Os deputados da CPI da Cemig pretendem interrogar sete diretores da AeC, fundada por ex-secretário do Governo Zema - Arquivo ALMG

CPI interroga executivos sobre cerco partidário à Cemig

Deputados ouvirão na segunda (8) diretores de empresa ligada ao Partido Novo que perdeu licitação, mas foi contratada.

05/11/2021 - 15:14

Os deputados da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) criada para investigar possíveis irregularidades na gestão e o uso político da Companhia Energética do Estado de Minas Gerais (Cemig) interrogam, em reunião nesta segunda-feira (8/11/21), dois diretores da empresa de call center AeC Centro de Contatos. A reunião, que será comandada pelo presidente da CPI da Cemig, deputado Cássio Soares (PSD), está agendada para as 14 horas, no Auditório José Alencar.

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Os executivos Ricardo Falci Sousa e João Luiz Noronha serão ouvidos, na condição de testemunhas, sobre as circunstâncias estranhas que levaram a empresa, com o aval da atual direção da Cemig, a manter a prestação de serviços no atendimento aos clientes da estatal mesmo tendo perdido licitação realizado no início do ano passado.

Os dois depoentes serão os primeiros de uma lista com sete diretores da AeC a prestar informações à CPI. Os demais são Gustavo Antônio Teixeira, Celso Mateus Ramiro, Raphael Dualibi, Luciano Silva e Gustavo Morais. O requerimento para convocação deles é assinado pelo pelo relator e pelo vice-presidente da CPI da Cemig, respectivamente, deputados Sávio Souza Cruz (MDB) e Professor Cleiton (PSB), e ainda pela deputada Beatriz Cerqueira (PT). 

“A gente já conhecia o ditado de ganhou, mas não levou, mas a Cemig conseguiu nos surpreender com o perdeu, mas levou assim mesmo”, ironizou Sávio Souza Cruz. A AeC está na mira da CPI após ter sido subcontratada pela multinacional de tecnologia IBM Brasil, que também foi contratada sem licitação pela Cemig. A empresa de call center foi fundada por Cássio Azevedo (já falecido), ex-secretário de Desenvolvimento Econômico do governo Zema.

Interferência

Essa manobra teria tido a interferência direta do atual presidente da Cemig, Reynaldo Passanezi, como já revelou em depoimento João Polati Filho, ex-diretor-adjunto de Suprimentos, Logística e Serviços Corporativos da estatal.

“Ele me disse para encontrar uma forma de manter a AeC porque a diferença era de R$ 500 (entre as propostas da licitação). Falei pra ele que, mesmo que fosse um centavo, não teria jeito. A Cemig é uma empresa pública, essa é a regra”, relatou Polati. Ao ser contrariado pelo subalterno, o presidente da Cemig teria respondido, irritado: “Parece que eu não mando aqui”.

João Polati, no que pode ser o mais importante depoimento prestado à CPI da Cemig até o momento, também confirmou a existência de uma sala, no 18º andar do edifício-sede da Cemig, ao lado daquela utilizada pelo presidente da estatal, que era reservada para o uso de Cássio Azevedo.

Exec

Outro detalhe curioso é que o Reynaldo Passanezi foi selecionado para o cargo por outra empresa supostamente ligada ao Partido Novo, a Exec, consultoria de headhunter (seleção de executivos no mercado) que recebeu, para isso, em um contrato sem licitação, R$ 170 mil.

Conforme outros depoimentos já prestado à CPI, o primeiro orçamento da Exec encaminhado à Cemig chegou pelas mãos do empresário Evandro Negrão de Lima Júnior, que não tem cargo na Cemig nem no Executivo, mas é secretário de Assuntos Institucionais e Legais do diretório do Partido Novo no Estado.

A convalidação do contrato da Exec foi aprovada em fevereiro de 2020, mais de 30 dias depois de o presidente Reynaldo Passanezi ter sido nomeado para o cargo. Ou seja, ele “contratou” a empresa que o selecionou, fechando o ciclo do cerco partidário à Cemig, como aponta uma das linhas de investigação da CPI.

Prevista na legislação, a convalidação é a regularização de contratações depois dos serviços já terem sido executados, que deveria ser utilizada somente em situações emergenciais. Na Cemig, a prática teria adquirido uma escala que já ultrapassou a casa do bilhão de reais, como é o caso do contrato com a IBM Brasil.

IBM Brasil

O próprio contrato celebrado pela Cemig com a IBM Brasil, que criou as condições para manter a AeC no rol de prestadores de serviço da estatal, mesmo após ter ficado em segundo lugar em licitação, também é investigado pelos deputados na CPI. Além de celebrado sem licitação, o contrato entre a multinacional de tecnologia e a estatal supera R$ 1,1 bilhão e tem o prazo inédito de dez anos. O acordo foi assinado em 12 de fevereiro de 2021, após receber também o aval do Conselho de Administração da Cemig.

A IBM Brasil teria sido contratada para prestar consultoria em transformação digital e implementar um modelo integrado de atendimento aos clientes, conhecido como omnichannel. Contudo, segundo o apurado pela CPI, falta à multinacional a expertise necessária no atendimento humano, como é o caso do call center. A falta de concorrência em uma contratação direta desse porte também foi bastante criticada pelos parlamentares.

E não bastasse os contratos suspeitos, a subcontratação da AeC pela IBM Brasil ainda pode render mais prejuízos à Cemig, diante da ameaça da empresa que venceu a mesma licitação de call center, a Audac, de entrar na Justiça para cobrar o investimento milionário feito ao longo de meses sem que a direção da estatal desse a autorização para início da prestação do serviço.