Pronunciamentos

DEPUTADO LELECO PIMENTEL (PT)

Discurso

Elogia pronunciamento do presidente Lula na 37ª Cúpula de Chefes de Estados e Governo da União Africana, em Adis Abeba, ao comparar o massacre em Gaza com o holocausto. Presta homenagem ao povo negro escravizado no Brasil e elogia o projeto de lei que institui a Medalha Luiz Gama e dá outras providências. Comenta os 150 anos de imigração italiana no Brasil.
Reunião 2ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 20ª legislatura, 2ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 22/02/2024
Página 44, Coluna 1
Indexação
Proposições citadas PL 1634 de 2023

2ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 20/2/2024

Palavras do deputado Leleco Pimentel

O deputado Leleco Pimentel – Sr. Presidente, meus cumprimentos a todos os deputados, a todas as deputadas, aos servidores da Assembleia e aos que acompanham esta reunião de Plenário, de tamanha importância neste ano de 2024.

Eu subo a esta tribuna para, primeiro, agradecer ao Bloco Democracia e Luta a sua manifestação e a do Brasil inteiro. Posso me somar também aos deputados, assim como o mundo, neste momento, soma-se ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, homem de coragem e bravura, mas não a bravura daqueles que vomitam palavras no ar, daqueles que armaram o povo do Brasil, tirando comida da despensa e colocando arma nas mãos daqueles que produziram o momento de grande violência. Talvez seja por isso que muitos subam a esta tribuna para… Até diria nem muitos, pois o dever de consciência nos coloca a dizer que, nesta Assembleia Legislativa, são poucos os deputados que ainda permanecem com a ideia colérica e odiosa de defesa da pessoa que vai para a cadeia em algum tempo. Eu não quero fazer disso uma revanche, pois acho que cadeia é lugar dos condenados que foram devidamente julgados num processo legal e que devem. Portanto, na dosimetria daquilo que cometeram, serem punidos. E é esta a maior punição que existe no Brasil: o tempo de cadeia.

Nós vivemos um tempo da humanidade em que o Brasil, na escravidão de 350 anos, condenava as pessoas à morte, e não é difícil rememorar o tempo em que muitos, pelo extremismo religioso, condenaram Jesus Cristo. Eles mataram Jesus. E matam também ao tirar das pessoas o alimento, os recursos. Esses são os assassinos que se utilizam geralmente do púlpito da Igreja, do poder para condenar o outro não só com a língua, mas também com um gesto de ação para condená-lo à morte. E Lula fez completamente diferente. O presidente Lula, junto aos países africanos, aliás, a quem o nosso Brasil deve desculpas eternas pela escravidão do seu povo, pois foi a mão de obra escrava, a vida daqueles e daquelas que foram forçados a sair das comunidades, ou seja, prisioneiros para servir os brancos, que mantiveram o sistema da escravidão durante mais de três séculos… E foi ao povo africano que Lula escolheu dizer o quanto era importante denunciar ao mundo este genocídio televisionado, e, às vezes, todos passam os dedos no celular sem sequer ter sensibilidade de quantas crianças, quantas mortes já foram provocadas. O presidente Lula anunciou, desde o primeiro momento, que condenava a atitude, o sequestro e as mortes causadas pelo grupo terrorista Hamas, e o denunciou como grupo terrorista.

No entanto, o presidente Lula também denunciou aquele que, sob a mentira de atacar o Hamas, tentou fazer a higienização de um povo, tentou acabar com toda uma população de palestinos. E, por isso mesmo, ao comparar essas mais de 33 mil mortes já computadas – inclusive, muitas sob os escombros dessa artilharia pesada que foi mantida pela parceria entre Israel e Estados Unidos; é isso que fazem desde a Segunda Guerra Mundial –, o presidente Lula, ao buscar na história – ele, que conhece a história –, pegou exatamente aquele que condenou à morte os mais de 6 milhões de judeus, que foi Adolf Hitler. É por isso que, num primeiro momento, nós assistimos à Rede Globo e àqueles que têm vindo aqui para reclamar da Rede Globo reproduzirem essa reportagem dos golpistas, porque condenaram Lula como se Lula não soubesse o que estava falando. E não foi de improviso, quero lhes dizer. O presidente Lula, no dia anterior, já havia conversado com os chefes de Estado e dito que iria fazê-lo e recebeu apoio, assim como está descrito, agora, nesta nova resolução que vai pedir, por voto dos Estados Unidos, o cessar-fogo. É por isso que a gente precisa também trazer essa condenação aqui, da Assembleia Legislativa, ao que se faz sob o comando de Benjamin Netanyahu: o genocídio do povo palestino.

Sou historiador e professor de história. Não posso ler as coisas e fazer uma interpretação, Doutor Jean, como se fosse para bajular o meu partido. Não posso fazer uma leitura equivocada das coisas e vir ao microfone da Assembleia como se eu estivesse fazendo uma reabilitação histórica e como se fosse um tratado para poder dizer mentira, fake news, a fim de bajular um ex-presidente, cujo processo caminha a passos muito largos para que ele seja condenado. E por isso, nesses dias, nós vamos ver a Paulista vazia, porque, hoje, nem se consegue mais fazer essa mobilização a partir das fake news.

Então eu cumpro este primeiro momento da minha fala com o dever da consciência, assim como – tenho certeza – o presidente Lula fez ao trazer essa denúncia para o mundo e comparar o crime, o genocídio, que, hoje, o Estado de Israel, sob o comando de Benjamin Netanyahu, promove contra os palestinos, ao Holocausto e à decisão de Hitler de mandar matar os judeus. É triste ver que alguém relativiza o Holocausto, que alguém relativiza esse crime contra a humanidade. O próprio Benjamin Netanyahu disse que o que desejava o assassino do povo judeu era expulsá-los, era que eles saíssem do território.

Então, ao cumprir com esse dever de consciência, eu apresento aqui também, em nome do Bloco Democracia e Luta, esta palavra, porque nós todos fomos ofendidos, fomos ofendidos na nossa consciência, ofendidos na nossa capacidade de julgamento e ofendidos quando alguém subiu aqui para falar diversos adjetivos contra o presidente Lula. Então nós estamos aqui pedindo desculpas. Não que eles consigam ter esse dever de humildade e pedir, mas a Assembleia de Minas deve um pedido de desculpas pelas palavras proferidas aqui, neste púlpito, agora há pouco, por alguém que desconhece a história e resolveu fazer do microfone da Assembleia o lugar de vomitar ódio. Uma vez eu limpei aqui o microfone, vocês se lembram disso, e tenho me negado a dar as mãos a essas pessoas que hoje desejam fazer o mal com consciência do que estão fazendo.

Eu quero, no entanto, também lembrar outro período da história. Por isso, deputado Betão, Betão Cupolino, nós fazemos a primeira homenagem ao povo negro escravizado do Brasil quando, com dever de consciência, lutamos. V. Exa. hoje apresentou um projeto de lei do qual eu tive a alegria de ser relator na Comissão de Constituição e Justiça, para que a honraria, a medalha aos que lutam contra o trabalho escravo, contra o tráfico de pessoas humanas possam ter em Luiz Gama, esse ativista que lutou contra o trabalho escravo, contra o preconceito e contra a tortura contra o povo negro, que ergueu este país e que ergueu essa economia, inclusive para reconstruir Lisboa, que em 1738 foi arrasada por aquele terremoto… Todo o ouro das Minas Gerais serviu para poder reconstruir aquele país que invadiu, em 1500, os territórios já ocupados pelos povos indígenas. Então a primeira homenagem que nós fizemos foi a esse povo, o povo que, escravizado e torturado, continua sendo torturado no Brasil. Hoje nós subimos aqui para lembrar da importância que tem essa reabilitação histórica no nível de consciência que a humanidade nos exige. O Prêmio Luiz Gama, que provavelmente virá ao Plenário em alguns meses, será também uma forma de contribuição. Parabéns, deputado Betão, pela sua iniciativa! Parabéns ao Bloco Democracia e Luta! Parabéns a todos que, com consciência, apoiam essas iniciativas!

Em 1874, deputada Macaé, chegaram 334 pessoas fugindo da fome na Itália. Quando desembarcaram no Estado do Espírito Santo, marcaram o início dessa diáspora, desse que foi também um episódio que muito marcou a humanidade, que foi a imigração do povo italiano para o Brasil. Ninguém tem dúvida da sua grande contribuição nas artes, na ocupação do território. É um povo que conseguiu viver em pequenas propriedades. Muitos trouxeram essa ideia de reforma agrária. O Brasil do latifúndio, o Brasil de raízes culturais daqueles poucos que detinham tudo teve a contribuição de um povo sabendo que um pouco para cada um dava para produzir e ninguém passar fome. É também marcante a história da migração do povo italiano. Nesse tempo em que os 150 anos completados este ano, eles fazem também questão de reabilitar historicamente o que era o território de Minas e do Espírito Santo. Nós sabemos que até poucos anos a anexação de território de um estado e a perda de um território do outro se fez, como é bom lembrar da disputa da República de Manhuaçu, que chegou a ser capital, e que depois, naquele território de Mutum, em toda divisa com o Estado do Espírito Santo, contou e conta com a contribuição desse povo. Eu mesmo quero lembrar que lá em São José do Mantimento nós temos uma escola família agrícola que é contribuição do povo luterano, que trouxe também a sua contribuição para a educação do campo e no campo. Ao mesmo tempo em que nós estamos aqui lutando para que o governo federal reconheça os estudantes da educação do campo, das escolas família agrícola, que hoje estão fora do programa Pé-de-Meia… Eles estão no CadÚnico, deputada Leninha, mas ficaram de fora. Cerca de 40 mil alunos no Brasil estão fora do Pé-de-Meia, sendo que são eles que vão fazer a sucessão rural, que vão cuidar da propriedade, que vão cuidar do alimento do povo brasileiro, já que 70% do que comemos é de responsabilidade da agricultura familiar.

Por isso mesmo queremos lembrar que esses 150 anos de imigração italiana no Brasil contaram também nas assembleias legislativas, sobretudo do Espírito Santo, e aqui de Minas Gerais, com essa nossa manifestação da ocupação do território, dessa capacidade intelectual de lidar com as artes, com as altas sensibilidades que foram introduzidas na nossa cultura.

Além de dizer que a Assembleia Legislativa de Minas Gerais conta também com pessoas que, provavelmente, não fizeram ainda o estudo da sua árvore genealógica, mas vão encontrar a sua raiz também nessa miscigenação, dessa bonita e diversa forma com que o Brasil conviveu com os povos que para cá vieram.

Ao contrário do que faz hoje Israel, ao tentar roubar o território da Palestina, matando o seu povo, o Brasil é um lugar de acolhimento e não só de pedir perdão à humanidade pela escravidão. Durante 350 anos, houve um sistema de escravização e exploração – ainda permanece, no Brasil –, também do povo italiano, que chegou, acolhido que foi, contribuiu e mudou a história de suas vidas.

Quero lembrar que haverá também um recital, no dia 22 de fevereiro. Em nome desta comissão, quero convidar todos os deputados e deputadas. O governo de Minas também faz parte desta comemoração, que será às 19:30, na Av. João Pinheiro, 342, no Circuito Liberdade, pelos 150 anos da migração italiana no Brasil.

Por fim, eu quero dizer: Lula estava certo, feito um profeta, alguém de alta sensibilidade para com a vida contribuiu para que o mundo não assista calado ao genocídio do povo palestino. Viva o povo palestino e viva todos aqueles que constroem a paz não só no discurso, mas também se dedicam com ações concretas. Viva Lula!