A aproximação com a sociedade reatou a relação com o parlamento mineiro, interrompida pela ditadura militar - Arquivo ALMG
Carla Godoy foi testemunha da inauguração do EPC - Arquivo ALMG
O Teatro oferece aos artistas equipamentos modernos e serviços de alta qualidade - Arquivo ALMG
Wesley Marchiori é um antigo e apaixonado usuário do Teatro
Exposição da Noiva do Cordeiro reabriu a galeria após pandemia
Democracia é o mote do EDJAO - Arquivo ALMG
Como sindicalista e parlamentar, Marília Campos utilizou o espaço - Arquivo ALMG

Poder e voz do cidadão se materializam nos espaços da ALMG

Há 30 anos, a Casa abriu portas para manifestações culturais, sociais e políticas, aproximando Parlamento e sociedade.

Por Assessoria de Comunicação
16/08/2022 - 16:23

Se o fim da ditadura militar devolveu ao cidadão o poder de atuar nos rumos do País, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), atenta a esse movimento, abriu suas portas para dar voz a todos que quiseram participar do retorno democrático. Há exatos 30 anos, completados nesta quarta-feira (17/8/22), a Casa Legislativa inaugurava o Espaço Político-Cultural Gustavo Capanema (EPC), cujo objetivo é aproximar o Parlamento Mineiro da sociedade, estreitando a relação que foi apartada durante os 25 anos de obscurantismo político.

O EPC é composto pelo Teatro da Assembleia, pela Galeria de Arte e pelo Espaço Democrático José Aparecido de Oliveira (Edjao), integrado pelo Hall das Bandeiras e o hall principal, que abriga a Tribuna Popular. Os equipamentos são oferecidos para fomentar manifestações artísticas, valorizar a cultura regional e contribuir para a participação popular e a formação cidadã dos mineiros.

“Quando uma Casa Legislativa fomenta cultura, ela abre as portas para que a sociedade tenha um novo olhar sobre todo o fazer público, possibilitando, inclusive, uma abordagem de aproximação com o cidadão que muitas vezes não tem interesse de conhecer ou participar efetivamente da vida política de sua cidade, ou estado”, analisa a coordenadora do EPC, Carla Godoy.

A servidora considera que a cessão dos espaços tem promovido com grande sucesso a integração entre as classes sociais nas suas mais diversas manifestações culturais e artísticas, "enquanto propicia momentos de lazer, reflexão, trocas e decisões em diferente níveis políticos", completa.

A inauguração do EPC contou à época com várias atividades para a comemoração: peças de teatro adulta e infantil, feira de livros, exposição fotográfica, mostra de vídeo, espetáculo de coral, dança e orquestra, debate literário e show com Tavinho Moura e Fernando Brant. A semana foi uma pequena dica do que se tornaria rotineiro nas décadas seguintes.

Passarela de estrelas e novos talentos

Inaugurado na noite daquela segunda-feira de 1992, o Teatro da Assembleia já nasceu sob o furor de um importante movimento político. A peça apresentada na estréia do espaço, “Ações Ordinárias”, protagonizada por Elizabeth Savalla, também trazia no enredo o motivo que tirava do poder o primeiro presidente eleito pós ditadura, Fernando Collor de Melo: a corrupção.

O espetáculo acabou se tornando também um protesto. Os atores se vestiram de preto, copiando os populares que usaram a cor para, na véspera, se contrapor ao chefe da nação, que fracassou ao convocar a população para manifestações em verde e amarelo como apoio a seu governo.

A sala, projetada pelo arquiteto Álvaro Hardy, foi equipada com o que havia de melhor em tecnologia cênica. Atualmente com capacidade para 145 pessoas continua sendo um dos melhores espaços da Capital mineira.

Nesses 30 anos, passaram pelos palcos do Teatro da Assembleia novos talentos, que hoje já se firmaram no cenário cultural, e grandes estrelas como, por exemplo, o ator Rogério Cardoso e o músico Guilherme Arantes.

A ocupação do Teatro é definida por concorrência pública anual, com edital publicado no Diário do Legislativo. São selecionados espetáculos para crianças e adultos, nas seguintes modalidades: teatro, música, dança, contação de histórias e stand up comedy.

A utilização do Teatro para os artistas classificados é gratuita e são oferecidos ainda equipamentos de eletricidade, iluminação e som. As apresentações devem ocorrer de sexta a domingo, pois nos demais dias da semana o espaço é reservado a atividades institucionais da Assembleia. Às segundas é realizado o programa Segunda Musical, e às quintas, o Zás, organizados pela Casa.

Da plateia para o palco

Ainda estudante, Wesley Marchiori começou sua relação com o Teatro da Assembleia como usuário ativo das apresentações. “Meu horário de almoço se destinava a assistir algum espetáculo”. Aos poucos ele foi estreitando o relacionamento participando como jurado em festivais culturais e, depois, como iluminador, produtor, autor e diretor de peças teatrais.

O artista, que comemora 25 anos de carreira, coleciona histórias e emoções dessa interação. Ele enumera muitas vantagens do espaço como a qualidade acústica, o profissionalismo dos servidores e técnicos, a localização privilegiada na cidade, enfim, toda a estrutura oferecida gratuitamente aos artistas, facilitando a produção especialmente para aqueles que ainda estão começando.

Marchiori ressalta, ainda, a democratização da cultura proporcionada por essa facilitação. “Isso sempre me tocou. A maioria dos espetáculos são ofertados com entrada franca ou a preços bem acessíveis”, elogiou.

Ele também valoriza a variedade de atrações que agrada aos mais diferentes públicos. “Além de ser uma grande oportunidade para iniciantes, é também importante para quem já está no mercado por editais, como o Zás que oferece cachê para os selecionados”. 

Diversidade também na Galeria

Igualmente ocupada por meio de editais públicos, a Galeria de Arte abre o espaço para exposições de artes visuais e de artesanato, mostras educativas e culturais que integram a agenda institucional da ALMG, e lançamentos de obras literárias.

A galeria oferece aos artistas 500 convites para as inaugurações e 24 painéis para montagem das exposições. Nessas três décadas, também difundiu e deu visibilidade a muitos artistas, escritores e artesãos do Estado, que passaram pelos 250 m² disponíveis para as mostras.

Um grupo que viu seu trabalho ultrapassar fronteiras a partir da exposição na Galeria, foi a Associação Comunitária Noiva do Cordeiro (ACNC), que agrega moradores da comunidade rural de mesmo nome, na cidade de Belo Vale (Região Central).

A comunidade conta com cerca de 300 moradores, a maioria mulheres, que trabalham em regime colaborativo e autossustentável. Uma das coordenadoras do grupo, Márcia Fernandes Pereira, conta que a principal fonte de renda e sobrevivência é a lavoura, especialmente o cultivo de mexerica. Comercializam grande variedade de produtos orgânicos e artesanais como linguiça, doces, queijos, geleias, mel, cachaça, além de artesanatos como tapetes e colchas tecidos pelas artesãs.

Bisneta de Maria Senhorinha Lima, fundadora da comunidade, Márcia conta que o grupo participa de muitas feiras e exposições em lugares diferentes, mas que a estreia na Galeria da Assembleia foi a que mais ajudou para a divulgação dos trabalhos. “Muita gente quis conhecer nossa história e comprar nossos produtos”.

Fim do isolamento

Em função da pandemia de Covid-19, a comunidade se isolou e manteve a produção, mas com a entrega sem contato com os compradores. Um dos comerciantes e trineto da patriarca, Marco Antônio Fernandes Emediato, conta que a estratégia assegurou zero caso de contaminação entre os moradores.

A Galeria de Arte também permaneceu fechada em 2021 e reabriu suas portas apenas em junho passado. E a reabertura foi exatamente com a mostra dos produtos da Noiva do Cordeiro. “Somos muito gratos por essa oportunidade”, afirma Marco Antônio.

A voz da democracia

A escultura de Amílcar de Castro, no meio do Hall das Bandeiras, sintetiza a ideia de abrir o espaço para manifestações culturais e populares. O triângulo vazado remete à abertura para a passagem da representação popular, e o círculo que o envolve, simboliza a aliança da sociedade com o Legislativo Mineiro.

Antes mesmo da inauguração do EPC, tanto o Hall das Bandeiras quanto o principal, acima das escadarias da portaria principal do Palácio da Inconfidência, que hoje constituem do Espaço Democrático José Aparecido de Oliveira, foram usados e deram voz às mais distintas manifestações políticas. Categorias diferentes utilizaram e ainda utilizam o espaço para assembleias de movimentos grevistas e protestos políticos.

Muitas lideranças que passaram pelo espaço ao longo desses 30 anos hoje se destacam na vida pública. Uma delas é a ex-deputada estadual e atual prefeita de Contagem Marília Campos (PT), que começou sua trajetória a partir de sua atuação como sindicalista e, depois, uma das fundadoras do partido e da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Triângulo Mineiro.

A prefeita lembra que como participante de movimentos sindicais, já esteve em muitas manifestações no Hall das Bandeiras e destaca a mobilização de centenas de pessoas que protestavam contra a liquidação da MinasCaixa, em 1991, que afetou a vida de mais de 9 mil servidores.

Marília Campos ressalta que além da amplitude da área, o hall é um espaço que se relaciona com a cidade, com os parlamentares e com o mundo político. “Portanto, as manifestações ganham visibilidade para além dos movimentos que a gente articula e mobiliza”.

Sobre o conjunto de equipamentos que formam o EPC, a prefeita distingue a propriedade de ser um espaço político, mas que oferece alternativas culturais e artísticas. “Sem dúvida, humaniza todo esse espaço da Assembleia Legislativa”.

O Espaço Democrático José Aparecido de Oliveira pode ser reservado por entidades e associações de classe para manifestações, e o sistema próprio de sonorização é oferecido mediante solicitação.