com sugestões de desdobramentos que colaborem para minimizar o problema.