DEPUTADO WANDERLEY ÁVILA (PPS), Presidente "ad hoc"
Discurso
Abertura do evento.
Reunião
24ª reunião ESPECIAL
Legislatura 15ª legislatura, 2ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 30/06/2004
Página 29, Coluna 1
Evento Fórum Técnico: "Cerrado Mineiro: Desafios e Perspectivas".
Assunto DESENVOLVIMENTO REGIONAL. MEIO AMBIENTE.
Legislatura 15ª legislatura, 2ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 30/06/2004
Página 29, Coluna 1
Evento Fórum Técnico: "Cerrado Mineiro: Desafios e Perspectivas".
Assunto DESENVOLVIMENTO REGIONAL. MEIO AMBIENTE.
24ª REUNIÃO ESPECIAL DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 15ª
LEGISLATURA, EM 14/6/2004
Palavras do Deputado Wanderley Ávila
Por tudo o que representa para a economia, para o meio ambiente,
para a cultura e as tradições do povo mineiro, o cerrado é um dos
maiores patrimônios naturais do Estado. Ele ocupa mais da metade
do território de Minas Gerais, está presente em quase toda a bacia
do rio São Francisco e boa parte das bacias do rio Paranaíba e do
rio Grande, espalhando-se principalmente pelas regiões Norte,
Centro, Sul e Triângulo. É o segundo maior bioma do País, ocupando
aproximadamente 25% do território nacional.
Pelas características de sua vegetação - composta de árvores
baixas, retorcidas, em geral de casca grossa, espaçadas, e por uma
contínua camada de gramíneas -, o cerrado é também conhecido como
a savana brasileira. É o mundo dos buritis, das veredas e dos
chapadões, que inspiraram as grandes obras do escritor Guimarães
Rosa.
Consideradas historicamente impróprias para as atividades
agropecuárias, essas áreas sempre tiveram aproveitamento voltado
para o extrativismo, como o do pequi e de outras frutas típicas,
constituindo-se em fonte diversificada para a culinária regional e
para a medicina fitoterápica.
A propósito dessa tradição, e procurando valorizar a cultura das
populações do cerrado, o Estado de Minas Gerais passou a contar em
1992, por iniciativa da Assembléia Legislativa, com uma lei que
torna o pequizeiro árvore de preservação permanente, imune a
corte, a não ser em situações especiais, envolvendo o interesse
social, mediante prévia autorização do Instituto Estadual de
Florestas ou de órgão municipal competente.
Essa lei estabelece também que nas áreas de ocorrência do
pequizeiro o reflorestamento homogêneo com espécies exóticas
somente poderá ser feito mediante critérios definidos pelo IEF que
garantam o pleno desenvolvimento das árvores produtivas.
Outra lei, do ano de 2001, criou o Programa Mineiro de Incentivo
ao Cultivo, à Extração, ao Consumo, à Comercialização e à
Transformação do Pequi e Demais Frutos e Produtos Nativos do
Cerrado - PRO-PEQUI.
Seu objetivo é integrar as populações que tradicionalmente
exploram esse bioma, numa perspectiva de sustentabilidade
ambiental.
Se o cerrado mineiro, até três ou quatro décadas atrás, estava
plenamente associado ao extrativismo, à cultura regional e à
agricultura familiar, passou a ser visto a partir do
desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias que permitiram
tornar suas terras agricultáveis, como área de grande potencial
para outras atividades econômicas.
O cerrado se transformou na última fronteira agrícola do Estado,
abrindo espaço para a expansão da agricultura (particularmente
para a produção de soja, milho, café e cana-de-açúcar), para a
pecuária leiteira, para a agroindústria e para a fabricação de
carvão demandado pelas indústrias siderúrgicas; a intensa
exploração econômica desse bioma, contudo, trouxe efeitos
colaterais indesejáveis, como a perda para as populações rurais de
suas fontes tradicionais de sustento, centradas no extrativismo e
na agricultura de subsistência, e até mesmo de parte de sua
identidade cultural.
Sua paisagem se transformou com a ocupação intensa pelo homem,
pela agricultura e pela pecuária voltadas para a exportação, entre
outras atividades econômicas. As áreas remanescentes do cerrado
nativo representam hoje um percentual mínimo desse ecossistema no
Estado.
É grande também entre os estudiosos do cerrado a preocupação com
os impactos negativos que sua exploração, quando feita de maneira
inadequada, tem trazido para o meio ambiente. O primeiro desses
impactos - inevitável quando se substitui um ecossistema natural
por uma monocultura - é a perda da biodiversidade. O desequilíbrio
ecológico provocado pelos grandes desmatamentos põe em risco
centenas de espécies da flora e da fauna.
Da mesma forma, o uso inadequado dos solos, os processos de
mecanização e de irrigação, o emprego de defensivos agrícolas,
entre outros fatores, quando empregados de forma desordenada podem
ter como conseqüências o fenômeno da erosão e, principalmente, a
ameaça aos cursos d´água, afetados pela contaminação química, pelo
assoreamento e pela perda progressiva de seu volume.
Esse seria um prejuízo especialmente preocupante, tendo em vista
as importantes bacias hidrográficas localizadas nas áreas do
cerrado, a posição do Estado de Minas como berço de grande parte
dos mananciais do País e a crescente demanda pela água no Brasil e
em todo o mundo, o que tornou esse recurso natural estratégico e
cada vez mais disputado no plano internacional.
O Prof. Ivo das Chagas, da minha querida Pirapora, especialista
em cerrado, disse com muita propriedade que o cerrado é “o pai das
águas”. Se não cuidarmos dele agora, é provável que dentro de
pouco tempo ele deixe de cumprir essa importante função ambiental.
Se cuidarmos, essa função será preservada, tendo em vista a
pródiga capacidade de recuperação da natureza.
Para que isso ocorra, é necessária uma ação governamental
consistente e continuada, acompanhada de um processo de
conscientização junto aos agentes econômicos e às comunidades,
pois só um esforço conjunto é capaz de garantir a manutenção desse
ecossistema.
Durante o II Encontro dos Povos do Cerrado, realizado em Pirapora
na semana passada, pela UNIMONTES, o depoimento de uma
barranqueira ilustrou essa necessidade. Ela disse, com sua
experiência e simplicidade: “Se há 40 anos tivéssemos consciência
do que era preciso fazer para preservar o cerrado, o São Francisco
e muitos outros rios não estariam hoje morrendo”.
Ao iniciarmos este fórum técnico, cabe-nos indagar: “que tipo de
desenvolvimento deve ser proposto para o cerrado mineiro, de forma
a atender aos interesses e às circunstâncias em jogo?”.
O bom-senso indica que, nas propostas a serem feitas sobre o
tema, assim como nas políticas públicas a serem implementadas para
o setor, deve prevalecer o conceito de sustentabilidade, que
pressupõe a conciliação das atividades econômicas com o interesse
social e a preservação do meio ambiente.
As informações e os esclarecimentos a serem feitos pelos nossos
expositores, assim como as discussões a serem desenvolvidas nos
grupos de trabalho deste evento, certamente nos darão subsídios
mais sólidos para amadurecermos nossas opiniões a respeito do
assunto. Muito obrigado.