Pronunciamentos

DEPUTADO VANDERLEI MIRANDA (PMDB)

Discurso

Homenageia o deputado Dinis Pinheiro, por ocasião de sua despedida da Assembleia Legislativa.
Reunião 79ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 17ª legislatura, 4ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 20/12/2014
Página 51, Coluna 1
Assunto DEPUTADO ESTADUAL. (ALMG).

79ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 17ª LEGISLATURA, EM 16/12/2014

Palavras do deputado Vanderlei Miranda


O deputado Vanderlei Miranda - Caro presidente, dileto amigo Dinis Pinheiro, creio que, apesar de tudo que já foi dito aqui, ainda que não tenha esgotado tudo aquilo que poderia ser dito, e por mais que eu queira acrescentar alguma coisa, não conseguirei fugir à redundância. Por isso não quero fazer aqui um discurso político, mas tentar falar ao amigo, à pessoa do companheiro Dinis Pinheiro.

Muitos que passaram por esta tribuna teceram elogios maravilhosos a sua pessoa, mas, na nossa vida, Dinis, há mais. Eu, no sábado próximo passado, precisamente no dia 13 de dezembro, completei 39 anos de casado, e sei que muito da minha caminhada ao longo desse tempo de casamento sempre foi sustentado por uma mulher que poucas pessoas veem. As pessoas veem muito o Vanderlei, mas veem muito pouco aquela que sustenta a minha caminhada. Por isso quero dirigir-me à Adriana para dizer-lhe: com toda certeza, Adriana, todos esses elogios dirigidos ao Dinis, não tenha nenhuma dúvida, só puderam ser produzidos porque, ao lado dele, você tem estado como aquela mulher bíblica, uma grande ajudadora.

Por falar nessa mulher bíblica, da grande ajudadora, há uma curiosidade de que às vezes falo em celebrações de casamento que tenho a oportunidade de realizar. Para os que não sabem, junto do mandato que exerço, também carrego a responsabilidade ministerial como pastor. Assim, em algumas oportunidades, coloco um questionamento. O corpo humano tem mais de 200 ossos, e nós, cristãos que cremos no criacionismo, cremos que Eva, como diz a Bíblia, foi tirada da costela. Entre mais de 200 ossos, Deus não tirou a Adriana da cabeça para não fazê-la maior que você; não a tirou dos pés, para não fazê-la menor, mas tirou-a da costela, que fica bem do lado onde está, de fato, a companheira, como está agora aí, a seu lado, costela com costela.

Não tenho dúvida de que o seu sucesso está sustentado pela vida da mulher que Deus lhe deu, a mãe dos seus filhos, a sua companheira, a sua guerreira, a sua sustentadora. Naqueles momentos em que nós, deputados, companheiros seus nesta Casa, não vemos, ela, com certeza, já deve ter enxugado as suas lágrimas lá no secreto da sua casa, em determinados momentos da sua caminhada até aqui.

Por falar em caminhada, é claro, você tem uma longa caminhada pela frente, e sabemos disso. No convívio com você na Casa, Dinis, já foi dito aqui que uma das características que carrega é a humildade. Essa palavra tem tido, de certa forma, uma interpretação um pouco equivocada. Algumas pessoas confundem humildade com pobreza, e, às vezes, ao se referirem à sua origem, querendo dizer que vieram de lares pobres, dizem que vieram de um lar humilde. Não, humildade não tem a ver com pobreza. Conheço pobres soberbos e ricos humildes, e conheço o inverso. Humildade é uma palavra que tem, na sua raiz, outra, a palavra “húmus”, que, por consequência, fala de terra. E falando de terra para nós, que também cremos no criacionismo, fala da nossa origem. Se cremos no criacionismo, cremos que fomos feitos do pó. E a palavra “húmus” nos remete ao pó, leva-nos a encarar do que somos feitos, de onde viemos e para onde, fatalmente, voltaremos. A partir desse entendimento, a vida, com toda certeza, tem de nos fazer humildes.

Debatemos muitas coisas nesta Casa. Concordamos em muitas coisas, discordamos em muitas coisas. Mas uma coisa que pude perceber também na sua personalidade eu poderia destacar aqui num pensamento de Voltaire, que diz, em certo momento: “Não concordo com uma palavra do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizer”. E assim tem sido a sua conduta nesta Casa, muitas vezes não concordando, mas defendendo o direito de dizer. E quero crer que é isso que faz este Parlamento grande e democrático.

Lembro-me, Dinis, que, quando eu ainda era vereador, em Belo Horizonte, assim que eleito deputado, recebi um único telefonema desta Casa. Do outro lado da linha uma voz estereofônica, de rádio, saudava-me e me dava as boas-vindas a esta Casa. Aquilo me impressionou de tal maneira que nunca mais me esqueci. Foi o único telefonema, deputado Duarte Bechir, que recebi desta Casa, quando eleito deputado. Era, àquela época, o secretário Dinis Pinheiro me telefonando para me dar as boas-vindas. Aquilo de fato marcou a minha chegada nesta Casa. E tem sido esse convívio fraterno, esse convívio amigo.

Eu não poderia deixar de citar aqui Santo Agostinho, e quero crer que você faz parte dessa linhagem de homens a que Santo Agostinho se refere quando fala dele próprio, dizendo que prefere aqueles que o criticam e o ajudam a se tornar uma pessoa melhor a aqueles que o bajulam com a intenção de corrompê-lo. Quero crer que esta também tem sido a sua marca: saber aceitar as críticas e ter serenidade para refletir sobre essas críticas, de maneira que cada um daqueles que convivem com você pode perceber claramente que esse pensamento de Santo Agostinho é uma realidade no seu viver diário.

Por fim, não poderia deixar de citar um último personagem conhecido da nossa história, da história mundial, para falar desse lapso ou parêntese de tempo que você abre a partir do final deste mandato na sua vida pública nesta Casa. É um parêntese que se abre e que, mais adiante um pouquinho, se fechará, quando, com certeza, estaremos vendo e podendo compartilhar da sua capacidade e do seu compromisso na vida pública.

Quero lembrar, querido amigo Dinis, o que Winston Churchill respondeu a um jornalista quando, depois de ter ganhado a guerra para a Inglaterra, lançou-se deputado e perdeu a eleição. O jornalista, então, sem entender, perguntou-lhe: “Mas como é possível, Sir Winston Churchill? O senhor ganhou a guerra para a Inglaterra e perde a eleição?”. Ele lhe respondeu: “Meu filho, na guerra você só morre uma vez; na eleição e na política você morre muitas vezes e volta muitas vezes”. Na eleição seguinte o povo foi buscá-lo em casa e o elegeu.

Fica aqui o registro, o meu muito-obrigado por esse convívio fraterno e amigo e esse tempo de caminhada juntos, em que certamente, não diferente dos outros, também aprendi bastante. Muito obrigado.