Participantes dão as mãos ao final da reunião na Assembleia
Educação é ferramenta de prevenção e combate à violência contra a mulher

Educação é caminho para prevenção da violência contra mulher

Comissão de Defesa da Mulher ouve, nesta quinta (11), vencedoras e idealizadoras de concurso sobre o tema em Contagem.

11/11/2021 - 20:35

A importância da educação como forma de prevenir a violência contra a mulher e de descontruir discursos que estruturam a sociedade brasileira, calcados no machismo e no sexismo. A discussão desse assunto deu a tônica em reunião nesta quinta-feira (11/11/21) da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Com enfoque em iniciativas educacionais com temáticas ligadas a essa temática, a audiência requerida pela presidenta da comissão, deputada Ana Paula Siqueira (Rede), destacou o concurso de redação realizado pela Prefeitura de Contagem (Região Metropolitana de Belo Horizonte). Com o tema "Educação: Um Caminho na prevenção da violência contra a mulher", o concurso recebeu 348 redações de estudantes das dez unidades da Fundação de Ensino de Contagem (Funec).

Consulte o resultado e assista ao vídeo completo da reunião. 

A prefeita de Contagem e ex-deputada Marília Campos (PT) avaliou que a experiência vivenciada pelos estudantes de escrever sobre esse tema aponta para a mudança de uma ideologia opressora e machista, a qual culmina na cultura da violência. “Temos que reeducar as moças e  também os rapazes. Eles são machistas, não porque querem, mas porque foram educados assim. Elas são submissas também porque foram educadas assim”, refletiu ela, defendendo um programa de educação voltado para a igualdade. 

Nessa perspectiva, Marília Campos defendeu que essa questão tem que ser enfrentada no berço, dentro das famílias e também nas escolas. “A experiência da redação mobiliza muita gente, nas escolas, nas famílias e cumpre um papel de conscientização,”, completou. Ela agradeceu a Ana Paula Siqueira pela realização do debate e mostrou-se esperançosa de que o concurso em Contagem possa inspirar o Governo de Minas e outros municípios a fazerem o mesmo.

Devolvendo o elogio à prefeita, a deputada Ana Paula Siqueira apresentou dados do instituto de pesquisa do Senado. De acordo com o Data Senado, a discussão da violência contra a mulher nas escolas é a segunda opção escolhida como forma de reduzir o problema, citada por 16% dos entrevistados. Outras respostas significativas foram: o aumento da punição aos agressores (defendido por 60% do público)  e a ampliação  dos serviços de atendimento.e (10%). 

Também a deputada Beatriz Cerqueira (PT), presidenta da Comissão de Educação da ALMG, elogiou a prefeita de Contagem pela iniciativa: “Marília, você nos inspira, na forma de pensar o bem comum e a política como mulher”. Ela considerou que a reunião de tantas mulheres de luta na audiência era “revolucionária nestes tempos de opressão”.

A deputada saudou o concurso e completou que o primeiro lugar de semear é a escola. “A educação é o meio para transformarmos este mundo num lugar melhor”, valorizou ela. E concluiu: “Quando uma mulher avança todas avançam junto”.

Emocionadas, alunas falam sobre a experiência

Maria Eduarda Silva dos Anjos, que ficou em 4° lugar no concurso, disse que se julgava incapaz de escrever sobre o tema, mas foi encorajada por sua mãe, a quem agradeceu. “Fazer a redação me levou a uma reflexão profunda. Muitas vezes, vivemos essa violência, mas não sabemos identificar”, apontou.

Para ela, a omissão também é outro fator recorrente na questão. “Às vezes, vemos situações do tipo com pessoas próximas, da família. E muitas não conhecem seus direitos. E a escola tem o papel de mostrar esse olhar crítico”, analisou. Apontando ainda para a responsabilidade dos homens, ela afirmou, emocionada, que “os meninos devem respeitar as meninas e ter consciência de seus deveres”.

Rebecca Aguilar Ferreira, 1° lugar no concurso, confessou que sentiu certa revolta ao escrever sobre o relato de mulheres vítimas de violência. Também julgou importante perceber os sinais que as pessoas transmitem mesmo sem se expressar com palavras, por terem medo. “Vemos crianças, meninas sofrendo, o que me toca muito”, contou.

Na sua avaliação, o tema da violência doméstica precisa ultrapassar os muros das escolas. “Temos que inundar os lares, lutando contra o desrespeito e a violência e levando a verdade, o respeito e o amor”, propôs.

Respeito - Camile Silva de Azevedo (5° lugar), postulou que a escola é o lugar mais adequado para se discutir o assunto. “Temos que ensinar as meninas a verem seu valor e os meninos a respeitarem e não se acharem superiores porque são homens. Precisamos tratar todos como iguais”, pontuou.

Já Marina Melo de Oliveira, 3° lugar entre as redações, defendeu iniciativas como essa, dentro de uma política de educação com o olhar voltado para as mulheres, desconstruindo a estrutura machista e patriarcal da sociedade.

Silêncio - Patricia de Cássia Silva, presidenta do Conselho Municipal da Mulher de Contagem, destacou que, nas escolas, por muito tempo, prevaleceu o silêncio, pois havia o tabu de que esse assunto não deveria ser comentado. “Minha mãe sofreu essa violência e eu não podia falar disso”, confessou, emocionada. Felizmente, afirmou, hoje, as mulheres podem abordar o tema, unindo-se para construir políticas públicas de combate à violência.

Projeto precisa ser replicado no Estado

Mellina Clemente, titular da Delegacia de Mulheres de Contagem, ressaltou que as declarações das vencedoras revelam o sucesso do projeto e a necessidade de levá-lo a todo o Estado. “Estamos falando de uma estrutura social em que o opressor se esconde no manto do patriarcado. E o Estado deve ter políticas públicas para mudar essa realidade”, sugeriu. E completou que o projeto traz a esperança de que as coisas possam mudar, por meio da educação.

Transformação - A defensoria pública Ana Cláudia Pinheiro Pinto, do Núcleo Especializado na Defesa da Mulher em Situação de Violência em Contagem, considerou que as jovens foram transformadas pelos estudos que fizeram para escrever sobre o tema. “Agora, vocês são agentes de transformação social. Contamos com vocês para que levem a informação adiante”, conclamou. Na sua visão, é importante nas escolas fazer a desconstrução do machismo tóxico, de modo a não aceitar e muito menos naturalizar a violência de genero.

Telma Fernanda Ribeiro, secretária de Educação de Contagem e presidenta da Funec, informou que a rede atende a 66 mil estudantes e que busca avançar na criação de programas efetivos nas escolas para combater o preconceito, nas formas do racismo, sexismo e LGBTfobia. “Devemos combater a estrutura patriarcal e machista e essas estudantes deram uma grande contribuição nesse sentido”, reforçou.

Masculinidade hegemônica - Trazendo outro lado da questão, Hugo Goés Bento, professor e coordenador do Curso de Psicologia da Univeritas, falou sobre o projeto desenvolvido com homens do curso, que inclui discussões sobre a masculinidade hegemônica.  Eles passaram a debater o tema com rapazes de Contagem enfocando o que significa ser homem.

Segundo o professor, as conversas mostram que a violência contra a mulher produz sofrimento também para os homens. “As práticas preventivas da violência de gênero têm que incluir também o masculino. Não é possível avançar na proteção às mulheres sem pensar nos discursos sociais que moldam os garotos, os pais, os avôs”, concluiu, defendendo a necessidade de trabalhar com os rapazes a desconstrução de um comportamento opressor pelos homens.