DEPUTADO DURVAL ÂNGELO (PT)
Discurso
Declaração de posição favorável à derrubada do veto total à proposição de
lei que autoriza o Poder Executivo a doar imóvel ao Município de Bueno
Brandão. Comenta a violência e a ocorrência de crimes de pistolagem nos
Municípios abrangidos pela Comarca de Abre Campo. Lê poema de autoria de
Paulo Gabriel, intitulado: "Natal com esperança", publicado no Jornal
"Presença".
Reunião
284ª reunião EXTRAORDINÁRIA
Legislatura 14ª legislatura, 4ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 18/12/2002
Página 33, Coluna 2
Assunto IMÓVEL. SEGURANÇA PÚBLICA.
Aparteante Marco Régis.
Proposições citadas PL 1623 de 2001
VET 15266 de 2002
Normas citadas LEI nº 14500, de 2002
Legislatura 14ª legislatura, 4ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 18/12/2002
Página 33, Coluna 2
Assunto IMÓVEL. SEGURANÇA PÚBLICA.
Aparteante Marco Régis.
Proposições citadas PL 1623 de 2001
VET 15266 de 2002
Normas citadas LEI nº 14500, de 2002
284ª REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA
14ª LEGISLATURA, EM 11/12/2002
Palavras do Deputado Durval Ângelo
O Deputado Durval Ângelo - Sr. Presidente, colegas Deputados, é
importante que discutamos esse veto à Proposição de Lei nº 15.266,
que autorizou o Poder Executivo a doar, em Bueno Brandão, um
imóvel onde deverá ser construída a sede da Câmara Municipal.
Esclareço aos colegas Deputados que esse terreno da MinasCaixa,
em Bueno Brandão, está hoje sem função, sem utilidade nenhuma,
totalmente abandonado.
A Câmara Municipal, nesses dois últimos anos, fez previsão de
recursos para construção de sua sede. A preocupação da Câmara foi
fazer um projeto que envolvesse, além de uma sede para reunião de
Vereadores - já aprovado pela sua diretoria -, a construção de um
salão para formaturas, palestras, encontros e cursos, que supriria
hoje uma deficiência da cidade. O salão teria uma capacidade
razoável de atendimento da comunidade local, com 200 assentos no
Plenário. Além disso, nos corredores seria reservada uma área para
exposições e outras atividades culturais.
Antes de encaminhar esse projeto, estive com o Celso, Presidente
da Câmara, com outros Vereadores e com o Secretário de Estado do
Planejamento. O Secretário disse-nos que não era preciso projeto
de lei, porque esta Casa já havia elaborado uma lei genérica
relativa aos terrenos da MinasCaixa que estivessem sem função.
Posteriormente, recebi um telefonema do Secretário de Governo,
dizendo que seria necessário, sim, de acordo com a compreensão
jurídica, um projeto de lei. Garantiu-me que o projeto seria
sancionado e o terreno seria transferido à Câmara Municipal. Havia
uma reserva técnica do terreno para a área de saúde, mas a
Secretaria da Saúde, no contato que tivemos, informou-nos que ali
não seria feita nenhuma construção. Que interesse teria, num
município do interior, uma Secretaria Municipal de Saúde, em
construir algum equipamento público estadual?
Estava combinado e acertado que ainda neste ano a Câmara
Municipal poderia abrir o processo licitatório para iniciar a
construção da sede da Câmara, que seria um centro cultural para a
cidade de Bueno Brandão.
A nossa surpresa aconteceu quando o Governo vetou esse projeto.
Palavra empenhada tem de ser cumprida, e entendo que isso não
aconteceu. Fica mal o Governo diante da comunidade local, e também
esse Deputado.
Nunca apresentei um projeto de doação ou de reversão de imóvel
sem que antes houvesse um acordo com o Governo. O último que
apresentou problema maior, por picuinha política, foi o de uma
reversão de antiga escola, que tinha sido da cúria metropolitana,
à paróquia de Senador Firmino, para trabalhos de catequese.
Felizmente, já foi dada a procuração e o terreno retornou à cúria
diocesana. A demora foi em função de uma picuinha do Prefeito
local, para liberar a procuração.
No caso da reversão do imóvel, está tudo bem para o órgão de
origem que doou, se não foi exercida a função social daquele
imóvel. Sempre tenho a preocupação de apresentar projeto de doação
nessa área, quando é para um ente público, se o imóvel não está
cumprindo a função para a qual foi destinado. Nunca apresentei
projeto de reversão para entidade privada, física, ou jurídica.
Acho que isso não deve ser feito com o patrimônio público, em
hipótese alguma.
Houve descumprimento. Solicito ao Sr. Presidente e ao Líder do
Governo que façamos um trabalho para votar favoravelmente a essa
medida. Talvez só o nosso voto não resolva. Podemos votar o
projeto de doação, até quando é sancionado pelo Governador. Mas se
não forem dadas as devidas autorizações de cartório para que seja
feita a reversão ou doação, isso de nada adiantará.
Solicito que derrubem o veto para que eu tenha poder de negociar
no próximo Governo, para que as questões processuais sejam
resolvidas. É hilário dizer, como foi feito na justificativa, que
a Secretaria de Estado de Transporte tem interesse em um lote,
localizado em Bueno Brandão, para construir um equipamento público
estadual de saúde.
Acho que o governo está desinformado e não sabe o que vetou, nem
como agiu.
Aproveito a discussão de Bueno Brandão para trazer uma discussão
mais séria, do Município de Caputira. Mas antes da falar de
Caputira, gostaria de falar um pouco sobre a Comarca de Abre
Campo, que é uma das mais violentas do Estado, com crimes de
pistolagem. Ela é formada pelas cidades de Abre Campo, Pedra
Bonita, Sericita, Caputira, Matipó e Santa Margarida.
Essas cidades têm problemas de violência e de crimes de
pistolagem. Já estive nesta tribuna denunciando o bárbaro
assassinato, há seis anos, do líder sindical e Presidente do PT de
Abre-Campo, o companheiro Ivan Chaves. Com ação desta Casa, por
meio da Comissão de Direitos Humanos, audiências públicas na
região e apuração séria da Polícia Civil, conseguimos prender,
alguns meses depois, o executor do crime, que foi condenado a 22
anos de prisão - e está preso até hoje -, mas o mandante do crime,
ex-Prefeito local, ainda não foi a júri popular, que está marcado
para o dia 13 de março. Depois de conseguir três ou quatro
adiamentos, tivemos a informação de que ele entrará de licença
médica novamente, para que o júri não aconteça.
O júri já está desaforado. Por quê? Porque todos os que são
julgados em Abre-Campo são, invariavelmente, absolvidos, o que
alimenta a impunidade. Rita, a viúva, e seus filhos choram a perda
do ente querido. O único mal do Ivan foi ter-se levantado contra
os poderosos de Abre-Campo e questionado uma política local
corrupta e viciada. E hoje está debaixo da terra, enquanto o
mandante ainda não foi condenado, pois já conseguiu o adiamento do
juri três vezes.
Também gostaria de tratar aqui de um crime cometido na cidade
vizinha de Pedra Bonita, antigo Distrito de Abre-Campo. O Prefeito
local, Trovão Vítor de Oliveira, e seu filho, barbaramente mataram
uma pessoa em praça pública. O filho já foi condenado. Mas até
hoje, quatro anos passados, ainda não foi emitido seu mandado de
prisão, porque o Sr. Trovão valeu-se de suas prerrogativas de
Prefeito de Pedra Bonita. Em 2000, ao final do seu mandato, depois
das eleições, quando conseguimos marcar seu julgamento pelo
Tribunal de Justiça, uma vez que Prefeito tem foro privilegiado,
renunciou ao mandato de Prefeito, para que o júri voltasse para
Abre-Campo e para que a impunidade acontecesse. Pasmem os
senhores: em dois meses, o Juiz marcou o júri duas vezes, mas o
Ministério Público não enviou o Promotor de Justiça para lá. Um
dos júris foi marcado às vésperas do Natal.
O Prefeito tomou posse em 1º/1/2001. Conseguimos marcar um novo
júri no Tribunal de Justiça, com uma ação séria dos
Desembargadores. Naquele momento, o relator do processo, o Dr.
Gudesteu Biber, Presidente do Tribunal de Justiça, agiu com
rapidez e seriedade, não permitindo a impunidade. Orientado por
seu advogado, Ibrahim Abi Ackel, o Prefeito Trovão Vítor de
Oliveira renunciou ao mandato em março de 2001, de novo devolvendo
o júri para Abre-Campo, acreditando na impunidade. Pasmem vocês
que o júri foi marcado imediatamente, enquanto em outros crimes
anteriores, também de pistolagem, a agilidade não foi a mesma,
naquela cidade. O Ministério Público, com um recurso pelo
desaforamento, conseguiu o júri novamente. Ontem, o Tribunal
confirmou que o Sr. Trovão Vítor de Oliveira será julgado em Belo
Horizonte.
Vejam que absurdo, tão perto de nós, a 200km, há uma cidade com
práticas horríveis de cidade sem lei. A coisa foi tão absurda que
o decano do Ministério Público, Dr. Abelardo, que fez a denúncia
pelo desaforamento, conseguiu descobrir até vício no sorteio dos
jurados. Esperamos que esse júri também seja marcado para o ano
que vem, para que a impunidade acabe. Os poderosos escondem-se
atrás de seus cargos para manter a impunidade.
Também denunciamos, desta tribuna, alguns anos atrás, que os
Vereadores de Caputira, Custódio Tinoco e Antônio Carlos,
Presidente da Câmara, estavam jurados para morrer, ameaçados de
morte pelo ex-Prefeito daquela cidade. De novo, por uma ação da
Polícia Civil, conseguimos impedir que esse crime fosse
perpetrado.
Cito outros crimes de “pistolagem”, como o acontecido em Belo
Horizonte a mando de um fazendeiro de Sericita, em que pistoleiros
em uma moto, mataram barbaramente um homem dessa cidade. Cito,
ainda, outro crime, de que todos nos lembramos, ocorrido há seis
anos, em Matipó: o assassinato de um ex-Prefeito dessa cidade.
Estamos falando de uma comarca violenta, onde perdura a
impunidade. Infelizmente, não vemos por parte da polícia local uma
ação mais efetiva.
Este Deputado, juntamente com o Deputado Adelmo Carneiro Leão,
foi ao Comandante da Polícia Militar denunciar policiais de Pedra
Bonita coniventes com essa situação. O inquérito foi feito, e nada
aconteceu com esses policiais. Estamos falando de uma cidade
violenta. O Juiz, com o princípio correto da inamovibilidade,
acaba ficando muitos anos em um mesmo local, acaba casando-se na
cidade, estabelecendo relações, sendo proprietário no município, e
vemos que a impunidade continua alimentada por essas relações
sociais.
Abre-Campo hoje pede socorro, faz um apelo para que a impunidade
e a violência acabem nesse município. Digo isso com a maior
veemência, porque vou, lamentavelmente, relatar um novo crime de
“pistolagem” acontecido há dez dias nessa cidade. Um bárbaro e
covarde crime de “pistolagem”. Chamo cada um de vocês para prestar
atenção nesse caso que vou relatar, para mostrar que o fato de
dois ex-Prefeitos não serem julgados reforça toda essa
cumplicidade e acaba impedindo que a verdade seja restabelecida.
Antes de relatar esse caso, concedo aparte ao meu colega,
Deputado Marco Régis.
O Deputado Marco Régis (em aparte) - Deputado Durval Ângelo, faço
este aparte para que possamos tangenciar o tema da discussão de V.
Exa., que é o Veto à Proposição de Lei nº 15.266, que autoriza
doação de imóvel ao Município de Bueno Brandão.
Pelas razões expostas pelo Governador e lidas ainda há pouco por
V. Exa., que vai continuar na Assembléia Legislativa, que poderá
usar esta tribuna, e para os Deputados que vão continuar nesta
Casa, gostaríamos de trazer à tona o tema relativo à autonomia dos
Legislativos, o qual só agora começa a crescer e a tomar forma,
principalmente em Minas. Os Legislativos Municipais sentiram que
não poderiam continuar se curvando aos Executivos Municipais e, de
um modo geral, as Câmaras Municipais adquiriram essa consciência.
À medida que certos municípios conferiram autonomia aos
Legislativos municipais, outros municípios, em efeito dominó,
também ampliaram a autonomia dessas Câmaras Municipais.
O problema continua e gostaria que V. Exa. pudesse dar
prosseguimento a essa discussão na Assembléia, embora a legislação
seja federal, mas tudo o que discutirmos aqui será também levado à
Câmara Federal.
Nesse problema de autonomia, existem as dificuldades de repasse
dos chamados duodécimos. O Prefeito se propõe a passar parcelas
mensais ao Poder Legislativo e, por diversas questões, por
divergências políticas, esses repasses não são feitos.
O segundo problema, Deputado Durval Ângelo, é que, com a
independência dos Legislativos, tem acontecido a chamada “farra”
dos Vereadores. Há um excesso de viagens dos Vereadores a custa do
erário - para o Norte, Nordeste, Sul do País, etc. - para
receberem títulos-fantasmas de muitos jornais, que sobrevivem
dessas homenagens concedidas aos melhores Vereadores, ou para
fazerem congressos turísticos.
O terceiro problema é que os Vereadores vão construir uma nova
sede para o Legislativo em algumas localidades. Por exemplo, foi
doado ao Município de Muzambinho, de onde sou, um imóvel federal
em plena Av. Dr. Américo Luz, a principal avenida da cidade, com
2km de extensão, que, até então, era um lote vago, ermo. Agora, o
Legislativo conseguiu que o Executivo doasse esse terreno, onde já
está sendo construída a sede própria da Câmara Municipal, com as
mesmas finalidades do Município de Bueno Brandão, como disse V.
Exa, para que possam ser feitas ali determinadas reuniões do
município. As Câmaras Municipais, assim como a Assembléia
Legislativa, são espaços utilizados por partidos políticos para
fazerem suas convenções, que são freqüentes, e para as reuniões
solenes, em que geralmente o público é pequeno.
Acho muito importante que os municípios adquiram essa
independência, contudo devemos começar a discutir com os
Vereadores. O PT, com a sua representação popular, precisa levar
para os municípios a discussão sobre os repasses, pois, além da
divergência entre o Executivo e o Legislativo, há abuso nesses
Poderes, já que estão sendo superiores às necessidades dos
Legislativos. No final do exercício financeiro e orçamentário,
sobra dinheiro no Legislativo. Se sobra, ele não pode aplicá-lo no
exercício seguinte. Cria-se, então, um problema: o Legislativo tem
de devolver o dinheiro ao Executivo. Mas, agora, a devolução é
negociada. Vamos devolver para o Prefeito comprar uma ambulância,
para que construa isso ou aquilo. Trago essa questão para que V.
Exa. tangencie o objetivo da sua discussão e para que daqui a
pouco não falem que, de acordo com o Regimento, está se
desvirtuando do assunto.
Acho importante que V. Exa. aborde esse assunto da violência.
Ontem, assisti ao programa do Jô Soares, em que o Jornalista
Percival de Souza, do Rio de Janeiro, discípulo de Tim Lopes,
lançou o livro “A Ditadura do Narcotráfico”, homenageando o
jornalista assassinado.
Sr. Presidente, Srs. Deputados, imprensa e público das galerias,
Percival de Souza, em seu livro “Ditadura do Narcotráfico”, disse
que grande parte dos jornalistas não se importam com os relatórios
das CPIs, por acharem enfadonho e cansativo. O jornalista Percival
de Souza está tendo o trabalho de analisar fria e minuciosamente o
“enfadonho” volume da CPI do Narcotráfico Federal, que foi
presidida ou relatada pelo Senador Magno Malta, se não me falha a
memória. O jornalista disse que encontrou assuntos escabrosos no
relatório dessa CPI, concluindo quão importante é a sua leitura.
Digo a V. Exa. que também tivemos a nossa CPI do Narcotráfico, da
qual tive a honra de ser membro. Essa CPI me custou dois
processos. No Brasil é assim, investigamos os bandidos, mas estes
são mais poderosos do que nós, e nos impetram processos, obrigam-
nos a ter gastos pessoais para nos defendermos. Embora sejamos
membros de uma CPI e estejamos investigando a bandidagem, não
temos assessoria da Assembléia para a nossa defesa. Devemos fazê-
la às nossas custas, pagá-la do nosso próprio bolso.
Felizmente, minha mulher é advogada competente e me auxilia,
desde quando fui Prefeito do meu município. Recentemente, ela fez
minha defesa em um processo de injúria e difamação, porque assim
fui acusado por ocasião das investigações da CPI. O processo foi
arquivado. Nesse momento, foi bem colocada pela defesa a imunidade
parlamentar. O Tribunal entendeu que eu estava no exercício de uma
CPI e que não havia cometido nenhum delito de injúria, difamação e
calúnia.
Digo isso a V. Exa. porque, ontem, ouvindo o jornalista Percival
de Souza, considerei importante que ele mostrasse para o Brasil
que as CPIs têm coletado documentos importantes dessas denúncias
que vão para a sociedade, para o Ministério Público, para o
Judiciário e para a própria imprensa.
Parece que nós, Deputados das CPIs, vamos levá-las a nada, por
dizerem que elas sempre acabam em “pizza”. Esse é um argumento que
me chateia e constrange como parlamentar, porque não é bem assim.
Sabemos quantas CPIs no Brasil deram resultados, levaram à
cassação de um Presidente da República e dos chamados “anões do
orçamento”. A nossa CPI do Narcotráfico levou à destituição do
Secretário da Segurança Pública, um Deputado Federal que não
cumpriu o seu papel de Secretário e que, infelizmente, era
apoiado, no auge das nossas denúncias, pelo Conselho Superior da
Polícia Civil.
Tive oportunidade, em uma recente reunião de homenagem à Polícia
Civil, de dizer aos Delegados que o nosso papel na CPI foi
cumprido, tirando da Secretaria da Segurança Pública um Secretário
que não cumpriu os dispositivos do estatuto da Polícia Civil, que
dizia que um policial civil não pode ter envolvimento com
indivíduos de passado duvidoso e antecedentes criminosos. Naquela
época, tínhamos um Secretário que não era membro da Polícia Civil,
mas que, por analogia, deveria ser paradigma para ela, cumprindo o
seu papel de Secretário e tendo boas ligações.
Agradeço o tempo extenso concedido por V. Exa.. Lamento não poder
continuar trazendo à tona argumentos como este no próximo mandato.
Muito obrigado.
O Deputado Durval Ângelo - Agradeço o aparte do Deputado Marco
Régis. Com toda certeza, sua ausência no Plenário nos próximos
quatro anos será sentida por todos. V. Exa. não é um Deputado de
gabinete, burocrático, e, como demonstrou nos últimos oito anos,
não tentou manter nenhum privilégio. Sua luta apaixonada em defesa
dos direitos humanos, da moralidade e pelo resgate da vida,
enfrentando poderosos, sempre será uma legenda na Assembléia.
Mesmo sendo a vontade do povo, Minas Gerais perde com sua
ausência. Nunca ouvimos aqui vozes tão fortes como a de V. Exa. na
denúncia contra o imperialismo norte-americano e pelo resgate da
autonomia dos povos. Com certeza, meu pronunciamento foi
enriquecido com o aparte de V. Exa. Seu registro nos anais desta
Casa valoriza, e muito, a presença deste Deputado na tribuna.
Mas, Deputado Marco Régis, gostaria de retomar a discussão sobre
a Comarca de Abre-Campo. Eu disse que faria o triste anúncio de
mais um assassinato ocorrido naquela comarca, dessa vez, em
Caputira. Há duas semanas, o lavrador Orenil Martins da Silva foi
covardemente morto em uma emboscada, por volta de 2 horas da
manhã, em sua pequena propriedade. Segundo informações, trata-se
de uma propriedade toda plantada, bem cuidada, que tem um açude
para criação de peixes. Ele tratava com muito zelo a terra onde
vivia com sua família e de onde tirava o seu sustento. De
madrugada, percebeu que o paiol da casa estava pegando fogo e saiu
às pressas para tentar apagá-lo, momento em que foi baleado por um
pistoleiro que se escondeu no anonimato da noite para cometer esse
bárbaro crime.
É importante registrar que há um ano esse pequeno produtor rural,
membro e coordenador da Comunidade Eclesial de Base da Igreja
Católica naquele distrito, esteve no fórum de Abre-Campo por causa
de uma disputa com um fazendeiro chamado Ailton Candinho, daquela
cidade. A justiça não foi feita, e agora estamos chorando a morte
do companheiro Orenil Martins da Silva. O mais triste é que ele
deixa sua mãe e sua viúva, Aparecida de Lourdes Ferreira da Silva.
Deixa ainda três filhas, de cinco, sete e nove anos, Sueli,
Sirlene e Simone, que hoje choram a perda do pai. Tudo porque na
Comarca de Abre-Campo não existe justiça nem polícia. Todos são
omissos e coniventes com o poder público local, sem exceção. E
hoje, com medo, a viúva e suas três filhas mudaram-se da cidade
porque receberam ameaças de morte. Segundo informações, a
propriedade onde moravam encontra-se abandonada.
Já ocupei a tribuna várias vezes para denunciar crimes de
“pistolagem” na Comarca de Abre-Campo. Vejam, senhoras e senhores,
a que ponto chegamos. Até quando isso vai continuar?
Diz-se que o mandante é conhecido. Chama-se Ailton Candinho, e
até hoje a polícia não agiu no caso. Diz-se que o nome do
pistoleiro é Walmir, pessoa violenta, conhecido na cidade por
várias passagens na polícia e sempre solto por cobertura e
proteção política. Espero que não haja nenhum Deputado Estadual
envolvido. Caso haja e venhamos a saber quem é, vamos denunciar.
Mas o terror em Abre-Campo não acabou aí. No último domingo, dia
1º de dezembro, o pistoleiro Walmir foi, de moto, à casa do
Vereador Turíbio Alves Pereira, Líder do PT em Abre-Campo. Segundo
ele, o Vereador teria feito comentários - atentem bem: comentários
- a respeito da ação dos pistoleiros contra Orenil Martins da
Silva.
Pois bem, que segurança tem a sociedade daquela comarca diante da
cumplicidade dos poderes locais, que não agem como convém a
autoridades constituídas?
Turíbio foi tirado de casa, na frente de sua esposa e de seus
filhos, ameaçado por dois revólveres e levado a um local ermo,
onde recebeu uma coronhada no olho direito e outra na boca, que
lhe custou alguns dentes. O tal do Walmir disse a Turíbio que,
caso denunciasse a agressão, voltaria para matá-lo.
Pois bem, Sr. Presidente, Srs. Deputados, Walmir foi preso esta
semana, não por causa do que fez ao Turíbio, mas pela denúncia do
seu envolvimento com o assassinato de Orenil. No entanto, está na
cadeia mandando recado para o Turíbio de que sairá de lá para matá-
lo. Que absurdo uma coisa dessas! Que absurdo está acontecendo
naquela comarca!
Omissão não houve. Para os senhores terem uma idéia, a Comissão
de Direitos Humanos já fez várias audiências públicas para
discutir a violência em Abre-Campo, além de solicitar providências
de todos os órgãos possíveis.
Também este Deputado não se omitiu. Estive várias vezes em Abre-
Campo participando de atos públicos contra a violência, promovidos
pela Igreja Católica; estive em Pedra Bonita nos momentos críticos
de ameaça de morte de membros do PT, do PMDB e do PL, coligados na
cidade; estive em Santa Margarida quando sofriam ameaças membros
da coligação PT-PMDB; fui a Caputira, a Granada e a Abre-Campo
quando Vereadores e membros do PT foram ameaçados; no último
domingo, estive novamente em Abre-Campo, prestando solidariedade
ao companheiro Turíbio Alves Pereira. Visitei-o em sua residência
e pude perceber o terror ali instalado. Estive várias vezes no
sindicato daquela cidade para tentar garantir a segurança.
Em Sericita discutimos, a convite da Igreja Católica, a violência
e os crimes de “pistolagem” ocorridos na região. Compete aos
órgãos públicos agir em relação a isso. Na segunda-feira última,
estive com o Presidente do Tribunal de Justiça, Gudesteu Biber, e
fiz um apelo. Ele conhece muito bem a cidade, pois foi relator dos
processos dos casos de crimes do Prefeito Trovão Vítor de
Oliveira, de Pedra Bonita. Foi um relator sério, imparcial, dentro
do espírito da lei e que nunca deixou de agir com toda a
celeridade possível no Poder Judiciário.
Comunicarei a situação de Abre-Campo, também, ao Secretário-Geral
do Ministério Público, Rômulo Ferraz. Pediremos uma ação mais
firme do Ministério Público ao Procurador-Geral Nedens Ulisses.
Diante de tantos crimes, é difícil um Promotor atuar sozinho
naquela comarca. É necessário que o Ministério ajude a agilizar os
julgamentos pendentes. Se é poderoso, não é julgado; se é julgado,
é absolvido. Encaminharemos uma solicitação de audiência ao
Secretário da Segurança Pública, Márcio Domingues. A ação da
Polícia Civil é fundamental neste momento. Há informações de que
ela vem tomando as providências corretas no caso do Turíbio,
conhecendo a seriedade desse Vereador, Líder do PT na Câmara de
Abre-Campo. Trata-se de um exemplo na região, por sua postura
muito firme na defesa do direito e da justiça. Entretanto, há
outros crimes que precisam ser apurados, e levaremos esse apelo ao
Delegado e ao Secretário Márcio Domingues.
Por intermédio do Comandante-Geral, Cel. PM Álvaro Nicolau,
mostraremos à PMMG a necessidade de melhor estrutura na comarca
sediada na cidade. O Deputado Sargento Rodrigues já comentou sobre
a “prefeiturização” vivida na PMMG, que depende da Prefeitura para
a gasolina, para ter carro, para a reforma de veículos. Essa
situação, muitas vezes, subtrai a autonomia necessária para um
caso como esse. Já fiz a denúncia, aqui, sobre Pedra Bonita, onde
esposas de policiais militares, creio que duas, ocupam cargos de
confiança na Prefeitura, comprometendo a independência necessária
à polícia.
Sugerirei à Comissão de Direitos Humanos que sua primeira reunião
no próximo ano seja uma audiência pública em Abre-Campo, para
discutir a questão da violência. Eu e o Deputado José Henrique
realizamos uma audiência pública em Mutum, que resultou na
diminuição da violência. Acredito que o Deputado Sebastião Costa
também estava presente.
Só tenho medo do próprio medo. Não deixarei de denunciar e de
exigir providências em relação aos poderosos das cinco cidades que
pertencem àquela comarca. Lutaremos por justiça e para que os
envolvidos com a pistolagem sejam presos e julgados. Não
recuaremos.
Agora, mais uma viúva chora naquele município, mais uma viúva vai
se deitar à noite sem ter ao lado o seu companheiro, mais três
crianças órfãs viverão sem a presença do pai. Até quando? Abre-
Campo, abre justiça nessa cidade!
Na certeza de que somos também mensageiros da esperança, acredito
que teremos justiça na Comarca de Abre-Campo e que as pessoas
poderão andar tranqüilas pelas ruas, sem risco, sem medo. Ao final
deste pronunciamento, quero ler um poema de Paulo Gabriel,
publicado no nº 140 do nosso jornal mensal, chamado “Presença”,
que há dez anos acompanha o nosso trabalho na Assembléia. Publica
a pauta, as atividades do gabinete, reflexões sobre a política
nacional e, no período de Natal, sempre traz uma mensagem, que já
é tradicional, do poeta e Padre agostiniano Paulo Gabriel.
O título do poema - “Natal com Esperança” - já é um convite a que
resgatemos aquilo de bom e de mais profundo que carregamos em
nosso coração. (- Lê:)
“E se é verdade / que a esperança venceu o medo / venceu a vida.
/ Claro / a vida é semente / e sempre nasce frágil. / Pode ser uma
mão negra ou operária / empunhando uma bandeira de luz / quebrando
algemas / ou um menino palestino entre tanques e escombros / os
olhos acesos de uma mulher na noite pode ser / ou os pés em dança
dos povos indígenas / reconquistando o sonho, a terra e a alegria.
/ E se a vida nasce aí / é Deus nascendo agora! Arrogante / outro
Herodes convoca as nações para a guerra / e já matou milhões mundo
afora / como milhares de crianças matou Herodes. / Mas Deus é
sábio / e salva o povo através do próprio povo / como salvou Jesus
na fuga clandestina. / Na periferia do mundo agora / a estrela de
Belém, teimosa, ainda brilha / e se grande é a fé dos pobres /
maior será a vida”.
É em nome desse absoluto, que é a vida, que sempre exercemos o
nosso mandato. A vida, que, de tão absoluta, identifica-se com
Deus. Ele diz que é a vida e resume sua missão em João, 10: “Eu
vim para que todos tenham vida e a tenham com fartura”. É nessa
esperança que procuramos trilhar o nosso mandato, sempre
procurando colocá-lo em defesa da vida. E nos colocamos a serviço
onde a vida esteve ameaçada, como nas denúncias que fizemos agora
sobre Caputira e toda a Comarca de Abre-Campo. Acreditamos, como
diz Paulo Gabriel, que na periferia do mundo, agora, a estrela de
Belém, teimosa, ainda brilha. E se grande é a fé dos pobres, maior
será a vida.
Sr. Presidente, acreditamos na vida. Temos certeza de que a vida
vencerá. Se, em algum momento, o nosso mandato não estivesse a
serviço dessa causa maior, a vida, seria preferível que não
continuássemos com ele, seria preferível renunciar ao mandato.
Sr. Presidente, esse assunto que discutimos, relativo a Bueno
Brandão, é uma questão importante. A Proposição de Lei nº 15.266,
que autoriza o Poder Executivo a fazer doação ao Município de
Bueno Brandão, foi, de forma equivocada, vetada pelo Governador,
que descumpriu um acordo que tínhamos feito. Espero que seja
derrubado o veto. Esse é o apelo que fazemos a todas as bancadas.
Acho que, se a palavra empenhada, se o acordo feito deixar de ser
cumprido neste Legislativo, perderemos uma questão fundamental, a
da confiança. Então, estamos fazendo este apelo final, para que
todos nós derrubemos esse veto, para que nos posicionemos contra
esse veto e que realmente prevaleça o bom-senso.
Hoje, como diz o Deputado Marco Régis, a questão da autonomia do
Poder Legislativo é fundamental. Hoje, em muitas cidades, o Poder
Legislativo não tem autonomia financeira e administrativa. Às
vezes, ele funciona na própria Prefeitura. Conheço casos de vários
municípios em que o Prefeito acompanha as reuniões das Câmaras
Municipais. É praticamente ele que orienta e determina como se
vota.
Entendemos também que Bueno Brandão é uma cidade histórica, uma
cidade que tem muitas alternativas turísticas, dezenas de
cachoeiras, cada uma com uma beleza mais rara que a outra. É uma
cidade com localização estratégica, na divisa com São Paulo, em
uma região de montanhas, de clima muito bom, e que tem realmente
fácil acesso. É uma cidade que já tem no turismo rural uma fonte
significativa de divisas, além de, na agricultura, ser
tradicionalmente plantadora de café e de batata. Hoje, o apelo, a
reivindicação é para que haja uma sede da Câmara Municipal, que
seja, mais do que uma sede, um centro de cultura, que não existe
na cidade. Assim, teríamos um auditório com algumas atividades
culturais, uma área para galeria de arte, para exposições. Vimos
lá que se trata de um município que tem também imóveis históricos
tombados, de valor muito grande. A cidade carrega na sua história
o nome de um ex-Presidente do Estado. Tudo isso são coisas que
devem ser valorizadas. O nosso apelo é para que seja, de alguma
forma, derrubado esse veto. Entendemos que isso tem que ser um
esforço de todos. Já tive o compromisso de quase todos os colegas,
que são favoráveis a essa derrubada.