Situação do João XXIII opõe diretoria e servidores
Em visita ao hospital, parlamentares constatam más condições de trabalho e problemas no atendimento a pacientes.
06/03/2020 - 13:05Servidores e membros da diretoria do Hospital João XXIII discordam sobre as condições estruturais e de funcionamento da instituição. No entanto, em visita ao local, deputados deram razão aos funcionários. Ao conhecer várias dependências da unidade na tarde da quinta-feira (5/3/20), a deputada Andréia de Jesus (Psol) e o deputado Betão (PT) viram banheiros sem barras de apoio, produtos químicos mal acondicionados e equipamentos estragados, além de pacientes distribuídos por macas nos corredores.
A visita foi uma atividade institucional das Comissões de Direitos Humanos e do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Os parlamentares foram acompanhados em todo o percurso por servidores que estão em greve desde 15 de janeiro para, entre outras coisas, pressionar o governador Romeu Zema a negociar o pagamento do 13º de 2019 e o fim do parcelamento dos salários. Eles pedem, ainda, melhorias nas condições de trabalho e denunciam problemas no hospital.
Antes de visitar as dependências da instituição, os parlamentares conversaram com o diretor-geral, Frederico Bruzzi, que afirmou que a estrutura do complexo hospitalar é adequada e só tem problemas pontuais. Sobre a denúncia de falta de instrumentos de trabalho, ele disse que esse também não é um problema recorrente e que só acontece quando há atraso dos fornecedores.
Servidores presentes à reunião questionaram, durante a conversa, uma carta da diretora assistencial da unidade hospitalar, Luciana Laurentys. No texto, ela afirma que os grevistas não estão seguindo as determinações judiciais a respeito do número de funcionários a serem mantidos em atividade e que a “desobediência” será tratada em processo disciplinar.
Presente à reunião, Luciana Laurentys disse que a carta não era uma ameaça, mas um aviso, já que os grevistas estariam retendo pacientes nas salas depois da liberação do médico.
Os servidores presentes, contudo, relataram que a retenção se dava não em função da greve, mas sim porque os médicos determinavam o envio dos pacientes para salas onde não há mais vagas e, assim, pessoas com vários traumas pelo corpo precisavam ficar nos corredores. Os servidores, na maioria enfermeiros e auxiliares, disseram que, nos corredores, era impossível manter a vigilância para atender casos como convulsões e que, por isso, eles estariam se negando a transportar os pacientes.
Falta de insumos é um dos problemas
Ao longo de toda a visita, essa disputa de narrativas se manteve. Representantes da direção alegavam que qualquer transtorno observado era em razão da greve, que já se estende há mais de um mês e meio. Já os servidores reiteravam que os problemas acontecem há anos e estão entre os motivos da paralisação. A falta de esparadrapo durante vários dias, por exemplo, foi salientada por muitos dos funcionários, grevistas e não grevistas, que contaram ser obrigados a usar fita crepe no lugar, material que aumenta muito o risco de infecção.
A direção disse que foi um problema pontual com o fornecedor, enquanto os servidores afirmaram que é uma questão recorrente. Caroline Pereira, mãe de um paciente de 5 anos de idade internado há um mês no Hospital João XXIII, afirmou que um curativo foi feito em seu filho depois de uma cirurgia, finalizado com o esparadrapo, acabou soltando ao longo da noite e a criança precisou ser operada novamente.
Em questionamento posterior, o diretor-geral da instituição, Frederico Bruzzi, desqualificou a denúncia e salientou que, se for verdade, uma comissão interna vai avaliar, mas que se trataria de um caso isolado. Ainda segundo alguns dos servidores, a compra dos insumos não tem sido feita de acordo com padrões técnicos adequados.
Também os banheiros destinados ao uso dos pacientes foram criticados pelos funcionários. Alguns não têm maçanetas e precisam ser fechados com uma faixa médica, que segura as portas. A questão mais grave é a falta de barras de apoio para pacientes que, por serem idosos ou estarem com múltiplas fraturas, não conseguem se equilibrar. Foram relatadas quedas e complicações nos quadros dos pacientes por essa razão.
Muitas irregularidades também foram observadas quanto às condições de trabalho no local. A sala onde é feita a revelação das imagens de raios-x, por exemplo, teve a tubulação por onde circulava o produto químico utilizado no processo danificada. Removida a tubulação, esses produtos passaram a ficar em galões dentro da sala. São materiais altamente tóxicos, perigosos tanto para pacientes quanto para os servidores que trabalham no setor.
A deputada Andréia de Jesus notou que, em poucos minutos dentro do ambiente, já é possível sentir irritação nas vias aéreas. Os banheiros de funcionários também estão em más condições.
Fusão - Outra preocupação dos servidores é a fusão da ala pediátrica do Hospital João XXIII com o Hospital Pediátrico João Paulo II. O governo estadual já publicou uma portaria determinando a fusão e algumas crianças do João XXIII já foram transferidas para o Joao Paulo II.
O objetivo, segundo o diretor-geral Frederico Bruzzi, é otimizar os serviços prestados e aumentar o número de leitos. Os funcionários, porém, questionam a decisão – o que o diretor-geral trata como “medo das novidades”. Eles não se disseram, entretanto, contrários à fusão, mas pediram maior transparência e discussão das decisões.
Andréia de Jesus e Betão, no fim da visita, afirmaram que foi possível observar que os servidores têm razão em suas denúncias. Na avaliação dos parlamentares, é preciso chegar a um acordo para o fim da greve, mas, para isso, o governo tem de garantir, por exemplo, que os abonos salariais não serão descontados dos grevistas.
Sobre a fusão dos hospitais, afirmaram que vão buscar mais esclarecimentos e defenderam uma discussão ampla.