DEPUTADO ALENCAR DA SILVEIRA JR. (PDT)
Discurso
Legislatura 20ª legislatura, 2ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 17/10/2024
Página 208, Coluna 1
Aparteante PROFESSOR CLEITON, THIAGO COTA
Indexação
39ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 15/10/2024
Palavras do deputado Alencar da Silveira Jr.
O deputado Alencar da Silveira Jr. – Cumprimento os senhores deputados, as senhoras deputadas e os telespectadores da TV Assembleia, que a gente criou há mais de 20 anos. Eu gostaria, primeiramente, de parabenizar o deputado Hely Tarqüínio pela sua volta. É muito bom vê-lo nesta Casa. É muito bom ver um deputado atuante, um deputado que sempre fez, um deputado que sempre trabalhou muito pelos mineiros, no retorno a esta Casa. Quero lhe desejar boas-vindas e falar o seguinte: estava morrendo de saudade de ver V. Exa. filosofar, mostrar e ensinar a esta Casa. V. Exa. sempre ensinou muito a esta Casa, o que é muito bom.
E eu quero parabenizar também os deputados que disputaram a eleição, deputados esses que foram eleitos, mas antes quero parabenizar todos os deputados – os que foram eleitos e os que não foram eleitos – por colocarem o nome para apreciação, por disputarem uma eleição. É uma eleição difícil a eleição para prefeito. Só quem já disputou uma eleição para prefeito sabe a dificuldade que é, sabe como é difícil e sabe que não é fácil, não. Então quero parabenizar o Douglas, o Fábio Avelar e o Coronel Sandro, os três colegas que vão deixar esta Casa a partir do dia 1º e assumir a prefeitura dos seus municípios – municípios esses que, com a experiência que nossos companheiros têm e a amizade que deixam nesta Casa, com certeza terão todo o apoio do Legislativo. Por quê? Porque aqui eles não deixam só companheiros, mas também amigos com os quais conviveram por vários e vários anos. Esse é o meu caso, pois convivi aqui com o deputado Douglas, com o deputado Fábio e com o próprio deputado Coronel Sandro.
Mas o que me traz aqui hoje, Sr. Presidente, é o motivo pelo qual o Brasil está chorando, o Brasil está quebrando: as apostas em bets. Estou acompanhando. Aliás, acompanhei o depoimento de um senhor que estava comprando o resultado na CPI. Ele está lá em Portugal e falou o seguinte: “Eu comprava jogadores, comprava juízes e vou dar o nome quando a CPI chegar aqui”. Salvo engano, está marcado pelo Kajuru, que, hoje, é senador e foi nosso colega de rádio aqui. Para quem não sabe, anos e anos atrás ele trabalhou no esporte da Rádio Itatiaia. Acho que o Romário, jogador da seleção, que é conhecido também, é o relator dessa CPI.
Vou falar aos senhores, como presidente de um clube que é o melhor do Brasil: o América Mineiro. No ano passado, nós, do América, fomos prejudicados, sim, pelas apostas em bets. Nós tivemos dois jogadores envolvidos. Eu quero lembrar aos senhores e às senhoras que todos os clubes, como o Santos e o América, que estavam na Série B no ano passado, foram prejudicados por esses jogadores que se venderam. Desde essa época, eu venho trabalhando muito para que a gente possa proibir a aposta individual no esporte coletivo. Explico para os senhores e as senhoras. É muito fácil a gente acabar com essa manipulação de compra de cartão, de compra de pênalti, de compra de expulsão, de compra de cartão amarelo ou vermelho. É fácil! Isso aí, deputados, deputadas e vocês, do Senado… Eu entreguei ao deputado Rodrigo Pacheco uma carta pedindo para proibir essas apostas. Você não pode apostar. O Brasil não pode aceitar a aposta com o cartão vermelho. O Brasil não pode aceitar que se continue apostando no cartão amarelo se a pessoa errar um pênalti, se a pessoa fizer um pênalti. A conduta individual não pode se transformar e se sobressair no esporte coletivo. Você tem 11 jogadores. Se você pega um mal-intencionado no seu clube, ele vende o time todo e prejudica o time todo. Por quê? Porque, quando ele toma um cartão amarelo ou um cartão vermelho, na próxima partida não vai jogar e proporciona ao outro time, que é o time adversário, ganhar.
Olhe, quer acabar com isso? Bet vai continuar sendo aposta? Vai continuar sendo aposta. E você vai proibir a aposta de cartão. Tudo o que houver para prejudicar um clube de futebol, minha gente, tem de ser proibido. Deixem que continue a aposta: “Eu vou apostar em quem faz um gol, eu vou apostar em quem faz uma defesa, eu vou apostar em quem faz o primeiro gol, mas não vou apostar no primeiro cara que faz o primeiro pênalti, não vou apostar no primeiro cara que vai tomar um cartão!”. O futebol é a razão do brasileiro. Todo mundo é doido com o futebol. Mas, para quem não sabe e para muita gente que não entende de futebol, já acontece, há muito tempo, a compra de juiz. Há um filme que se chama O goleiro. Entre lá na Netflix e dê uma olhada. Você vai ver lá O goleiro e um juiz mal-intencionado relatando que, quando não havia televisão, ele vendeu o resultado da partida. O resultado era zero a zero, mas, quando faltavam 5 minutos, ele mandou o centroavante cair. Aí, o centroavante tropicou, caiu, e ele deu um pênalti. O cara bateu o primeiro pênalti, e o goleiro pegou. Aí, ele falou: “Olha, o goleiro andou”. Quando bateu o segundo, chutou para fora. No terceiro, ele mandou voltar. E aí o que ele fez? Ele disse: “Você não vai bater o pênalti, não; bata o outro”. O outro bateu e fez o gol. Então isso aí há muito tempo acontece no Brasil e, com as apostas esportivas, está piorando.
Portanto fica aqui um pedido ao Congresso e à Câmara dos Deputados para acabar definitivamente com a venda de resultados que fazem dificultar ou facilitar esses jogos. Bet não pode! Você não pode apostar no esporte coletivo, você não pode apostar no individual.
Segunda coisa: estou vendo hoje e já tive a oportunidade… Eu queria jogar, Sr. Presidente. Já perdi mais de R$2.000,00 mostrando para todo mundo esse jogo que tem o tigrinho, o leãozinho, o coelhinho. Eu já tive essa oportunidade. Eu fiz isso e alertei a população. Não se pode… Quer acabar com isso? Acabe amanhã com os suicídios, com os vícios que estão ocorrendo. Vai acabar amanhã! É só o governador e o presidente Lula… Eu fiz uma carta para ele: “Presidente da República Lula, baixe um decreto e fale que a bet está proibida de fazer jogo de cassino, jogo de caça-níquel e jogo do bicho por telefone”. Isso acaba na mesma hora. “Ah, mas vai ter o clandestino”. O clandestino é fácil, porque você vai ter que fazer um depósito para uma conta. E se for de forma clandestina, você a fecha na mesma hora, você pega na mesma hora. Então toda a dificuldade que está colocando o governo federal… Está colocando por quê? Está facilitando. E, desta tribuna, eu falo: se está acontecendo isso com as bets, com a aposta do tigrinho, com a aposta de cassino, com a aposta do jogo do bicho no celular, é por causa da Câmara dos Deputados. O Senado fez o projeto, aprovou o projeto da regulamentação das bets, das apostas esportivas. E o que aconteceu? Sr. Presidente da Casa em exercício, o presidente do Congresso destacou uma emenda na mesma hora, colocando o jogo de cassino no telefone, o jogo de caça-níquel no telefone, o jogo do bicho no telefone! E o que aconteceu, Sr. Presidente? A população está jogando, e os deputados votaram sem saber o que estavam votando. Rolou dinheiro. Houve deputado, certamente, com lobby forte. Ah, um lobby? Um lobby só não. Rolou foi dinheiro ali. Isso foi comprado lá em Brasília. Eu acho que é preciso propor uma CPI para investigar isso. Como você aceita uma atitude como essa? Como você aceita? O brasileiro hoje… Vou dar um exemplo que estou falando em todas as emissoras. O brasileiro, antigamente, para jogar no jogo do bicho, sonhava, pegava o seu sonho, chegava perto do cambista, o seu João, o seu Manuel, e falava: “Eu sonhei com elefante, então, vou jogar no elefante”. “Está bom.” Do jeito que está hoje com o telefone, Sr. Presidente, não está havendo tempo nem para dormir, quanto mais para sonhar. As bets estão colocando jogo de hora em hora, com um detalhe: o resultado é programado. O resultado e tudo o que acontece no telefone, minha gente, é programado.
Faltou o governo dar um apoio, um apoio para a população, para a população que tem jogador compulsivo. Aqui, nesta Casa, eu ouvi várias coisas, ouvi ali antes de entrar. Eu falei que ia subir à tribuna para falar. Uma senhora do interior disse que a filha estava com dinheiro para casar e jogou tudo pelo telefone. Nós temos um colega deputado cujo filho de 12 anos, junto com a moça que toma conta dele, estavam jogando pelo telefone. Numa cidade perto de Materlândia, uma senhora recebia o dinheiro do filho para comprar um carro. Ela entrou no tigrinho, perdeu R$2.000,00, depois R$17.000,00, dinheiro que era do seu filho. Ela não sabia o que fazer, cortou o pulso e se suicidou.
E, como ela, há várias pessoas. Um secretário da Prefeitura de Belo Horizonte me ligou e falou: “Meu filho está na mesma situação. Perdeu R$180.000,00, perdeu o casamento”. Um amigo – quando eu fiz o vídeo mostrando o jogo, como se perde rápido – mandou um recado: “Meu filho, há um mês e meio, dois meses, foi fazer um tratamento. Eu parei tudo, minha mulher e eu estamos andando com ele para baixo e para cima, e ele está num vício danado”. Na terça-feira passada, ele me ligou e disse: “Infelizmente, tive que internar o meu filho”. Então a situação é essa. Quer acabar com isso? Acabe de uma hora para outra: vote o projeto proibindo cassino, jogo do bicho e caça-níquel no telefone. Em um restaurante perto da Assembleia, o pessoal filmou a cozinheira fazendo a comida e jogando no telefone. Está desse jeito. Você joga pela manhã, à tarde e à noite. É um prazer, concedo-lhe aparte.
O deputado Professor Cleiton (em aparte) – Deputado Alencar, gostaria de parabenizar o senhor pela fala importante, no momento histórico que nós estamos vivendo, com esse vício incontrolável que tomou conta da nossa população. Sou autor de um projeto de lei que já está protocolado nesta Casa, que coíbe, inibe, aqui, em Minas Gerais, as propagandas dessas bets. Com muita propriedade o senhor traz esse assunto, e com muita coragem, porque a gente sabe do poderio que têm os proprietários dessas bets e afins e o quanto a nossa população está sendo bombardeada o tempo todo por essas propagandas. Há uma questão científica que demonstra que o efeito no cérebro de quem está viciado é o mesmo que o da cocaína. Então, parabenizo V. Exa. e peço o apoio também desta Casa para que o meu projeto de lei, que inibe as propagandas de bets, possa caminhar nesta Casa, para que Minas Gerais dê para o Brasil esse exemplo por meio da Assembleia de Minas. Parabéns.
O deputado Alencar da Silveira Jr. – Ludopata é a pessoa que está viciada no jogo. Precisamos urgentemente que o governo de Minas faça um programa para que a gente possa definitivamente auxiliar essas pessoas que são viciadas no jogo, compulsivas. E eu falo com muita tranquilidade: várias vezes subi nesta tribuna e pedi a legalização do jogo, mas eu nunca imaginei que essa legalização seria pelo telefone. Cassino tem que ter um lugar próprio, onde vai gerar receita, emprego e recurso.
O deputado Thiago Cota (em aparte) – Deputado Alencar, a bancada do PDT está unida a V. Exa., está 100% ao seu lado, para que a gente possa levar essa pauta adiante.
O deputado Alencar da Silveira Jr. – Muito obrigado, deputado Thiago Cota. Para finalizar, pasmem, senhores e senhoras deputadas: depois de eu fazer todos os vídeos que nós fizemos, eu recebo um telefonema, presidente, de um senhor: “Alencar, a loteria de Minas Gerais tem uma bet, e na bet há o caça-níquel também. Aí eu peguei o telefone e joguei nesse caça-níquel, perdi o dinheiro. Em 30 segundos, eu perdi o dinheiro todo”. Agora eu vou fazer uma colocação só aqui: não existiu, Leonídio Bouças, nenhuma licitação para fazer uma bet na Loteria Mineira. Ela foi colocada goela abaixo. Está na hora de o Sr. Ronan, que já fez o governador passar vergonha por tudo o que aconteceu na loteria até hoje… Está na hora de esta Casa chamá-lo aqui e perguntar a ele: “Presidente, como o senhor conseguiu colocar uma bet funcionando com caça-níquel dentro da Loteria Mineira?”. Fica a minha pergunta e o meu requerimento, solicitando a presença dele aqui, nesta Casa. Muito obrigado, Sr. Presidente.