DEPUTADO GLYCON TERRA PINTO (PPB)
Discurso
Protesta contra suposto descumprimento de mandado judicial de
reintegração de posse, de área invadida no Distrito Industrial de Venda
Nova, no Município de Belo Horizonte, pela Polícia Militar do Estado de
Minas Gerais - PMMG - e critica a postura do Governador Itamar Franco
frente ao caso. Critica a situação político-administrativa do País, em
especial a "indústria" da multa de trânsito.
Reunião
136ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 14ª legislatura, 2ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 23/05/2000
Página 16, Coluna 3
Assunto SEGURANÇA PÚBLICA. ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL. TRANSPORTE.
Aparteante Alberto Bejani.
Legislatura 14ª legislatura, 2ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 23/05/2000
Página 16, Coluna 3
Assunto SEGURANÇA PÚBLICA. ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL. TRANSPORTE.
Aparteante Alberto Bejani.
136ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 14ª
LEGISLATURA, EM 10/5/2000
Palavras do Deputado Glycon Terra Pinto
O Deputado Glycon Terra Pinto - Sr. Presidente, membros da Mesa,
Srs. Deputados, assomo a esta tribuna apenas para deixar um voto
de protesto contra a anarquia generalizada em que está se tornando
o Brasil e, de maneira particular, o Estado de Minas Gerais.
Evidentemente, não podemos fazer coro com essa desordem que está
sendo implantada. Já não há mais respeito aos mandados judiciais.
Desde menino, quando comecei a estudar Direito, aprendi que o
Judiciário, quando manda, não é questionado, é obedecido. Mas
estamos numa Nação em que o Poder Judiciário está sendo
desacreditado totalmente. Há uma campanha elaborada em longo prazo
cuja finalidade é destituir toda autoridade constituída. A Polícia
Militar de Minas Gerais é uma entidade que, sem dúvida nenhuma,
foi sempre respeitada e sempre foi motivo de orgulho para os
mineiros. Ela, atualmente, está inteiramente acéfala: um Coronel
que retruca ordens policiais; um Governador que, em vez de cumprir
o mandado judicial, dá um prazo para se evacuar uma fazenda; um
Governador que entra e passa por cima da autoridade de um Coronel,
de um mandado judicial e parlamentar de uma maneira completamente
diferente. Não é possível continuar assim. Vimos, há poucos dias,
um Sargento ser assassinado. Nunca vimos uma comissão de direitos
humanos ir lá defender a viúva, perguntar se ela está precisando
de alguma coisa. Mas quero dizer à D. Maria Madalena que as suas
lágrimas não serão em vão. Já pedi à minha assessoria que faça um
estudo para elaborar um projeto para que todo policial militar ou
mesmo um civil policial que for morto durante o exercício de sua
função, ou ficar paraplégico e não puder exercer outra atividade,
receba o salário em dobro ou a viúva receba em dobro por ele. Sei
que já existe uma bonificação que parte de uma entidade agregada à
polícia. Mas estou dizendo que esse projeto que estou estudando
deverá ser transformado em lei, a partir do soldo do militar. E se
o sindicato ou congênere da Polícia Militar puder dar mais uma
vantagem, melhor ainda. É claro que lamentamos uma perda de vida,
lamentamos qualquer coisa que venha a impossibilitar um homem de
trabalhar. E depois de derramado o leite, não adianta chorar. O
que podemos fazer é tentar amenizar a dor e as dificuldades que
essa família vai passar sem o chefe da casa.
Acho que chegou a hora de pensarmos mais seriamente no Brasil. Se
as coisas continuarem como estão, nossos filhos não terão onde
repousar a cabeça. É um desaforo. Esse movimento dos sem-terras é
coisa de malandro, é coisa de gente que não trabalha. Existe sem-
terra que tem ônibus, rádio, caminhão, condução, alimentação,
assistência, e tudo isso com dinheiro dos nossos impostos. Sou
contra porque acho que o dinheiro suado do povo não é para
sustentar malandro e vagabundo. É preciso um basta. Temos de
respeitar a autoridade do Brasil. Quero saber de alguns Deputados
metidos a besta: se entrar alguém na casa deles, tomar a metade da
casa para morar, se eles irão pedir ordem judicial para ter
remissão de posse? Vai-se chamar a polícia, e a polícia vai pedir
ao Comandante, que vai pedir ao Governador para autorizar a defesa
dessa casa? Onde estamos com a cabeça? Será possível que o Brasil
está tão podre que corrompeu até a inteligência do povo? Será que
não há ninguém, nem Exército, nem polícia, nem Marinha, nem
Aeronáutica que possa defender um direito que está sendo
violentamente saqueado? Isso é parlamento ou circo? Devemos parar
um pouco e ter mais responsabilidade nas nossas atitudes. Há muita
gente no Brasil que vai na conversa desse povo, mas ainda há muita
gente que diz o que pensa, que sabe o que faz. Ou vocês pensam que
todos os brasileiros são burros ou idiotas? É preciso dar um
basta. Ou esta Assembléia cai em si e toma uma atitude digna,
honrada e ponderada, ou o circo vai pegar fogo. E podem fazer
gracinha. A Bíblia adverte que quem abre uma cova cai nela. E os
que estão permitindo a abertura dessa cova serão os primeiros a
cair nela. Vocês podem ter o rótulo que quiserem, a aparência que
quiserem, mas, no fundo, não são idiotas, sabem o que estão
fazendo.
Temos de unir nossas forças, dar as mãos, ter espírito altruísta,
para consertar este Brasil. Todos sabemos que é necessária a
reforma agrária, mas deve ser construtiva. Vamos enviar as pessoas
que querem terra para suas cidades natais, para que os Prefeitos
lhes dêem terra e condições de plantar. Assim, serão vigiados por
seus familiares e parentes. Ao invés disso, as pessoas largam os
lugares onde nasceram, para se juntar a outras e fazer baderna. Se
um indivíduo já tem o seu pedaço de terra, por que continua no
movimento, fazendo visitas a outros?
Queria solicitar ao Governador do Estado, ao Secretário da
Segurança Pública e ao Comandante das Forças Armadas que se
fizesse um levantamento legítimo e uma ficha cadastral de um por
um dos indivíduos sem terra. Vamos saber se alguns já receberam
seus quinhões, como estão sendo plantados, qual a produção feita.
Houve muita reclamação e exigência, e muita terra já foi dada,
mas, até hoje, não vi nenhum relatório a respeito do fruto dela.
Onde está a produção? Já se tem de ter produzido algo de útil,
gerado lucro. Onde ele está?
Brasileiros, não faço questão de ganhar as eleições. Quem me
elege é meu Deus, a quem dou satisfação. Parlamentares, é Deus que
lhes diz: “Ai daquele que promulga lei injusta, que chama o errado
de certo e o certo de errado!”. Cuidado! Podem escapar aqui do
julgamento das pessoas, ganhar governos e posições, mas não
escaparão do justo Juízo de toda a terra.
Temos que parar um pouco e refletir. Não estou acusando ninguém,
pois não sou melhor do que nenhum dos presentes. Não estou fazendo
campanha para ganhar votos, nem me preocupo em ser simpático ou
atrevido. Chega! Está tudo errado! Pedimos uma grande virada, e
Deus a concedeu, mas esta Casa está toda de pernas para o ar. Está
na hora de colocarmos ordem aqui. Não é possível continuarmos
assim.
O Governo, em vez de administrar e educar o motorista, fez da
multa uma indústria. Hoje há a indústria da multa. E ainda haverá
belo-horizontinos que votarão no Dr. Célio de Castro. O povo
esquece facilmente. Na Av. Cristiano Machado, junto ao túnel, há
um aparelho escondido, perto das árvores, para filmar e multar. O
que interessa é o lucro. Chega! A finalidade da multa é a correção
do motorista. A situação chegou a tal ponto, que já tive
informações de que a BHTrans, ao final do dia, rasga muitas
multas, pois, se forem computar todas, parará o movimento do
Estado. É um desplante que algumas vias de acesso de Belo
Horizonte tenham a velocidade-limite de 40km ou 60km. Não estamos
no tempo da carroça, mas no do automóvel.
Temos de parar um pouco para consertar a situação. Está de mais.
Não estamos vendo nenhuma ação séria, construtiva, visando ao
benefício do povo, que já está saturado de impostos, e, agora,
temos as multas. Temos de parar com isso, a situação não pode
continuar. Não é possível que não estejam enxergando o problema.
Plantamos aqui e colhemos adiante. O que será de nossos filhos?
Como nossos netos poderão viver? Já não temos garantia de vida.
Já foi denunciado desta tribuna que uma arma presa foi utilizada
em outro assalto. Meu Deus, de quem é a responsabilidade?
Deveríamos levar a situação a sério e colocar uma pedra sobre o
que passou. Vamos começar algo direito e correto. Por que não
criar uma comissão para o recebimento de denúncias anônimas e a
sua apuração? Se fizermos isso, os próprios policiais honestos
denunciarão os desonestos, havendo uma limpeza natural na área.
Entretanto, esse não é o interesse de muitos, que querem fazer
política e estardalhaço na mídia. Graças a Deus, meu nome sai
pouco na imprensa, e, quando sai, o repórter usa meu nome como se
lhe tivesse dado uma entrevista. Nem respondo pelo que sai. E, do
jeito que está saindo hoje, é melhor não sair, pois, pelo menos,
não se desgasta a nossa dignidade.
Meus amigos Deputados, faço um apelo para que se crie um campo de
decência e se formulem atos equilibrados.
O meu protesto contra esses desmandos continua firme e caloroso.
Não concordo com isso. Isso não significa apoiar ou não apoiar o
Governo, mas ser fiel à cidadania e à dignidade de cada um.
O Deputado Alberto Bejani (em aparte) - Obrigado, Deputado Glycon
Terra Pinto. Parabenizo-o pelo equilíbrio e pelo homem exemplar
que é. Tenho conhecimento disso desde a minha posse e durante as
conversas que tive com V. Exa.
O senhor citou o nome sagrado de Deus. Ao falarmos em Deus, nos
lembramos do Salvador, que é Cristo. Lembrando de Cristo, também
nos lembramos de Judas. O que está acontecendo em Minas Gerais é
que o povo é o Cristo e elegeu alguém pensando ser o segmento da
salvação, mas fez com que tivéssemos em Minas Gerais um governo
que começa a se caracterizar como Judas, traindo o próprio povo.
Durante sua campanha, dizia que o funcionário estava em primeiro
lugar. Mas estamos vendo que o funcionário está até agora
esperando de boca aberta, alguns passando necessidades, não tendo
o que comer, outros sendo despejados, em virtude do salário
medíocre que é pago no Estado de Minas Gerais.
Além disso, está acontecendo também essa confusão do Governador
com a Assembléia Legislativa, tentando responsabilizar os
Deputados por aquilo que é de competência dele. Envia para esta
Casa uma lei delegada e uma proposta de emenda à Constituição.
Depois, substitui essa proposta, tentando jogar nas costas dos
Deputados a responsabilidade que é dele, pois foi sua promessa de
campanha.
Deixo aqui - e a responsabilidade por essas palavras é minha - o
meu entendimento de que o povo é o Cristo, que é o Salvador,
porque Cristo realmente é o Salvador. Mas esse povo elegeu alguém
pensando que era um segmento de salvação, mas acabou elegendo um
judas, que está traindo Minas Gerais. Obrigado, Deputado Glycon
Terra Pinto.
O Deputado Glycon Terra Pinto - Para encerrar, deixo bem clara a
minha posição. Sou contra esse estado de coisas que está
acontecendo. Sou contra chamar bandido de herói e herói de
bandido. Sou contra dar dinheiro para malandro, tentando
anarquizar a Nação brasileira. Aqueles que deram a sua vida em
favor dessa terra são menosprezados, estão em segundo plano. A
esquerda é muito boa, mas não essa que existe. Essa é uma esquerda
falsa, hipócrita, mentirosa, incoerente, pois xinga o Fujimori,
mas bate palmas para Fidel Castro. Quem tem caráter e sabe pensar
compreende perfeitamente o que estou dizendo. Muito obrigado.