DEPUTADO HELY TARQÜÍNIO (PV)
Discurso
Transcurso do Dia Mundial do Meio Ambiente.
Reunião
44ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 16ª legislatura, 4ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 12/06/2010
Página 90, Coluna 1
Assunto CALENDÁRIO. MEIO AMBIENTE.
Legislatura 16ª legislatura, 4ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 12/06/2010
Página 90, Coluna 1
Assunto CALENDÁRIO. MEIO AMBIENTE.
44ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 16ª
LEGISLATURA, EM 8/6/2010
Palavras do Deputado Hely Tarqüínio
O Deputado Hely Tarqüínio - Sr. Presidente, Srs. Deputados, volto
a esta tribuna para lembrar o Dia Mundial do Meio Ambiente,
comemorado no último dia 5. Quero fazer uma reflexão a respeito do
meio ambiente natural e do meio ambiente social e dizer que o Dia
do Meio Ambiente é todo dia. Para fazer essa reflexão com os
Deputados e com a sociedade, devemos fazer uma análise do cenário
em que vivemos, convivemos e sobrevivemos. Como parlamentar, em
uma democracia representativa, temos obrigação de trazer a nossa
opinião e sugestões para, com nossa missão de legislador, melhorar
o meio ambiente natural e social.
O meio ambiente da natureza é o cosmos, o planeta, a terra, nossa
mãe, os rios, as águas doces, aspecto em que o Brasil é
privilegiado, com praticamente 95%. No Dia Mundial do Meio
Ambiente, vamos pensar na democracia do povo no planeta, na sua
distribuição nos continentes e refletir, principalmente, sobre o
nosso Brasil em fase pré-eleitoral, momento em que os candidatos
buscam um cargo eletivo no Executivo e no Legislativo.
No momento em que analisamos a natureza e vemos o homem diante
dela e de Deus, convivendo no ecossistema de um país continental
como o Brasil, gostaria de avaliar como estamos convivendo com
nossas leis, com o Congresso Nacional, com o Executivo, e perceber
que temos obrigações em relação à nossa legislação ambiental.
Esta, às vezes, é muito polêmica, pois vivemos sob a égide do
neoliberalismo, do comando dos bancos, do egoísmo e do poder na
mão de poucos em detrimento de muitos. Um poder em que o mercado é
o mais importante e regula a vida das pessoas, sem maior
intervenção do Estado. Há uma convergência mundial em torno desse
sistema perverso do neoliberalismo, que dita as normas para os
organismos internacionais, as relações entre os países. Não há uma
aplicação do princípio da razoabilidade no comando dos mercados
mundiais. Há predominância de poucos em detrimento de muitos. As
normas não são iguais para aqueles países que detêm os meios de
produção, o que prejudica os países mais pobres e o trabalho.
Karl Marx já mostrou isso ao mundo. Ele não deu solução no
comando, na parte administrativa, na distribuição de renda, mas
mostrou onde está o nosso espírito de vassalo. O trabalho, às
vezes muscular, dos mais analfabetos, o trabalho físico dos
homens, o seu suor não é suficiente para sustentar e dar dignidade
a sua família. Exatamente para aplicar-se o que está na
Constituição, que fala em igualdade de oportunidade. No Brasil,
vivemos um momento difícil, em que pesa a indústria do consumo, a
indústria cultural da televisão e do ciberespaço, que é comandado
por poucos, em detrimento de muitos. Isso acontece no dia a dia, e
a distribuição de renda é perversa.
Queria fazer aqui reflexão sobre nosso objetivo como parlamentar
estadual. É lógico que dependemos, vestimos camisa de força da
legislação concorrente, e o Estado deve repensar a parte do pacto
federativo no que diz respeito à legislação nos Estados. Não temos
muita liberdade para fazer legislação compatível com nossa
geografia, nossa economia, nossa infraestrutura e nossas
necessidades. As leis devem promover exatamente a construção de um
meio ambiente equilibrado com o desenvolvimento e promover o
desenvolvimento social em sintonia, em sinergia com nosso “status
quo”, com nossa geografia. Nossas universidades devem formar
pessoas com o espírito e o conhecimento da realidade mineira e
brasileira. Apenas faço esta reflexão aqui. A sugestão é
exatamente a sintonia, a sinergia do parlamento com a democracia
representativa, na qual o cidadão, no momento eleitoral, passa
cheque em branco para que nós, parlamentares, criemos normas
constitucionais e ordinárias e para que o Executivo crie portarias
sempre compatíveis com a necessidade do povo, atendendo ao
princípio da razoabilidade, pois tudo o que é demais passa, e tudo
o que é de menos falta. O Brasil, por ser país em desenvolvimento,
ainda precisa fazer ajustes, assim como os Estados brasileiros e
as assembleias legislativas. Às vezes nos falta possibilidade de
legislar de acordo com nossa realidade.
De 1988 para cá, avançamos muito sim. Penso na nossa ecologia
social, que é a análise das desigualdades gritantes entre as
pessoas e as famílias, com classes e extratos sociais bem-
definidos. Precisamos regular essa ecologia social - regulamentar
e depois regular. Regulamentar por meio de leis que o parlamento
pode fazer, os parlamentos federal, estaduais e municipais, cada
um voltado para sua realidade geográfica, social e política.
Venho a esta tribuna para levantar essa questão de forma genérica
e para dizer da nossa responsabilidade sobre ela. Quando pensamos
no meio ambiente social, vemos o cenário, por exemplo, da Capital
mineira, que está cheia de condomínios nos quais predomina o
conforto de poucos, e, logo abaixo, há o esgoto a céu aberto,
ausência de água potável, condições indignas para o ser humano. É
preciso pensar na justiça social e na distribuição de renda, o que
começa lá na Comissão de Justiça. Lá, sim, devemos obedecer à
Constituição, e nem sempre nos é possível atender aos ditames
constitucionais, que são pétreos. Muitas vezes, há as dificuldades
de país em desenvolvimento e também os vícios de predomínio do
Executivo ou de sistema de governo que nos impede de fazer
representação daqueles que votaram em nós.
Minha reflexão vai mais longe. Pedagogicamente, analiso
paralelamente o cuidado com o meio ambiente natural e o cuidado
com o meio ambiente social. Para expressar esse cuidado que se
traduz por ética, que é o cuidado com nossa casa, com o outro, com
as famílias, com aqueles que representamos, com nossa geografia,
com a qual convivemos e de onde nos originamos, é preciso buscar
equilíbrio que traga dignidade. Dignidade seria usufruir dos
indicadores sociais com igualdade de oportunidades. É lógico que
entendemos que, no mundo, os talentos são diferentes e nem todos
aproveitam as oportunidades, mas temos a obrigação de promovê-las,
para que não tenhamos tantos excluídos no País, como ocorre hoje.
Sabemos que 20% dos seres humanos deste país estão abaixo da
linha da miséria. Ao falarmos nos indicadores sociais, temos de
pensar que a nossa legislação tem de ser razoável para atender à
saúde em primeiro lugar, assim como a educação, com escolas
públicas e todas as crianças matriculadas.
A Organização Mundial de Saúde, a ONU, outros órgãos
internacionais e o próprio FMI, que vive na busca até de, às
vezes, promover a exploração de uns países por outros e que é um
fundo que tem um espírito capitalista, detêm as estatísticas que
devemos perseguir e buscar. Mas estamos longe na classificação de
IDH, haja vista, por exemplo, a situação da África do Sul, que
está sediando a Copa do Mundo, um país que saiu do “apartheid”
noutro dia, mas é considerado mais avançado que o Brasil - está
acima da 100ª posição, bastante alta, e o Brasil está um pouco
abaixo. Temos de pensar nos países em desenvolvimento.
Pensamos na educação em primeiro lugar e sabemos que o Governador
Aécio Neves, durante oito anos, buscou equilibrar as contas de
Minas Gerais diante desses organismos internacionais, diante da
União, e colocar o Estado nos trilhos. E está colocando. A saúde
melhorou muito de 1988 para cá, com a implantação do SUS. Falta
muito, mas não podemos perder a esperança de perseguir esse
caminho. Precisamos pensar na regulamentação da Emenda nº 29; do
contrário a saúde entrará em situação de caos. E a saúde é o
primeiro indicador social, juntamente com a educação. Não separo
saúde da educação, elas têm de andar juntas. O indivíduo sem
oportunidade de sair do analfabetismo e conseguir uma graduação
está numa situação muito difícil, e somente 20% das pessoas têm
condições de bancar uma escola particular no País. Precisamos de
escolas federais e estaduais, e de tornar razoável o ensino.
Depois quero abordar o problema da saúde propriamente dito em
relação à judicialização. O próprio País cria as leis, e buscamos
muito o Judiciário e o Ministério Público para resolver o problema
da saúde, em que pese termos aqui o brilhante ex-Secretário Marcus
Pestana, nosso colega, que deu um impulso muito grande à saúde.
Mas é preciso o plano federal legislar nesse sentido. Está
faltando legislação para a saúde, por isso ficamos sempre atrás da
judicialização, buscando na Justiça, porque a nossa estrutura
ainda é fraca por falta de verbas.
É preciso também formar os médicos numa situação em que eles
tenham uma obrigação no contexto social, mas também dignidade. Os
salários pagos aos médicos e aos profissionais de saúde e a
estrutura custam caros. Temos orçamento, mas muitas vezes ele é
apertado num país subdesenvolvido. E a saúde não tem sido
prioridade.
No Estado de Minas, temos avançado muito. Avançamos no indicador
social, por exemplo, com o Proacesso - até o fim do ano, serão
asfaltados os 224 Municípios que faltavam em Minas Gerais -, o
programa mais ambicioso do governo Aécio Neves, e que ele
conseguiu materializar. Também a criação da infraestrutura na
atenção básica à saúde, a média complexidade, mas que está
precisando de uma regulação que venha do Ministério da Saúde. O
Bolsa-Família é importante, o Fome Zero foi muito importante, mas
não podemos, de forma alguma, concordar com a política do
Ministério da Saúde hoje, que não tem suporte financeiro.
A cada ano, o orçamento está mais minguado do ponto de vista
federal para atender aos Municípios. Precisamos mexer no pacto
federativo em relação à distribuição de renda e à equação da
distribuição dos impostos, que estão engrossando o caixa único do
governo federal. Aí sobra dinheiro para atender a emendas, muitas
vezes partidárias. Isso não pode acontecer.
O representante do povo tem de receber de forma equitativa, com
oportunidade igual, ou que pelo menos essa distribuição de renda
seja feita de forma justa. Pode ser que não precise de emenda, não
é o caso de receber emenda do governo. O governo precisa ter um
planejamento como há em Minas Gerais, que tem dado exemplo com a
Lei Orçamentária Anual, o Plano Plurianual, a LDO e o PMDI. Todos
os anos, nesta Casa, a Comissão de Participação Popular faz uma
reflexão profunda e tem sugerido ao governo, com a participação do
povo, com o compartilhamento do povo e dos seus representantes,
equacionar o que vamos arrecadar para distribuir com mais justiça,
atendendo, assim, as diferentes regiões de Minas Gerais. É assim
que se faz política, é assim que poderemos promover uma ecologia
social melhor. Quando digo social, refiro-me à moradia, ao
transporte e à infraestrutura dos transportes aéreos e marítimos
no País, que está debilitada.
Não dá para falar mais sobre essa reflexão, pois é necessário
muito tempo. Finalizando, quero dizer que tivemos um prejuízo de
R$1.000.000.000,00 apenas na safra da soja por falta de
infraestrutura. A minha reflexão de hoje, Sr. Presidente, foi para
falar da nossa responsabilidade como parlamentar e também para
deixar como sugestão para todos os Parlamentos do País,
principalmente para o Congresso Nacional, a fim de que
compatibilizem o desenvolvimento equilibrado do meio ambiente com
o desenvolvimento equilibrado do meio ambiente social por meio de
normas, leis constitucionais e leis ordinárias, as quais devemos
obedecer. Muito obrigado.