Pronunciamentos

DEPUTADO LELECO PIMENTEL (PT)

Discurso

Critica atuação do governador Romeu Zema e Dos parlamentares que criticam o Partido dos Trabalhadores - PT. Comenta atuação do presidente Lula no conflito do Oriente Médio. Lamenta o falecimento de D. Mauro Morelli.
Reunião 68ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 20ª legislatura, 1ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 19/10/2023
Página 41, Coluna 1
Indexação

68ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 1ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 17/10/2023

Palavras do deputado Leleco Pimentel

O deputado Leleco Pimentel – A nossa presença no Plenário da Assembleia Legislativa, nesta tarde, tem também um sentido de um novo ciclo de lutas que nós vamos precisar empreender em relação às investidas do governador Zema na Assembleia. É muito importante que todos nós possamos entender bem que o governo do Estado, este mesmo, o governador, que promoveu 300% de aumento aproximadamente para o seu salário, que negava precisar do Estado para sobreviver, aumentou também o salário dos seus secretários. Esses episódios não estão distantes da nossa memória, da memória do povo mineiro, que agora passou a compreender profundamente como o Estado da propaganda, o Estado eficiente de Zema, foi colocado apenas para propaganda – e apenas para propaganda.

Antes de mais nada, eu quero responder às provocações dos viúvos do Bolsonaro, dos viúvos do Mito, que insistem em trazer temas que não dominam para criminalizar a ação do Partido dos Trabalhadores; criminalizar a ação de parlamentares, como é o caso do Padre João, que foi deputado, nesta Casa, por dois mandatos. O Padre João, que é deputado federal pelo quarto mandato, esteve, na Assembleia, como presidente da Comissão de Agropecuária, o único do Partido dos Trabalhadores, e também presidiu a Comissão de Direitos Humanos. O Padre João é incardinado na Arquidiocese de Mariana – esse é o termo que se usa para aquele que é padre – e se encontra no exercício da política, portanto podendo ele mesmo fazer o juízo das suas manifestações e do seu testemunho. O testemunho do Padre João é claro e conhecido por todos. E, num episódio em que, nesta tribuna, um deputado sobe para atacar parlamentares do Partido dos Trabalhadores, que se manifestaram porque têm consciência e leitura crítica... São pessoas que leem, mas que, antes de mais nada, sabem bem qual é a relação entre o Estado de Israel, criado pela ONU, e o povo palestino, que continua sendo atacado para que não exista mais. Essa é a razão pela qual subo nesta tribuna, ou seja, para dizer que o deputado que me antecedeu, no mínimo, não conhece de história e tenta fazer uma confusão. Às vezes eu fico pensando em como uma mente pode buscar, tão anacronicamente, fatos para justificar o seu pensamento, embasado em princípios religiosos, e que hoje têm alimentado fake news no Brasil.

Todos sabem que a relação do inominável, aliás, inelegível, genocida, foi com o Estado armamentista de Israel, que é mantido também pela mesma lógica de criação de guerra e de eliminação do povo palestino; que é mantido pelos Estados Unidos e ainda pelo imperialismo, que o povo não quer mais nas suas relações. E as joias, as muambas, que fizeram Bolsonaro, tantas vezes, ir a Israel, sobre as quais ele consegue hoje mentir para justificar o seu apoio, o seu extremismo religioso, isso não se sustenta diante de qualquer defesa que seja pela dignidade humana.

Eu até diria que, se o Padre João estivesse aqui, ele falaria ao deputado que me antecedeu que sua defesa é uma defesa pela vida, pela vida de todos, sobretudo daqueles que nada a ver têm com os domínios do Exército, por isso, a gente os chama de civis. Portanto a gente repete aqui a postura que tem hoje o presidente Lula, também presidente interino, ou seja, é quem coordena hoje a ONU e poderá, com o seu gesto, com a sua habilidade, com a sua capacidade de colocar em diálogo aqueles que estão em conflito, com certeza, trazer um novo alento a esse terrível, terrível – repito – episódio que coloca hoje o mundo inteiro, o mundo inteiro a clamar pela paz.

É por isso também que eu trago aqui, para os deputados conhecerem, a posição que mantém hoje o presidente Lula, que é clara e pode nos colocar diante desse episódio que acontece no mundo. Primeiro, o presidente Lula foi, entre os chefes de Estado, aquele que primeiro ordenou que o Exército, as Forças Armadas, a FAB, a Força Aérea Brasileira se colocasse à disposição imediatamente para fazer a retirada dos brasileiros da zona de conflito. Segundo, o presidente Lula também, como presidente do Mercosul, foi procurado pelos chefes de Estado para, em razão da sua liderança mundial, também garantir a volta dos sul-americanos, daqueles que estão na área de conflito. Só lembrando que o presidente Lula, em razão de sua atitude, já foi homenageado por lideranças, inclusive por essas que pregam ódio o tempo inteiro ao dizerem que aqui se declara pelo lado de Israel e é contrário a todos que estão em defesa do povo palestino.

Terceiro, o presidente Lula, ao colocar o Brasil no cenário internacional, fez com que nosso país pudesse, com uma proposta de diálogo diante deste momento de guerra, ocupar uma posição internacional importante para que pelo menos a relação desses países ou daqueles que se colocam diante da ONU pudesse ser dialogal. Quarto, o Lula denunciou o ataque aos civis, tanto de um lado quanto do outro, e hoje as forças que se impõem na Faixa de Gaza são de representação de Israel. Por isso, a gente precisa aprender a ouvir, a ler e a ter pelo menos um pouquinho de atenção às aulas de história para não ficar repetindo esses cacoetes que às vezes são reproduzidos em fake news e disponibilizados para as pessoas lerem, virem aqui, como se fossem professores de alta habilidade em conjuntura internacional, e repetirem coisas que até o mais iniciante nas aulas de história já sabe: que essa relação conflituosa se dá não só pela criação de um estado artificial, pela tentativa de eliminação também daqueles que ocupam o território, mas, mais que isso, vem sendo alimentada por uma indústria armamentista que tem hoje, com a liderança dos Estados Unidos, feito mal e matado muita gente pelo mundo.

É por essa razão que o Lula não só se coloca como uma liderança com habilidade dialogal, mas também consegue colocar uma pauta que definitivamente pode ajudar na diminuição e até num – vamos dizer – cessar-fogo nesse conflito entre Israel e Palestina, que acaba atingindo todo o mundo. Padre João, então, como os deputados do Partido dos Trabalhadores, não faltou às aulas de história, e não lhe faltou também sensibilidade com as condições de dignidade da vida colocadas em jogo por esses países que querem dominar não só o território e o petróleo. Esses mecanismos são conhecidos pela humanidade porque são a forma como o capitalismo se alimenta diante das guerras e da ocupação dos territórios.

Eu quero também aqui, então, tratar de uma figura histórica para o Brasil que faleceu no último dia 9 de outubro e que encerrou um ciclo importante daqueles que, à frente da igreja, puderam ser tratados como progressistas. Foi por isso que preparamos também esta homenagem a D. Mauro Morelli.

D. Mauro foi bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo e o primeiro bispo da Diocese de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, aquele estado que, hoje, também clama por paz, porque a gente sabe da ação violenta do Estado e da milícia. Portanto foi D. Mauro quem enfrentou não só a ditadura mas também a violência no Rio de Janeiro, sendo ele também aquele responsável por o Brasil ter feito uma agenda positiva no mundo para a retirada dos brasileiros do Mapa da Fome.

D. Mauro Morelli, que teve sua ordenação diaconal no dia 3/6/1964 e faleceu neste último 9 de outubro, integrava um dos grupos de religiosos que incluía D. Hélder Câmara e D. Paulo Evaristo Arns, foi monitorado e perseguido por agentes da repressão do Estado durante o período da ditadura.

A morte de D. Mauro Morelli, na última segunda-feira, também foi noticiada em páginas, páginas e mais páginas de jornais. Reconheciam aquele que era um dos últimos bispos progressistas contra a ditadura e a tortura no País. Ele foi bispo emérito de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e também integrou esse grupo de líderes da igreja – os mais críticos ao regime militar. A oposição rendeu tanto a D. Hélder quanto a D. Mauro Morelli, a D. Luciano e a tantos outros, dentro desses quartéis das Forças Armadas, o apelido de Bispos Vermelhos. É uma alusão ao comunismo que, ainda hoje, costumam apregoar como se aqueles que discutissem a causa da fome, aqueles que ousassem lutar contra o projeto político de fome, fossem, então, comunistas. E, por assim dizer, este D. Mauro Morelli ajudou o Estado de Minas Gerais, nos seus últimos anos, a também elaborar políticas públicas. Por isso o Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável foi uma de suas importantes defesas.

Eu estive com D. Mauro Morelli há poucos meses quando ele, ainda sonhando, aos seus 88 anos, queria que, de fato, a educação do campo, ou seja, essa educação que é hoje a forma de reencantamento dos agricultores e das agricultoras pelo campo, na produção de alimento saudável para combater a fome, pudesse ainda contar com a sua luta. Essa memória a D. Mauro Morelli é pela luta que empreendeu no Brasil e na América Latina, denunciando a tortura que a ditadura militar produziu com as suas inúmeras mortes e perseguições, que foram, com certeza, viradas como uma página de amor e perdão daquele que se dedicou, juntamente com o presidente Lula, com o ex-ministro de Combate à Fome Patrus Ananias e com todos os parlamentares, para que a fome deixasse de ser uma mazela e deixasse de ser a marca do Brasil.

Por isso nossa homenagem aqui, do Plenário da Assembleia, a D. Mauro Morelli, o bispo que ajudou o Brasil a ter uma política pública e a apontar caminhos para que o povo mais pobre pudesse sair da miséria. Que ilumine a vida de Lula para que ele possa, novamente, tirar o Brasil do Mapa da Fome! E, como já apontam também os dados internacionais, que o Brasil consiga ser, de fato, um elo de paz nas guerras e um exemplo para o mundo no testemunho de combate à fome!

Viva Dom Mauro Morelli e viva a luta daqueles que têm consciência de que toda guerra é contra a humanidade e contra todas as formas de seres vivos. Obrigado, presidente.

O presidente (deputado Antonio Carlos Arantes) – Muito obrigado, deputado Leleco Pimentel. Com a palavra, para seu pronunciamento, a deputada Ana Paula Siqueira.