DEPUTADA ANDRÉIA DE JESUS (PT)
Discurso
Legislatura 20ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 14/02/2025
Página 27, Coluna 1
Indexação
5ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 13/2/2025
Palavras da deputada Andréia de Jesus
A deputada Andréia de Jesus – Boa tarde, colegas deputadas e deputados. Boa tarde, deputado Leleco Pimentel, que está presidindo esta sessão. Achei que não iria conseguir falar, por isso pedi aparte à deputada. Quero seguir com esse assunto. Trata-se de um assunto que deixou a cidade de Ribeirão das Neves extremamente comovida. As mulheres seguem com medo. É importante a gente discutir isso, porque, ontem, infelizmente, o governador usou as redes sociais, como muitos têm feito, marqueteiros, vulgarizando o papel do político. Nós estamos num estado onde o número de mulheres que sofrem com o feminicídio, interrompendo famílias, interrompendo vidas, é muito alto e precisamos de políticas para enfrentar isso. No caso, temos de falar desse crime que nos abalou profundamente nesta semana: o assassinato da Stefany Vitória Teixeira Ferreira, uma menina de 13 anos, que tinha sonhos, família, a vida toda pela frente, e morreu de forma cruel. Vimos, na cidade, crescer a violência. A cidade cresce e, com ela, cresce a violência. Por isso eu acho que esse crime impactou tanto a cidade. É raro ver violências ou crimes praticados com esse nível de violência, deputada Beatriz, em Ribeirão das Neves. É uma cidade que, embora muito próxima de Belo Horizonte… O deputado Vitório, que aqui está, sabe que é raro ver situações tão graves envolvendo os moradores de Ribeirão das Neves. Mas a cidade cresce, e a violência chega.
A gente também precisa discutir, como a deputada Bella Gonçalves colocou, o direito das mulheres à cidade. Não se pode responsabilizar uma criança, uma jovem, uma adolescente de 13 anos por ter sofrido um crime que interrompeu a vida dela e deixou todas as mulheres amedrontadas, inseguras, com medo de sair de casa. E aqui há um fator ainda mais grave: o feminicídio. Quem responde por esse crime é um pastor, um tipo de pessoa em quem a gente confia. A gente confia os nossos filhos à escola dominical, a gente confia os nossos filhos à catequese, como a deputada Bella Gonçalves mesmo disse. Nós estamos falando de líderes religiosos que têm utilizado o espaço religioso para mascarar crimes. Nesse caso, a violência contra a mulher, que levou à morte essa menina, também continua acontecendo. Há muitos líderes religiosos que usam os espaços de poder, da tribuna, para atacar. A gente precisa reconhecer isso e responsabilizá-los.
O mais grave também – e a gente está acompanhando o caso, porque fez parte de várias matérias jornalísticas, a cidade ficou tomada pela imprensa, que foi entrevistar pessoas e familiares – é que a família, assim que a menina desapareceu, procurou a Polícia Militar, que não fez o boletim de ocorrência. “Ah, não! Ela volta, ela deve ter ido ali. Há casos em que a pessoa foge de casa”. Então a família estava apavorada com o desaparecimento dessa jovem, e a polícia se recusou a fazer o boletim de ocorrência, se recusou a agir. Talvez, hoje, essa menina estivesse viva. É revoltante.
O crime foi cometido por alguém que se escondeu atrás da fé. É revoltante ver como algumas pessoas usam a religião como escudo e máscara para esconder a verdadeira face de milicianos, face de antidemocratas, face macabra como a desse homem que destruiu a vida de uma família inteira e deixou uma cidade toda em luto. Como se não bastasse essa tragédia, o desaparecimento demorou a ser admitido pelas autoridades policiais. A mãe buscou ajuda, mas houve a recusa relativa ao boletim de ocorrência. Essa omissão custou a vida da Stefany. E eu pergunto: quantas mulheres e quantas famílias o serviço público também têm recusado, inclusive o serviço público de segurança, porque elas estão sendo questionadas sobre se estão ou não dizendo a verdade? Nós precisamos fortalecer as políticas de proteção para as mulheres. É uma luta que a gente enfrenta aqui, na Assembleia Legislativa. O orçamento que, nos últimos anos, chegou para essa área não chega a R$400.000,00, enquanto o de outras políticas, como a de segurança pública, chega a ser de R$10.000.000,00 por mês.
Então, de fato, o aumento da violência não é uma responsabilidade isolada de nenhuma família, de nenhuma mãe. É uma responsabilidade do Estado, e a gente precisa cobrar aqui daqueles que podem interferir no orçamento, cobrar do governador o compromisso com a política voltada para as mulheres, para o cuidado, para o treinamento de policiais para atender com prontidão e com urgência os casos. De qualquer forma, eu deixo aqui a minha solidariedade. Vamos seguir lutando para que todas as mulheres tenham direito à vida. Que nenhuma família possa passar pela dor que essa família está passando. Eu sou mãe e sei que perdemos um pedaço da gente quando perdemos um filho, é um pedaço da vida dessa família. A Stefany não será esquecida. Essa não é uma frase isolada, não é uma frase oportunista. Nós estamos dizendo que a nossa luta, como mulheres, aqui na Assembleia Legislativa, é para que elas tenham vida, proteção, garantia. Isso começa desde a fase da educação, mas é fundamental que o Estado tenha políticas específicas para enfrentar a violência, seja com formação, seja com cartilha, com debate nas escolas, com delegacias bem estruturadas, com o trabalho volante do Cras visitando as casas, acompanhando as famílias, para que situações como essa não se repitam jamais. Essa luta seguirá firme para que nenhuma menina tenha a vida interrompida dessa forma tão cruel.
Essa é a minha contribuição nesta tarde. Boa tarde. Obrigada, presidente.