Região Sul busca ampliar parceria entre pesquisa e produção
Tema foi discutido em encontro do Fórum Técnico Minas Gerais pela Ciência, realizado em Varginha.
13/03/2020 - 17:40 - Atualizado em 13/03/2020 - 19:19Com 75% de sua pauta de exportação baseada em um único produto, os grãos de café, o Sul de Minas debateu, nesta sexta-feira (13/3/20), caminhos para aproximar pesquisa tecnológica e iniciativa privada, a fim de diversificar e aumentar o valor da produção econômica da região. Essa foi uma das prioridades discutidas no segundo encontro regional do Fórum Técnico Minas Gerais pela Ciência – Por um desenvolvimento inclusivo e sustentável.
O encontro desta sexta foi realizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) no campus de Varginha (Sul de Minas) da Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG). Idealizado pela ALMG em parceria com mais de 30 instituições estaduais do setor de ciência e tecnologia, o fórum tem o objetivo principal de elaborar, de forma participativa, o Plano Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, a fim de ampliar o desenvolvimento socioeconômico do Estado.
Apesar de ter uma economia concentrada na produção de café, o Sul de Minas apresenta também um dos principais exemplos nacionais de parceria bem-sucedida entre iniciativa privada, setor público, instituições de ensino e de pesquisa. Trata-se do Vale da Eletrônica de Santa Rita do Sapucaí, pequena cidade de 40 mil habitantes que concentra hoje 153 indústrias eletroeletrônicas, com um faturamento de R$ 3,2 bilhões.
“É a terceira maior concentração de eletroeletrônica do Brasil e emprega 29% da mão de obra do setor em Minas”, destacou a diretora-geral da Agência de Inovação e Empreendedorismo da Unifal-MG, Izabella Bastos. É um resultado que se construiu a partir da valorização do ensino e da pesquisa, desde a criação da primeira escola técnica em eletrônica da América Latina, em 1958, passando pela fundação do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), em 1965, e do Centro de Ensino Superior em Gestão, Tecnologia e Educação (FAI), em 1971.
O desafio que se impõe para o Sul de Minas é como ampliar para toda a região essa experiência bem-sucedida de incorporação da pesquisa na produção econômica. Entre as novas propostas aprovadas em Varginha para o plano estadual, tendo em vista este desafio, está a criação de câmaras temáticas entre as instituições de ciência e tecnologia e diferentes setores produtivos, para fomentar discussões de desenvolvimento tecnológico e formas de financiamento.
“Um quilo de soja vale US$ 0,10. Um quilo de Cialis (medicamento equivalente ao Viagra), custa US$ 800 mil”, exemplificou Izabella Bastos, para mostrar como a pesquisa pode agregar valor a um produto.
Falta de instituições de pesquisa não é um problema no Sul de Minas. São 25 universidades e institutos de pesquisa que abrangem todas as áreas de conhecimento, incluindo o Inatel, Unifal e as universidades federais de Itajubá (Unifei) e de Lavras (Ufla).
A dispersão de centros de pesquisa e pesquisadores por todo o Estado é um dos pontos fortes de Minas Gerais, segundo a diretora da Fiocruz Minas, Zélia Maria da Luz, outra das participantes do fórum. “Minas Gerais é o único Estado do País que tem a maior parte de seus doutores fora da Capital. Isso mostra que conseguimos fazer ciência e tecnologia em todo o Estado”, afirmou.
Ela concorda que a grande dificuldade, não só em Minas como em todo o Brasil, tem sido aproximar essa pesquisa das empresas, resultando em ganhos concretos de desenvolvimento econômico.
Iniciativa pioneira - A realização de um fórum participativo para elaboração de um plano estadual de ciência e tecnologia é uma iniciativa pioneira de Minas Gerais. A diretora da Fiocruz Minas, Zélia da Luz, explica que o movimento surgiu da crise que atingiu o setor em 2019, com diversos cortes de financiamento tanto em nível federal quanto estadual.
Zélia defendeu a parceria entre instituições de pesquisa e parlamentos como fundamental para o resgate da ciência e tecnologia. “Recentemente tentaram reduzir orçamento de pesquisa nos Estados Unidos e o Congresso não permitiu. Pelo contrário, mandaram aumentar”, afirmou a dirigente da Fiocruz Minas, a fim de demonstrar que ciência e tecnologia deve ser uma política permanente de Estado, não de governo.
Presidenta da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da ALMG, a deputada Beatriz Cerqueira (PT) foi autora da proposta de realização do fórum. A ideia, segundo ela, é criar uma agenda positiva de políticas de desenvolvimento que se contraponha a uma agenda regressiva de cortes orçamentários e desvalorização do setor.
Deputado originário de Varginha, Professor Cleiton (PSB) destacou o golpe sofrido pelas universidades em 2019, quando a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) viu seu orçamento reduzido a 24,4% dos recursos previstos, o que provocou o corte de 612 bolsas de iniciação científica. “O reitor da Unifal, em uma analogia com o futebol, alertou que o governo estava cortando nas categorias de base”, lamentou.
O reitor da Unifal-MG, Sandro Amadeu Cerveira, também participou do encontro e cobrou o cumprimento da Constituição de Minas, que destina 1% do orçamento para a pesquisa.
A deputada Ana Paula Siqueira (Rede) lamentou a ausência de representantes do Poder Executivo no encontro de Varginha. Elogiou, por outro lado, a presença da presidenta da Câmara Municipal de Varginha, Zilda Maria da Silva, e do deputado federal Rogério Correia (PT-MG), representando a Câmara de Deputados. “A presença dessas instituições aqui, hoje, mostra o compromisso delas com a ciência e tecnologia”, concluiu.