A população do entorno do empreendimento reclama que não teve a oportunidade de participar das discussões
Operação ilegal de mineradora na Serra do Curral será investigada

Moradores do Aglomerado da Serra são contra mineração

Exploração mineral pela Tamisa na Serra do Curral, já autorizada pelo Copam, gera indignação e medo.

01/06/2022 - 20:44

Tristeza, indignação, medo. Esses são os sentimentos dos moradores do Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte, em relação ao projeto da mineradora Tamisa na Serra do Curral. Em reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizada na comunidade nesta quarta-feira (1º/6/22), eles reclamaram da falta de informações sobre os impactos do empreendimento sobre suas vidas.

Consulte o resultado e assista ao vídeo completo da reunião.

A operação já foi aprovada pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam), mas a população do entorno reclama que não teve a oportunidade de participar das discussões. O Aglomerado da Serra fica na mesma quota de altitude da futura cava de mineração e, por isso, os moradores podem vivenciar de perto problemas como poeira, barulho e tremores de terra.

“A indignação é muito grande. Muitas pessoas não sabem o que pode acontecer”, afirmou a líder comunitária Cristiane de Jesus. Segundo ela, muitos moradores do Aglomerado da Serra têm medo de que se repitam tragédias como as de Mariana (Região Central) e Brumadinho (Região Metropolitana de Belo Horizonte). “Tem pessoas idosas achando que a mineração vai explodir tudo”, exemplificou.

Para o representante do grupo de capoeira Origem, Wilton dos Santos, o que mais incomoda é a falta de diálogo com o governo e de informações sobre os impactos do empreendimento da Tamisa. "O Estado acha que a comunidade não tem voz e trata a gente como números. Não existe interesse em discutir", reclamou.

Moradora do Aglomerado da Serra desde 1966, Orandira da Silva criou lá os filhos, netos e bisnetos e vê com preocupação os possíveis impactos ambientais do empreendimento da Tamisa. Seu maior temor é o rompimento de barragem de mineração, como aconteceu em Mariana e Brumadinho. "Será que isso pode acontecer conosco também?", questionou.

O pai de santo Carlos Henrique Serra, da Casa Raimundo Baiano, promove rituais religiosos na Mata da Baleia e também está receoso quanto aos impactos ambientais da mineração. Se a mata for destruída, a comunidade religiosa será prejudicada, segundo ele. 

Impactos ambientais não foram mensurados

Na avaliação do defensor público Paulo César de Almeida, os impactos ambientais do empreendimento da Tamisa não foram devidamente mensurados, uma vez que os estudos levaram em consideração somente o território de Nova Lima, onde ficará localizada a cava da mina. De acordo com ele, não foram analisadas as consequências da mineração sobre a estabilidade geológica e a segurança hídrica de Belo Horizonte.

A presidenta da Comissão de Direitos Humanos, deputada Andréia de Jesus (PT), que solicitou a realização da audiência, reiterou os impactos ambientais da mineração na Serra do Curral, como poeira, barulho e risco de deslizamentos, e criticou a liberação do empreendimento da Tamisa.

"O Governo do Estado decidiu de forma arbitrária que abriria espaço para a mineração. Os movimentos populares lutam pelo direito básico de serem ouvidos", afirmou.

A parlamentar disse que vai cobrar da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável a realização de reuniões para prestar esclarecimentos aos moradores do Aglomerado da Serra. Requerimento com essa finalidade será votado na próxima reunião da comissão.