Mário Paes Leme, da Aproleite, reclamou dos prejuízos recentes dos produtores
Para Delegado Heli Grilo, os pequenos produtores de leite devem ser priorizados

Comissão ouve pecuaristas e lança frente em prol do setor

Em audiência nesta quarta (11), produtores de leite reclamam de prejuízo na atividade e pedem apoio ao segmento.

11/08/2021 - 18:21

Após ouvir as demandas de pecuaristas leiteiros do Estado, a Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) lançou, nesta quarta-feira (11/8/21), a Frente Parlamentar de Apoio ao Produtor de Leite. A nova instância de interlocução com esse setor foi criada por iniciativa do presidente da comissão, deputado Delegado Heli Grilo (PSL).

Esse parlamentar foi também o autor do requerimento para a audiência pública, que debateu os problemas da cadeia produtiva do leite, especialmente no atual cenário em que seca e geada atingem a atividade agrícola.

Consulte o resultado e assista ao vídeo completo da reunião.

Ao instalar a frente parlamentar, Delegado Heli Grilo destacou que Minas Gerais é responsável por cerca de 27% da produção leiteira nacional. De acordo com ele, dos 100 maiores produtores de leite do Brasil, 40 estão no Estado.

Ele enfatizou ainda que os pequenos produtores de leite são responsáveis por quase 16% da produção total e que, em função das dificuldades maiores que enfrentam, devem ser priorizados. “O grande produtor escolhe pra quem vender; já os pequenos e médios produtores é que são escolhidos. Estes só conseguem sobreviver porque contam com as cooperativas”, observou. Por fim, o deputado afirmou que a frente trabalhará para atender às demandas trazidas pelos produtores em geral, especialmente os de menor porte.

Produtores leiteiros reclamam de prejuízos

Representando o setor, o presidente da Associação dos Produtores de Leite (Aproleite) Triangulo Mineiro, Mário Paes Leme, parabenizou o deputado pela criação da frente parlamentar. E já colocou algumas demandas para que essa instância busque soluções, principalmente quanto aos prejuízos enfrentados pela classe.

Mário Leme lembrou que o produtor de leite talvez seja o único a entregar seu produto à indústria sem saber quanto vai receber por ele. “Dessa forma, não temos chance de brigar por um preço melhor; temos que nos sujeitar. Sofremos um massacre nas negociações também porque o pessoal da indústria está muito mais preparado”, constatou.

Ele declarou que o setor está amargando prejuízos devido à inflação de custos. “Tivemos aumento de 120% no preço do milho e da soja, insumos principais para alimentação do gado. Além disso, por causa da seca e da geada, as fazendas não conseguiram produzir comida para os rebanhos. Então, o custo de produção subiu muito mais que o preço do leite”, lamentou.

Para comprovar sua afirmação, o dirigente revelou que, nos últimos 18 meses, o faturamento de um produtor de até 2 mil litros de leite por dia foi de R$ 2,157 milhões. Enquanto isso, seu custo de produção chegou a R$ 2,274 milhões, gerando um prejuízo de R$ 117 mil, isso sem falar em investimentos que o pecuarista porventura tenha feito.

Médio produtor - Pecuarista leiteiro da Fazenda Fundição, em Paracatu (Noroeste), Marcos Rogério Miranda reclamou que sua condição de médio produtor não lhe favorece em nada: “Nos bancos, pagamos juros maiores e temos prazos menores”.  Quanto a novas tecnologias, ele afirma não ter acesso, pois as universidades estariam muito distantes dos produtores rurais.

Em resposta, Delegado Heli Grilo anunciou que iria formular um requerimento às instituições financeiras para criarem linhas de crédito que atendam ao pequeno, médio e grande produtor de leite no Estado.

Sucessão - Esses entraves enfrentados historicamente pela categoria estão criando dificuldades na sucessão rural, segundo Mário Caetano Afonso, presidente da Comissão de Leite do Sindicato Rural de Uberaba (Triângulo). Para ele, está ocorrendo uma migração do produtor de leite para outras atividades, rurais ou não. “Vendo o sofrimento do pai, o filho pensa ‘não quero isso pra mim, não’”, constatou.

Outro gargalo, na opinião de Mário Afonso, seria a redução do consumo de leite pelas novas gerações. “Acabou aquela história de tomar leite no café da manhã”, disse ele, defendendo a criação de políticas públicas de incentivo ao consumo desse alimento.

Entidades reafirmam aval ao produtor rural

Rubens do Carmo Andrade, presidente da Cooperativa dos Produtores Rurais do Prata, a qual emprega cerca de 500 funcionários e recebe 220 mil litros de leite por dia, enumerou ações da entidade em prol dos seus mil pecuaristas. De agosto a outubro, a Cooprata está oferecendo um bônus aos produtores, no valor de até R$ 7 mil para compras na cooperativa.

Ele destacou também os quase R$ 6 milhões distribuídos em sobras aos 1700 associados, nos últimos seis anos pela Cooprata, que obteve em 2020 um faturamento de aproximadamente R$ 500 milhões. Só a fábrica de ração, de acordo com Andrade, cresceu 23% no último ano, oferecendo o produto a um preço melhor para os cooperados. “A nossa cooperativa tem crescido a cada ano e feito um trabalho para ajudar os pequenos e médios produtores, mas sem desprezar o grande”, afirmou.

Seapa - Já o assessor técnico de Bovinocultura da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Alexandre Gonzaga, divulgou as ações da Seapa para o segmento. Ele citou os programas de: inseminação artificial desenvolvido pela Emater; fortalecimento do cooperativismo para a agricultura familiar; parceria com a Universidade Federal de Viçosa, para  difusão de tecnologias e identificação de gargalos na cadeia produtiva do leite.

E Walisson Fonseca, analista de Agronegócios da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg), opinou que o segmento leiteiro tem que buscar eficiência e unidade dos elos produtivos para se tornar mais competitivo. Nesse sentido, ele destacou o funcionamento do Fundesa, fundo criado pelas cadeias pecuaristas para complementar ações de desenvolvimento e defesa sanitária animal.