Pronunciamentos

DEPUTADO DOUTOR JEAN FREIRE (PT)

Discurso

Declara posição contrária ao projeto de lei que altera os limites da Estação Ecológica Estadual de Arêdes, no Município de Itabirito, e dá outras providências, em 2º turno.
Reunião 46ª reunião EXTRAORDINÁRIA
Legislatura 20ª legislatura, 1ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 21/12/2023
Página 113, Coluna 1
Indexação
Proposições citadas PL 387 de 2023

46ª REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA DA 0ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 0ª LEGISLATURA, EM 19/12/2023

Palavras do deputado Doutor Jean Freire

O deputado Doutor Jean Freire – Muito obrigado, Sr. Presidente. Bom dia, colegas deputados e deputadas; bom dia, público que nos acompanha pela TV Assembleia.

Primeiro, eu gostaria de parabenizar a deputada Ana Paula por um projeto de tamanha relevância. V. Exa. tem apresentado, nesta Casa, deputada, projetos sobre vários temas. Tenho a felicidade de trabalhar ao seu lado na Frente Parlamentar de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, tenho a felicidade de trabalhar ao seu lado na questão da saúde – trabalhamos juntos agora em defesa da podologia, dos podólogos – e tenho a felicidade de votar esse projeto de sua autoria. Parabéns pelo trabalho belíssimo que V. Exa. faz – quem a conhece sabe – com cuidado, com amor, com respeito. Então parabéns por isso.

Eu fico me perguntando: vocês, que estão aqui presentes, vocês, que vieram defender Fechos, que estavam aí e que estão aí ainda para defender Arêdes… Eu fico me perguntando o porquê, o motivo que tira essas pessoas de casa para estarem aqui, o que faz essas pessoas andarem e estarem, no dia a dia, aqui. Para quem nos conhece, isso se resume à palavra que alguém gritou daí: vida. Então eu também quero parabenizar vocês, que defendem verdadeiramente essa casa comum. Parabéns a vocês, que defendem essa casa comum.

Eu fazia um diálogo com o deputado Leleco agora, há pouco. A mineração é assim. Sabe aquele ditado em que a gente fala que quanto mais a gente conhece o ser humano, mais a gente se aproxima dos animais e mais a gente os ama? Eu, como defensor da causa animal também, poderia até gostar, mas eu ainda acredito no ser humano – eu ainda quero acreditar no ser humano. Quanto mais a gente conhece o modus operandi, o modo de operação, dizendo às claras, da mineração, a gente tem nojo das mineradoras.

Eu fico tentando imaginar – e era a próxima pergunta que eu iria lhe fazer, Leleco: será que, no mundo, existem alguns desses que têm algum pensamento diferente? Eu fico olhando e tenho dois anéis na mão: um é o anel de tucum; o outro, uma aliança. Hoje eu estava pensando – o Leleco olhando para essa aliança, deputado Cleiton, e eu sei que ele também é cristão – e me perguntando por que tem que haver ouro nas igrejas. Eu sou católico, mas por que tem que haver ouro nas igrejas? Por que uma aliança de compromisso tem que ser de ouro? Por quê? Talvez as pessoas nunca tenham se perguntado isso e, no dia a dia, dão mais valor ao consumismo. Por isso, eu prefiro aliança de tucum. Por isso eu a prefiro, e eu a uso desde os meus 14 anos. Para quem não sabe o significado dessa aliança de tucum, feita do coco tucumã, ela significa opção preferencial pelos mais pobres. Eu não a uso por beleza. Não é essa que eu uso desde os 14 anos. Usava uma menor, já troquei algumas vezes, mas eu passei a usar essa que foi um presente do assessor do professor Cleiton.

Então quero chamar os colegas deputados e deputadas, neste final de ano, quando iniciamos os nossos trabalhos votando dois projetos interessantíssimos. Quero ressaltar esse da deputada Ana Paula, mas depois entramos em Arêdes, uma palavra linda, de origem indígena, de um povo que viveu ali na Serra do Espinhaço. Por que eu faço questão de falar disso? A Serra do Espinhaço é onde nasce o rio mais belo do mundo. E um motivo simples: esse rio passa pela minha cidade. É o Jequitinhonha. Do outro lado, nasce o Jequitinhonha. Se eu não tivesse – salve, Fernando Pessoa! – motivo nenhum, seria pelo Jequitinhonha, mas não é só por ele, é por cada nascente, é pela vida. Então não venha nenhum deputado ou alguém depois usar a tribuna e dizer, para tranquilizar os deputados, que vocês não estão entendendo. Todo mundo aqui está apertando o dedo, sabendo no que está votando. Não há ninguém aqui inocente que não sabe no que está votando. Nós sabemos no que estamos votando, sabemos.

Mas é assim: a mineração nos tira tudo. Eles tiram as nossas riquezas e as levam para fora. Não as deixam aqui. Eles colocam muitos contra quem os defende. É normal, muitos são contra quem os defende. Eu, às vezes, estranho ao receber algumas visitas que dizem que não estão gostando da minha fala. Mas quando algumas pessoas dizem que não estão gostando de minha fala, eu olho a origem dessas pessoas. Quando, por aquela origem, vejo quem é, aí eu fico feliz, aí eu fico feliz, porque, quando quem não está gostando de minha fala é quem explora o nosso povo, é quem rouba, é quem saqueia o nosso povo, aí eu fico feliz, aí eu fico feliz. Eles têm esse modus operandi mesmo. Eles adentram as comunidades, passam para o povo o que não é real, tentam situações para que o povo possa entender que estão melhorando a vida deles. Aparecem fazendo clientelismo, dando cesta básica, e por aí vai. Fazem algumas ações às vezes na saúde para dizer ao povo que está fazendo isso.

Eu convido todos a pensarem ao virem cada projeto de lei nesta Casa. É importante a gente ver a sensibilidade de quem os apresenta. A mineração saqueia muito. Eu venho de uma região que é saqueada desde o dito descobrimento. Foi saqueada pelos bandeirantes. Vou parafrasear Eduardo Galeano e, me permita, parafrasear também o Professor Cleiton, que sempre o cita. A mineração, como diz Eduardo Galeano, na pág. 85, e o Professor Cleiton sempre cita isso, serviu para construir igrejas em Portugal, indústrias na Inglaterra e buracos aqui. É para isso que vai servir também outro tipo de mineração. É para isso que vai servir o lítio, com uma diferença: não vão construir mais igrejas, mas vão construir indústrias na China, no Canadá, nos Estados Unidos, e buracos no Vale do Jequitinhonha.

Então nós temos de lutar e juntar forças em relação ao que nos une, não ao que nos separa, e brigar contra qualquer tipo de mineração predatória que saqueia o nosso povo, que rouba o sono do nosso povo, que rouba o nosso sono. No dia a dia, companheiros deputados, e não deve ser diferente em Arêdes e em outros locais onde há mineração, vejo caminhões-pipa molharem estradas para os caminhões de lítio e eucalipto passarem. Mas, nessa mesma região, falta água para o povo beber, e a gente vê isso no dia a dia.

Foi citada aqui, pela deputada Bella, Serra da Moeda. O nome é interessante, o nome lembra dinheiro, moeda. Deputado Leleco, que é historiador, há quem diga que Serra da Moeda se chama Moeda porque foi ali, na época da colônia, que houve a primeira fábrica clandestina de dinheiro. Se é verdade essa história, a primeira fábrica clandestina de dinheiro foi ali. Agora eles querem saquear mais e levar mais, sem dar ao povo o que é de direito dele. Parabéns a cada um, a cada uma que luta pela casa comum. Parabéns a vocês.

Eu fiz um pedido à deputada Ana Paula. Depois eu queria conversar com vocês. Eu quero deixar para vocês e para qualquer um que está me ouvindo, que, desprovido de qualquer tipo de vaidade, tenho projetos de lei nesta Casa que tratam da questão mineral, que tratam do meio ambiente, que tratam de cadeia produtiva. Quero convidar vocês que verdadeiramente defendem a casa comum, quero convidar qualquer um, qualquer uma que defende a casa comum, quero convidar cada instituição, a cada projeto meu que vocês virem nesta Casa, estão abertos, estão convidados a não só tomarem um café comigo, mas também a discutirem e enriquecerem o projeto, porque tenho certeza absoluta de que vocês são desprovidos de vaidade. Tenho certeza absoluta de que vocês defendem a casa comum.

Por último, eu queria fazer um pedido aos colegas deputados: o microfone é livre para todos usarem, mas não vamos dizer que precisamos nos tranquilizar. O que está em votação é uma afronta à nossa casa comum, é uma afronta à mãe água, é uma afronta à mãe Terra. Então, com respeito a cada colega, independentemente do voto, eu peço a vocês que votem “não”, já fazendo o encaminhamento a esse projeto de lei. E, se votarem “sim”, vamos ter a consciência do porquê votamos. Não vamos dizer que não entendemos, não vamos dizer que era uma área maior por uma área menor. O que está em jogo aqui não é isso; o que está em jogo é a vida. Gratidão e muito obrigado.

O presidente – Obrigado, deputado Doutor Jean Freire. Com a palavra, para discutir, a deputada Ana Paula Siqueira.