Nova revolução no campo está a caminho com bioinsumos
Pesquisadores e especialistas no setor defendem uso de biotecnologia para elevar produção e sustentabilidade.
02/12/2021 - 20:12Após revolucionar a agricultura brasileira nos anos 1970, com o desenvolvimento sustentável da produção de grãos no Cerrado, Alysson Paolinelli propõe nova revolução no setor. Desta vez, o engenheiro agrônomo de 85 anos e candidato ao Prêmio Nobel da Paz em 2021 é o arauto da agricultura natural, de base biológica e não mais química, como é hoje.
Ex-ministro da Agricultura e presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Paolinelli defendeu o investimento na agricultura sustentável. Essa forma de produção tem como pressupostos o uso da biotecnologia na fabricação de insumos e fertilizantes para enriquecer o solo e produzir alimentos naturais.
Por meio de um vídeo, Alysson Paolinelli abriu a audiência pública que a Comissão de Agropecuária e Agroindústria da Assembleia Legislativa de Minas Gerais realizou nesta quinta-feira (2/12/21). Solicitada pelos deputados Antonio Carlos Arantes (PSDB) e Delegado Heli Grilo (PSL), presidente da comissão, a reunião enfocou a produção nacional de fertilizantes orgânicos e minerais e ainda, de bioinsumos.
Consulte o resultado e assista ao vídeo completo da reunião.
“Essa é uma grande chance para o Brasil. Os países ricos querem esses alimentos mais naturais”, apontou. Ele acredita que o Brasil pode desenvolver um modelo agrícola de alta produtividade, com oferta constante de produtos sustentáveis e de elevada qualidade.
De acordo com o também ex-deputado constituinte, o Brasil conta com rochas que têm os elementos químicos necessários para produção de insumos agrícolas. O material das rochas, interagindo com microorganismos, resulta em insumos que já produzem resultados positivos na agricultura. “Em 2050, teremos 10 milhões de pessoas no planeta, só que muito mais ricas. Será que não vamos aproveitar isso?”, provocou.
Sequestro de carbono
Também apostando no uso desses insumos, Tarcísio Gonçalves, professor da Universidade Federal de Lavras (Ufla), afirmou que já existem estratégias simples e baratas apontando nessa direção. “Temos que melhorar a fertilidade do solo, mas como? Consumindo mais o gás carbônico, colocando-o nas plantas”, sugeriu.
Na avaliação dele, a redução no uso de fertilizantes químicos é uma realidade que o uso da biotecnologia, de rochas e microorganismos propicia. O pesquisador dá sua receita para um sistema de produção sustentável: com a melhoria de suas propriedades físicas, o solo vai atender melhor a planta. Então, faz-se o plantio com sementes tratadas. Posteriormente, é importante ativar as plantas de modo que estejam propensas a serem nutridas.
Produtos biológicos têm aumentado no País
Segundo Fernando Valicente, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a fabricação de produtos biológicos tem aumentado muito no Brasil, chegando a um total de 411 registrados, entre fungos, bacilos e baculovírus.
Com atuação na Embrapa Milho e Sorgo, em Sete Lagoas (Central), ele confirma que os chamados bioinsumos já são conhecidos dos agricultores, que utilizam os produtos no manejo biológico. Essa técnica inclui o controle de pragas e doenças e, ainda, o uso de biofertilizantes para otimizar o crescimento das plantas e não deixar resíduos tóxicos nelas e no solo.
Fernando Valicente destacou entre as pesquisas dessa unidade mineira da Embrapa a desenvolvida com o Bacillus Thuringiensis. Já registrada, essa bactéria tem ação comprovadamente eficaz: no controle de pragas, atuando como biopesticida e transgênico, na agricultura; e em outras áreas, como destruidor de células cancerígenas e de vermes humanos.
Por fim, o pesquisador divulgou que a Embraga desenvolve projetos com o Ceará e com Níger e Costa do Marfim, na África. Nessas ações, são fornecidas cepas de Bacillus Thuringiensis para 40 mil produtores rurais daquele Estado e 400 mil para as nações africanas.
Crise
De acordo com Paulo Sérgio Correia, sócio da Biochar Technology, o mundo vive uma crise na oferta de fertilizantes.. “De cada cinco pratos de comida no mundo, um vem do Brasil, ou seja, 20% da produção mundial de alimentos. Mas 82% dos fertilizantes são importados”, alertou.
Ele defendeu que o País invista na produção desse insumo. “Temos que explorar as jazidas nacionais, como as de potássio, por exemplo. Hoje, importamos 90% desse mineral”, criticou.
Paulo Correia falou ainda das pesquisas com nanotecnologia. E citou a Ufla que, com o uso desse método, está conseguindo substituir a adubação no solo pela adubação foliar. Com isso, a planta passa a produzir mais biomassa com a mesma produção de grãos, e com a vantagem de não aumentar a acidez no solo.
O executivo também é favorável à reciclagem de nutrientes, com reaproveitamento de resíduos E citou que já existem alguns projetos com essa característica no País, como um de integração entre um frigorífico e uma usina de açúcar, em Goiás. Há potencial para se produzir 40 milhões de toneladas de fertilizantes de alta performance, aproveitando esses resíduos, afirmou.
Algas marinhas
Já Paulo César de Melo, também professor da Ufla, falou sobre suas pesquisas com algas marinhas para uso na agricultura. De acordo com ele, esses organismos possuem mais de 70 nutrientes e podem substituir os fertilizantes.
Ele divulgou experiência desenvolvida em lavoura de milho em Lavras, que vinha sendo atacada por pragas. Com a aplicação do produto a base de algas, as pragas sumiram.
Emater já trabalha com bioinsumos
Zenaido Lima, extensionista da Emater em Arcos (Centro-Oeste), destacou que o alto custo dos insumos convencionais é um dos motivos que levou o produtor a buscar formas mais naturais de lidar com a terra. “Temos trabalhado com agricultores a importância de preservar a fertilidade do solo”, lembrou.
Ele abordou um projeto desenvolvido no município de criação de suínos em cama sobreposta. Os animais ficam em cima de tablados e as fezes caem embaixo e são misturadas a palha de arroz, que juntas se transformam num excelente composto orgânico. O sistema não gera mau cheiro nem poluição e contribui para reduzir o consumo de água. Como o bem-estar do animal é maior, ele engorda mais rápido, aumentando a produtividade.
O deputado Antonio Carlos Arantes disse que o desenvolvimento dos bioinsumos é algo irreversível, pois eles garantem a sustentabilidade ambiental e a saúde de todos. Isso sem falar no aspecto econômico, já que os fertilizantes tradicionais triplicaram de preço, segundo o parlamentar. Ele aproveitou para divulgar o projeto de lei de sua autoria, PL 3032/21, que cria a Política Estadual de Bioinsumos.
A deputada Celise Laviola (MDB), que presidiu a reunião, parabenizou o deputado pela realização do debate.