Empresários e consumidores criticaram a prestação de serviço pela Cemig na reunião desta quinta (7)
Consumidores relatam falhas na oferta de energia no Estado

Consumidores reclamam do serviço prestado pela Cemig

Entre as queixas está a interrupção do fornecimento de energia, que causa prejuízos para o setor produtivo.

07/10/2021 - 13:18

Interrupção do fornecimento de energia elétrica e demora para restabelecer o serviço, com impacto nas atividades industriais e de produtores rurais do Estado. Essas foram algumas das reclamações em relação à Cemig feitas por participantes de audiência pública, realizada nesta quinta-feira (7/10/21) pela Comissão Extraordinária das Privatizações da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

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A advogada Letícia Ourívio Faria tem uma empresa no Jardim Canadá, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), região industrial que conta com diversas cervejarias e também com empresas de outros ramos. Ela contou que, em abril, fez um pedido de ligação de energia trifásica à Cemig, necessária à sua empresa, o que foi deferido.

“Depois de adquirirmos todos os equipamentos com valor relevante, fui surpreendida, em maio, pela entrega de uma energia oscilante. Cheguei a ficar três horas com maquinário parado e 20 funcionários de braços cruzados”, disse.

Letícia Ourívio contou que chegou a ter prejuízo de R$ 50 mil com a queima da placa de uma máquina. “A forma como a Cemig trata a indústria e o consumidor é inadmissível. Deveria haver um canal próprio para as necessidades. Mas aí uma pessoa sem a menor instrução lhe atende e acredita que um mero protocolo é suficiente”, pontuou.

A empresária relatou que tem 59 protocolos abertos na companhia e que só se chegou a uma solução paliativa quando um grupo de empreendedores da região se juntou e buscou a prefeitura, o Estado e a Federação das Indústrias do Estado (Fiemg).

Vereadora de Nova Lima, Juliana Ellen de Sales corroborou as palavras de Letícia Ourívio. Ela reforçou que há inúmeros relatos de problemas de empresas sediadas no Jardim Canadá com a Cemig.

“O Jardim Canadá foi criado para ser uma região residencial. Mas, aos poucos, as indústrias passaram a ocupar o local. Contudo, não há energia suficiente para o pleno funcionamento dessas empresas. Com isso, empresários cogitam sair do local e do Estado. Dessa forma, não conseguimos crescer e nos desenvolver”, salientou.

Estudante relata situação em Januária, no Norte de Minas

O estudante de Direito Asterio Itabayana Neto, que reside em Januária, no Norte de Minas, destacou problemas relativos ao fornecimento de energia elétrica que impactam diretamente no desenvolvimento do município.

Ele enfatizou a boa localização, o solo fértil e o terreno plano da cidade. “Apesar de tudo isso, não há nenhuma grande empresa em Januária. Isso não é falta de interesse do setor produtivo, mas decorre da falta de estrutura oferecida pela Cemig para a instalação e operação dos empreendimentos”, afirmou.

Asterio Itabayana relatou que um amigo arrendou terra para a produção de batata doce em Januária, por meio de um contrato milionário. No entanto, conseguiu apenas um pivô central para viabilizar essa produção. “Com isso, ele operava com apenas 50% de sua capacidade”, contou. A situação, conforme disse, o levou a fechar o negócio e a demitir 100 funcionários.

O estudante também salientou o caso de empresários do setor de geração fotovoltaica, que instalaram empreendimento na cidade após investirem cerca de R$ 50 milhões e sofreram com a demora de 18 meses para conseguir uma ligação de energia para que, de fato, a empresa pudesse funcionar.

“Fica claro que a Cemig não só não entrega energia para quem precisa, mas também não consegue receber a energia de quem pode gerar”, disse, acrescentando que só isso já justifica a desestatização da companhia.

Para ele, a desestatização nesse caso é a forma mais eficiente de o Estado promover o acesso ao serviço público, ficando apenas com o papel de controle com as agências reguladoras.

Consumidores residenciais contam problemas

A educadora física Thayany Natache Vieira de Almeida, que mora na área rural de Juiz de Fora (Zona da Mata), relatou constantes interrupções do fornecimento de energia onde mora e demora para reestabelecimento do serviço.

“Isso acarreta diversos prejuízos para a comunidade local. Como moramos longe da cidade, armazenamos muitos alimentos. Com isso, perdemos esses produtos. Como dependemos de bomba elétrica, a falta de energia também nos traz falta de água”, contou.

Deputados falam das dificuldades para consumidores

O deputado Guilherme da Cunha (Novo), que solicitou a reunião, falou da importância de ouvir a perspectiva dos consumidores sobre as dificuldades no fornecimento de energia elétrica no Estado.

“Muito se fala sobre o que a privatização vai gerar para os cofres do Estado. Mas ela vai muito além disso. Diz respeito a se obter investimentos que o Estado não consegue fazer”, destacou.

O parlamentar acrescentou que esses investimentos vão gerar mais condições de trabalho e de se obter renda para os cidadãos, o que significa mais qualidade de vida aos mineiros.

O presidente da comissão, deputado Coronel Sandro (PSL), ressaltou que o assunto, sob a perspectiva dos consumidores, é preocupante. “Não fornecer energia impossibilita que o empreendimento funcione. Dessa forma, não há geração de emprego e renda”, disse.

O deputado Elismar Prado (Pros) disse que acompanha há muito tempo os problemas relativos ao fornecimento de energia no Estado e no País. “Entendemos a ótica das empresas, dos problemas que enfrentam nesse sentido. Mas sabemos que os mais afetados são os consumidores individuais”, observou.

Ele lembrou que já foram comprovadas questões como a má qualidade dos serviços prestados e as altas tarifas praticadas. No entanto, ponderou que a privatização pode não ser o melhor caminho. “Como ocorreu no mundo todo, podemos ter mais problemas ainda. Na Europa, esses serviços estão sendo reestatizados, por exemplo”, enfatizou.