Pronunciamentos

DEPUTADA LENINHA (PT)

Discurso

Agradece a sua reeleição para a Assembleia Legislativa e ressalta a importância da vitória de Lula para a redemocratização do País. Comemora a expansão da bancada feminina no Parlamento mineiro e na Câmara dos Deputados. Denuncia atos de violência que teriam ocorrido por manifestantes que protestavam contra o resultado da eleição para a Presidência da República.
Reunião 63ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 19ª legislatura, 4ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 10/11/2022
Página 7, Coluna 1
Assunto ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MINAS GERAIS (ALMG). ELEIÇÃO. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA.

63ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 19ª LEGISLATURA, EM 8/11/2022

Palavras da deputada Leninha

A deputada Leninha – Obrigada, presidente. Uma boa-tarde aos colegas parlamentares, aos que nos acompanham pela TV Assembleia e, enfim, de modo muito especial, a todos vocês também desta Casa que fazem um belíssimo trabalho para que não só a democracia seja fortalecida a cada dia, mas, principalmente, para que o nosso trabalho parlamentar tenha êxito.

Eu não poderia deixar de registrar aqui, no Plenário, a minha alegria, a minha honra e, sobretudo, a minha responsabilidade pela nossa reeleição e, de modo muito especial, pela eleição do presidente Lula. No dia 3 de outubro, no dia 2 de outubro, em que eu fui reeleita e reconduzida para mais um mandato, a nossa alegria não foi completa, foi uma alegria parcial. Eu tinha feito um compromisso de fazer uma declaração de voto e de agradecimento após o dia 30 na esperança e na certeza de que pudéssemos vir aqui também comemorar a nossa vitória junto ao presidente Lula. Nós vivemos a eleição mais importante da nossa história e das nossas vidas. Então o mais importante é a nossa vitória pela redemocratização neste país. Por isso eu não poderia deixar de agradecer imensamente a todos e a todas, que, ao longo dos últimos quatro anos, têm nos apoiado, apoiado a nossa luta, fortalecendo e contribuindo ao longo deste mandato para que pudéssemos alcançar legitimidade, alcançar também essa defesa intransigente da vida, da democracia, dos direitos de todos e de todas, do direito à natureza, enfim, de todos os direitos pelos quais nós lutamos sempre, como muitos aqui, desta Casa.

Mas também de temas muito importantes, como a soberania, a proteção e o fomento da agricultura familiar, da agroecologia; do avanço da pauta das políticas públicas para nós, mulheres, para a juventude e para os grupos QIA+; enfim, para todos aqueles e aquelas que precisam de um Estado forte, capaz de responder às demandas, às necessidades e aos anseios do nosso povo e da nossa gente.

Muito obrigada a todos vocês que caminharam comigo e com os meus companheiros de Parlamento. Todos da nossa bancada foram reeleitos, todos aqueles que disputaram, e isso é uma alegria muito grande. Além de sermos reeleitos, nós conseguimos ampliar a nossa bancada do Partido dos Trabalhadores aqui, nesta Casa. Isso nos enche de orgulho e de esperança. E é isso. A gente fez, nesses dias, de 40 a 60 dias, muitas idas e vindas nos becos, nas favelas, nos morros, nas comunidades rurais, nas comunidades tradicionais, levando a nossa mensagem de coragem, de otimismo, de esperança e de fé de que a gente pode, de fato, construir um Brasil a partir daquelas propostas de política que a gente acredita que são importantes para o nosso povo.

Muito obrigada a todos vocês que fortaleceram os nossos passos, na certeza de que eu não ando só e de que a gente junto anda muito melhor. Como diz Guimarães Rosa: “É junto dos bão que a gente fica mió”. E é assim que a gente segue, junto de vocês, que acreditam na prática da melhor política; que acreditam que é possível, sim, na nossa diversidade, manter o respeito às diferenças e, acima de tudo, manter o respeito às pessoas. Vamos juntos e juntas.

Esse foi um período muito difícil para a gente. A gente nunca viu tanto aparelhamento do Estado; a gente nunca viu tanta pressão política, tanta coação, tanto intimidação. Nós tivemos, em Minas Gerais, mais de 300 processos ao Ministério Público do Trabalho praticados pelos prefeitos e pelos gestores dos municípios. Eu vim do Norte de Minas e atuo também no Jequitinhonha, onde a gente acompanhou bem essas duas regiões que historicamente sempre votaram na esquerda neste Brasil. O semiárido mineiro, o Norte e o Vale do Jequitinhonha acompanham o Nordeste brasileiro, e por isso a investida maior desses prefeitos nessas regiões, fazendo com que muitos se sentissem voltando ao tempo do coronelismo, daqueles que acham que nós não saímos da senzala, que o nosso voto é o voto deles. O voto não era do vereador, não era do prefeito, não era do secretário. E as pessoas entenderam bem isso. Nós não vamos voltar para a senzala, nós não vamos voltar para aquele tempo em que os coronéis eram donos dos votos dos trabalhadores e das trabalhadoras. O recado está dado. A velha política não cabe mais nos tempos atuais. E esse recado é para todos nós, que estamos na representação política neste país; e esse recado é para todos aqueles que acham que têm que voltar ao século passado, quando muitos dos trabalhadores votavam nos coronéis, votavam nos patrões, que sempre os oprimiram e que sempre fizeram política de escravidão.

É importante destacar que, mesmo diante da nossa violência sofrida nesse período eleitoral, o número de mulheres cresceu; e isso é uma vitória importante para nós, mulheres, que sempre teimamos em ousar e ocupar a política. Para se ter uma ideia, aqui, em Minas Gerais, nós seremos 15 parlamentares – nós tivemos um aumento de 67% em relação a 2018. Essa é uma vitória democrática que veio para ficar. Nós chegamos e vamos ficar ocupando a política. Nós somos a maioria do eleitorado deste país, e demorou muito tempo para furarmos essa bolha de que a política era feita somente pelos homens, os homens brancos e endinheirados de famílias tradicionais. A nossa trajetória mostra que é possível, sim, que nós, mulheres, que temos origem nas quebradas, que viemos de baixo, também podemos ocupar o Parlamento e ocupar a política, trazendo aquilo com que a gente sempre teve compromisso, que é com os mais pobres, e, enfim, com todas as mulheres negras, mulheres cis, mulheres trans, mulheres das quebradas, mulheres das comunidades rurais, enfim, todas as mulheres também para ocupar a política.

E na Câmara Federal também houve um aumento muito importante: aumentou para 18% a representação feminina, com 91 deputadas federais eleitas. Não somos tão bem representadas como a gente gostaria e como deveria ser, mas, a cada eleição, a gente vem se fortalecendo e tomando lugar nos espaços de poder, que são nossos por direito, espaços nos negados historicamente. Como líder da bancada feminina desta Casa, parabenizo e recebo, com muita alegria, todas as parlamentares que estão chegando, também eleitas, na certeza de que, com todo o respeito que tenhamos à nossa pauta ideológica, vamos construir unidade naquilo que diz respeito à pauta das mulheres. Por isso, nesta próxima quinta-feira, nós teremos um café com as parlamentares reeleitas, as que estão chegando, com o apoio da Presidência desta Casa, para firmarmos esse pacto de que nós devemos, na unidade, construir o melhor para as mulheres de Minas e para as mulheres do Brasil.

Eu não poderia deixar de agradecer às diversas organizações que nos fizeram chegar até aqui. Eu, os demais companheiros do nosso partido, o Partido dos Trabalhadores, e a nossa federação não poderíamos deixar de agradecer à Articulação do Semiárido Mineiro e Brasileiro, a articulação que congrega mais de 120 organizações da sociedade civil, que atuam muito no semiárido. Olhem só, nós inovamos há 15 anos atrás na política de combate à seca, porque há alguns que teimam que é possível combater a seca. Nós trabalhamos com a convivência com o semiárido. Nós trabalhamos com tecnologia de guardar água da chuva. Nós trabalhamos com sementes crioulas adaptadas a um clima em que há a distribuição irregular das chuvas. Nós trabalhamos com as mulheres do semiárido, por isso é que eu faço um agradecimento muito especial à Articulação do Semiárido Brasileiro, essa grande rede que, em Minas Gerais, também articula essas entidades no Vale do Jequitinhonha e no Norte de Minas.

Queria agradecer ao Conselho Nacional do Laicato do Brasil. A nossa igreja é diversa, é múltipla. Na nossa igreja, há o pessoal mais conservador, ligado também à renovação carismática, mas temos também pessoas ligadas a um outro tipo de religião, da “igreja em saída” do papa Francisco, da “igreja em saída”, cuja encíclica fala muito bem que o nosso lado é sempre ao lado dos pobres, por isso é que nós nunca tivemos dúvidas. Nós temos um laicato no Brasil e no nosso Regional Leste II, que é um laicato valente, guerreiro, que se posiciona a favor da vida e não permite mais violência contra o nosso povo.

Faço um agradecimento muito especial à Cáritas Regional de Minas Gerais, à Cáritas Brasileira, que é um braço e um organismo da CNBB, que atua com projetos sociais e que faz tão bem o trabalho por toda Minas Gerais, inclusive em Belo Horizonte, com muitos convênios com a prefeitura: para a pessoa em situação de rua; para as mulheres vítimas de violência doméstica; para os jovens que estão no mundo das drogas; para as pessoas que têm deficiências e doenças mentais. Enfim, a Cáritas é um grande organismo que vem atuando junto aos pobres no Brasil.

A todos os sindicatos dos trabalhadores rurais que acreditam como eu na força da agricultura familiar, naqueles que põem comida na mesa de todos e todas; na necessidade que nós temos de ter mais política pública ligada ao fortalecimento da agricultura familiar, ao crédito, à assistência técnica, ao fomento. A gente acredita que, com o presidente Lula, nós vamos ter um Pronaf forte, vamos ter um programa de alimentação escolar. Mesmo com este governo tirando dinheiro da merenda escolar, não deixando o orçamento, nós sabemos o quanto é importante essa política que compra da agricultura familiar e oferta na merenda escolar um produto regional, um produto livre de agrotóxicos, sem veneno, garantindo saúde para nossas crianças e adolescentes.

Eu não poderia deixar de agradecer a todos os vereadores e vereadoras; ao prefeito Marcão, de Serranópolis, o único prefeito que publicamente está na nossa campanha, que está no nosso mandato. Mas, para nós, que fazemos uma outra política diferente, sem nenhum tipo de inimizade ou de bloqueio ou rompimento com prefeito algum, a gente sabe que a nossa força e a nossa luta vêm das organizações sociais, do movimento sindical, dos movimentos que atuam em defesa da vida e dos direitos humanos.

Enfim, minha gente, nós estamos passando por um momento em que é fundamental que a gente baixe a guarda, baixe a poeira. Serão quatro anos de luta para a reconstrução deste país, mas também será o momento de a gente pacificar o Brasil, o Estado de Minas Gerais. As eleições já ocorreram, já foi decretada a vitória, nós já estamos na fase de transição de um governo. Assim como a gente respeitou o resultado das urnas em Minas Gerais, em São Paulo, em capitais importantes em que nós perdemos as eleições, nós vamos seguir caminhando na construção deste país do Lula, na construção deste país democrático, com a volta dos conselhos consultivos de construção de uma política participativa. E, aqui, em Minas Gerais, todo mundo sabe que o presidente Lula é um estadista e respeita, inclusive, essa ordem republicana, federativa. Nós estamos aqui, na Assembleia, para a reconstrução do nosso estado, a partir de Minas Gerais, a partir da nossa região, por isso é que a gente quer seguir o curso da nossa história com aquilo que a gente sempre fez, a prática da melhor política com respeito às diferenças. Não é, Doutor Jean e Beatriz, que estão aqui? Nós sabemos o nosso jeito de construir política. A gente não está aqui para atos nenhum de violência.

Eu acabei de sair do meu gabinete, quando vi um casal de jovens fazendo o depoimento da agressão sofrida aqui. Eles moram próximos à Raja Gabaglia, onde está havendo manifestações cotidianas. Uma menina frágil, que teve o cabelo arrancado, parte do cabelo, e o brinco retirado da orelha, não é? Enfim, ela foi derrubada ao chão.

Então não é esse tipo de democracia que a gente quer construir. Nós queremos respeitar essa diversidade política, nós queremos construir, nessa diversidade, buscando a unidade naquilo que a gente tem certeza que o povo do outro lado também quer: um país sem fome, onde as pessoas possam viver com dignidade, onde as pessoas possam ter direito à vida, ter direito de viver.

Não dá para continuar com atos de violência contra o nosso povo. Estamos tomando providência e vamos pegar as imagens da câmara. Nós precisamos, inclusive, identificar as pessoas violentas neste país, para que possam ser punidas, porque nós aceitamos o resultado em 2018 sem violência. Apesar de toda a fábrica de fake news e de tudo o que se construiu de narrativa contra o nosso projeto de país, nós aceitamos, democraticamente, e ficamos esses quatro anos convivendo com o desgoverno em que a gente nunca acreditou, mas contra o qual a gente nunca foi violento.

Então nós não podemos permitir práticas de violência contra o nosso povo. Eu sei que muitos que me antecederam aqui, neste Parlamento, já denunciavam esse tipo de violência, mas, minha gente, isso não é possível, porque o País que a gente quer construir é este país diverso e múltiplo mesmo.

A gente fala sempre que a unanimidade nunca foi uma coisa saudável e inteligente. Nós precisamos pensar diferente. O Brasil que a gente quer construir tem que acomodar essas diferenças, mas nós não podemos continuar seguindo esse rito da agressão, nós não podemos continuar seguindo essa lógica de que a democracia do Brasil pode ser ameaçada por um grupo de pessoas que não aceitaram o resultado no último dia 30. É por isso que aqui, neste Parlamento, nós vamos seguir construindo essa política de defesa dos direitos de todos e todas, incluindo aqueles que inclusive não pensam como a gente, ideologicamente, mas que têm todo o direito de viver e viver naquilo em que eles acreditam.

Nesta tarde, eu queria muito mais fazer esse agradecimento especial a todos e todas, mas também sinalizar o nosso compromisso de futuro com esta Casa, com a democracia, como Minas Gerais e com Brasil. Nós seguiremos, com harmonia, na medida do possível, mas na radicalidade necessária para fazer com que Minas Gerais siga no desenvolvimento inclusivo, siga fazendo, inclusive com que as pautas...

A deputada Beatriz está aqui, e eu me lembro que essa pauta do Fundeb, tão lembrada por ela, seguirá sendo lembrada por nós aqui. É hora de fazer o rateio, é hora de tratar com respeito os profissionais da educação, não fazendo distinção de quem deve ou não receber esse rateio ao incluir todos aqueles que lutam por uma educação de qualidade. Nós seguiremos fazendo a defesa de programas sociais importantes para garantir comida na mesa de todos e todas; seguiremos trazendo a política do bem-viver daqueles e daquelas que querem a melhor prática, assim como nós também queremos.

Uma boa tarde para todos e todas. Vamos em frente para uma nova legislatura, com a mesma garra, com o mesmo respeito, mas, acima de tudo, com os mesmos compromissos que nós assumimos quatro anos atrás. Uma boa tarde e um abraço a todos e todas.