DEPUTADA BELLA GONÇALVES (PSOL)
Discurso
Legislatura 20ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 10/04/2025
Página 91, Coluna 1
Indexação
6ª REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 9/4/2025
Palavras da deputada Bella Gonçalves
A deputada Bella Gonçalves – Bom dia a todas as pessoas, deputados, deputadas, trabalhadores da Assembleia Legislativa, público que nos assiste das galerias e também on-line. Bom dia a todo mundo. Bom, vocês estão acompanhando um processo de obstrução que a oposição da Casa, o Bloco Democracia e Luta, está fazendo diante da postura do governador Romeu Zema de vetar temas aprovados por unanimidade pela Casa e que são muito caros a toda a população mineira, mas que parecem temas que incomodam o governo e que ele não prioriza. Temas importantes, como o combate a incêndios florestais, temas como a garantia de assistência social para famílias que mais precisam, a discussão sobre crianças e outras pessoas autistas, bem como o avanço da terapia ocupacional – como bem citado pelo colega Cristiano Silveira –, são alguns dos temas que o Zema vetou, na sua arrogância, e que estão travando a Casa Legislativa.
Os deputados que estão aqui e que fazem parte da base muitas vezes são constrangidos pelo governo do Estado, pelo secretário Marcelo Aro, a votar em temas, a manter vetos em questões das quais eles mesmos discordam, por uma fidelidade à base do Romeu Zema. Enquanto isso, o governador parece estar muito pouco preocupado com Minas Gerais, uma vez que não tem feito diligências e conversas com a Assembleia Legislativa, não tem se preocupado em resolver temáticas importantes do povo mineiro e está concentrado em parecer o mais extremista dos bolsonaristas, o mais direita da direita, o mais próximo possível do Javier Milei, com declarações de Facebook, participações em atos e vídeos de inteligência artificial.
Enquanto o governador faz gracinha para tentar um lugar ao sol na disputa de 2026, na qual ele não tem nenhuma chance... Não é, gente? Vamos ser sinceros. Quem é o Romeu Zema na fila do pão? Enquanto isso, a gente vê, nesta manhã, mais uma ação de questionamento da má gestão pública e da tentativa de desmonte do poder público, pois o secretário de Saúde e a presidenta da Fhemig, Renata, foram denunciados pelo Ministério Público por má gestão na condução do processo de fechamento do Hospital Maria Amélia Lins.
Vejam bem, gente: eles feriram, de forma central, os princípios da moralidade e da publicidade. Da publicidade, porque mentiram para a Superintendência do Trabalho, do Ministério do Trabalho, para a Assembleia Legislativa, para trabalhadores, para gestores e para o Conselho de Saúde, ao dizer que o hospital havia fechado para manutenção, quando, na verdade, o que eles queriam fazer era a entrega completa do equipamento. Isso foi revelado três meses depois, quando o governo do Estado lançou um edital não para modificar a gestão do hospital, não para garantir a continuidade dos serviços prestados, deputado Noraldino, mas simplesmente para doar o hospital e os bens que estavam dentro dele para algum grupo privado administrar. Essa doação foi de milhões de reais, o que corresponde à estrutura do hospital. São 41 leitos de enfermaria, 6 blocos cirúrgicos e todo um maquinário, todo um equipamento de ponta, que seriam completamente entregues a uma entidade privada qualquer para dar lucro na gestão da saúde a algum grupo econômico. Portanto, feriu-se o princípio da moralidade. Quando falamos “atacou-se o princípio da moralidade”, queremos dizer que se colocou em risco a vida das pessoas.
Só nos três primeiros meses deste ano, foram descontinuados cerca de cem cirurgias e atendimentos de pessoas que eram acompanhadas no Hospital Maria Amélia Lins. São pessoas como o Gabriel, que tinha a sua cirurgia prevista para acontecer nesse hospital e está enfrentando situações de contaminação, de risco. Ele ficou no hospital ao deus-dará, sem perspectiva de realização da cirurgia, tendo sido forçado a receber um atendimento sucateado no Hospital João XXIII.
Gente, o João XXIII é o orgulho do nosso estado; é referência nacional no tratamento de traumas e na medicina de desastres, mas está sendo completamente desmontado. Ontem mesmo, houve, na região do Triângulo Mineiro, uma fatalidade que retirou a vida de 11 pessoas. Muitas outras estão em estado grave, sendo atendidas no hospital universitário da Universidade Federal de Uberlândia. Se isso tivesse acontecido próximo à Região Metropolitana de Belo Horizonte, essas pessoas teriam sido levadas ao João XXIII. Posso afirmar a você, deputado Adalclever, que o João XXIII, sobrecarregado como está com o fechamento do Hospital Maria Amélia Lins, não teria tido condição de atender a todas essas pessoas ao mesmo tempo. Ele não teria tido condição de fazer o que fez alguns anos atrás, à época do rompimento da barragem em Brumadinho, em que recebeu muitas pessoas simultaneamente para realizar os cuidados mais urgentes do trauma. Como podemos permitir que uma estrutura hospitalar como essa seja fechada, sucateada, destruída, já que é orgulho para o nosso estado e garantia da vida de tantas pessoas?
Vejam, o João XXIII recebe gente de todas as classes sociais. Trata-se do melhor lugar para o qual se pode encaminhar qualquer pessoa que se acidente, porque, ali, ela vai ter a certeza de que toda a estrutura estará à disposição para a defesa da sua vida. Mas o secretário de Saúde e a presidenta da Fhemig acharam por bem desmontar a estrutura do complexo do João XXIII. Por causa disso, foram denunciados, hoje, pelo Ministério Público, por improbidade administrativa. Eu espero que haja o avanço desse processo de apuração e que, de fato, a presidente da Fhemig e o secretário de Saúde sejam responsabilizados e até afastados dos seus cargos. A dor que eles causaram nas pessoas é muito extrema. Vimos essa dor ser causada a uma senhora de quase oitenta anos, que estava há 15 dias com muita dor, nos corredores do Hospital João XXIII, sem saber o dia em que seria operada.
Esses casos são muito graves. São o retrato do descaso, do abandono em relação aos principais temas que atravessam o Estado de Minas Gerais e que parecem não ser uma preocupação do governador Romeu Zema. Afinal de contas, ele está inserido em uma campanha para livrar o pescoço do Bolsonaro, dos generais e dos kids pretos que tentaram armar o golpe de Estado no Brasil. Vamos trabalhar, gente. O Estado de Minas Gerais tem prioridades. O Estado de Minas Gerais tem questões urgentes. Vamos prestar atenção aos enormes desafios relacionados à fome da população, neste contexto de alta do preço dos alimentos. Nós não podemos negar nem invisibilizar essa questão.
Todo o mundo acompanhou a luta que nosso bloco fez – e que eu, especificamente, fiz – para evitar o desvio de recursos do Fundo de Erradicação da Miséria. Há, hoje, no Estado de Minas Gerais, milhares de pessoas em situação de extrema pobreza, que precisam de acesso a políticas de enfrentamento à fome e a políticas socioassistenciais. São necessárias também políticas de atenção e cuidado com a população em situação de rua, que não para de crescer, mas o governador simplesmente não menciona esses casos. Para ele, a maior injustiça do mundo é aquilo que aconteceu com uma mulher que estava participando de um ato golpista. Tentam minimizar o que aconteceu, pelo uso de um batom, quando, na verdade, o que a gente sabe é que toda a manifestação do 8 de janeiro fazia parte de um ato maior.
Agora, com os milhares de mulheres que estão hoje sem água no Estado, com os milhares de mulheres que estão hoje enfrentando a ausência de saneamento básico, com os milhares de mulheres que estão hoje sem atendimento de saúde adequado, muitas vezes sem prevenção adequada na ponta, o governador não se preocupa. É muita hipocrisia. É muito desleixo. É muito descaso com o nosso estado de Minas Gerais. Obrigada, presidente.