Cafeicultores querem força-tarefa para lidar com seca
Embora não se saiba a real dimensão do prejuízo com o fenômeno climático, produtores e governo estimam grandes perdas.
14/12/2020 - 14:30Representantes de produtores rurais e parlamentares defenderam, em audiência pública nesta segunda-feira (14/12/20), a criação de uma força-tarefa para fazer frente aos prejuízos na produção cafeeira do Estado em decorrência da seca deste ano, considerada por eles como a pior em pelo menos 50 anos.
Na reunião, realizada pela Comissão de Agropecuária e Agroindústria da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) por solicitação de seus membros efetivos, eles destacaram que essa força-tarefa deveria ser composta, entre outros, por governo federal e estadual, associações de produtores e instituições financeiras.
Consulte o resultado e assista ao vídeo completo da reunião.
Os participantes da audiência enfatizaram que ainda não é possível estimar precisamente o tamanho do prejuízo, mas que ele será grande, podendo atingir até a totalidade da produção em alguns locais.
Um relatório preciso sobre essas perdas está sendo elaborado, conforme relataram o superintendente de Agricultura em Minas Gerais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Marcílio de Sousa Magalhães, e a secretária de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ana Maria Soares Valentini. O documento ficará pronto no fim de janeiro de 2021, de acordo com eles.
O presidente da Associação dos Produtores Rurais do Sul de Minas (Assul), Arnaldo Bottrel, explicou que a seca e o aumento da temperatura, em agosto, setembro e outubro, fizeram com que os cafezais abortassem as flores.
Ele mostrou uma lavoura em Carmo da Cachoeira que ficou prejudicada e relatou que a expectativa era de que 40 sacas de café fossem retiradas por hectare e que, possivelmente, não será possível colher nem cinco.
O fenômeno climático, conforme contou, vai trazer grande impacto na safra de 2021 e a de 2022 também ficará comprometida. “Precisamos da união de todos para conseguirmos achar uma saída”, destacou.
Concordou com ele o presidente da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), Carlos Augusto Rodrigues de Melo. “O impacto desse fenômeno climático será significativo. Nos últimos 50 anos não constatamos esse ocorrido”, acrescentou.
Já o presidente da Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Três Pontas (Cocatrel), Marco Valério Brito, enfatizou medidas necessárias para fazer frente à situação como a disponibilização de recursos e de um programa de seguros subsidiado pelo governo. Os três presidentes participaram da reunião por meio de vídeos enviados.
Parlamentar manifesta preocupação com café já vendido
O deputado Antonio Carlos Arantes (PSDB) manifestou preocupação com o fato de que muitos produtores já venderam o café para entregar no próximo ano. “Eles não vão ter como entregar. Como os pequenos produtores vão fazer? Como vão cuidar das suas famílias?”, questionou.
Ele reforçou que os governos devem atuar para minimizar o problema com, por exemplo, a disponibilização de recursos para custear as lavouras.
O parlamentar contou que, como produtor rural, nunca viu uma seca tão forte quanto a deste ano. Em sua opinião, a queda média da produção deve ser de no mínimo 40%. “Passei por mais de 80 cidades de regiões cafeeiras em Minas. A situação é gravíssima. Até lavouras irrigadas foram afetadas”, relatou.
Antonio Carlos Arantes também exibiu um vídeo em que produtores de cidades como São Sebastião do Paraíso, Jacuí e Monte Santo de Minas relataram o problema e mostraram os prejuízos em suas lavouras. A expectativa de produção era de 35 a 40 sacas de café por hectare, mas a realidade pode ser de uma perda total na produção.
Em Monte Santo de Minas, o presidente de associação rural Amarildo Araújo contou no vídeo que haverá perda de 70% da produção. Ele demandou que dívidas com instituições financeiras possam ser parceladas.
O deputado Coronel Henrique (PSL), que preside a comissão, reforçou a necessidade de criação de uma força-tarefa com a presença de representantes dos governos estadual e federal e de instituições financeiras.
Requerimento - Os parlamentares aprovaram requerimentos pertinentes aos assuntos debatidos na reunião, entre eles para visita ao Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) para discutir estratégias para viabilizar a renegociação de dívidas de cafeicultores do Sul e Sudoeste do Estado. A autoria é dos deputados Antonio Carlos Arantes, Betinho Pinto Coelho (Solidariedade) e Gustavo Santana (PL).
Representantes do governo enfatizam recursos do Funcafé
A secretária de Estado Ana Maria Soares Valentini destacou que foi aprovada pelo Conselho Monetário Nacional a ampliação dos recursos do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) de R$ 10 milhões para R$ 160 milhões, para a recuperação de cafezais danificados.
De acordo com ela, é preciso buscar também a prorrogação das dívidas dos produtores. “São muitas as implicações desse problema. A situação vai afetar além das famílias de produtores, o comércio da região e as prefeituras que vão arrecadar menos”, afirmou.
O superintendente do Ministério da Agricultura Marcílio de Sousa Magalhães salientou que os recursos do Funcafé vão minimizam o problema, embora não resolvam a situação. Ele destacou a importância do relatório que vem sendo elaborado e que vai dar a conta da real situação, bem como vai poder orientar políticas públicas.
De acordo com o vice-presidente de Finanças da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais e presidente da Comissão Nacional do Café, Breno Pereira de Mesquita, o produtor que prorrogar sua dívida com um banco também terá acesso a esse crédito do Funcafé.
Ele ponderou, contudo, o baixo interesse de agentes financeiros em trabalhar com essa linha de crédito do Funcafé e pediu ajuda para difundi-la com objetivo de que mais instituições façam adesão.
Papel central - O diretor-presidente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater), Gustavo Laterza de Deus, enfatizou que o café tem papel central na economia do Estado. “São 456 municípios produtores de café e 140 mil famílias trabalhando com o produto em Minas. Dessas famílias, 124 mil são de pequenos produtores”, salientou.
Ele acrescentou que a instituição tem dado assistência aos produtores, no sentido de orientar sobre o manejo das lavouras, o seguro agrícola, linhas de crédito e de emitir laudos técnicos de propriedades e de municípios que passaram pelo problema.
Integrantes de bancos detalham trabalho
Segundo o superintendente do BDMG, Ewerton de Oliveira Rocha, o banco é o terceiro em repasses do Funcafé no País. “Para a safra de 2020 e 2021, trabalhamos com 14 cooperativas e 2.600 produtores. Ao todo, vamos liberar em 2021 R$ 400 milhões por meio do Funcafé”, contou.
O gerente de Agronegócios do Banco do Brasil de Minas Gerais, Daniel Batista Alves, disse que o banco, além de disponibilizar crédito rural, vai trabalhar com a prorrogação de dívidas para quem está com dificuldades. "Oriento que o interessado procure sua agência de relacionamento para encontrar a melhor tratativa”, falou.