Atendimento urgente é destacado por especialistas no tratamento do AVC
Atenção à prevenção e agilidade no atendimento dos pacientes são essenciais para frear o número de casos e as sequelas de acidentes vasculares cerebrais.
06/11/2024 - 16:15O aumento do número de casos de Acidente Vascular Cerebral (AVC) no País e suas consequências para a saúde pública preocupam a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), reunida para debater o assunto nesta quarta-feira (6/11/24).
De forma geral, os participantes da audiência destacaram a necessidade de atendimento urgente dos pacientes vítimas de AVC para evitar mortes e sequelas, com o mote “tempo é cérebro”. Hábitos de vida saudáveis para a prevenção da doença, a revisão dos valores da tabela de procedimentos do Sistema Único de Saúde (SUS) e a aprovação do Projeto de Lei (PL) 179/19, o qual institui a Política Estadual de Apoio às Vítimas de AVC no Estado, foram outros aspectos abordados.
O AVC ocorre por causa de um entupimento ou rompimento dos vasos sanguíneos que irrigam o cérebro. Pode ocorrer em qualquer idade, mas costuma ser mais frequente em idosos e pessoas com problemas cardiovasculares.
O Acidente Vascular Cerebral pode ser isquêmico, quando um coágulo bloqueia o fluxo de sanguíneo para uma área do cérebro, ou hemorrágico, mais letal, que se dá com um sangramento dentro ou ao redor do cérebro.
Como ressaltou o presidente da comissão, deputado Arlen Santiago (Avante), que solicitou a audiência pública, é uma doença extremamente difícil tanto para os pacientes quanto para suas famílias, tendo em vista que muitos perdem a capacidade de trabalhar e realizar tarefas corriqueiras e passam a necessitar de cuidados.
Um dos maiores defensores da recomposição da tabela do SUS, o deputado salientou as dificuldades enfrentadas pelos hospitais para oferecer o tratamento adequado sem conseguirem nem mesmo cobrir o seu custo.
Nesse contexto, Marcílio Catarino, presidente da Associação AVC Norte de Minas, comentou o avanço trazido pela trombectomia mecânica, procedimento para restabelecer o fluxo de sangue no cérebro, mas ainda não ofertado em hospitais públicos em Minas Gerais.
A trombectomia foi incorporada ao SUS em 2023, já com valores defasados, segundo Marcílio. Os hospitais conseguem um reembolso de quase R$ 18 mil, enquanto o preço médio só dos materiais necessários é de R$ 33 mil.
Pacientes que realizam a trombectomia mecânica no tempo correto chegam a ter 90% de chance de um desfecho favorável, salientou.
A importância de um atendimento nos primeiros momentos da ocorrência também foi destacada pelo coordenador de Urgência da Santa Casa de Belo Horizonte, Albert Louis Bicalho. “A cada um minuto não tratado de um AVC, perdemos 1,2 milhão de neurônios”, pontuou.
Causas do AVC são conhecidas
O deputado Doutor Wilson Batista (PSD) e a deputada Leninha (PT) focaram nas ações preventivas de uma doença de causas conhecidas, como hipertensão, diabetes, sedentarismo, tabagismo, obesidade e alimentação inadequada. “É fácil antecipar e evitar, mas hoje, ao contrário, há um número crescente de afetados”, observou Doutor Wilson Batista.
Leninha lembrou ter perdido seus pais para o AVC, em um cenário de vulnerabilidade econômica que não permitia o melhor atendimento nem os materiais indispensáveis na recuperação. “A prevenção deve contar com orçamento, que não deve ir só para o custeio de hospitais. O pós-AVC é um sofrimento também, devido a condições de vida sub-humanas, em residências sem nenhuma acessibilidade”, frisou.
Sandra Gonçalves, presidente da Associação Mineira do AVC, vivenciou com seu marido, vítima da doença, as limitações impostas pelo acidente vasculhar cerebral e a importância de uma rede de apoio.
A associação, referência no País, montou a Casa do AVCista em Lagoa Santa (Região Metropolitana de Belo Horizonte) em 2019, para acolher demandas dos pacientes. Posteriormente, com a Oficina de Reabilitação Neurofuncional, a associação ofereceu o suporte de uma equipe mutidisciplinar às vítimas de AVC. Todo esse cuidado na reabilitação é essencial, por se tratar da maior causa de incapacidade no mundo, ressalta.
Linha de cuidado do AVC em Minas
Coube à coordenadora de Gestão de Cuidados Intensivos Hospitalares, Letícia Freitas, apresentar o trabalho desenvolvido em Minas no tratamento da doença.
Ela disse que o AVC é tratado como prioridade na Secretaria de Estado de Saúde, que desenvolveu um projeto estratégico de cuidado da doença, em especial a isquêmica, de maior incidência.
Na fase aguda, o tratamento consiste na medicação trombolítica endovenosa, fornecida na rede pública, ou na citada trombectomia mecânica, em fase de habilitação. Quando autorizado esse procedimento no Estado, está previsto o incremento de 50% do valor repassado pelo SUS.
Até 2020, Minas contava com seis hospitais de referência para o AVC, hoje 17. Se considerados aqueles credenciados no Estado, mas ainda não habilitado no Ministério da Saúde, são 38.
A mortalidade hospitalar por AVC, por outro lado, caiu de aproximadamente 16% para cerca de 13%.