JOÃO GUIMARÃES ABNER JÚNIOR, Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Discurso
Comenta o tema do evento.
Reunião
95ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 15ª legislatura, 2ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 30/11/2004
Página 67, Coluna 3
Evento Ciclo de Debates: "Em Defesa do Rio São Francisco".
Assunto RECURSOS HÍDRICOS. DESENVOLVIMENTO REGIONAL. MEIO AMBIENTE.
Legislatura 15ª legislatura, 2ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 30/11/2004
Página 67, Coluna 3
Evento Ciclo de Debates: "Em Defesa do Rio São Francisco".
Assunto RECURSOS HÍDRICOS. DESENVOLVIMENTO REGIONAL. MEIO AMBIENTE.
95ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 15ª
LEGISLATURA, EM 23/11/2004
Palavras do Sr. João Guimaraes Abner Júnior
Boa-tarde a todos. Caro Deputado Antônio Passos, Presidente da
CIPE São Francisco, na pessoa de quem cumprimento os demais
membros da Mesa. Sem maiores delongas, iniciarei minha
apresentação, cuja visão será diferente da apresentada pelo
Governo, representado pelo Dr. João Urbano.
Primeiramente, peço aos presentes que leiam essa matéria do
“Diário da Manhã”, de Goiás, do dia 12/11/2004. Trata-se do
discurso proferido pelo Presidente Lula em Petrolina. Vemos
claramente que ele defende enfaticamente a transposição do São
Francisco. No entendimento do Prefeito de Petrolina, o Governo
Federal obteria um resultado mais significativo se investisse em
toda a região do semi-árido. Ao responder a indagação do Prefeito,
Lula afirmou: “As pessoas precisam andar léguas e léguas com uma
lata d´água na cabeça para poder beber água”. Essa afirmação
retrata o sentimento de um Presidente nordestino e emigrante. Com
certeza, ele se sente em dívida com a região e quer aproveitar a
oportunidade para enfrentar a questão da seca no Nordeste. Essa
atitude é bastante louvável. Temos de considerá-lo bem-
intencionado por eleger a questão da seca como prioridade do
Governo. Os nossos questionamentos se referem às medidas adotadas,
as quais considero equivocadas, pois não darão os resultados
esperados.
Na verdade, o projeto apresentado pelo Governo à mídia não é
real, é imaginário, calcado no mito, na obra como uma panacéia que
resolveria o problema da transposição do São Francisco.
Claro que o discurso é contraditório, e utilizo-me dessa
transparência para ilustrar a forma como a mensagem do Governo
chega principalmente às populações mais pobres. Trata-se de uma
folha de uma cartilha distribuída no Governo passado. Tenta-se
defender a transposição do São Francisco em cima da questão da
seca, que é secular. Todo brasileiro deseja encontrar uma solução
para o problema. Então, um projeto dessa magnitude, desse vulto,
com os impactos econômicos e sociais que gerará, se realmente
estivesse associado a essa problemática, seria apoiado, de forma
geral, pela população brasileira. Isso não acontece bem assim.
Farei um breve histórico da questão. Lembro o sonho de D. Pedro
II, que, da mesma forma que Lula, afirmou categoricamente que, se
necessário, venderia todas as jóias da Coroa para resolver o
problema da seca, dos nordestinos. Novamente notamos uma decisão
firme, corajosa e bem-intencionada de enfrentar a questão da seca.
Por que o sonho de D. Pedro II não se concretizou? Na minha
concepção, muitas jóias da Coroa foram utilizadas para tentar
resolver o problema da seca no Nordeste.
O Nordeste é uma das regiões com maior índice de açudagem do
mundo. Como o Dr. João Urbano disse, no Nordeste não há local
algum onde se possa construir uma grande barragem. Há uma ou duas
seções, no máximo. Os rios já aproveitaram todos os seus
boqueirões favoráveis para a construção de açudes.
Aproximadamente 36.000.000.000m3, exceto no setor hidrelétrico,
estão armazenados na Região Nordeste. Associado a isso, devemos
entender a razão pela qual esses grandes investimentos, ou seja,
essas jóias da Coroa, não concretizaram o sonho de D. Pedro II.
Tentaremos entender como se empregaram essas coisas no Nordeste.
O Ceará foi o Estado que mais se beneficiou com esses
investimentos. É claro que a sede do DNOCS no Ceará ajudou muito.
Hoje o Ceará possui um consumo da ordem de 54m³/s. Os valores
estão aí representados.
Essas vazões estão sendo atendidas com bastante folga pela infra-
estrutura do Estado. Fora do setor hidrelétrico, o Ceará armazena
a metade da água do Nordeste. Além disso, possui um grande número
de açudes de médio e grande portes e megaaçudes, como o Castanhão,
última jóia da coroa, com capacidade para atender, com grande
folga, à demanda do Estado, que atualmente é de 54,5m³/s. Retirei
esses dados oficiais das páginas dos órgãos que trabalham com essa
questão, como a companheira de gestão, do atlas eletrônico do
Estado e do plano estadual de recursos hídricos.
Esse quadro é bastante ilustrativo e mostra que, com base em
projeções do plano estadual de recursos hídricos, o Ceará teria
uma oferta potencial da ordem de 215m³/s. Essas informações
confirmam o que se publicou no jornal “Estado de Minas”. O próprio
Secretário de Recursos reconhece isso, ou seja, que o Ceará não
tem problema de água; aliás, nem tão cedo o terá, porque tem uma
grande infra-estrutura que atende, sem problema, a todas as suas
demandas.
No Rio Grande do Norte há um outro exemplo. O Rio Grande do Norte
possui uma disponibilidade da ordem de 70m³/s, com demandas atuais
- valores de 2003 - da ordem de 33,2%, e possui 47% de nível de
utilização das suas disponibilidades. Esses dados são oficiais e
estão conferidos no plano estadual de recursos hídricos e no
cadastro feito no Estado; aliás, há pouco tempo era Diretor do
Instituto de Gestão de Águas do Estado.
De todos os Estados do Nordeste, a Paraíba é o menos aquinhoado
com água e possui ainda uma reserva razoável, em termos... Ele
teria uma disponibilidade total de 32m³/s para uma demanda atual
da ordem de 21m³/s. Quer dizer, há um comprometimento de 65,7% da
sua disponibilidade. Esses dados estão sendo levantados atualmente
na elaboração do plano estadual de recursos hídricos da Paraíba.
A transposição do rio São Francisco é um projeto que choverá no
molhado. Por quê? Porque levará a água do rio São Francisco para
as bacias no Ceará. Na verdade, há poucos reservatórios que
receberão água do... Propaga-se que melhorará a eficiência do uso
da água na região. Acredito que seja o contrário. Na verdade,
apenas seis ou sete reservatórios receberão água da transposição.
Quer dizer, sobre os duzentos e tantos reservatórios, o impacto
será mínimo. Aliás, o impacto nesse reservatório será mínimo, pois
somente será indireto.
Seriam os maiores reservatórios. No Ceará, o Castanhão; e no Rio
Grande do Norte, a barragem de Santa Cruz e de Armando Ribeiro
Gonçalves. A Paraíba funcionará como caixa de passagem e se
beneficiará muito pouco, porque o reservatório do eixo norte tem
1/10 da capacidade de Ribeiro Gonçalves, e a água passará toda
pelo Rio Grande do Norte, em relação ao eixo norte. No eixo leste,
a água irá para o açude do Boqueirão, com capacidade de
armazenamento de 600.000.000m³. É um projeto que tem uma área de
influência de 5% do semi-árido nordestino. Quando se fala em seca,
é preciso se preocupar também com os outros 95% do semi-árido
nordestino.
Esse projeto não tem evoluído ao longo do tempo. O Presidente da
República disse que esse projeto seria reformulado, mas o projeto
atual é idêntico ao do Governo passado. O orçamento da obra é o
mesmo, os números estão em valores de julho de 1999. Não houve
nenhuma preocupação com atualização dos custos do projeto da
transposição do rio São Francisco.
A transposição do São Francisco é politicamente inconseqüente,
porque está gerando um conflito permanente na sua bacia. Esse
conflito procede. Há dois tipos de conflito. O primeiro se refere
à outorga do uso da água na bacia para uso externo. A bacia do São
Francisco doadora envolve Minas Gerais, a Bahia, Pernambuco e
Sergipe e tem disponível, para uso consultivo, 360m³/s. Reservam-
se 80% de sua água à produção de energia para atender à demanda de
toda a Região Nordeste. O Ceará, a Paraíba e o Rio Grande do Norte
também consomem água diretamente quando utilizam energia do
sistema da CHESF. Uma população de 13 milhões de pessoas utiliza
360m³/s para com consumo humano, animal e irrigação.
Esse projeto não pode ser analisado apenas em termos de bacia
para bacia, porque haverá transposições internas. Por exemplo, a
água que vai para o Jaguaribe será desviada para a região
litorânea de Fortaleza, por meio do canal de integração. Deveria
analisar-se no contexto estadual. Por exemplo, o Ceará tem
disponibilidade de 215m³/s para 7.500.000 habitantes. Um cearense
que receberá água da transposição, terá mais disponibilidade “per
capita” do que um morador da bacia. É um número semelhante ao do
Rio Grande do Norte, em que 1/5 da população da bacia tem
disponibilidade de 70m³/s. Existe um conflito, porque, enquanto na
bacia do São Francisco, dos 360m³/s, 335m³/s já estão outorgados,
no Rio Grande do Norte e no Ceará, esses índices são bem menores.
Esse é o primeiro conflito. O último se refere à energia
elétrica. O projeto de transposição visa a retirar água do rio São
Francisco, fato que leva à diminuição da produção de energia
elétrica; logo, será necessário aumentar a geração de energia do
sistema para bombear a água, além de ser preciso gerar energia
para os outros usos, que representam um consumo da mesma monta do
da citada transposição. Isso implicará uma mudança radical na
matriz energética do Nordeste, o que terá repercussão em todo o
sistema nacional, ou seja, o custo da energia sofrerá grande
impacto com essa transposição. Então, existe um conflito regional
e outro nacional. Essa é a primeira questão.
A segunda questão é que esse projeto é economicamente inviável.
Trata-se de um verdadeiro presente de grego. Vocês podem até
estranhar o fato de eu, um norte-rio-grandense, criticar a
transposição do rio São Francisco; todavia, ajo assim porque essa
transposição significa, como já disse, um verdadeiro presente de
grego para o Ceará e para o Rio Grande do Norte. Em primeiro
lugar, o projeto é ultrapassado, encontra-se fora de sintonia com
a inserção do Brasil na economia globalizada. Por possuir água
barata, o Nordeste hoje exporta esse produto para a Europa. Quando
se exporta um produto como camarão, melão e manga, na verdade está-
se exportando água, que constitui o principal insumo. Quem está
consumindo, comprando a nossa água? Por exemplo, um belga e um
holandês têm a metade da disponibilidade “per capita” de um norte-
rio-grandense. Então, ele compra a água.
Quando falamos que o mundo está querendo se apropriar da água do
Brasil é porque, na realidade, visa adquirir os produtos que são
produzidos com a nossa água. É inconcebível imaginar que eles vão
levar a água da Amazônia em navios. Todavia, poderão levar nossos
produtos. O mesmo acontece com a água do Nordeste. Por isso afirmo
que esse projeto baseia-se em um modelo que encarecerá
extraordinariamente a água para os produtores, contrariando a
lógica da globalização. De que maneira esses produtos irão se
inserir na economia globalizada mundial? Essa é uma questão muito
importante, mas não faz parte dos estudos de impacto ambiental do
projeto.
Quando se analisa o custo da água, observamos a existência de
valores contraditórios. Observamos isso se compararmos o custo da
água da transposição com o da água da região. Hoje, a CODEVASF
cobra dos produtores, na propriedade, R$2,03 por metro cúbico. No
EIA-RIMA, por exemplo, consta R$0,11. Quer dizer, no Rio Grande do
Norte e no Ceará, a água da transposição vai custar cinco ou seis
vezes mais que na bacia do rio São Francisco. Há outro fator
importante. Inicialmente, os Governos dos Estados deveriam arcar
com a despesa de manutenção do projeto. Ou seja, o Rio Grande do
Norte, o Ceará e a Paraíba terão de disponibilizar recursos para
pagar essa água.
Responderei às indagações a que me referi. Nos estudos de impacto
ambiental, nota-se uma tentativa de resposta. Eles sugerem a
criação de um subsídio cruzado para bancar a água caríssima da
transposição do rio São Francisco. A idéia seria repassar aos
consumidores das grandes cidades, que já subsidiam o abastecimento
das cidades do interior, esse custo. Daí a pretensão de levar água
para Fortaleza e Recife. Ou seja, assim poderão justificar a
inserção das regiões que têm capacidade de arcar com o custo na
economia do projeto de transposição. Apesar de eu estar escrevendo
vários artigos sobre essa questão, as pessoas não estão escutando
a minha fala. Reafirmo: trata-se de um verdadeiro presente de
grego.
- Procede-se à apresentação de “slides”.
No caso do Ceará, principalmente, porque esse Estado conseguiu,
com a construção do Castanhão, a almejada auto-sustentabilidade,
quer dizer, o sonho de D. Pedro II se concretizou no Ceará.
Estive, há pouco tempo, em Limoeiro do Norte, falando sobre esse
assunto aos cearenses, e houve grande repercussão. Esse é o
diferencial que o Estado do Ceará conseguiu, mas perderá quando
essa água chegar, porque o sistema será operado por um consórcio
privado. Quer dizer, na verdade, há interesses por trás desse
projeto. Além da apropriação de grande volume de recursos na
construção dessa obra, há também a apropriação da água hoje
estocada e da infra-estrutura que se construiu nestes 100 anos.
Esses interesses devem ser denunciados. Na verdade, são a barragem
e as águas do Castanhão, assim como a barragem e as águas de
Armando Ribeiro Gonçalves que estão em jogo, motivo por que afirmo
que é um presente de grego.
É um crime. Se confrontarmos os números colocados no EIA-RIMA com
os que estão no plano de recursos hídricos do Ceará e do Rio
Grande do Norte, assim como com os números que estão sendo
levantados na Paraíba, perceberemos que eles não batem.
Primeiramente porque as disponibilidades são puxadas para baixo,
em todos os Estados. Segundo, porque as demandas são criadas
artificialmente. Na verdade, o que está justificando a
transposição são projetos de irrigação totalmente hipotéticos, que
não constam em nenhum dos planos nos Estados do Ceará, Rio Grande
do Norte e Paraíba.
Antes de me aprofundar, recentemente, nos números da Paraíba,
imaginava que o problema de abastecimento de Campina Grande fosse
o mais sério desse Estado. Hoje, no entanto, estou convencido de
que essa não é a realidade. O Paraíba tem água para abastecer
plenamente Campina Grande. Entretanto, sabemos que há 10.000ha de
irrigação no baixo Paraíba, que estão justificando o eixo leste.
Aquela curva roxa, de irrigação adicional, está justificando a
transposição do São Francisco.
Esses são os dados do Ceará. Imaginar que a bacia do Jaguaribe
tenha disponibilidade de apenas 30m3/s é um absurdo. Assim, baixa-
se o patamar de disponibilidade e se cria uma demanda artificial,
que é essa curva roxa, e assim por diante.
Reconheço que há situações, como em Pernambuco, na bacia do
Moxotó, no Brígida, em que há um vazio hídrico. Só que imaginar
montar um projeto de transposição para se fazer irrigação no
Estado de Pernambuco, quando ainda se têm 1.000.000ha nas margens
do São Francisco, levando água para o Brígida e para o Moxotó, é
um absurdo.
Nossa avaliação é que se trata de um projeto socialmente injusto.
Foi colocada aqui uma matéria do “Estado de Minas” de ontem, muito
clara com relação a isso. É um projeto que entra em contradição
com a política nacional de desenvolvimento, que está na cartilha
do Ministério da Integração Nacional, porque inverte o seu eixo,
uma vez que está levando recursos naturais do vale do São
Francisco, que tem o mais baixo IDH do Nordeste e do Brasil, para
as Regiões Metropolitanas de Fortaleza e de Recife, onde há os
maiores IDHs. É absurdo imaginarmos um projeto como esse concebido
dentro do Ministério da Integração.
Além disso, é a reprodução da malfadada indústria da seca, que
vem trazendo dificuldades enormes para a Região Nordeste. É um
projeto que comprometerá grande parte dos recursos dos próximos
Governos. Para o próximo ano já estão previstos R$1.000.000.000,00
no orçamento da União. Para quê?
Além disso, vai chover no molhado. Levarão água para onde ela já
existe. A água do São Francisco passaria muito distante das
regiões que necessitam dela, ou seja, os vazios hídricos estariam
muito distantes. O Governo está errado quando afirma que os
recursos que ele utiliza periodicamente nos programas
emergenciais, em carros-pipa e no Nordeste dariam para fazer a
transposição.
Isso é uma falsa questão porque, quando se fizer a transposição,
a seca também continuará implacável, ainda requerendo a ajuda
oficial. Além disso, há o risco, como dizem, de transformar-se na
Transamazônica do Governo Lula, em um grande elefante branco.
Reconhecemos a problemática da seca, que deve ter prioridade
enquanto houver a indústria de carros-pipa no Nordeste. Temos de
enfrentar esse problema, mas existe conflito na Região Nordeste,
principalmente por falha do Estado e da União na área de gestão
dos recursos hídricos.
Um exemplo clássico é o caso do conflito, lembrado pelo Dr. João
Urbano, na bacia do Piranha-Açu. Esse conflito surgiu nos últimos
quatro anos, quando a atividade de camarão chegou ao Rio Grande do
Norte. Trata-se de uma atividade predadora que está dizimando
todos os mangues. Esse projeto está sendo financiado e induzido
pelo Governo Federal.
Houve omissão do Governo Federal porque a ANA deixou que o
problema aparecesse. Na bacia do Piranha-Açu há hoje uma
disponibilidade que já está comprometida com o camarão e também
com o futuro. Não há mais água na bacia. Apesar de o camarão ter
origem marinha, para evitar o efeito salino é necessário repor
água doce nos viveiros de camarão. Por isso, há um consumo de, no
mínimo, uma vez e meia maior do que a irrigação. Justificaremos a
transposição com o camarão do Rio Grande do Norte? Será que esse
produtor terá capacidade de pagar pela água da transposição?
Seria interessante que a Ministra Marina estivesse aqui para
discutir sobre os estudos de impacto ambiental. O Fórum de Defesa
do São Francisco, do qual faço parte, vai denunciar em todos os
momentos a falta de isenção dos estudos de impacto ambiental.
Trata-se de um estudo totalmente a serviço do projeto de
transposição.
Na análise de alternativa, eles compararam a transposição do São
Francisco com ações isoladas e até mesmo absurdas. Chegaram a
comparar a transposição com a dessalinização da água do mar, mas a
região litorânea do Nordeste é riquíssima principalmente em água
subterrânea. Se é para apanhar água do litoral, não é preciso
dessalinizar tão cedo a água do mar.
Mesmo assim, comparou-se a transposição com a reutilização de
águas de esgoto, que é muito pequena. O consumo humano representa
8% dos consumos da região. A produção de esgoto é limitada.
Há o uso da cisterna, uma solução importante, mas apenas para o
abastecimento difuso, novos açudes e assim por diante. Faltou
comparar a transposição do São Francisco com um programa integrado
que envolvesse diversas opções para a região, como adutoras,
cisternas, etc.
Essa é a questão fundamental. Por que o sonho de D. Pedro II se
concretizou? Ele responde: “Porque a indústria da seca se
apropriou do seu sonho.”. De que se precisa, então? Que a
população do Nordeste setentrional se beneficie da infra-estrutura
da região, por meio de obras que levem à democratização do acesso
à água. Como prioridade, tem-se de insistir na questão dos
abastecimentos urbano e rural e de se pensar em soluções
integradas. Esse é o momento em que estamos vivendo.
Este debate está superado. Acabamos de assistir a uma
apresentação. Como, há vários anos, venho participando disso, vejo
que a discussão não evolui. O Governo não evolui na defesa do seu
projeto. Portanto, o debate técnico está superado. O momento agora
é político. E todos nós, como cidadãos, estamos inseridos nesse
debate. Há também outro segmento da sociedade que pode desempenhar
um papel importante: a mídia. Ela está dando demonstração de que
enfrentará essa luta, que não será pequena. Muito obrigado.