Pronunciamentos

JOSÉ MARIANO SALES ALVES JÚNIOR, Coordenador médico e responsável técnico da Unidade Neonatal da Santa Casa do Município de Belo Horizonte

Discurso

Agradece a homenagem pelo transcurso do 50º aniversário de criação da Neonatologia da Santa Casa do Município de Belo Horizonte.
Reunião 8ª reunião ESPECIAL
Legislatura 20ª legislatura, 2ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 19/03/2024
Página 4, Coluna 1
Indexação
Proposições citadas RQN 4605 de 2023

8ª REUNIÃO ESPECIAL DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 14/3/2024

Palavras do Sr. José Mariano Sales Alves Júnior

Boa noite. Exmo. Sr. Deputado Lucas Lasmar, mais do que nosso guardião, um paladino do nosso trabalho junto à santa casa; Exmo. Sr. Roberto Otto Augusto de Lima, nosso querido provedor da santa casa; Sra. Maflávia Ferreira, superintendente do Ministério da Saúde em Minas Gerais; Exmo. Sr. Edivaldo Farias da Silva Filho, presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Minas; Exma. Sra. Nonata Elisângela das Dores Neto, secretária Municipal de Saúde de Oliveira; e distinta plateia.

Nesta noite celebramos 50 anos de fundação, mas é mais do que isso, é mais do que a fundação, é a formação, a formação de uma equipe médica de pediatras, assistentes da maternidade da Santa Casa de Belo Horizonte, fruto do empenho e do entusiasmo dessa instituição centenária que sempre quer fazer o melhor. Quando eu digo “formação” – eu insisto nesse termo – é no sentido dinâmico, é no sentido de uma espiral de aperfeiçoamento, de ensino, de contínua renovação iniciada há cinco décadas. Temos em mãos o desafio e a honra de ser o primeiro médico na vida de alguém que acabou de abrir os olhos e chorar pela primeira vez. Somos nós que estamos ali do ponto de vista médico. É claro que fisioterapeutas e enfermeiras estão sempre conosco de mãos dadas nesse desafio, nessa alegria de servir.

Para ilustrar esse desafio e não ficar atrás do deputado Lucas Lasmar, eu também trouxe um relato de caso. Um só, mas eu espero que ele seja significativo e tocante a todos vocês. É o relato de caso que teve desdobramentos importantes. Permitam-me, trata-se do recém-nascido de Jackeline. Sua mãe apresentou a perda de líquido vaginal, sua bolsa havia rompido, e ela foi encaminhada a um hospital para cesárea. Seu bebê nasceu com 2.100g, prematuro de sete meses. Ele logo se apresentou muito cansado já na primeira hora de nascido e seguiu piorando. Esse paciente foi transferido no mesmo dia para outro hospital e, lamentavelmente, a despeito de todos os esforços dispensados, todos os esforços, ele veio a falecer com 39, 40 horas de nascido devido à imaturidade de seus pulmões, como consequência da prematuridade denominada entre nós como doença das membranas hialinas. Patrick, o recém-nascido de Jackeline Bouvier Kennedy, era também filho do político mais poderoso do início dos anos 1960. Essa história familiar nos faz refletir. Ela dá conta do poder, da potência da vontade política. Investir, fortalecer políticas de saúde salva vidas. Nós precisamos de vocês. Vamos todos juntos salvar a vida de mais bebês em Minas Gerais.

A atenção médico-hospitalar ao recém-nascido é um campo recente da ciência e chegou à nossa santa casa poucos anos após o falecimento de Patrick, pelas mãos de Dr. Navantino Alves Filho, no início dos anos 1970, a partir de seus estudos no Canadá, revelando assim uma agilidade da instituição da Santa Casa de Belo Horizonte em absorver tecnologias de ponta. Médicos assumiam pioneiramente o desafio de atender bebês desde suas primeiras horas de nascidos, com base em muito estudo e melhores evidências da ciência. Navantino, nosso patrono aqui presente, é testemunha ativa de toda essa história. Ele inspira continuamente o nosso time formado por médicos e médicas obstinados em salvar vidas com qualidade e humanidade. Como coordenador dessa equipe há mais de 30 anos, o orgulho que sinto por cada um e cada uma dessas colegas mal cabe em mim, saibam todos.

Voltando à dimensão da vontade política, um exemplo dessa força ocorreu em nosso estado há cerca de 10 anos, quando cidades pequenas e distantes dos grandes centros receberam recursos, equipes treinadas, médicos e enfermeiras pré-natalistas, todas equipadas com tecnologia de ultrassom. Isso tornou possível detectar fetos malformados que até então faleciam em sua cidade de origem sem a melhor assistência. Nasce uma nova neonatologia. Isso se tornou evidente na nossa prática clínica de cerca de 10 anos para cá. Cada vez mais e mais recém-nascidos malformados chegavam para a nossa assistência, não apenas prematuros, como o pequeno Patrick, mas também uma nova população de pacientes. Passou-se a encaminhar para os grandes centros aquelas grávidas com seus bebês malformados ainda no útero, e desde então a Santa Casa de Belo Horizonte tem sido uma referência capital no atendimento a esses bebês com síndromes neurológicas como a mielomeningocele, doenças cromossômicas, anomalias abdominais, e especialmente, como o deputado Lucas Lasmar citou, doenças do coração. E como referência para tal, temos podido atender com dignidade essa nova demanda.

Eu falei um pouco do passado, e esse tem sido o nosso presente. Eu finalizo o meu pronunciamento com a expectativa de que ainda há muito a evoluir, isto é, podemos realizar mais e mais intervenções ainda. Isso foi citado também pelo Exmo. Sr. Deputado Lucas Lasmar. Mas é numa nova dimensão, que é a dimensão das cirurgias fetais... Atualmente elas são limitadas às doenças do sistema nervoso. Nós operamos intra-útero portadores, bebês, fetos com mielomeningocele, mas existe um potencial de resolução cirúrgica no feto para outras malformações, como, por exemplo, as abdominais e as cardiopulmonares. Por fim, registro, em nome de toda a equipe, o nosso reconhecimento a todas as forças políticas que financiam e apoiam a nossa lida com bebês graves de todas as camadas da pirâmide social, em especial os mais vulneráveis e vindos de todos os cantos do Estado. Falo isso sob forte emoção, com orgulho e gratitude por fazer parte dessa democracia do Sistema Único de Saúde, numa ilha acadêmica chamada Santa Casa de Belo Horizonte e de todos nós. Muito agradecido.