Pronunciamentos

DEPUTADO DOUTOR JEAN FREIRE (PT)

Discurso

Presta homenagem pelo transcurso do Dia do Médico.
Reunião 69ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 20ª legislatura, 1ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 20/10/2023
Página 30, Coluna 1
Indexação

69ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 1ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 18/10/2023

Palavras do deputado Doutor Jean Freire

O deputado Doutor Jean Freire – Muito boa tarde, Sra. Presidenta, companheira Leninha; deputados aqui presentes no Plenário; servidores e servidoras desta Casa, que nos permitem a cada dia desenvolver o nosso trabalho e estar sendo vistos por milhões de mineiros. Quero cumprimentar também aqueles que nos assistem pela TV Assembleia, pelas redes sociais e o público aqui presente.

Sra. Presidenta, eu queria, neste dia 18 de outubro, falar um pouco sobre a visão de quem atua na ponta, na função médica. Hoje, dia 18, dia em que se comemora o Dia do Médico, eu queria falar um pouco. Passamos, há poucos dias, comemorando o Dia do Professor, daqueles que ajudam a cuidar. Para mim, é uma das profissões mais importantes, porque todos nós, médicos, engenheiros, advogados, enfim, todos passamos pelas mãos dos professores e das professoras. Eu costumo dizer que o professor cuida do saber, que o médico cuida do corpo e que os dois têm uma outra função: cuidar da alma, uma função que eu atribuo a essas duas profissões.

Ainda criança, nasceu em mim esse desejo de cuidar. Vim de um tempo em que só tinha acesso a médicos, as consultas nos postos aqueles que eram dependentes: o pai ou a mãe tinha carteira assinada. Uma grande evolução que ocorreu no Brasil e é exemplo no mundo foi o SUS. É verdade que o médico é um, a médica é uma entre esses profissionais que ajudam a cuidar do corpo e da alma. Fui desencorajado por alguns a trilhar esse caminho de me formar em medicina. Lembro, ainda na minha adolescência, quando uns diziam que eu nunca conseguiria ser médico, porque filho de pobre não viraria doutor. Desafiando, talvez, essa opinião, que era a verdade para alguns, tive a capacidade, com a ajuda de muita gente, de me tornar médico. Fiz especialização em cirurgia-geral. Tive a felicidade de ser professor de enfermagem na escola onde me formei, professor de anatomia, e a felicidade de voltar a atuar como médico no mesmo hospital onde fui porteiro, onde fui atendente de enfermagem.

Li muitos livros da literatura médica na história da medicina, e acho essencial que cada estudante de medicina leia alguns deles. Um desses livros falava sobre a vida de Lucano, São Lucas. Oriento o profissional médico que ainda não leu esse livro, oriento o estudante de medicina – hoje tenho a felicidade de ver a minha filha cursando, já terminando o segundo semestre de medicina –, oriento cada estudante de medicina ler Médico de homens e de almas, que fala sobre a vida de Lucano, de São Lucas. Eu, ainda estudante, fiz questão absoluta de ler esse livro e de tentar pautar a vida de médico pelo que diz esse livro: não enxergar, não ver o ser humano como uma doença, não ver o ser humano como um órgão que está doente, não olhar um órgão. Sabemos que existem muitas situações em que a gente se preocupa com o órgão que está doente. Sempre achei que, quando existe uma patologia em um órgão, todo o ser humano está acometido. Trilhei os caminhos da cirurgia-geral. Os primeiros médicos da história da humanidade eram cirurgiões.

Ser médico, às vezes, é bem mais tranquilo do que exercer essa função de parlamentar. Costumo dizer que, na medicina, precisamos, para quem é cristão e crê em Deus, da nossa ação, de toda a nossa equipe. Na política, precisamos de tantas outras ações, mas também é uma função de cuidar das pessoas. Eu segui a carreira também de político, mas não consigo deixar totalmente de lado a minha função médica.

Foi assim no enfrentamento da pandemia; é assim, muitas vezes, nos finais de semana, quando estou na minha cidade e sou chamado para uma cirurgia, para atender uma parturiente. Ser médico, e ser médico no interior ainda é uma função bem mais delicada. Enfrentamos as dificuldades da falta de assistência em vários locais neste país e neste estado. Quantas vezes a gente chega a um final de semana e passa por outro, passa por outro e passa por outro e ainda está lá um paciente esperando transferência para outro local?

Eu queria solicitar aos estudantes de medicina, que escolheram essa profissão tão nobre, que é cuidar e que é ter o outro confiando o seu corpo a nós, que a façam com muita sabedoria e que não trilhem os seus caminhos – acho justo e correto todos e todas pensarem em se formar e desenvolver sua profissão e ter um ótimo salário –, para um mundo financista. Acho que nenhuma profissão merece isso, e a medicina talvez seja aquela profissão de lidar com as dores, com os amores do cidadão e da cidadã no dia a dia. Muitas vezes, você é o último da ponta em quem ele confia e em quem ele joga toda a sua esperança, mesmo nos momentos de muita e muita dificuldade.

Fico muito feliz, porque hoje, a partir da zero-hora, foram muitos e muitos pacientes me mandando mensagens: pacientes que passaram por mim quando eram crianças. Neste ano, eu faço 25 anos de formado. No próximo dia 18 de novembro, a nossa turma irá se encontrar no Rio de Janeiro para comemorar 25 anos de formatura.

Perdemos colegas, e perdemos colegas para a covid. Na linha de enfrentamento, eu tive que passar pela dor de ter que entubar um colega médico, de ver colegas médicos partirem. Então eu queria aproveitar este momento, do dia 18, para chamar a atenção principalmente dos estudantes de medicina. Procurem ser médicos e médicas de homens e de almas. Não enxerguem seu paciente como uma coisa, como uma doença, como um problema, como um órgão que está doente. Não achem que quem vai a um hospital, de madrugada ou a hora que for, vai para brincar: “Eu não estava fazendo nada e fui ao hospital”. Todos e todas que procuram atendimento médico o fazem porque estão precisando nem que seja de uma conversa ou nem que seja de uma palavra. Estão precisando!

Estamos vendo, no dia a dia, a medicina ficar mais mecanizada, mais digital, usando pouco as mãos e usando pouco os ouvidos para escutar o paciente. Eu aprendi e desenvolvo até hoje: escute o seu paciente. Ele diz o que tem; ele vai conduzi-lo, numa anamnese, a dizer o que tem; escute-o; coloque a mão nele. Os exames e os laboratórios são de fundamental importância, mas escutar, dialogar, conversar sempre terão o seu lugar. Parabéns aos médicos que desenvolvem essa medicina.

Eu lembro que, há uns dois, três anos, eu fazendo uma fala, neste mesmo dia, parabenizei os médicos, que desenvolvem essa medicina com amor, com sabedoria, sendo médicos de homens e de almas, sendo médicos que desenvolvem a sua medicina com amor, com paciência, com solidariedade. Citei várias virtudes que eu acho que tem que ter cada cidadão e cada cidadã, principalmente quem está ali, tendo um outro ou uma outra confiando-lhe o seu corpo, confiando-lhe a sua saúde.

Após fazer essa fala, um colega deputado pediu um aparte e falou para mim que eu deveria também parabenizar os médicos da direita, e não só os da esquerda. Eu volto a repetir a mesma fala que fiz, não volto atrás: não se trata de ser de esquerda ou de direita. Muitas vezes esta tribuna é usada, como disse o deputado Betão, com inverdades, para tentar essa polarização.

Parabéns a cada médico, a cada médica, onde quer que esteja, seja em Israel, seja na Faixa de Gaza, principalmente esses que estão, no dia a dia e neste momento, enfrentando dificuldades, sem energia, sem ter acesso à água. Parabéns àqueles que estão na África, àqueles que estão na linha de frente das guerras. Estas, sim, não deveriam existir. Parabéns a vocês, que estão correndo, colocando a vida em risco para salvar crianças, para salvar vidas. Parabéns àqueles que estiveram na linha de enfrentamento à pandemia. Parabéns a cada médico, a cada médica que defende, no dia a dia, este que é o maior sistema de saúde pública do mundo, o SUS. Parabéns a vocês que olham para o outro e se colocam no lugar do outro. Acho que isto é fundamental ao desenvolver a nossa profissão médica: colocar-se no lugar do outro, no lugar da outra.

Então quero deixar um abraço a cada colega médico, a cada colega médica que desenvolve a medicina com esse olhar num momento tão difícil, quando nós estamos vendo, cada dia mais, os grandes grupos se organizarem. Agora, gente, está tramitando e foi votado, há poucos dias, no Senado, na comissão um projeto que trata da venda de produtos derivados do plasma. Essa não é a medicina que nós queremos, cada dia mais empresarial, cada dia mais privatista, cada dia pensando muito, uma parte, nessa questão financeira.