Pronunciamentos

DEPUTADO HELY TARQÜÍNIO (PV)

Questão de Ordem

Comenta a trajetória política e despede-se dos deputados Adelmo Carneiro Leão, Sebastião Costa, Célio Moreira, Zé Maia e Carlos Mosconi que deixarão a Assembleia Legislativa.
Reunião 80ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 17ª legislatura, 4ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 20/12/2014
Página 30, Coluna 1
Assunto (ALMG). DEPUTADO ESTADUAL.

80ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 17ª LEGISLATURA, EM 18/12/2014

Palavras do deputado Hely Tarqüínio


O deputado Hely Tarqüínio - Neste momento de homenagem e nesta solenidade já de despedida - mas ainda vamos continuar convivendo com uns e coexistindo com outros -, quero me dirigir, em primeiro lugar, ao meu colega e amigo deputado Adelmo Carneiro Leão, praticamente meu conterrâneo, já que se mudou muito cedo para Uberaba, cidade que deixei depois de formado. Quando estudantes, nossa via comum foi a Faculdade de Medicina de Uberaba, àquela época federal, onde o Adelmo se revelou um grande aluno que se transformou em professor. Mas um professor dos maiores, um professor que era um verdadeiro ícone da faculdade, um exemplo de homem que ensinou toda a ética profissional da medicina, na cadeira mais importante do segundo ano àquela época, que era a de fisiologia. O Adelmo conquistou a cátedra, transformou-se em catedrático e deu sequência a uma formação de médicos que se inspiravam nesse professor, paraninfo de tantas turmas. Paradoxalmente, era um homem fechado, mas fechado na grandeza de formar médicos para o Brasil, de ensinar às pessoas humanismos e humanidades, principalmente na medicina. E Adelmo assimilou aquela grande fisiologia que ensinava, como Hobbes fundou o Estado, no Leviatã, assunto de que o Sebastião Costa entende muito. Mas, Adelmo, você abrilhantou este Poder Legislativo de Minas Gerais. Quando você veio para cá, já tinha a sua vocação ideológica e política. Formou-se cedo nesse mister e pôde conquistar os votos que o trouxeram pela primeira vez para esta Casa, aonde chegamos juntos. E aqui chegamos com aquele ideal a que o Sebastião se referiu: chegamos juntos, até querendo derrubar logo de início a Mesa. Convivemos desde essa época - embora eu tenha ficado na secretaria por quatro anos, após perder a eleição, quando exerci o cargo de secretário adjunto -, e aprendi muito com você, principalmente na Comissão de Saúde, onde, desde o início, você já revelou o lado da identidade. Como eu disse aqui, todos nós, deputados, trazemos as nossas diferenças, mas naquela busca da síntese do humanismo, de pensar que podemos, com as nossas semelhanças, sermos iguais; ou sermos iguais com as nossas semelhanças. É isso que você nos ensinou aqui, como todos os outros deputados. Mas lembro-me dos embates que aconteceram aqui durante todos esses anos. Terminando a sua fala, você citou a Epamig. Você pensa no Estado de uma maneira ideológica, mas como o todo. Essa é a nossa grande missão aqui: pensar no todo e não privilegiar parte. Podemos sustentar a parte, somar as partes de uma forma algébrica, em que o ser humano é mais importante que o ter humano. Estamos vivendo uma época do ter. Todos esses deputados que falaram aqui trouxeram seu ser para cá; e aqueles que não falaram também. Ser, existir, para o todo. Esse exemplo todos demonstraram nas suas comissões, porque, engraçado, trazemos a marca da profissão que vivemos, mas exatamente pensando numa sociedade mais justa, mais equilibrada. É o que absorvemos lá. Absorvi isso muito de V. Exa., trazendo seu ideal, do PT, que na verdade era uma social democracia franca naquela época. Depois as coisas vão transformando-se, o mundo virou uma aldeia, quase que um ciberespaço. Aí temos as nossas diferenças cada dia mais. A contemporaneidade muda muito as coisas. A cada 10 anos, mudamos o modo de pensar, e o nosso organismo também muda. A vida é cíclica, mas, dentro de toda essa complexidade, fica a personalidade de cada um, expressa no seu trabalho aqui dentro, nas comissões, no Plenário, no empenho de cada um. Entendo que todos aqui vieram para praticar o bem. Como assisti a muitos discursos aqui, nessa polêmica das contrariedades, em que escutamos: “tal presidente está roubando, o outro não vale nada”. Acho que precisamos refletir mais sobre isso com serenidade. A palavra “político” já engloba a polis lá da Grécia, quando pensamos no coletivo. Ninguém vem para cá para construir só o seu individualismo. Cada um com seu partido, num elenco do capitalismo ao socialismo; do estatal ao neocapitalismo, ao neoliberalismo, seja lá como for; todos deram o seu exemplo. Então vi o deputado Adelmo Carneiro Leão se preocupar com a Epamig, com a pesquisa, para proteger o campo, para proteger o produtor e também o empresário. Porque vivemos nesse leque do rico, do médio e do pobre, pensando, sim, como todos demonstraram na confecção dos projetos que aqui chegaram, em políticas públicas compensatórias. O Estado é que fará essa álgebra, mas há um objetivo lá na frente, que é o bem-estar de todos. Lógico que esse bem-estar é muito relativo. Então quero parabenizá-lo pela vida, pela sua trajetória aqui, que conheço bem. Você sempre exerceu todos esses mandatos com galhardia, com denodo, com compromisso, com serenidade, com convicção e, sobretudo, com honradez, dando o exemplo que sempre deu, como grande pai de família, como político, sobretudo como médico, professor, catedrático. Então que você seja feliz; que, em seu caminho, você possa encontrar os desafios; mas, com a sua iluminação, possa também levar luz ao Congresso. Você aumentará muito mais lá a experiência da consciência que adquiriu aqui, e ensinará também. Então um grande abraço, felicidades. Agora, vamos falar com nosso Sebastião Costa, falar do coração, Sebastião, do sentimento que temos de amizade e da minha admiração pela sua competência. O seu competente professor, aqui do nosso lado, lhe passou todo o conhecimento. Tenho certeza de que você chegou aonde ele chegou, pois deu verdadeiras aulas. Quando a coisa engrossa lá na Comissão de Justiça, dizem: “Chamem o Sebastião Costa”. O Sebastião Costa é o grande timoneiro, a grande luz de lá. Fique tranquilo, pois cumpriu toda a sua missão aqui dentro. Gostei da sua fala emocionada. Todos nós temos nossas razões, a racionalidade, mas a emoção toma conta, e nessa hora vem o sentimento. Do ponto de vista do seu compromisso e daquilo que nos ensinou, você foi um verdadeiro professor. Na sua inspiração, estive lá e briguei para ser presidente dessa comissão, porque cheguei analfabeto com relação a leis. Aprendi pelo menos alguma filosofia do direito para interpretar essa tríade tão complexa, quando falou de constitucionalidade. Você tem essa preocupação permanente. Você fala isso, vamos dizer assim, de graça, buscando sempre a constitucionalidade. Quando o governo tinha dificuldade, você achava um caminho, através dos pertuitos, das PECs, dos argumentos com que discutia com os consultores, e sua luz sempre mostrou o melhor caminho, a melhor solução para a comissão, que, de agora para frente, pelo Regimento, será conclusiva. Pode estar certo de que deixou sua página de sabedoria como ensino para este Parlamento. Muito mais coisas você realizou nas diversas comissões. Seu exemplo deve ser seguido, e seu filho tão bem se iniciou agora na trilha do conhecimento do direito para que esse direito sirva para o todo. Um grande abraço, felicidades, Deus o proteja, muita saúde para você e sua família. Agora, nossa Luzia, a representante da mulher nesta Casa, que tem uma história de vida que não sabia. Pela informação do Rogério, você foi do PCB. Não é tão difícil porque, antes, ao se falar que o sujeito era comunista, pensavam: vai para o inferno e está se misturando com o capeta. Não é assim, num país como o nosso? Agora, graças a Deus, estamos tendo mais escolas, o povo está se esclarecendo mais. A Revolução Francesa está começando a se refletir aqui no Brasil, depois desses tantos anos. Você foi uma professora do direito do cidadão, do direito da coletividade e trouxe isso na sua vocação, para chegar ao Parlamento defendendo a mulher. Você falou da Lei Maria da Penha. Sabemos da sua atuação dando exemplo a todos nós. Temos certeza de que você continuará. Em qualquer caminho que tomar, a política estará em suas veias, correndo em seu corpo, irradiando a sua inteligência, sendo luz para todos os que estiverem juntos com você. Que Deus abençoe seu caminho. Continue nesse ideal, materializando sempre seus sonhos. Agora, vamos falar do Célio, com cuja pessoa tivemos a graça e a satisfação de trabalhar, pois já está aqui há três mandatos e trabalhou nas comissões, onde, da mesma forma, revelou sua vocação para servir. Todos nós trazemos nossa história de vida para cá, principalmente a da primeira infância, que é marcante. Nossas motivações, nossas intuições, nossas convicções surgem dessa vivência primeira da primeira infância. Mais tarde, aquilo se repete de outra forma, e vamos assimilando o mundo, mas, na hora de marcarmos presença, levamos a nossa convicção na realização dos ideais daquilo que sofremos e que achamos que pode se transformar em dias melhores não só para nós, mas para todos. Isso o Célio mostrou aqui, através do trabalho nas comissões, no Plenário, revelando-se um deputado competente, porque já passou pela Câmara de Vereadores, que não tem a mesma dimensão desta Casa, tem a dimensão municipal, mas a dimensão de uma cidade grande como Belo Horizonte. Não mudou muito de lá para cá. A diferença é que aqui foram assimilados todos os 853 municípios nas suas necessidades, é um pouco maior. Você trouxe a sua experiência, não chegou aqui por acaso e deu o seu exemplo. Já os números de uma eleição proporcional são às vezes definitivos, mas nem sempre fazem justiça. Por isso a minha opinião é que essa lei deve ser revista. Precisamos de uma reforma eleitoral e política para compor o Brasil, porque já exige isso pelo tempo em que existe. É como a Constituição: de vez em quando deve ser repensada, mas não com tanta PEC, porque os próprios juristas não gostam disso. O direito positivo no Brasil está com mais de 250 princípios constitucionais, é difícil, mas enquadra e faz justiça. V. Exa. deu seu exemplo, e pelo exemplo de pai vi sua emoção quando falou do seu filho na tribuna. Aquilo arrepia a todos nós e dá força para continuarmos, porque a família está com você, os seus companheiros têm a compaixão da dor, todos nós sentimos por você, estaremos com você. Sempre temos obstáculos na vida e estamos aqui para ultrapassá-los com as nossas crenças e convicções. Que Deus lhe dê muita força, muita fé, muita razão para persistir nos seus ideais. Um grande abraço, que Deus o proteja. O Zé Maia, que também não falou, prestou o seu serviço tão importante na Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária, onde se faz a álgebra. É lá que se conhece a real saúde financeira do Estado e as perspectivas econômicas para administrar a vida de cada família nos 853 municípios - o Dinis Pinheiro vai visitar esses 853 municípios, pois é o caminho da sua candidatura para governador, se Deus quiser; você é um iluminado. Ao Zé Maia quero desejar felicidades. Que Deus o abençoe e a sua família. Você é um exemplo de pai e esposo e foi um exemplo para todos nós no Parlamento. O Carlos Mosconi foi embora - todos conhecem a sua história de muitos mandatos - e nos deu tantos exemplos na Comissão de Saúde, porque é vocacionado para a saúde. Conseguiu muita coisa, trouxe a sabedoria do Congresso Nacional e agora estava devolvendo novamente alguma coisa do nosso estado. Mas é o que disse: os números às vezes são carrascos diante de uma álgebra difícil de fazer. Justiça é como eu disse: o código de Deus é diferente do código dos homens. A todos vocês um grande abraço, e que o caminho de cada um seja iluminado por Deus. Muito obrigado.