DEPUTADO VANDERLEI JANGROSSI (PP)
Discurso
Comenta as audiências públicas realizadas pela Comissão de Política
Agropecuária e Agroindustrial. Comenta a reforma agrária no País e a
atuação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST.
Reunião
115ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 16ª legislatura, 3ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 23/12/2009
Página 55, Coluna 1
Assunto (ALMG). REFORMA AGRÁRIA.
Legislatura 16ª legislatura, 3ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 23/12/2009
Página 55, Coluna 1
Assunto (ALMG). REFORMA AGRÁRIA.
115ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 16ª
LEGISLATURA, EM 16/12/2009
Palavras do Deputado Vanderlei Jangrossi
O Deputado Vanderlei Jangrossi* - Sr. Presidente, Sras. Deputadas
e Srs. Deputados, telespectadores da TV Assembleia. Desde o início
do meu mandato, senti-me tocado com a situação da reforma agrária
no País. Neste pronunciamento, gostaria de externar minha posição
a respeito do tema. Antes de discorrer sobre esse tema, gostaria,
neste final de ano, de relembrar as inúmeras audiências públicas
que realizamos na Comissão de Política Agropecuária e
Agroindustrial, da qual tanto me honra ser Presidente. Entre os
temas debatidos, falamos sobre a importância do café na economia
mineira e seus benefícios para a saúde; os impactos do etanol na
economia brasileira; a contribuição de Minas para a reforma do
Código Florestal Brasileiro - segundo notícias veiculadas na
mídia, os Deputados membros da comissão especial para emitir
parecer sobre o projeto já receberam o nosso relatório, estão
estudando o assunto e acatarão as sugestões obtidas após o debate
nesta Casa. Fizemos também audiência pública para discutir a
situação de comerciantes de queijo minas artesanal do Ceasa-Minas,
que, depois de alguns desdobramentos, já se encontraram adaptados
e com produtos de ótima qualidade para o consumidor. Os produtores
contam até com câmara de refrigeração para acondicionar seus
produtos, como queijo e a própria carne, que também será
comercializada em futuro breve. Realizamos audiência pública sobre
crédito rural e seguro agrícola, temas muito importantes para o
nosso Estado, mostrando a importância do seguro para o produtor
rural, uma vez que o governo federal arca com 50%, o governo do
Estado com 25%, e o produtor com os outros 25%.
Também fizemos audiência pública para conhecer o programa de
crédito do comércio exterior, o panorama do agronegócio
brasileiro; e debate sobre a criação de peixes no Estado, por meio
da aquicultura. Discutimos a situação das terras devolutas do
Estado e contamos com reuniões na Secretaria de Reforma Agrária
para estudarmos projetos de resolução que passam pela Comissão e
que se encontravam com irregularidades, que logo foram sanadas.
Não nos podemos esquecer dos produtores de leite, que sempre estão
em contato com o gabinete no intuito de manter o leite com preço
justo ao produtor. No final do ano passado, fizemos um debate
público para discutir a situação, até porque os produtores pediam
o preço justo do leite. Hoje, infelizmente o que mais falta aos
nossos produtores é renda. Não há preço justo em todos os setores,
falta renda ao produtor, por isso, infelizmente, a maioria deles
está endividada, muitos perderam suas propriedades, alguns para os
bancos. É necessário fazer alguma coisa para encontrarmos o preço
justo do leite e de todos os produtos produzidos e comercializados
em nosso Estado. Não podia deixar de falar sobre as viagens que
fizemos ao longo do trabalho. Fomos a Varginha, no SOS Café; a
Montes Claros, para conhecer a usina de biodiesel implantada nesse
Município; ao Jaíba, para conhecer a situação dos seus produtores
e buscar a melhoria do projeto de irrigação, o maior da América
Latina; a Capelinha, para discutir a situação dos comerciantes de
pedra, areia e cascalho, que estavam sendo multados até por
desconhecimento da lei ambiental. Em apenas uma semana, graças a
Deus, foi celebrado um convênio com a Secretaria de Meio Ambiente,
que muito colaborou, por meio do Deputados Antônio Carlos Arantes,
que esteve presente, e conseguimos ajudar os munícipes e todos os
produtores de Capelinha. Retomamos o assunto da reforma agrária,
um sistema de divisão de terras onde existem propriedades
particulares improdutivas que são compradas pelo governo a fim de
lotear e distribuir a famílias que não têm terras para plantar.
Dentro desse sistema, as famílias recebem terras e ganham
condições para desenvolver o cultivo, por meio de sementes,
irrigação, eletrificação, financiamento, assistência social e
consultoria.
A reforma agrária se faz necessária no Brasil, pois a estrutura
fundiária do País é muito injusta. Desde a antiguidade, com a
colonização portuguesa, a metrópole se dividiu em colônias e o
acesso à terra foi dificultado para grande parte dos brasileiros.
O latifúndio se tornou padrão, gerando um sistema injusto de
distribuição de terras. Para corrigir essa distorção, o Brasil vem
desenvolvendo um sistema de reforma agrária. Com a reforma agrária
também surgiu o Movimento dos Sem Terra - MST -, que pressiona o
governo com manifestações e ocupações para conseguir acelerar a
reforma agrária e garantir o acesso à terra. No entanto, nem
sempre essas manifestações são pacíficas, algumas vezes, dos
confrontos resultam até vítimas de fatalidade. O processo de
reforma agrária se dá por meio do Incra, órgão federal que
respeita a propriedade privada e os direitos constituídos. A
correção da estrutura fundiária, no espaço físico, e a reforma
agrícola, que é atividade econômica e social, são imprescindíveis
para o desenvolvimento do País, dando oportunidade às populações
rurais mais carentes e condições de subsistência. No entanto,
verificou-se que alguns agricultores, aliás, algumas pessoas, de
forma ilegal, estão sendo pagas para tomar terras, mas possuem
propriedades. Elas usam esse artifício para vender as terras
obtidas e fazem dessa prática um meio de sobrevivência desleal,
pois, agindo assim, acabam frustrando os produtores que realmente
necessitam de moradia.
Há poucos dias, Deputados, estive no Colégio Frei Orlando, a
convite de alguns valorosos alunos do 2º grau, para fazer um
simulado de júri. O tema era reforma agrária. Foi uma ação muito
importante para o nosso país. Dois lados se dividiram para
defender dois pensamentos. Cabe lembrar que não significa que era
o pensamento que realmente cada um tinha, até porque foi feita uma
divisão entre os alunos. Um grupo convidou para fazer a defesa
desse programa, desse sistema do MST no País, em especial no nosso
Estado, um integrante do MST, que era o Sr. João Leite - aliás,
Deputado Inácio Franco, não era o nosso Deputado, mas, por
coincidência, chama-se João Leite. Fizeram o convite a mim, como
Presidente da Comissão de Política Agropecuária, para dizer que
hoje a maneira aplicada realmente é inviável para o nosso país.
Confesso que, quando estive lá, não sabia direito qual seria o
tema. Até os alunos me disseram que seria só para dar uma palavra
e, em 10 minutos, já estaria dispensado e poderia ir embora. No
entanto, isso não aconteceu, pois esse simulado de júri durou
aproximadamente duas horas. E foi muito interessante. A discussão
entre os alunos ficou muito acirrada. Uns defendendo o Movimento,
e outros tentando dizer que ele neste momento é um erro para o
País, que está em desenvolvimento, e é necessário haver cautela
para fazer a reforma - que, de fato, é.
Um grupo mostrou a reportagem em que o movimento destruiu uma
plantação de laranja no interior de São Paulo. O Sr. João Leite
disse que foram apenas 500 pés e que isso não significava nada. A
justificativa para derrubar os pés de laranja era plantar feijão
na área. Só que, na verdade, não foram 500 pés de laranja, mas
aproximadamente 5 mil, que foram destruídos sob o pretexto de se
plantar feijão no local.
Ele foi instigado por um grupo a responder a ação desarraigado do
movimento. O outro grupo pedia que ele confirmasse a importância
do movimento. Um grupo mostrou a gravação de áudio de um Deputado;
aliás, foi o Deputado Domingos Sávio quem fez a gravação com
outros Deputados. Se não me engano, o Dalmo Ribeiro Silva também
fez gravação falando sobre a preocupação e a importância de
primeiramente se fazer a reforma agrícola no Brasil, para depois
se fazer a reforma agrária.
Chamaram-me para fazer rápida exposição da Comissão e fui
instigado pelos dois grupos: em um, para falar a respeito da
importância da reforma agrária; em outro, para falar também sobre
essa preocupação dos moldes que hoje estão sendo aplicados por
esse grupo. O modelo de reforma em que esse grupo trabalha é, na
verdade, um erro, pois não coloca de volta ao campo o verdadeiro
homem do campo. Realmente muitas pessoas que fazem parte do
movimento não têm aptidão para a terra, Deputados Inácio Franco e
Ronaldo Magalhães. Essas pessoas são chamadas para fazer parte do
grupo, acabam tomando posse da terra e não conseguem produzir
porque não têm aptidão para a terra.
Depois de mais de 2 horas de discussão, vem o veredicto, com a
decisão do júri. Havia noves jovens, Deputado Inácio Franco, que
participavam do júri. Foi tamanha minha surpresa; sabe qual foi o
veredicto, depois de todas as disposições e de o Deputado João
Leite defender o sistema da reforma agrária? E falamos que o
modelo da reforma agrária hoje é inviável, por isso é necessário
haver mudanças e termos novo modelo. Nossa surpresa foi que, dos
11 garotos, tivemos o resultado de 11 a 0 a favor dos integrantes
do MST. Esse resultado nos surpreendeu. Se fosse meio a meio, até
entenderíamos, mas 11 a 0? Depois a Diretora veio conversar comigo
e tentou me convencer que foi devido à forma de atuação dos grupos
que se deu o veredicto. Realmente o outro grupo estava um pouco
mais contundente ao fazer sua defesa, e o grupo que mostrava que o
modelo da reforma agrária atual não era viável para o Brasil
começou um pouco tímido. O resultado me causou surpresa, porém
isto é o que se pensa, ou seja, as pessoas pensam mesmo e sempre
vão para o lado mais fraco, defendendo as pessoas desse lado. E é
assim que funciona.
Deputado José Henrique, para se ter ideia, depois que terminou,
fui para casa e tentei dormir, no entanto não consegui. Levantei
às 3 horas da madrugada para meditar sobre o assunto e passei a
escrever sobre o tema. É necessário aplicar o zoneamento agrícola
para dar condições ao homem do campo de ter renda e subsidiar os
implementos agrícolas, para ter competitividade na venda dos seus
produtos, já que alguns países detêm o monopólio de alguns
implementos agrícolas e subsidiam seus produtores, diferentemente
do Brasil, onde não há subsídio algum. Infelizmente nossos
produtos são subsidiados por outro país, mas no Brasil não é
assim. Na verdade, quem cala consente, e quem fica calado acaba
aceitando toda esta situação. Portanto não podemos nos calar.
A CPI em Brasília foi criada exatamente por descaso, pois fazem o
que querem, uma vez que não há lei que corrija isso. No entanto a
quem devemos o desenvolvimento do nosso país? Recentemente,
revista importante, de grande circulação internacional, falou
sobre o desenvolvimento do Brasil. Isso se deve a dois fatores:
primeiro, a criação do Plano Real; depois, a sorte do Presidente
Lula em dar continuidade ao governo FHC.
Isso mostra uma grande incoerência nos discursos, mas o
importante é o resultado que alcançamos. O Brasil é um país de
grande potencial e conseguirá esse crescimento por meio do
desenvolvimento sustentável. Temos de discutir, sim, porém chegar
a um denominador comum para que, de fato, tenhamos a verdadeira
justiça social e não a injustiça social que tempos presenciado.
Infelizmente, meu tempo acabou. É só isso, Sr. Presidente.
* - Sem revisão do orador.