Pronunciamentos

DEPUTADO PROFESSOR CLEITON (PV), Autor do requerimento que deu origem à homenagem

Discurso

Homenagem pelo transcurso do 100º aniversário de fundação do Colégio Santos Anjos no Município de Varginha.
Reunião 33ª reunião ESPECIAL
Legislatura 20ª legislatura, 1ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 14/11/2023
Página 8, Coluna 1
Indexação
Proposições citadas RQN 326 de 2023

33ª REUNIÃO ESPECIAL DA 1ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 10/11/2023

Palavras do deputado Professor Cleiton

O deputado Professor Cleiton - Exma. Sra. Deputada Leninha, 1ª-vice-presidenta da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, minha querida amiga, a quem eu agradeço o imenso carinho de estar aqui, nesta manhã de sexta-feira, presidindo esta sessão, que afetivamente para mim tem um marco grandioso na minha trajetória como deputado desta Casa. Agradeço também, deputada, ao nosso presidente, deputado Tadeu Martins Leite.

Quero cumprimentar a irmã Odete Morandini, que é ecônoma-geral da Congregação dos Santos Anjos; também a nossa irmã Terezinha Tomazzi, coordenadora da comunidade religiosa de Varginha. É uma grande alegria estar na presença dessas irmãs, que têm uma contribuição histórica relevantíssima com a educação varginhense, através do Colégio dos Santos Anjos. Minha querida irmã Maria Nailde Lise, diretora administrativa do Colégio dos Santos Anjos, com quem eu tive a honra de trabalhar por um longo período, e uma pessoa de um caráter e de um enorme coração.

Quero cumprimentar também a Dra. Larissa Maia Campos, que representa toda a Polícia Civil de Minas Gerais, a delegada responsável pela Assembleia, grande amiga de todos os deputados e deputadas. Gostaria de agradecer pelo cuidado e pelo carinho. Leve o meu abraço à Dra. Letícia, delegada-geral, que hoje está delegada-geral, mas teve como experiência primeira a nossa cidade de Varginha.

Quero cumprimentar o Prof. Edevaldo, e, na pessoa dele, todos os professores e as professoras, inclusive aqueles que estão em Varginha agora nos assistindo e acompanhando pela TV Assembleia. Quero cumprimentar todos os colaboradores e as colaboradores dos Santos Anjos, na pessoa do meu amigo Valdinei. É uma emoção muito grande, deputada Leninha, porque, do lado do Valdinei está a Gabriela, que hoje trabalha no colégio e que foi minha aluna. Na pessoa da Gabriela, quero cumprimentar todos os ex-alunos e ex-alunas.

Quero cumprimentar a Silmara e, na pessoa dela, todo o corpo diretivo do Colégio dos Santos Anjos; a irmã Marília, e, na sua pessoa, todas as irmãs da congregação; e o vereador Rodrigo Naves, Prof. Rodrigo Naves, que, como eu, também foi professor do Colégio dos Santos Anjos, e hoje representa o Legislativo varginhense. A todos os familiares, na pessoa do Otávio, eu quero cumprimentar todos os pais do Colégio dos Santos Anjos de Varginha.

E eu gostaria, neste discurso que preparei, inclusive resgatando algumas coisas – Cadu, Anilso, que resgatei do meu passado como professor no colégio. E esta semana eu tive, por graça de Deus, a oportunidade de encontrar um livro que fala um pouco da história da congregação, que foi me presenteado pela saudosa e queridíssima irmã Noemi, numa das muitas conversas. Para quem não conhece a história, deputada Leninha, a irmã Noemi teve a graça de chegar aos 106 anos de idade com uma lucidez. Quando eu ia conversar com ela, até muitas vezes para me aconselhar, ela perguntava: “Professor, nós vamos conversar em português ou em francês?”. Aos 106 anos de idade. Eu dizia: “Olha, como a senhora vai esquecer o francês, é melhor a gente conversar em português”.

Esse livro me ajudou bastante, primeiro a lembrar que nós estamos falando de uma congregação fundada por uma jovem ousadíssima chamada Elise, que depois veio a se tornar madre Maria São Miguel. Ousadíssima porque falar em educação, mas sobretudo falar em educação católica, durante a Revolução Francesa, não era para qualquer pessoa. Principalmente naquele tempo, irmã, não era para uma mulher. Por isso nós não estamos falando de uma congregação, de um colégio qualquer, nem de uma mulher qualquer, mas de uma mulher extremamente ousada, à frente do seu tempo. De uma congregação que entendeu a sua missão, que a educação abraça toda a existência e estende os seus rumos fecundos sobre a família e a sociedade. É isso que diz um trecho do livro.

Elise lançou-se, então, com esse espírito, à tarefa de educar jovens da sociedade francesa. E assim, de cidade em cidade, começou a espalhar a sua ousadia. Uma morte que foi um rude golpe para 26 irmãs, que, naquele momento, a grande maioria não havia completado 30 anos. Mas Elise, a nossa querida madre, deixou um ensinamento: a Congregação dos Santos Anjos devia tornar-se uma grande família, estendendo-se inclusive a outros países. E aí teve a sorte e quis a providência que um desses países fosse o Brasil, para, com fidelidade e amor, elevar um cântico de gratidão à própria mãe fundadora.

Foi desse modo que, em 1893, três irmãs chegam ao Rio de Janeiro e fundam a primeira das várias casas que se instalaram no Brasil. Era um momento de esfriamento da fé, de aversão aos valores religiosos. Era um momento que reproduzia aquilo que viveu na pele madre Maria São Miguel. Por isso as irmãs que chegaram ao Brasil tinham uma certeza: era preciso uma doação total a Deus na entrega de si mesmo, mas, acima de tudo, um zelo desinteressado pela educação e pelas obras que respondiam aos apelos da Igreja de seu tempo, objetivo esse que continua sendo o ideal da congregação.

Ouso dizer, deputada Leninha, que Paulo Freire deve ter conhecido, um dia, algum escrito da nossa querida madre, porque ela ensinou que a educação se faz a favor dos oprimidos; que a educação exige coragem e determinação para denunciar as falácias de uma modernidade que distancia o homem e a mulher da sua espiritualidade; que eleva ao máximo os valores cristãos e ensina que se deve negar aquela tática da pós-modernidade que reduz a vida a nada, que reduz a vida a um valor agregado pelo capital. No Colégio dos Santos Anjos, como professor, aprendi com as irmãs e com os colegas, e sobretudo com o carisma da fundadora, que o trabalho de um educador orienta as crianças e os jovens no sentido cristão de partilha, da fraternidade, do compromisso solidário que desconstrói os paradigmas que entendem que a realidade histórica é imutável e que nada podemos fazer para mudar os rumos da nossa sociedade. Não é assim que age a congregação. A congregação age na tarefa de denunciar as ilusões, as contradições deste atual modelo e, por outro lado, ensinar as crianças e os jovens a anunciar, de um modo crítico, que outro mundo é possível, porque ensina que juntos podemos projetar outra realidade, não essa globalização, mas a que tem como centro o processo do ser humano e que respeita e agrega valor incondicional à vida, uma educação que questiona as estruturas sociais, a ordem vigente, que ensina os jovens que educação e ato político acontecem de mãos dadas, porque a educação também é pressuposto de um trabalho político.

A educação de madre Maria de São Miguel conscientiza e implica os jovens que pela congregação e pelo colégio passam um compromisso de engajamento, visando mudar a vida do outro. Conhecer mais, para ser mais; inserir-se no mundo, para mudar o mundo que desumaniza. Aprendemos com a madre que é fundamental que o ser humano se dê conta de seu papel e potencial na transformação da história, que comprometimento com o outro não é um ato passivo, mas implica um conhecimento da realidade, pois requer não apenas a consciência dessa realidade, mas também a consciência de que, como sujeito da história, possamos transformá-la.

Como anjos uns dos outros, aprendemos que “somos chamados como consagrados a viver e ministrar o acolhimento restaurador como fundamento do anúncio libertador da pessoa de Jesus Cristo”, como diz um dos livros que são basilares da congregação. Homens e mulheres não podem participar ativamente na história da sociedade e na transformação dela, se não forem transformados por uma educação que não seja apenas um ato de conhecimento, mas uma aproximação crítica da sua tarefa de libertar as pessoas.

E aí chega essa congregação, em 1923, na Cidade de Varginha, em tempos difíceis. Era um tempo de dor, porque havíamos saído de uma grande guerra mundial. Varginha ainda sofria as consequências de uma das cidades mais atingidas proporcionalmente por um dos períodos mais críticos da história recente, que foi o período pandêmico da gripe espanhola. E chega ali, com a missão de transformar aquela cidade. Chega ali para que, na história dela, um projeto de educação se efetivasse, para que se construísse naquela realidade de Sul de Minas uma educação inserida num contexto de país; uma escola que tivesse a missão de promover a produção do conhecimento por meio de uma mediação pedagógica, intencional e direcionada; uma educação em um tempo de desumanização que queria mostrar para Varginha que havia, em madre Maria de São Miguel, a possibilidade de construir uma escola humanizadora para trabalhar não apenas com o desenvolvimento humano, mas para o desenvolvimento integral do indivíduo; uma educação que induzia a necessidade de rever métodos, procedimentos pedagógicos; uma escola que, além de se preocupar com a cognição de seus alunos e dos seres humanos, preocupava-se também com a inteligência que se difundia com o emocional, impulsionando o ensino, bem como o aprendizado.

A sociedade varginhense foi impactada socialmente pela chegada do Colégio dos Santos Anjos, porque ali o colégio teve a missão de tornar aquela sociedade mais democrática, participativa, sobretudo em um primeiro momento, deputada Leninha, educando essencialmente as mulheres para torná-las protagonistas de sua própria história. Instaurou-se ali uma escola que se confundiu com o desenvolvimento da própria cidade, de uma pedagogia que construiu a ideia de um trabalho com a formação de cidadãos mais atuantes e críticos na sociedade. Ao longo dessa história de 100 anos, educadores transformadores construíram essa educação, não somente preocupada com os conhecimentos científicos, mas também com a relação de participação social, desenvolvendo a potencialidade de cada um. Sendo assim, Varginha foi transformada ao longo desses 100 anos por um espaço que possibilitou uma discussão de cidadania do seu exercício com o princípio básico para as mudanças sociais que aconteceram na cidade.

A escola nunca deixou de cumprir o seu objetivo central que era repassar aos seus alunos não só o acumulado de conhecimentos ao longo da história da humanidade, mas também de, junto com esse conhecimento, promover a valorização individual e a formação integral para que esse ser pudesse agir democraticamente em qualquer situação de conflito apresentada ao decorrer da sua vida. O Colégio dos Santos Anjos expressa bem ao longo de sua história varginhense aquilo que diz o grande Edgar Morin: “A educação é uma palavra forte e não pode ficar restrita à utilização de meios que permitem assegurar a formação e o desenvolvimento humano”. O Colégio dos Santos Anjos se tornou não só um projeto pedagógico, mas também um espaço de resistência em que a educação não faz parte apenas do trabalho realizado com os alunos e de um conhecimento científico acumulado medido por notas de provas, medido pela redação, pela matemática, pelo Enem. Os documentos oficiais do Colégio dos Santos Anjos provam que a escola é a mola propulsora da mudança de toda uma sociedade que se tornou mais humana e que paralelamente viu, em todo o Sul de Minas, a existência de professores, professoras, advogados, médicos, enfim, de diversos profissionais que entenderam, ao passar pelo Santos Anjos e através dos escritos de madre Maria de São Miguel, que a vida não é apenas o cumprimento de metas, mas o lugar em que entendemos ter um sentido. E boa parte do sentido da vida está em oferecer ao outro um sentido para sua própria vida. O Santos Anjos ensinou a cidade de Varginha que educação é trabalho coletivo e conjunto, e toda a comunidade impactada entendeu que precisa estar envolvida para desenvolver habilidades emocionais, estéticas, solidárias daqueles que são afetados por ela, os alunos, que são sem dúvida a principal fonte de preocupação dessa educação libertadora promovida por madre Maria de São Miguel. É por isso que, enquanto deputado estadual hoje, mas eternamente um professor e eternamente um professor que passou pelo Colégio dos Santos Anjos, nós não poderíamos deixar passar em branco, sem que a Casa do povo mineiro reconhecesse a importância desse espaço e reconhecesse que nós estamos diante não de uma congregação qualquer, mas de um colégio que representa a mudança das estruturas educacionais não só para o Sul de Minas, mas também para todo o Estado de Minas Gerais.

É por isso que, nesta manhã, nós fizemos questão, em nome de todos os 77 deputados desta Casa, cada qual representando a sua região, de dizer: “Muito obrigado ao Colégio dos Santos Anjos por aquilo que o colégio representa para a educação mineira”.

Em tempos em que nós temos, nesta Casa, resgatado a nossa mineiridade e sobretudo a máxima mineira da luta pela liberdade, em nome desta Casa e em nome do povo mineiro de Minas Gerais, eu quero dizer a cada um e a cada uma que faz parte dessa história, a cada um e a cada uma que entendeu a missão deixada como grande legado de madre Maria São Miguel e ao Colégio dos Santos Anjos o meu muito-obrigado. Gratidão eterna e vida longa à congregação e à vocação das irmãs e vida longa aos educadores e à comunidade escolar do Colégio dos Santos Anjos, em Varginha. Que venham mais 100, 200, mil anos promovendo o bem e impactando a vida de tantas pessoas, como a minha que, pelo colégio, foi impactada. Muito obrigado.