Pronunciamentos

DEPUTADO ANTONIO CARLOS ARANTES (PL)

Discurso

Elogia o evento “Minas Grita pelo Leite”. Critica a política do governo federal em relação aos produtores rurais. Critica invasão de terra no Município de Lagoa Santa.
Reunião 8ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 20ª legislatura, 2ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 21/03/2024
Página 76, Coluna 1
Indexação

8ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 19/3/2024

Palavras do deputado Antonio Carlos Arantes

O deputado Antonio Carlos Arantes – Muito obrigado, Sr. Presidente, neste momento, deputado João Junior. Gostaria de cumprimentar todos os nobres parlamentares, a TV Assembleia e todos que estão nos acompanhando neste momento.

Ontem houve um evento histórico no Expominas provocado pelo presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais, nosso competente Toninho de Salvo, e pela equipe da Faemg. Também foi apoiado pelo nosso governador Romeu Zema, pelo secretário da Agricultura, Dr. Thales Fernandes, e também pelo vice-governador Mateus Simões. Enfim, havia deputados, muitos prefeitos, vice-prefeitos, vereadores e principalmente sindicatos de produtores rurais. Ontem foi o grito do leite.

O produtor é muito passivo, ele vai aceitando, vai aceitando, mas chega a um momento em que ele tem que gritar. Há aquele ditado que diz que é melhor você morrer como um porco gritando do que como um carneiro calado. Mas muitos estão morrendo e já morreram igualzinho a um carneiro calado. Morreram porque foram asfixiados. Tiraram-lhe toda a condição de produzir leite em Minas Gerais e no Brasil. Hoje, numa terra toda preparada, com logística, capital, topografia, fertilidade da melhor possível, tecnologia, não é fácil produzir 1 litro de leite gastando-se menos de R$2,30, R$2,40, R$2,20. Pequenos e outros que têm mais dificuldades gastam até muito mais, e hoje estão vendendo o seu leite a R$1,50, R$1,60, R$1,90, R$2,00, R$2,10, às vezes, R$2,20. É prejuízo na certa.

O produtor está pagando uma conta que não é dele. É um massacre. O que mais me assusta é que nós fizemos vários movimentos em Brasília, várias reuniões da bancada do agro, do pessoal do cooperativismo, inclusive estive presente em duas oportunidades e não vejo uma reação do Ministério da Agricultura, não vejo uma reação do governo federal. Estão passivos.

Numa reunião com o vice-presidente da República, que também é ministro do Desenvolvimento Econômico, o Geraldo Alckmin, nesse dia eu não estava presente, disse que não é bem assim como o produtor fala, não, que o preço do leite ainda é vantajoso. Sr. Vice-Presidente, o senhor não sabe o que está falando. É um absurdo o senhor falar algo assim. É um absurdo a quantidade de pequenos produtores, médios e até grandes produtores que estão abandonando as atividades. Só isso já é suficiente para saber se é vantajoso ou não. O bom do leite é que ele distribui renda para muitos e muitos produtores, para muitos municípios, onde têm o leite como atividade principal. Hoje ele distribui da porteira para fora, porque para dentro da porteira o elo mais importante da corrente é o produtor, e esse não consegue mais custear seus negócios.

Se tem algo que a gente fica triste, que a gente não concorda e lamenta muito é quando você vê qualquer reportagem, qualquer movimento que mostre trabalho escravo. Quando o trabalho escravo é feito na prática, é um negócio que assusta, mas tem outro trabalho escravo que hoje é muito forte no Brasil e é provocado pelo governo federal. É provocado por este governo que não olha para quem produz, que falou inclusive que o agro é fascista, que tem o seu ministro que é um frouxo, o ministro da Agricultura é um frouxo, essa é a verdade, não sabe o que está fazendo naquela cadeira, não sabe do tratamento dos produtores agrários, e eles não reagem vendo como está a situação.

Quando eu falo de trabalho escravo, este governo federal hoje escraviza o produtor rural, porque o produtor rural trabalha 365 dias por ano, todos os dias, não tem Carnaval, não tem semana santa, não tem feriado, não tem sábado, não tem domingo e não tem carga horária também. Ele tem suas obrigações todos os dias e todas as horas do seu dia, porque muitas vezes a vaca vem a parir à noite, às vezes tem que fazer uma aplicação de vermífugo, de um medicamento mais certo, muitas vezes num momento mais difícil, sem horário. Ou seja, o produtor está antenado 24 horas por dia, trabalha muito e chega no final do mês não remunera. Isso é trabalho escravo, porque o seu salário e a sua renda não são suficientes para pagar as suas despesas. E aí acontece essa avalanche.

É só perguntar para as cooperativas. Converse com os presidentes de cooperativas para ver quantos e quantos produtores aumentaram o número de cooperados que produzem leite nos últimos anos, principalmente nesses dois anos, nesse um ano e meio, de um ano e quatro meses para cá, depois que entrou o atual governo federal. E veja a quantidade que saiu e não vai voltar mais, a quantidade de gente que abandonou a sua atividade não tendo outra atividade alternativa. Ontem esperávamos em torno de 3 mil pessoas, mas ultrapassou 7 mil pessoas, ou seja, o grito do produtor foi muito forte, e espero que esse grito tenha ecoado lá em Brasília, porque vários deputados federais e o senador Cleitinho estiveram presentes. Então nós vivemos um momento difícil.

O pior de tudo é que tem produtor também que quer abandonar a atividade do leite, mas não tem como. Vai para a soja? A soja, no governo Bolsonaro, o produtor vendia a R$150,00, R$160,00, R$170,00, hoje a menos de R$100,00. O milho chegou a R$120,00, R$130,00, hoje é vendido nem pela metade. Qualquer atividade no campo hoje está assim. Aí falam: “Olha, se abaixou para o produtor, deve ter baixado para o consumidor”. Vá no supermercado ver. O arroz dobrou de preço, qualquer coisa derivada da soja ou do milho está da mesma forma, subiu de preço também. Ou seja, o consumidor está perdendo, o produtor também, e quem está pagando é o cidadão, principalmente os mais pobres que hoje estão vendo o que está custando a sua cesta básica, o quanto subiu. A banana custava R$3,00 ou três e poucos e, hoje, está custando, no supermercado, mais de R$10,00, R$12,00, assim como a laranja ou qualquer outra coisa. Vá ao supermercado, vá ao sacolão e compare os preços no governo Bolsonaro e no atual governo.

Ou seja, temos um ministro que não sabe nada de agricultura. E ali, no governo federal, de uma forma geral, em todos os segmentos, no ministério que seja, não estão preocupados e não sabem agir. É por isso que nós estamos caminhando para essa derrocada do agro. Tanto é que, se vocês analisarem as notícias... Só que dessa vez a notícia... Olhem, esse jornal aqui é a Folha de S.Paulo: “Dispara pedido de recuperação judicial por produtor rural”. Subiu mais de 300%, gente! Isso é muito preocupante. Olhem as notícias de hoje! Lá, no Rio Grande do Sul, uma grande empresa de tratores – não me lembro do nome agora, neste momento – com férias coletivas. Gente, férias coletivas nessa época? Férias coletivas você dá em dezembro ou talvez em janeiro. Férias coletivas! Transportadoras, grandes transportadoras parando os seus caminhões no pátio porque está faltando o que transportar. Ou seja, só não vê quem não quer!

O agro sempre foi – e continua sendo – o que sustenta este país de pé, que cria os superávits, que faz o PIB crescer. Só que o produtor não está sendo remunerado por isso. Da porteira para fora, gera muito recurso e muita gente ganha. Mas, da porteira para dentro, o elo mais importante não só do leite, praticamente… O boi gordo, então, nem se fala! O boi gordo, não, mas qualquer tipo de animal. Gente, hoje, abateram vacas de 20kg de leite! Abateram no matadouro, gente! Imaginem o prejuízo que isso causa para o futuro, porque aí começa a faltar, o leite vai subir, haverá muito menos produtores e o consumidor vai pagar mais ainda. O gado de corte, então, que vendemos há dois anos por R$320,00, R$340,00 a arroba, hoje vendemos por R$200,00 ou duzentos e pouquinho. E aí? Quem está pagando essa conta? É o produtor e também o consumidor. Até a picanha era para ter ficado mais barata, mas não ficou, não, gente! O consumidor continua pagando caro a tal da picanha que ia ser de graça ou barata, não é?

Essa é a realidade, gente! Vivemos num momento preocupante. E o pior de tudo – e também serve para o produtor – é que começam agora as invasões, invasões criminosas como a que aconteceu aqui, em Lagoa Santa, na semana passada. Criminosa, porque é uma área que tem dono, ou seja, que tem uma família que é a proprietária há muitos anos, que tem documentos, tem registro, tem ali animais para produção – tanto bovinos quanto suínos –, tem uma área que produz milho para silagem e que foi invadida. Por que não foi invadida no Norte de Minas, em áreas devolutas do Estado ou da União? Lá não querem, não! Mas aqui, na área rica e cara, sim. E quem são os invasores? São pequenos produtores? São ex-produtores? Não, nada disso. São os mesmos invasores lá do Campo do Meio. Os mesmos! A maioria pegou ônibus e veio para cá - profissionais; e outros, pegaram aqui, na cidade. A polícia fazia ali um cerco muito bem-feito sem violência, sem agressão. São mais de 500 invasores! Parece que mais de 450 já saíram. Podem sair de lá, mas não podem entrar. Se não entram, o pessoal começa a sair, porque começa a ver que está sendo usado como massa de manobra. Essas invasões são uma grande preocupação! No mesmo dia – não foi notícia, mas chegou até mim, porque, inclusive, acionei a polícia –, houve uma invasão também na cidade de Betim, numa área de 66ha, numa área nobre, inclusive, numa área ali já pronta para se fazerem alguns condomínios. Invadiram! Famílias foram para lá e invadiram também. A Polícia Militar, sem agressão, sem violência, sem nenhum acidente – e a polícia não agride, mas defende, não é? –, conseguiu também retirar essas famílias de lá. Então a nossa polícia tem agido com firmeza, com seriedade, com profissionalismo.

O nosso governador já foi muito claro, inclusive, ontem, ao dizer que não tolerará as invasões. Invasão é coisa de quem? De criminosos. Áreas que estão produtivas e que têm donos têm que ter respeitado o direito de propriedade. Em Minas, o nosso governador tem sido muito claro, como o Tarcísio, em São Paulo, e o Caiado, no Estado de Goiás, que também não têm sido complacentes com os invasores, não.

Então, gente, vivemos num momento de muita tensão no campo, não só com invasões, mas também com remuneração que não atinge a necessidade. Ao contrário, não temos remuneração mais hoje para os nossos produtores. Vemos, com muita preocupação, o futuro do campo, do pequeno ao maior, do pequeno produtor de leite, de hortaliça que seja, ao maior produtor. Todo mundo está tenso, porque não dá mais para ser escravo, como está sendo, do governo federal. Muito obrigado.