Notícias

Atividade minerária em municípios mineiros é alvo de denúncias de violências

Atingidos pela mineração relatam problemas de saúde e ameaças em audiência da Comissão de Participação Pública da ALMG.

20/08/2024 - 16:12
Imagem

Descaso com a saúde da população atingida e convívio diário com ameaças e agressões. Essas foram algumas das denúncias de moradores atingidos pela atividade minerária nos Municípios de São Joaquim de Bicas, Brumadinho, Ouro Preto, Mariana, Conceição do Mato Dentro (todos na Região Central) e comunidades do Vale do Jequitinhona e do Norte de Minas.

Os relatos foram apresentados em audiência pública da Comissão de Participação Popular da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) ocorrida nesta terça-feira (20/8/24). A reunião foi requerida pelos parlamentares Leninha, Doutor Jean Freire e Leleco Pimentel, todos do PT.

Botão

Uma “arquitetura de impunidade criada em torno do setor minerário” foi o termo usado por frei Rodrigo Péret, membro da Rede Igrejas e Mineração, para definir a situação.

Ele questionou os acordos de reparação realizados em razão dos rompimentos das barragens em Brumadinho e Mariana, pois revitimizam o atingido ao fazê-lo negociar com a mineradora e aceitar os parâmetros impostos por ela. “Esses acordos colocam a empresa dentro do território, controlando a cena do crime”, enfatizou.

Para Valéria Carneiro, liderança do Assentamento Pastorinhas, em Brumadinho, “a reparação é muito mais danosa que o crime em si. O crime tem dia e hora para terminar. A reparação abre o nosso território para a mineração”, disse. Ela acredita que exista hoje uma “indústria da reparação”.

Citação

Danos à saúde afligem moradores 

Relatos de doenças de pele e respiratórias aumentaram após a entrada das mineradoras nos territórios atingidos. Simone da Silva, da comunidade quilombola de Gesteira, no Município de Barra Longa (Zona da Mata), afirma que sua filha apresentou sintomas alérgicos relacionados à presença da lama. “Nossas crianças estão contaminadas e adoecidas”, afirmou.

Henrique de Oliveira, liderança da Aldeia Naôxohã, em Paraopeba (Central), relatou situação parecida: “Meu filho de 3 anos tem o corpo todo marcado por feridas. Quando o levamos para os médicos da Vale, dizem que é só uma coceira sem relação com a contaminação”.

O caso da comunidade Piauí Poço Dantas, localizada em Itinga (Jequitinhonha), também foi lembrado. Djalma Gonçalves, liderança do povo Aranã Caboclo, relatou problemas respiratórios em moradores devido à extração de lítio e a poeira que fica suspensa no ar.

Citação

O agricultor Marino D’Angelo Júnior, representante da Comissão de Atingidos de Paracatu e Comunidades Rurais de Mariana, relatou sofrer problemas psicológicos: “Era uma pessoa simples, trabalhadora, mas tinha minha autonomia. Depois do rompimento, adoeci, tomo 3 antidepressivos”, disse.

Áudio

Mineradoras respondem com ameaças

“A Vale quando não te compra, ela te persegue”. A frase é de Cláudia Saraiva, liderança da comunidade Ponte das Almorreimas, em Brumadinho. Ela conta que teve sua casa desapropriada para construção de uma estação de captação de água após o rompimento. “Fui perseguida por denunciar tudo o que a Vale fazia de injustiças”, afirmou.

De acordo com a liderança, é prática das mineradoras infiltrar pessoas na própria comunidade para vigiar aqueles que se dizem contra a mineração. “Fui coagida no meu emprego e abandonei 32 anos de concurso público para que eu pudesse viver”, relatou.

William de Souza, cacique Sucupira Pataxó e Pataxó Hã Hã Hãe, de São Joaquim de Bicas, reafirma o método de coerção: “Eles entram dentro da comunidade e colocam os parentes uns contra os outros”. Ele consta como réu em um processo aberto pela Vale por tentar impedir a construção de uma estrada que atravessava o seu terreno.

De acordo com o cacique da Aldeia Arapowã Kakya Xucuru Kariri, em Brumadinho, Carlos José da Silva, “a mineradora nos intimidou com caçambas de barro e mais de 30 jagunços impedindo o acesso à comunidade”. Segundo ele, “a Vale diz que é dona do território”, mas isso não os impede de resistir. 

Vídeo

Atuação das instituições de justiça é criticada

Segundo Matheus Leite, advogado da Federação das Comunidades Quilombolas de Minas Gerais (Ngolo), as instituições de justiça brasileiras possuem forte relação com as mineradoras, o que leva à impunidade. “É uma vergonha, mas os atingidos precisam buscar justiça nos tribunais internacionais. Nós não podemos contar com o Poder Judiciário que existe no País”, afirmou.

Wagner Dias Ferreira, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-MG, afirmou que a comissão tem atuado para intensificar visitas in loco a territórios atingidos. "Queremos sair de dentro do espaço institucional e ir a campo para construir diálogos", afirmou.

Já o servidor da Coordenadoria da Região Metropolitana de Inclusão e Mobilização Sociais (Cimos) do Ministério Público do Estado, Jonas Vaz Leandro Leal, ressaltou a importância de violações como as relatadas na audiência serem levadas ao conhecimento do promotor das comarcas locais. 

O representante da Cimos frisou que há no Ministério Público mecanismos internos de controle que podem ser acionados pelos atingidos quando a promotoria não atuar a contento. Citou como exemplo a Ouvidoria do órgão, que atende pelo 127.

Segundo o deputado Leleco Pimentel, entre os requerimentos da comissão a serem encaminhados, está o que vai requisitar proteção a todos os presentes à audiência em função das denúncias relatadas.

Comissão de Participação Popular - debate sobre violência contra atingidos por mineração
“Com o rompimento da barragem, a Vale entrou em todos os territórios que ela queria. O rompimento se tornou lucrativo."
Valéria Carneiro
Liderança do Assentamento Pastorinhas, em Brumadinho
“O Vale do Jequitinhonha está sendo transformado em uma zona de sacrifício."
Djalma Gonçalves
Liderança do Povo Aranã Caboclo
Participantes de audiência denunciaram vários tipos de violência sofridas em seus territórios TV Assembleia
Áudio

Receba as notícias da ALMG

Cadastre-se no Boletim de Notícias para receber, por e-mail, as informações sobre os temas de seu interesse.

Assine