DEPUTADO JOÃO VÍTOR XAVIER (CIDADANIA)
Questão de Ordem
Legislatura 20ª legislatura, 2ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 23/08/2024
Página 45, Coluna 1
Indexação
20ª REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 21/8/2024
Palavras do deputado João Vítor Xavier
O deputado João Vítor Xavier – Boa tarde, presidente; boa tarde a todos os colegas, querida colega Chiara Biondini. Presidente, eu venho aqui trazer uma reflexão que creio ser importante. Belo Horizonte tomou uma lição no final de semana quanto à necessidade do diálogo e do respeito entre as partes. Nós vimos durante todo o último ano uma postura de absoluta intransigência da Universidade Federal do Estado de Minas Gerais em relação à Stock Car em Belo Horizonte. Eles não se sentaram à mesa, não dialogaram, não aceitaram as outras opiniões e as outras posições. Entre ações do Ministério Público Federal e da própria UFMG foram nove. E todas elas foram derrotadas. Será que se a UFMG tivesse tanta razão nos seus pleitos, seriam nove derrotas judiciais consecutivas? Eu acho que é importante que a reitora da UFMG saia da sua posição de monopolista do direito e de monopolista da razão, porque ela não o é. Nós vivemos numa cidade múltipla, onde todas as pessoas precisam ser ouvidas, onde todas as pessoas precisam ser respeitadas e onde a academia precisa ser parte integrada à cidade. O esporte é importante para a cidade. A geração de emprego e renda é pilar importante para a nossa sociedade. Nós estamos falando de um evento que gerou 4 mil empregos diretos em Belo Horizonte, presidente; nós estamos falando de um evento que gerou R$300.000.000,00 em receitas para a nossa cidade. E desses R$300.000.000,00 de incrementos na economia de Belo Horizonte, cerca de 10% ficam para a prefeitura. Então nós estamos falando de R$30.000.000,00, que é dinheiro que vai para a UPA, dinheiro que vai para a Umei, dinheiro que vai para a creche, dinheiro que vai para o asfalto, dinheiro que vai para a melhoria no trânsito. Até quando nós vamos ter uma cidade refratária a eventos, a feiras, a festas, a congressos, a espaços culturais e artísticos? É claro que isso gera impacto. Tudo gera impacto. O bloco de trio elétrico com alunos da própria UFMG no Carnaval também gera impacto, mas nós não vimos esse alarido. A parada LGBTQIA+, na Avenida Afonso Pena, em frente ao Palácio das Artes, ao lado dos hospitais de Belo Horizonte, também gera impacto. E nós não vimos esse alarido. Eu acho que tem que haver respeito. Quem quer fazer Carnaval tem que ter o direito de fazer Carnaval; quem quer fazer parada tem que ter o direito de fazer parada, mas quem quer fazer esporte também tem que ter o direito de fazer esporte. Por que o esporte é tão maltratado no nosso país? Chega agora na época das Olimpíadas e todo mundo coloca na internet: herói, heroína, orgulho. Mas o esporte se constrói no dia a dia; o esporte se constrói todo dia. Belo Horizonte é uma cidade carente de eventos. Nós tivemos aqui mais de 60 mil pessoas. Foi a primeira Stock Car de Belo Horizonte, presidente, e já foi a maior de todas em toda a história. Então o povo venceu, a vontade soberana do povo, contra uma posição autoritária – autoritária – da reitora da UFMG, que está transformando isso, e já vou dizer aqui com dois anos de antecedência, num palanque para aquilo que estão dizendo que será a candidatura dela à deputada federal. Ela tem todo o direito de ser, o que ela não tem direito é de usar a Universidade Federal de Minas Gerais, que é um patrimônio de todos nós. Eu, como contribuinte, como pagador de imposto que sou, também contribuo com a UFMG, também contribuo com as pesquisas, com a ciência, com a tecnologia. A UFMG é uma casa muito importante, mas ela não tem uma dona; a UFMG pertence a todos nós. É possível se discutirem melhorias? Claro que é. É possível se discutirem contrapartidas? Devem ser discutidas. Agora, o que não dá é criar narrativa fictícia, o que não dá é criar narrativa que não condiz com a verdade. Falar que o mundo vai acabar por conta do que aconteceu lá. O mundo não acaba no Carnaval, o mundo não acaba na Parada LGBT, o mundo não acaba quando a CUT faz passeata, parando a Avenida Afonso Pena; só para quando é com esporte. Quando é com esporte, aí é crime hediondo; o resto não é. Eu desafio, deputado Gustavo Santana… O senhor esteve lá no final de semana, eu estive com o senhor lá. Eu desafio a fazer a medição dos decibéis da Stock Car e comparar com os decibéis da Parada LGBT na Avenida Afonso Pena, que está colada no hospital universitário da UFMG, que está colada na rede hospitalar de Belo Horizonte. Eu desafio a pegar a medição de decibéis da Stock Car e comparar com o trio elétrico do Michel Teló, que passou em frente à UFMG, dentro. Por que não fizeram isso? Por que o esporte é sempre tratado como vilão? Por que odeiam tanto o esporte? A UFMG precisa sair da sua bolha intelectual. As pessoas estão lá para servir à sociedade, estão lá para dialogar com a sociedade. E a sociedade é um conjunto, é um coletivo. A sociedade não é feita só de intelectual, que está dentro da academia. A sociedade também é feita do catador de latinha, a sociedade também é feita de quem está na bilheteria do evento, a sociedade também é feita do pequeno comerciante, a sociedade também é feita daqueles que amam o esporte, a sociedade também é feita do empreendedor. E essas pessoas também precisam ser respeitadas, essas pessoas também precisam ser ouvidas. A postura da UFMG, de arrogância, de presunção, de olhar a cidade de cima para baixo, de se olhar como superior a todos nós, outros, precisa acabar. A reitora da UFMG precisa ter a humildade de entender que ela errou. Ela errou contra a cidade, ela errou contra Belo Horizonte. Vou dar um exemplo, presidente: o evento perdeu mais de R$20.000.000,00 em patrocínios – R$20.000.000,00 –, por cartas enviadas pela reitora da UFMG a empresas. Sabe o que aconteceu? Esse dinheiro que foi tirado de Belo Horizonte foi para outro lugar. Será que Belo Horizonte ganhou com isso? Quando uma empresa deixa de mandar o patrocínio para cá, vai mandar para outro lugar. Aí manda para São Paulo, manda para o Rio, manda para a Bahia, manda para o Rio Grande do Sul. Belo Horizonte ganhou com isso? Isso é inteligente para a cidade? Isso é intelectualmente honesto com a cidade? Isso é correto com a cidade de Belo Horizonte? Então vamos parar de fazer discurso demagogo. Vamos comparar. Vamos comparar o impacto ambiental do Carnaval, o impacto sonoro do Carnaval, o impacto que gera na área hospitalar de Belo Horizonte. A distância do Mineirão para a UFMG é a distância do Palácio das Artes, onde fica trio elétrico parado, para a área hospitalar de Belo Horizonte. Alguém tem dúvida disso? Ninguém tem, não é? Quando há Parada LGBT, que tem sete trio elétricos na Afonso Pena, e está a 200m, 300m, 400m de hospital em Belo Horizonte, a gente não ouve o alarido que nós ouvimos agora. E repito: tem que haver a parada que quiser, cada um faz do jeito que quiser. Tem que haver o Carnaval que quiser, cada um do jeito que quiser. Quem não gostar, como eu, não vai. Quem gostar vai. É direito de cada um. Agora, nós que gostamos do esporte, nós que amamos o esporte também temos esse direito, e não dá para viver numa cidade em que a reitora da universidade federal nos olhe de cima para baixo, como se fosse superior a nós. A UFMG está aí para servir à sociedade. A UFMG não pode continuar com sua postura intransigente, autoritária, arrogante, de se considerar uma ilha de intelectualidade em meio a um oceano de inferiores que seríamos nós. Nós não somos inferiores a vocês. Vocês são parte da sociedade. Nós pagamos o salário dos senhores. Nós, com os nossos impostos, pagamos as pesquisas aí e temos que pagar, porque é bom para a cidade. Nós precisamos da UFMG, mas precisamos que a UFMG entenda que a cidade vai além dos seus muros. A cidade vai além das suas grades. A UFMG não é uma ilha isolada. A UFMG precisa se integrar à cidade. E a reitora precisa parar de usar a UFMG como palanque para a sua eleição daqui a dois anos. Obrigado, presidente!