Assembleia celebra inovações ambientais contra a crise climática
Prêmio para dez iniciativas que utilizam a tecnologia contra danos climáticos em Minas dá sequência a projeto prioritário da Assembleia.
09/12/2024 - 19:18Mais vale acender uma vela que amaldiçoar a escuridão. A famosa frase do filósofo Confúcio resume bem a intenção e o alcance do Prêmio Assembleia de Incentivo à Inovação - Crise Climática, que foi entregue nesta segunda-feira (9/12/24) para dez propostas de soluções inovadoras com potencial para prever, evitar ou minimizar as causas ou efeitos das mudanças climáticas no Estado de Minas Gerais.
As dez premiadas foram selecionadas entre 124 candidatos inscritos de diversas regiões do País, no concurso promovido pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) em parceria com o Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC).
A iniciativa teve início com o projeto institucional "Crise Climática em Minas: Desafios na Convivência com a Seca e a Chuva Extrema”, iniciado em março deste ano pela ALMG, ainda antes das inundações históricas que atingiram o Rio Grande do Sul, um dos eventos climáticos mais impactantes que já atingiram o Brasil.
A busca desse protagonismo no enfrentamento à crise climática, que também causa secas e inundações extremas em Minas Gerais, foi lembrada pelo presidente da ALMG, deputado Tadeu Leite (MDB), durante a premiação realizada nesta segunda-feira.
"Rodamos praticamente o Estado todo com o nosso seminário, foram 7 encontros regionais, mais de 300 instituições que participaram em todas essas rodadas no interior e 75 instituições fizeram parte dos grupos de trabalho, incluindo as universidades que atuam no Estado”, recordou o presidente.
O tamanho do desafio imposto pelas mudanças no clima foi explicado pelo presidente do BH-TEC, Marco Crocco. “Recentemente saiu um artigo publicado no jornal The Guardian, uma pesquisa com mais de 1,5 mil pesquisadores climáticos do mundo. E mais de 75% deles estão descrentes de que a gente consiga vencer essa batalha", informou.
"O mundo está numa situação claramente atrasada nas políticas de mitigação do clima, atrasado no financiamento para fazer a transição climática e eu acho que é fundamental a decisão da Assembleia Legislativa de assumir esse papel”, analisou Marco Crocco.
O deputado Tadeu Leite disse que a intenção da Assembleia é ir além do aperfeiçoamento legislativo e construir um plano com ações concretas. “Aproveito já para convidar a todos: no início do próximo ano, estaremos lá no Plenário lançando o plano de ação deste seminário, que estamos finalizando nessas próximas semanas. Através da legislação, de programas, de investimentos, do orçamento, nós vamos buscar de que forma nós podemos ajudar a amenizar esse problema. Mas não tem como nós discutirmos isso sem trazer a inovação e a tecnologia para dentro dessa instituição”, anunciou.
Também acompanharam a solenidade o 2º-secretário da Assembleia, deputado Alencar da Silveira Jr. (PDT); o 3º-vice, Betinho Pinto Coelho (PV); a presidenta da Comissão de Educação Ciência e Tecnologia, deputada Beatriz Cerqueira (PT) e os deputados Gustavo Santana (PL), Tito Torres (PSD) e Ulysses Gomes (PT).
Premiados falam sobre possíveis ganhos ambientais em Minas
As 10 iniciativas premiadas nesta segunda-feira receberão R$ 60 mil, além da participação em um programa de aceleração promovido pelo parque tecnológico BH-TEC, com o objetivo de viabilizar sua implantação ou comercialização. As 124 propostas apresentadas foram provenientes de Minas Gerais e de outros nove estados. Os temas mais recorrentes foram meio ambiente e segurança hídrica, seguidos por inclusão produtiva e geração de renda e agricultura sustentável.
Alguns dos premiados citaram exemplos de como as inovações apresentadas podem beneficiar a sociedade mineira. Thais Franco, dirigente da Quasar Space, primeira colocada no concurso, descreveu um sistema de monitoramento de áreas suscetíveis a deslizamentos que utiliza dados de satélites analisados por meio de inteligência artificial. “Em Minas Gerais, são 283 municípios atingidos por esse problema”, afirmou ela, citando dados federais.
O representante do Instituto Antônio Ernesto de Salvo (Inaes), Renato Laguardia de Oliveira, mostrou frutos de cacau que já foram colhidos em áreas do semiárido mineiro por meio de um projeto de sistemas agroflorestais.
Noreyni Grego, da Biotecblue, afirmou que o biofertilizante derivado de microalgas desenvolvido pela empresa pode mudar o quadro de dependência de Minas Gerais dos fertilizantes químicos importados, que dominam 85% desse mercado no Estado.
Douglas Leipelt, da TideSat Global Tecnologia e Desenvolvimento, falou sobre um sistema de monitoramento do nível de corpos d'água que pode evitar tragédias como os R$ 10 bilhões em prejuízos causados nas enchentes de 2022 em Minas Gerais.
Kaio Sardinha, da Befert Nutrição Orgânica, lembrou que Minas Gerais possui cerca de 4 milhões de hectares de pastagens degradadas, uma realidade que pode ser modificada por meio da tecnologia de bioinsumos agrícolas a base de insetos, desenvolvida pela empresa e que já está sendo testada por pequenos produtores de Uberlândia (Triângulo).
Exposição
Ainda como uma ação do projeto institucional sobre a emergência climática, a Galeria de Arte da ALMG recebe a exposição Convivência com a Crise Climática em Minas Gerais até o dia 14 de março de 2025.
A exposição inclui texto didático sobre a crise climática; documentário Minas é Muitas: Caos Hídrico, produzido pela TV Assembleia; além de vídeos, painéis de fotografias com audiodescrição e textos sobre experiências bem-sucedidas de convivência com a crise climática, mapeadas em diferentes regiões do Estado.
1- Quasar Space (São Paulo - SP)
Monitoramento contínuo de áreas suscetíveis a deslizamentos e inundações em Minas Gerais. O trabalho envolve a utilização de dez constelações de satélites públicos e privados, a partir dos quais são extraídos dados como imagem multiespectral, radar de abertura sintética e informações climáticas. Esses dados são processados por inteligência artificial, disponibilizando um raio-X completo da área de interesse.
2- Aiper Pesquisa e Desenvolvimento de Bioprodutos Sustentáveis (São Paulo - SP)
A solução proposta é um bioinseticida microbiológico, desenvolvido para controlar pragas em plantações de maneira sustentável, promovendo maior eficácia no manejo agrícola. Estima-se que insetos causem perdas de cerca de 70% nas lavouras. Já os inseticidas químicos prejudicam a biodiversidade e afetam os solos e a água. Dessa forma, o bioinseticida proposto é uma saída sustentável.
3- Instituto Antonio Ernesto de Salvo (Belo Horizonte - MG)
O projeto Agro+Verde está inserido em regiões semiáridas do Norte de Minas Gerais, onde a degradação ambiental e a escassez de recursos hídricos comprometem a produtividade agrícola. A solução visa incentivar a cacauicultura nessa região por meio de sistemas agroflorestais, aproveitando a estrutura hídrica já implementada na bananicultura e oferecendo suporte técnico e financeiro.
4- Noreyni Christophe Grego Ndiaye (Taubaté - SP)
A proposta busca desenvolver um biofertilizante à base de microalgas, aproveitando efluentes agroindustriais de tilápia ou cervejeiro, promovendo a conservação do solo, a recuperação de áreas degradadas e a captura de CO2.
5- Green Growth AI Inova Simples (Viçosa - MG)
Utiliza inteligência artificial e drones para diagnósticos precisos e pulverização localizada na cafeicultura mineira, reduzindo o uso de agrotóxicos e o consumo de água. Essa tecnologia ajuda produtores a obter certificações de manejo sustentável, que oferecem benefícios fiscais, acesso a linhas de crédito e ampliação para mercados internacionais.
6- TideSat Global Tecnologia e Desenvolvimento (Porto Alegre - RS)
Fornece serviço de monitoramento de nível da água para prever e mitigar danos de enchentes e alertar a população. Para tal, é utilizado um sensor a distância, fornecendo maior capacidade operacional durante a emergência climática. O sensor é de baixo custo, opera de forma autônoma e é de fácil instalação. Também oferece serviço completo de monitoramento, incluindo o processamento e visualização dos dados.
7- Saltica (Belo Horizonte - MG)
Atua na prevenção de perdas por eventos climáticos a partir de uma ferramenta agregadora de dados locais e globais, que mensura riscos relacionados ao clima. É gerada uma classificação numérica, em escala que vai do mínimo ao crítico, permitindo avaliação dos riscos por tipo de evento individual ou risco combinado de cada área, auxiliando na criação de estratégias para prevenção ou redução dos impactos.
8- Asthon Tecnologia Ltda (Itajubá - MG)
Oferece um sistema de monitoramento hidrológico em tempo real, com sensores que coletam dados de chuva e nível dos rios. Os dados são enviados via rede LoRaWAN para dashboard online, permitindo a emissão de alertas preventivos e previsão de inundações via inteligência artificial, auxiliando a gestão de eventos extremos.
9- Associação Florestalense de Agroecologia (Florestal-MG)
Atua na implementação de sistemas agroflorestais com assistência técnica continuada em uma espécie de fundo rotativo. Baseados na economia solidária e em experiências da Associação Florestalense de Agroecologia (Aflora), a ideia é que a produção desses sistemas pague os custos de implementação e assistência, gerando um fluxo para abertura de novas áreas.
10- BeFert Nutrição Orgânica (Uberlândia- MG)
A proposta visa utilizar bioinsumos produzidos em criações de insetos para recuperar áreas degradadas e conservar solos em Minas Gerais. Esses bioinsumos sustentáveis apoiam sistemas agroflorestais e práticas agroecológicas, oferecendo soluções eficientes para aumentar a resiliência em áreas vulneráveis.