Bairro Betânia, em BH, conta história de transformação pelo bem
Reunião nesta terça (30) homenageia Paróquia São Sebastião, nesse bairro, e traz personagens importantes dessa construção coletiva.
30/05/2023 - 20:08 - Atualizado em 31/05/2023 - 16:00“Contar a história do bairro Betânia é contar uma história da transformação pelo bem”. Dita pelo padre Luís Carlos de Carvalho Santos, vigário da Paróquia São Sebastião, nesse bairro da região Oeste de Belo Horizonte, essa frase resume a importância do trabalho social e espiritual desenvolvido nessa comunidade. O religioso participou nesta terça-feira (30/5/23) de audiência pública da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), como parte das comemorações dos 50 anos da instituição (Jubileu de Ouro).
Solicitada pela presidenta da comissão, deputada Ana Paula Siqueira (Rede), a reunião debateu a importância da paróquia no protagonismo de mulheres e por sua contribuição, junto com a Comunidade Missionária de Villaregia, para o desenvolvimento da região.
O vigário Luís Carlos Santos disse ainda que “falar de São Sebastião é falar da casa do povo de Deus, paróquia sempre atenta ao bem do outro”. Ele lembrou que a história da comunidade começou bem antes, em 1932, quando o bairro Betânia ainda não existia, havendo apenas matas e sítios com plantações, numa área conhecida como Várzea de Felicíssimo.
O padre contou que ali morava a família de João Alves, católico que doou à igreja o terreno onde foi construída a antiga capelinha, em local pertencente à Paróquia São José do Calafate. Só em 1973, a capela foi decretada Paróquia de São Sebastião da Vila Betânia, com a construção da casa paroquial e do centro social, num trabalho em parceria com a comunidade.
Destacou também que o protagonismo feminino começou antes da paróquia, com a atuação de Úrsula Paulino (que dá nome a uma avenida do bairro). Ela foi uma das primeiras mulheres da região que se dedicaram às famílias vulneráveis. Atualmente, o trabalho social da paróquia atinge não só o Betânia, mas cerca de outros dez bairros da região.
O padre Igor dos Santos, vigário da Paróquia São Judas Tadeu, do bairro Palmeiras, parabenizou a vizinha São Sebastião pelos 50 anos. “Quantos jovens e famílias continuam bebendo da fonte que é essa paróquia, um poço de espiritualidade e missão”, enalteceu ele, ressaltando o protagonismo dos leigos da comunidade.
Ele frisou como uma das características do Betânia o cuidado com as pessoas do lugar. Nesse sentido, registrou a mobilização para evitar a destruição da Mata do Havaí, que resultou na garantia de proteção de parte desse patrimônio natural.
Dignidade esquecida
Andreia Lúcia, presidente da Ação Social Villaregia, rememorou a chegada dessa entidade ao Betânia, em 1985, sempre tendo como lema o acolhimento dos mais pobres.
Já em 1990, contou ela, a Villaregia começou a acolher crianças carentes que pediam comida na paróquia. Hoje, são 170 crianças acolhidas pelo projeto, que conta com recursos do Fundo da Infância e da Adolescência (FIA). Em 2017, foi iniciado o trabalho com idosos, a maioria mulheres, muitas vítimas de violência doméstica. Atualmente, cerca de 60 idosos são atendidos.
Anna Rosa Pizza, responsável pela Comunidade Missionária de Villaregia, presente em três continentes, afirmou que a entidade leva às pessoas o Evangelho, mas também a busca do desenvolvimento humano. Ainda enalteceu uma característica da comunidade, de desenvolver um trabalho misto, com mulheres e homens atuando juntos.
Recuperar o sonho
Angélica Ramos, ex-diretora do Centro de Acolhida Betânia, enfatizou que mais de 6 mil crianças foram atendidas por essa unidade que completou 29 anos. “Estou muito feliz por poder doar minha vida a esse projeto de fazer o mundo um pouco melhor para essas crianças e adolescentes, de modo que possam sonhar e acreditar que são capazes”, enalteceu.
Jânio Ferreira, conselheiro de Saúde da Região Oeste e voluntário da Farmácia da Paróquia São Sebastião, disse que são atendidas aproximadamente 500 pessoas por mês. Ele afirmou que muitas pessoas vão ao posto de saúde do bairro e, quando não conseguem seu medicamento, procuram a farmácia da paróquia, que fica ao lado do posto.
Mestranda da UFMG elogia protagonismo do Betânia
Horrana Grieg Oliveira, mestranda em Antropologia Social pela UFMG, ressaltou que começou a atuar no bairro Betânia num projeto de regularização fundiária. “O impacto foi tão grande que quis prosseguir com um trabalho de mestrado. Através da Paróquia São Sebastião, pude ter contato com uma realidade incrível”, entusiasmou-se.
A pesquisadora mostrou que, ao contrário de Belo Horizonte, que surgiu como cidade planejada, vitrine do modernismo construída pelo Estado, o bairro Betânia foi erguido por seus moradores.
Horrana registrou que havia no local conhecido hoje como Vila Paraíso um lixão, que só foi removido pela luta especialmente de mulheres. Movimentos como esse levaram a região e especialmente o Betânia a uma transformação, tornando o bairro abençoado, segundo a estudiosa, e com um corpo político muito forte, com atuação marcante dos seus moradores.
Moradores valorizam atuação coletiva
Vários moradores da região deram seus depoimentos. Terezinha de Jesus, liderança da Vila Paraíso, deixou seu testemunho do valor dos projetos desenvolvidos na paróquia São Sebastião. Disse que se mudou para o local em 1987 e, pouco depois, foi procurada pelos agentes comunitários da igreja.
“Batalhamos por água e luz; construímos igreja, fizemos mutirão de mulheres e estruturamos nossa vila com várias construções e nos estruturamos como mulheres”, declarou. Terezinha lembrou que havia muitas mulheres que estavam como “zumbis” e se transformaram em guerreiras. “A comunidade chegou para dar estrutura às famílias, para tocar na ferida e ajudar a curá-la; minha gratidão eterna”, exaltou.
Também Maria Onilda, liderança comunitária do Betânia, enfatizou as coisas boas e também as dificuldades que vivenciou no bairro desde que chegou lá, há 50 anos. “Onde eu morava, era um lixão e hoje tem lá a Escola Mestre Athaíde, e eu trabalho nela”, comemorou.
Moradora do bairro Marajó há 50 anos, Marta Silveira frisou que chegou lá junto com a Paróquia. Elogiou o trabalho de formação desenvolvido pela Comunidade Vilareggia para ela e outras mulheres da região. “Todas que participaram dos Orçamentos Participativos da Prefeitura eram da comunidade”, disse.
“O padre sempre falava ‘Marta, vai lá, ajuda, fala’; quando quiseram tirar o centro de saúde do bairro, nós paramos o caminhão da Prefeitura e não deixamos tirarem os móveis e o posto está lá até hoje”, orgulhou-se.
Já Pablo Figueiredo, assessor de Ana Paula Siqueira e morador do Betânia há 35 anos, informou que pertence a uma família oriunda de Chapada do Norte, no Jequitinhonha. A vinda deles coincidiu com a chegada da comunidade Vilareggia. “Minha formação social e cultural está totalmente ligada a essa comunidade e à Paróquia São Sebastião. Desde sempre, participamos da luta”, exaltou.
Por fim, a deputada Ana Paula Siqueira enalteceu o Jubileu: “são 50 anos de uma bonita história, de construção coletiva e participativa para a cidade de Belo Horizonte”. Na opinião dela, a paróquia foi além do trabalho religioso e espiritual, forjando uma atuação social que resultou em projeto essenciais na vida de milhares de pessoas.
A parlamentar considerou ainda que a Comunidade Villaregia contribuiu muito para sua formação. Ao final da reunião, ela entregou votos de congratulação com a Paróquia São Sebastião e o Centro de Acolhida Betânia.