PATRUS ANANIAS, Deputado Federal
Discurso
Legislatura 20ª legislatura, 2ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 04/09/2024
Página 5, Coluna 1
Indexação
Proposições citadas RQN 6987 de 2024
34ª REUNIÃO ESPECIAL DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 3/9/2024
Palavras do deputado federal Patrus Ananias
Boa noite! Eu quero saudar aqui inicialmente, quebrando um pouco o protocolo, todas as pessoas que estão aqui presentes, que também representam a cultura, a música de Minas e do Brasil. Quero saudar a Exma. Sra. 1ª-vice-presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, deputada Leninha, autora do requerimento que deu origem a esta homenagem, neste ato representando o presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, deputado Tadeu Leite. Quero saudar ainda o Sr. Daniel Godoy, e junto com ele, toda a família Godoy, que é uma família que expressa muito o que há de melhor em Minas e no Brasil. Presto uma homenagem muito especial saudando a Maria Lúcia Godoy, a nossa homenageada desta noite memorável.
Eu quero inicialmente dizer a vocês que não vim preparado para falar, não. Não estava no meu roteiro falar aqui, não. Estava no meu roteiro estar aqui presente junto com vocês, prestando esta homenagem a Maria Lúcia Godoy, junto com a querida família Godoy. Temos laços profundos e históricos de amizade. Eu quero também dizer que nós estamos aqui presentes em família. A minha querida companheira Vera, que nos deixou há mais de um ano… Muito obrigado. Ela estaria aqui presente hoje, mas nós estamos representando a Vera e toda a nossa família, eu e o meu filho Pedro Patrus, que aqui também está presente para prestar esta homenagem.
Eu tenho, nos últimos tempos, me dedicado muito ao Brasil. O meu grande tema, cada vez mais, é a nossa grande e querida pátria brasileira, com a sua história, as suas possibilidades, o seu povo, a sua formação ampla e acolhedora. E tenho me dedicado também ao tema da soberania nacional. Nós constituímos, na Câmara dos Deputados, a Frente Parlamentar Mista em Defesa da Soberania Nacional. Quando nós falamos da soberania nacional, do projeto nacional brasileiro, alguns temas surgem. Eu, por exemplo, defendo hoje, respeitando quem pensa diferente, que nós ainda não somos um país economicamente independente. Continuamos muito parecidos com o passado, basicamente exportando matéria-prima. Mas há uma independência esplêndida no Brasil. Eu digo isso com muito orgulho e alegria. Nós somos um país culturalmente independente. Eu estou convicto de que a Semana de Arte Moderna, em 1922, consolidou uma independência que já havia sido construída historicamente. E, nessa independência cultural do Brasil, a música brasileira ocupa um lugar esplêndido. Eu compartilho hoje, aqui, com as pessoas presentes uma certa angústia, até mesmo uma tristeza, mas também o compromisso de retomarmos com esse silêncio que paira em torno da cultura brasileira e especialmente em torno da música brasileira, em torno de Heitor Villa-Lobos, em torno de Maria Lúcia Godoy. Seja nas composições, na música, nas letras e nas interpretações, como Maria Lúcia Godoy, temos um espaço belíssimo. E hoje, aqui nós celebramos, na pessoa da Maria Lúcia, o seu belíssimo centenário, essa independência plena da nossa cultura, especialmente da nossa cultura musical, uma música variada, uma música de vários níveis. E o que é bonito na Maria Lúcia Godoy é que ela interpreta e canta essas dimensões todas. Vai-se de Villa-Lobos a Tom Jobim, vai-se também ao cancioneiro popular, que canta as coisas de Minas, de Diamantina, e que o nosso ex-presidente, sempre presente nos nossos corações e na nossa memória, Juscelino Kubitschek, também gostava: as músicas regionais, as músicas de Diamantina, as músicas de Minas.
Maria Lúcia Godoy expressa também uma outra dimensão esplêndida, que é a dimensão de Minas Gerais. Não me lembro bem de quem disse, se não me falha a memória, já hoje um pouco fugidia, parece que foi o Otto Lara Resende, que diz: “O mineiro e a mineira deixam um pé em Minas e o outro pé passeia pelo mundo, mas um pé fica plantado sempre em Minas, porque de Minas sai uma cultura universal, de Minas sai uma música universal”. Veja aqui que ela presta homenagem aos músicos mineiros contemporâneos também, na pessoa do meu fraterno amigo Celso Adolfo, aqui presente.
Não vou mencionar nomes e momentos, porque posso ser injusto, lembrando-me mais uma vez da Vera, minha companheira, que dizia para mim: “Patrus, evite citar nomes, porque não dá para citar todo mundo. Trabalhe mais os momentos, as conjunturas”. Mas penso que Minas Gerais realmente é um Estado… É só pensar a nossa contribuição também, além da música, na literatura brasileira, que também inspirou a música, não é, Celso? E pensamos em Guimarães Rosa. Lembrado aqui, vinculado à Maria Lúcia Godoy, outro belíssimo mineiro, o Carlos Drummond de Andrade. Então Minas tem essa dimensão universal. É o Estado mais parecido com o Brasil e, portanto, é o Estado brasileiro que mais dialoga com o mundo, com a nossa história e com as nossas possibilidades futuras; dialoga com as gerações passadas e com as gerações que estão a caminho para consolidar o nosso projeto de País, especialmente no campo da cultura, onde entra, com tanto vigor, essa dimensão da nossa música.
E é tão bonito ver aqui, hoje, tocou muito meu coração, a Maria Lúcia Godoy universal intérprete, cantora universal, que vai da voz mais poderosa nas canções líricas até as cantigas que embalam as nossas crianças, que embalam a nossa infância, a nossa juventude aqui, nas Minas Gerais.
Eu vou concluir contando mais uma dimensão pessoal, familiar. O meu pai era uma pessoa com quem eu me dava muito bem, mas éramos diferentes. Meu pai era um homem bem conservador em muitas coisas, e ele resistia muito, vou ser sincero com vocês um pouco. A música para ele era a música lírica italiana. Ele gostava dos tenores. Nós, lá em casa, os filhos, fomos criando uma resistência e colocando a música brasileira, mas, um dia, a minha irmã colocou um disco da Maria Lúcia Godoy. Aí meu pai ouviu, ouviu e falou assim: “Não, essa aí é diferente, essa é diferente”. Então, ela tem essa dimensão de conversar com diferentes gerações, com diferentes leituras e compreensões do mundo, da vida. E aqui é bom, neste momento, também lembrarmos a importância da democracia, ameaçada em nosso país, a meu ver, o respeito às diferenças e aos diferentes. E, nessa dimensão cultural, libertária, democrática, possibilitadora, a música cumpre um papel fundamental. A música brasileira é anunciadora das melhores possibilidades do nosso país e, no contexto dessa música, cantando, embalando essa música está Maria Lúcia Godoy! Muito obrigado e um abraço afetuoso para todas e todos.