Agonia da Lagoa da Petrobras parece estar longe do fim
Visita foi primeiro round nesta semana na pressão da Comissão de Meio Ambiente por uma solução definitiva do problema. Mais cobranças serão feitas em audiência nesta quinta (20).
17/03/2025 - 17:35Para cada solução, um novo problema. Assim pode ser definido o impasse entre as direções da Refinaria Gabriel Passos (Regap) e da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) quando o assunto é a recuperação da Lagoa da Petrobras, na divisa dos municípios de Ibirité, Sarzedo e Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Em mais uma visita feita pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável nesta segunda-feira (17/3/25) ao vertedouro da lagoa e a bairros nos limites já assoreados da represa, que também sofrem com o esgoto sendo despejado in natura, a conclusão é de que uma solução definitiva ainda está longe do fim.
Desse vertedouro são retiradas todos os dias toneladas de aguapés, que se alimentam justamente de material orgânico dos poluentes, mas a impressão é de que o trabalho é infrutífero.
A deputada Ione Pinheiro (DEM), vice-presidente do colegiado e autora do requerimento para a atividade, cobrou enfaticamente os gestores da Petrobras, da Copasa e da Secretaria de Estado de Meio Ambiente por mais ações efetivas e menos desculpas para um problema que afeta sobretudo moradores de bairros carentes de Ibirité e Sarzedo.
Tudo isso foi acompanhado por representantes de outros órgãos ambientais e lideranças da região, como o ex-presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e agora prefeito de Ibirité, Dinis Pinheiro. A titular da Semad, Marília Carvalho de Melo, e a prefeita de Sarzedo, Rita de Cássia das Graças Santos, também integraram a comitiva da visita.
Os representantes da Copasa e da Regap não quiseram se pronunciar publicamente e apenas responderam diretamente aos questionamentos da parlamentar, que disse não estar satisfeita. Ela promete aumentar a pressão pela solução dessa “novela” na audiência pública que a mesma Comissão deve realizar nesta quinta (20), às 10 horas, no Auditório do andar SE da ALMG.
Só 60% do esgoto é tratado antes de cair na lagoa
Atualmente, segundo informações coletadas nas visitas e audiências e por meio de requerimentos da comissão, cerca de 60% do esgoto da região é tratado na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da Copasa em Ibirité antes de ir parar na lagoa. A promessa da Copasa é de que esse índice chegue a 80% no ano que vem com a conclusão da coleta de esgoto que será destinado à ETE, numa quarta fase de intervenções.
E não há ainda data certa para esse percentual chegar a 100% numa quinta e última fase. Segundo o Marco Legal do Saneamento Básico, sancionado em 2020 e que visa universalizar o acesso à água potável e ao tratamento de esgoto no Brasil, o prazo final é 2033. Mas para isso acontecer ainda faltam Copasa e Regap se entenderem, conforme ficou evidente na visita desta segunda (17).
Para isso, também será necessária uma atuação mais rigorosa da Semad, conforme lembrou Ione Pinheiro. A parlamentar também vai pedir ao Ministério Público (MP) que acione o MP federal para tentar aumentar a pressão sobre todos os envolvidos no problema.
Além da suspeita de contaminação do Córrego Pintado, que deságua na Lagoa da Petrobras com efluentes industriais, a Regap agora é alvo de ação judicial da Copasa devido à retirada, sem autorização, de esgoto tratado pela ETE de Ibirité para uso no processo de refino. Isso até estava previsto em um acordo entre as duas empresas que possibilitou a construção da ETE em terreno cedido pela refinaria, mas o contrato não foi assinado.
À deputada, o gerente de Segurança, Meio Ambiente e Saúde da Petrobras, Túlio Prodígios Schoenenkorb, admitiu que a judicialização “esfriou” as negociações com a Copasa, que agora acontecerão somente nos tribunais. A empresa de saneamento também precisa passar uma tubulação coletora de esgoto dos bairros da região por parte do terreno da refinaria, o que agora também emperrou.
A Lagoa da Petrobras, também conhecida como Lagoa de Ibirité, foi criada quando da instalação da Regap, em 1968, com o objetivo de garantir o fornecimento de água para o funcionamento das instalações industriais. Desde o início, a beleza do local ganhou fama e atraiu moradores e turistas.
Mas após décadas de ocupação não planejada no entorno, a carga de esgoto se multiplicou e ela tem hoje 70% do seu espelho d’água comprometido pelo assoreamento e pelos aguapés.
Para a secretária de Meio Ambiente, Marília Melo, a situação da lagoa é um passivo grande e de muitos anos. Conforme informou, o licenciamento ambiental é um instrumento importante para resolver a questão e, atualmente, tramitam na secretaria dois processos da Petrobras, um de renovação e outro corretivo. "Estamos avaliando com cautela todas as condicionantes, as que foram cumpridas ou não, e o que podemos estabelecer de medidas mitigadoras e compensações considerando o histórico de problemas ali", disse.
Jardim das Rosas, mas o cheiro é outro
Do vertedouro da represa de onde estão sendo retirados os aguapés, a comitiva comandada por Ione Pinheiro foi aos bairros Canaã e Canoas para mostrar aos participantes o assoreamento de centenas de metros do que décadas atrás era o espelho d’água. Para piorar, na época das chuvas, a enchente é certa, conforme relatou o prefeito Dinis Pinheiro.
Conforme lembrou Ione Pinheiro, a população do entorno utiliza as áreas assoreadas como pasto para animais consumidos depois, como vacas e galinhas. Onde ainda há água, também se alimenta dos poucos peixes sobreviventes pescados na lagoa, que podem estar contaminados até com metais pesados.
De lá, a comitiva seguiu para o bairro Jardim das Rosas, que não faz jus ao nome tamanho o mau cheiro do esgoto, ainda mais nauseante sob sol forte. O esgoto doméstico é despejado in natura num pequeno córrego que tem dezenas de residências no entorno e se infiltra, do outro lado da rua, no terreno assoreado da lagoa.
Há poucos metros da rua, o esgoto ainda extravasa de uma tampa da tubulação da Copasa na forma de outro “afluente” deste mesmo córrego, piorando a situação.
Não bastasse a situação da lagoa, o esgoto doméstico a céu aberto ainda atrai insetos, ratos e doenças. Mais à frente, no Bairro Jardim das Oliveiras, outra parada da visita da Comissão de Meio Ambiente, a situação é a mesma no Ribeirão Ibirité, onde também as enchentes são constantes.



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