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Assembleia Fiscaliza

Carência de recursos impacta atendimento à cultura 

Questionado durante prestação de contas, secretário de cultura comemorou ampliação da atividade turística. Tombamento da Serra do Curral foi cobrado.

28/06/2024 - 18:56

A falta de recursos financeiros, humanos e estruturais da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult) e o impacto disso no atendimento aos fazedores de cultura foram as maiores críticas feitas à atuação do secretário de Estado de Cultura e Turismo, Leônidas José de Oliveira, que participou, na sexta-feira (28/6/24), da última reunião de Prestação de Contas do Assembleia Fiscaliza no semestre.

Na audiência comandada pelas Comissões de Cultura e Desenvolvimento Econômico, o gestor prestou contas do trabalho da pasta entre junho de 2023 e maio de 2024, reconhecendo as falhas. Por outro lado, destacou feitos, como a ampliação da atividade turística, atrelada à cultura, obtendo como resultado o aumento nos voos e no número de turistas em Minas. Vários parlamentares participaram da reunião e fizeram suas avaliações quanto às ações da Secult.

Para a deputada Macaé Evaristo (PT), o momento rico para a cultura no Brasil, com a vigência das Leis Federais Paulo Gustavo (LPG) e Aldir Blanc (LAB), se contrapõe à falta de estrutura da Secretaria para atender ao setor cultural mineiro. “Os recursos precisam chegar às mãos dos fazedores de cultura, e de forma transparente e participativa; é preciso estruturar a política cultural no estado”, defendeu.

A parlamentar manifestou preocupação com a insuficiência de funcionários da pasta para atendimento a artistas e agentes culturais, demonstrado em audiências realizadas pela Comissão de Cultura da ALMG.

“Por que a cultura de Minas sofre tanto e corre esses riscos num contexto em que, em nível nacional, se valoriza tanto a cultura?”
Macaé Evaristo
Dep. Macaé Evaristo

Segundo ela, houve atropelos na execução das duas leis federais no Estado, incluindo pequeno prazo para conclusão de pareceres e entrega de projetos. Por isso, defendeu concursos para entrada de técnicos na Secretaria. E sugeriu que o órgão realize reuniões em pelo menos 12 regiões de Minas com o objetivo de treinar os fazedores de cultura para entrarem com documentação visando serem incluídos nos projetos culturais oferecidos pela pasta.

Por fim, lamentou ações que impactariam a cultura negativamente no estado: a tentativa de privatizar a Orquestra Filarmônica e o fim do BDMG Cultural

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Secretário reconhece problemas  

Em relação aos problemas nos editais de cultura, o secretário Leônidas Oliveira disse que viveu o momento mais caótico na gestão pública: “Tive que pedir desculpas públicas, porque nós erramos várias vezes naquele processo, até mudarmos toda a estrutura de pessoal”, reconheceu. Mas afirmou que conseguirá “colocar tudo nos eixos” com o projeto Descentra Minas, que descentraliza as ações culturais por todo o Estado.

Concordando com a deputada quanto ao volume de dinheiro na cultura nunca visto, o gestor destacou que a secretaria está fazendo um levantamento sobre concursos. Os editais seriam para a própria pasta e ainda para o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha) e para a Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop).

Ele lamentou o fechamento do BDMG Cultural, mas disse que foi uma decisão do banco e que o espaço estava fora do Sistema Estadual de Cultura. Quanto ao Inventário do Samba, confirmou que o coletivo é o mesmo e são os sambistas quem fazem as escolhas. Em relação às reuniões no interior, ele anunciou que vai articular sua realização em breve.

Sobre a Filarmônica, ressalvou que já é uma instituição privada, mas que a Secult transfere a ela um total de R$ 40 milhões. O secretário avaliou que a Filarmônica precisa adequar o seu modelo de gestão, baseando-se em outras organizações sociais (OS): “Vemos salários pagos a maestros de outras orquestras cinco vezes menores que os da filarmônica”.

Deputada quer divulgar turismo de base comunitária 

A 1ª vice-presidenta da Assembleia, deputada Leninha (PT) levantou a bandeira do turismo de base comunitária, objeto de lei oriunda de projeto de autoria dela, e cobrou apoio da Secult à causa.

“Queremos dar visibilidade a essa forma de turismo que envolve a dança, as festas, os cultos e traz renda para essas populações”.
Leninha
Dep. Leninha

 A deputada também instou a secretaria a cuidar mais da restauração de igrejas históricas mineiras, muitas em situação precária.

Leônidas Oliveira registrou que sentiu falta na LPG e na LAB de previsão para a restauração do patrimônio histórico. O Estado tentaria remediar a situação, liberando R$ 14 milhões para essa área do Fundo Estadual de Cultura (FEC). “O Instituto Federal do Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan) aportou R$ 58 milhões para Minas Gerais, mas aqui temos mais de 60% do patrimônio nacional”, constatou.

Sobre o turismo de base comunitária, disse que pediu apoio ao cantor, agitador cultural e turismólogo Maurício Tizumba na construção de um projeto com esse teor. “Surgiu um projeto com os congados, e estudamos fazer as rotas do Rosário, que incluem quase a totalidade de Minas, segundo o mapeamento que fizemos”, divulgou. 

Geração de empregos e renda

Mesmo com as restrições de pessoal, o secretário destacou ações bem-sucedidas da pasta, como a geração de 50 mil empregos. Com o Natal da Mineiridade, foram gerados R$ 2,5 milhões e com o Carnaval, R$ 1,8 milhão, promovendo 100% de ocupação hoteleira na Capital, numa parceria entre estado e prefeitura. Esses e outros eventos fomentaram o lançamento de novos voos para Confins, num crescimento de 1500% acima da média nacional, de acordo com ele.

O projeto Minas pro Mundo divulga o Estado em Lisboa, ampliando o número de voos para a Europa. Na Unesco, o secretário divulgou o queijo Minas e anunciou que o modo de preparar o alimento será transformado em Patrimônio Imaterial da Humanidade, o que trará maior visibilidade à gastronomia mineira. No mundo, apenas seis alimentos recebem esse título, afirma ele.

Sobre a descentralização dos projetos culturais, Leônidas Oliveira falou do Descentra Cultura: “Antes, tínhamos 90% de concentração em Belo Horizonte; hoje, 60% vão para toda Minas Gerais e 40% para a Região Metropolitana de Belo Horizonte; é uma justiça com a cultura do Estado”.

Já o deputado Zé Laviola (Novo) parabenizou Leônidas Oliveira por sua atuação apaixonada em prol da cultura mineira: “Tenho admiração pela forma como você tem conduzido a Secult, com esse olhar que valoriza o povo mineiro, divulgando nossos bens culturais em todo o mundo”, enfatizou.

Para o parlamentar, secretários municipais de cultura, mesmo de cidades pequenas, vêm tendo atuação destacada por se inspirarem no secretário estadual.

O deputado Mauro Tramonte (Republicanos), que presidiu a reunião, questionou o gestor sobre as ações da Secult para melhorar o atendimento diante do aumento do fluxo turístico em Minas.

Com dados do Observatório do Turismo, Leônidas Oliveira disse que, em janeiro deste ano, o aumento médio do turismo em Minas foi de 15 vezes a média nacional. E que o valor destinado ao turismo foi aumentado de R$ 10 milhões para R$ 25 milhões. Também divulgou que foram feitas 35 contratações na Secult para reforçar a equipe.

Tombamento da Serra do Curral

Em vez de questionar o secretário, a deputada Beatriz Cerqueira (PT) aproveitou a reunião para criticar a atuação negligente do governo estadual na proteção à Serra do Curral, tombada por Belo Horizonte. De acordo com ela, o Conselho Estadual do Patrimônio Cultural, ao não aprovar o tombamento estadual da serra, contribuiu para que a exploração minerária no local fosse pautada novamente no Conselho de Política Ambiental.

A empresa que se candidata a minerar na Serra do Curral, conforme a parlamentar, teria 17 autuações por crimes federais e, se for aprovada pelo Copam, poderá explorar o local por 6 anos. “É uma grande vergonha; como nós mineiros não conseguimos proteger essa Serra?”, provocou ela, pedindo ao secretário que não cometa os mesmos erros em outros patrimônios naturais do estado. 

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Necessidade de tombamento da Serra do Curral surgiu novamente entre os assuntos abordados TV Assembleia

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