DEPUTADO MARCELO GONÇALVES (PDT)
Discurso
Comenta a reunião de Comissão de Direitos Humanos para esclarecimentos
sobre a morte da modelo Cristiana Aparecida Ferreira.
Reunião
411ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 14ª legislatura, 4ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 23/11/2002
Página 35, Coluna 3
Assunto DIREITOS HUMANOS. MULHER.
Aparteante Sargento Rodrigues, Carlos Pimenta, Rogério Correia, Durval Ângelo.
Legislatura 14ª legislatura, 4ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 23/11/2002
Página 35, Coluna 3
Assunto DIREITOS HUMANOS. MULHER.
Aparteante Sargento Rodrigues, Carlos Pimenta, Rogério Correia, Durval Ângelo.
411ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 14ª
LEGISLATURA, EM 19/11/2002
Palavras do Deputado Marcelo Gonçalves
O Deputado Marcelo Gonçalves - Sr. Presidente, Srs. Deputados,
Sras. Deputadas, público das galerias, imprensa, venho a esta
tribuna para falar sobre requerimento do Deputado João Leite, da
Comissão de Direitos Humanos, o qual nos deu a oportunidade de
ouvir amanhã o pai de Cristiana, o Delegado e os Promotores sobre
um caso que aconteceu há dois anos. Muitos perguntam por que isso
não foi falado antes. Não temos o poder de investigar. Quando vem
a denúncia, podemos convocar as pessoas e dar nome aos bois.
Por coincidência, em agosto de 2000, o Secretário da Segurança
era o atual Deputado Federal Mauro Lopes. Na Casa estava instalada
a CPI do Narcotráfico. Tínhamos todas as provas contra a Delegada
de Governador Valadares, e o Secretário nos ligou pedindo para não
prendermos a Delegada.
Também coincidentemente, foi nessa mesma época que um Detetive de
Dores do Indaiá, chamado Eucimar, prendeu em flagrante uma
traficante local. Esse Detetive, a pedido do Vice-Governador, foi
transferido para Uberaba. O erro dele foi unicamente o de prender
uma traficante. Notamos que o Secretário da Segurança sempre quer
abafar alguma coisa, atitude que nos surpreende.
Quanto à morte dessa modelo, acontecida na mesma época, nunca se
viu um inquérito policial andar tão rápido: em apenas quatro meses
concluiu-se pelo suicídio e deu-se por acabada a questão. Vocês
podem me perguntar por que estamos falando desse assunto agora e
respondemos que somente agora recebemos a denúncia, a partir da
qual podemos agir.
O Deputado Sargento Rodrigues (em aparte) - Sr. Deputado,
concordo com V. Exa. quando se refere às coincidências, às quais o
Poder Legislativo deve estar atento, sendo uma delas a de o
Deputado Federal Mauro Lopes estar à frente da Secretaria da
Segurança Pública à época em que aconteceram esses fatos. Houve
coincidência também no caso de Governador Valadares, quando V.
Exa. recebeu um telefonema do então Secretário Mauro Lopes
solicitando-lhe que pensasse melhor com relação às medidas a serem
tomadas contra a Delegada Maria Aparecida da Silva, a mesma pessoa
que, ao final do interrogatório da CPI de Valadares, saiu presa em
flagrante por ter, durante seu depoimento, revelado sua
participação em vários delitos cometidos naquela região. Tamanha
foi a precisão dos trabalhos da CPI, que a Delegada acabou
condenada, em primeira instância, a 12 anos de prisão, tendo sua
sentença reformada, com condenação a 9 anos. O Deputado Mauro
Lopes, que à época era Secretário da Segurança Pública, interferiu
na CPI do Narcotráfico, deixando algo no ar. Da mesma forma, em
relação à morte da modelo, hoje assunto na imprensa, entendemos
que a coincidência novamente surge, sendo que, na época, o fato
não ganhou nenhuma notoriedade: simplesmente as investigações
foram abafadas, e o caso foi encerrado.
Estamos vivendo um grande momento, quando podemos dar nossa
contribuição como Deputados. Parece-me que o Deputado João Leite
solicitou audiência pública para que sejam prestados
esclarecimentos.
Parabenizo V. Exa. pela coragem e lucidez diante de fatos tão
importantes.
O Deputado Carlos Pimenta (em aparte) - Sr. Deputado, dou,
também, um testemunho público do trabalho que V. Exa. tem
desenvolvido nesta Casa, em relação aos difíceis assuntos que
envolvem a segurança pública.
Esse fato levantado por V. Exa., que teve repercussão muito boa
na imprensa e na própria sociedade mineira, demonstra claramente a
vigilância com que V. Exa., o Deputado Sargento Rodrigues e o
Deputado João Leite exercem sobre esse setor.
Fugindo um pouco do assunto, peço ao Presidente que instale, o
mais rápido possível, a Comissão de Segurança da Casa, que seria
um órgão auxiliador.
Em Montes Claros, tivemos, no mês de abril, um crime bárbaro. O
jornalista Rosalvo Bastos e sua namorada, Cristina, foram mortos
em pleno centro, e até hoje nada foi esclarecido. Parece que esse
crime também caiu na gaveta do esquecimento, como vários outros. A
instalação dessa Comissão será de grande importância para a
resolução desses casos. Tenho a certeza de que V. Exa. e o
Sargento Rodrigues estarão integrando essa comissão, porque são
pessoas que se preocupam com a sociedade mineira e fazem sua
defesa. Parabéns pelo teor do seu pronunciamento. Muito obrigado.
O Deputado Rogério Correia (em aparte) - Deputado Marcelo
Gonçalves, queria aproveitar a oportunidade em que V. Exa. volta
ao assunto para solicitar ao Presidente que instale essa Comissão
na Assembléia, de preferência já. O Deputado Carlos Pimenta tem
razão quando diz que essa Comissão tem importância muito grande,
tendo sido solicitada pela CPI do Narcotráfico, em seu relatório
final. Há enorme aumento da violência, e o cidadão comum tem
sofrido muito com esse processo. São muitos crimes que nem sequer
têm um processo aberto.
Queria fazer essa ressalva, mas nas preocupações do Deputado
Marcelo Gonçalves está a coincidência da ocorrência desses crimes
exatamente no período em que a Secretaria da Segurança Pública
estava nas mãos do Secretário Mauro Lopes. Na CPI do Narcotráfico
aparecem denúncias contra o Secretário, e estranhamos muito a
demora do Governador Itamar Franco em exonerá-lo, mesmo a CPI
tendo pedido a sua retirada. E quando o Governador tomou essa
medida, ainda escreveu carta elogiosa ao Secretário Mauro Lopes.
Realmente essa coincidência me deixou com a pulga atrás da orelha.
Esse crime de Montes Claros ficou tão mal esclarecido que o
Ministério Público está reabrindo o processo agora. Não sei se uma
coisa tem alguma relação com a outra, mas é bom investigar, e a
Comissão seria importante para isso. Muito obrigado.
O Deputado Marcelo Gonçalves - Agradeço o aparte do Deputado
Rogério Correia e quero defender o Presidente. Na semana passada,
o Deputado Sargento Rodrigues insistiu bastante pela constituição
dessa Comissão; entretanto, para tal, é necessária a participação
dos membros do Colégio de Líderes, e não estava presente nem a
metade deles. Conseqüentemente, a Comissão não foi instalada,
apesar de o Presidente estar bastante disposto a formá-la em seu
mandato, como já manifestou várias vezes.
O Deputado Durval Ângelo (em aparte)* - Deputado Marcelo
Gonçalves, é bom ressaltar o brilhante trabalho realizado pela CPI
do Narcotráfico, sob sua Presidência; entretanto, é necessário
registrar que os problemas na Secretaria da Segurança Pública
infelizmente não acabaram.
A Delegada, mesmo condenada em segunda instância, continua
recebendo seus proventos integrais da Secretaria da Segurança
Pública. E o trabalho da Corregedoria, que estava em fase final
com vistas a sua expulsão da Polícia Militar, foi paralisado,
sendo afastado o Corregedor que atuava no caso. Parece que a
posição da Assembléia, de sua CPI e de duas instâncias de
julgamento não conta.
Seria interessante também analisarmos o caso dos carros comprados
pelo Deputado Mauro Lopes, quando Secretário da Segurança Pública,
os quais, até hoje, não estão em funcionamento, porque, segundo
informações, cada carro custou R$22.000,00, ao passo que o valor
de mercado, é R$12.000,00. Há uma representação no Ministério
Público, segundo a qual houve corrupção e desvio de recursos
públicos por parte do ex-Secretário da Segurança Pública.
O Deputado Marcelo Gonçalves - Agradeço o aparte do Deputado
Durval Ângelo. Quero ainda mencionar a época em que existia aquela
ânsia de se construírem novas penitenciárias em Minas Gerais - se
não me engano, eram quatro -, no valor de, aproximadamente,
R$4.000.000,00 cada, sem licitação e sem concorrência. O processo
não foi muito transparente e ocorreu na administração desse
Secretário.
Além disso, ocorreu algo muito grave: tínhamos mais de 17
mandados de busca e apreensão dos traficantes que estavam no
DEOESP, na sexta-feira. O Juiz expediu o mandado e, no sábado,
tínhamos 17 companhias da Polícia Militar para cumpri-lo, mas,
simplesmente, às 2 horas da manhã, apesar de o procedimento ser
apenas do conhecimento da Comissão, a notícia vazou, e todos os
traficantes, que estavam soltos, foram pegos e levados para o
DEOESP.
Existe uma série de irregularidades, e, como bem lembrou o
Deputado Rogério Correia, houve aquela demora do Governador Itamar
Franco em exonerar o ex-Secretário da Segurança. Agora, ficamos
preocupados com as informações que vêm à tona sobre a morte da
Cristiana e o inquérito feito em apenas quatro meses. Será que há
mais alguém de costas largas envolvido na história? Sabemos que
há, mas não podemos citar os nomes sem as provas. Amanhã, na
Comissão de Direitos Humanos, o caso evoluirá bastante, e os nomes
poderão ser citados, com muita transparência.
Algo nessa história deixou-me muito preocupado: por um motivo
muito menor, o Governador exonerou, na época, o Secretário da
Saúde. Agora, com todos esses motivos, não quis exonerar o Mauro
Lopes.
Quero deixar registradas minhas palavras e essas coincidências: o
inquérito foi super-rápido e foi logo considerada a hipótese de
suicídio; o apartamento dela foi limpado antes de a perícia
chegar; Cristiana não tinha nenhum sinal de envenenamento, etc.
Enfim, foi feito um inquérito relâmpago, apenas para abafar, pois
ninguém tira de minha cabeça que houve um crime. Obrigado.