Pronunciamentos

DEPUTADA BELLA GONÇALVES (PSOL)

Discurso

Defende a proposta de redução de jornada de trabalho semanal no Brasil (fim da escala 6x1).
Reunião 47ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 20ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 14/11/2024
Página 52, Coluna 1
Indexação

47ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 12/11/2024

Palavras da deputada Bella Gonçalves

A deputada Bella Gonçalves – Obrigada, presidente. Eu queria saudar toda essa juventude presente hoje no Plenário da Assembleia Legislativa. Quero dizer que a gente luta todos os dias aqui – viu, gente? – para a gente ter um meio ambiente adequado e não ficar refém das mudanças climáticas, para a gente ter trabalho e emprego adequado para todas as pessoas, pela igualdade de gênero, para ter mais mulheres na política. Então tratem de se animar para ver se a gente amplia o número de mulheres aqui também, viu? Vamos juntas e um grande abraço para todas as juventudes que estão aqui.

Presidente, eu queria lamentar o fato de a gente ter que escutar tanta coisa no Plenário. Eu fiquei até querendo dar uma limpada nos ouvidos, porque, de fato, fake news o tempo inteiro são aplicadas contrapropostas muito importantes e históricas do povo trabalhador, do povo que gera riqueza, do povo que rala todos os dias para construir o Brasil.

A defesa da CLT e a defesa da redução da jornada de trabalho é uma das pautas históricas mais importantes do povo trabalhador no Brasil e no mundo. E que bonito ver como as redes sociais e a mobilização de rua fizeram com que uma pauta como a redução da jornada de trabalho ganhasse corpo de forma repaginada, com a apresentação da PEC pelo fim da escala de trabalho 6x1 e também pelo nascimento do movimento VAT, Movimento Vida Além do Trabalho. Que orgulho ter o meu partido, o Psol, encabeçando essa PEC junto com Erika Hilton e também com Rick Azevedo.

Queria explicar um pouco, inclusive para os estudantes que estão aqui, sobre a escala 6x1. A escala 6x1 contém a ideia de que você vai trabalhar seis dias da semana e vai ter apenas um dia para descansar. A discussão é que a vida, com tamanha sobrecarga, não permite você ter convivência familiar, lazer e descanso. Uma escala em que você só tem um dia de folga por semana – muitas vezes, essa folga vai ser escolhida pelo empregador e não pela pessoa assalariada – não dá espaço para a vida. E a gente trabalha para viver, não pode viver para trabalhar. Essa é a ideia por trás da proposta pelo fim da escala 6x1 que tomou as redes, tomou a cena dos jornais e do debate público. Ela é para podermos viver para além do trabalho, para não vermos a nossa população massacrada nos telemarketings, nos bares, nas lojas, em diferentes empregos.

Essa é uma ideia muito importante, mas está sendo atacada por um setor da extrema direita que também atacou a ideia do 13º salário no Brasil. Achavam um absurdo que, ao final de 12 meses trabalhados, houvesse um salário adicional. Hoje, o 13º salário é a garantia de que o trabalhador vai conseguir inclusive investir em algo, como o pagamento de uma parcela da casa própria, a reforma da casa, as férias e várias outras taxas inclusive.

Cito também a PEC das Empregadas Domésticas: aqui foi atacada a ideia de que as trabalhadoras domésticas tivessem direitos. Essa é uma ideia de uma sociedade escravocrata, que nunca gostou de direitos trabalhistas e que tentou atacar o direito dessas trabalhadoras de terem os mesmos direitos que todos os trabalhadores têm: licença-maternidade, auxílio-doença e salários dignos.

Olhe, gente, é um absurdo a gente ter que escutar falas contrárias a direitos trabalhistas tão claros, em um momento como este. A ideia do VAT vai ganhar força, e a gente pode ter essa PEC tramitando e sendo aprovada no Congresso Nacional. Até porque, Betão, já contamos com mais de 100 assinaturas. São 100 assinaturas na PEC, que vão isolando, cada vez mais, o PL.

Pessoas que, inclusive, nunca trabalharam, como o deputado Nikolas Ferreira… Eu conheço aquele lá, ele nunca trabalhou, entendeu? Aliás, nem pagar a universidade ele pagou; deu calote na PUC, não trabalhou e, hoje, é deputado federal para falar asneiras contra o direito dos trabalhadores. Mas, além disso, nós tivemos a declaração lamentável do governador Romeu Zema. Romeu Zema, em tudo o que se refere ao direito dos trabalhadores, faz alegações péssimas. Ele diz que é contra a escala 6x1 porque a relação de trabalho tem que ser definida, de forma desregulamentada, pelo empregador e pela pessoa que está sendo empregada. Ora, essa ideia, em um país como o Brasil, é a ideia de voltar aos tempos da escravidão. Trabalho análogo à escravidão é tão comum em Minas Gerais que o nosso estado está no ranking como o número 1 em trabalho escravo. Em compensação, nós temos o governador dizendo que jovens deveriam fazer o trabalho para empresas gratuitamente, atacando o Bolsa Família e, agora, atacando as leis trabalhistas que já existem e a ideia de que a gente possa avançar para leis que garantam melhores condições de trabalho para todas as pessoas.

Eu acho importante desconstruir dois mitos que têm sido propagados pela extrema direita. O primeiro mito é que a escala 6x1 gera desemprego. Isso é mentira. A escala 6x1, a redução da jornada de trabalho, vai permitir justamente a abertura de novos postos de trabalho, com a garantia de maior alternância entre os trabalhadores. A segunda fake news é que essa escala pode aumentar o preço dos produtos. Veja bem: hoje, o preço dos produtos está muito mais ligado à taxa de juros e ao investimento tecnológico que é feito em determinado produto. Só em um país superexplorado e de economia dependente como o Brasil há a alegação de que a redução mínima de uma escala de trabalho aumentaria o preço dos produtos. Isso é mentira. Existem políticas econômicas para que o Brasil cresça, e para que cresça com mais igualdade, mais justiça e com mais bem-estar para todas as pessoas. Nós podemos ser a nação que vai dar o primeiro passo, com a redução da jornada de trabalho e com o fim da escala desumana 6x1. Queremos trazer esse debate aqui para a Assembleia Legislativa; queremos trazer a deputada Erika Hilton para fazer esse debate conosco; e vamos construir uma grande frente pelo direito dos trabalhadores, pela redução da jornada de trabalho. Vamos juntos.