Especialistas que participaram da audiência sugeriram a adoção de critérios aos estudos, sobretudo quanto ao transporte de passageiros
Plano estratégico ferroviário vai propor investimentos até 2035

Planejamento ferroviário de Minas já está em andamento

Estudo vai simular diversos cenários com prognóstico até 2035 para gerar portfólio de projetos prioritários.

23/10/2019 - 20:02

O Plano Estratégico Ferroviário (PEF) de Minas Gerais já está em elaboração. Nesta terça-feira (23/10/19), a Fundação Dom Cabral (FDC), contratada para fazer o estudo, apresentou a metodologia que será usada e também dados iniciais já apurados. O levantamento deve durar 14 meses, com entregas parciais que serão validadas a cada etapa.

A apresentação foi realizada em audiência da Comissão Extraordinária Pró-Ferrovias Mineiras da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) destinada a discutir a parceria entre a Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), que financia o estudo, e o governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade (Seinfra).

O termo de cooperação técnica foi assinado na última semana, conforme destacou o titular da Seinfra, Marco Aurélio de Barcelos. “Não podemos mais ser tachados de sonhadores. Teremos projetos”, sinalizou.

Segundo ele, o portfólio trará as iniciativas priorizadas e com valores, permitindo, inclusive, as discussões com a União, a partir dos recursos advindos da renovação antecipada das concessões de malhas que passam por Minas.

“Essa é a hora definitiva de Minas ser ouvida”, reiterou Marco Aurélio de Barcelos. Ele destacou que o Estado não tem portos e, por isso, precisa das ferrovias para escoar e receber produtos, garantindo a internacionalização dos negócios. O secretário pontuou ainda que o relatório da Comissão Pró-Ferrovias e requerimentos aprovados na reunião também serão base dos estudos.

Esses requerimentos, de autoria de vários parlamentares, pedem a inclusão de diversos trechos, de cargas e passageiros, ou de trens turísticos, nos estudos do PEF.

Oportunidade – Heider Augusto da Silva Gomes, gerente técnico da ANTF, apresentou o escopo técnico do trabalho, que terá horizonte até 2035, e salientou a importância e a oportunidade do PEF, tendo em vista as características da malha mineira e as discussões sobre a renovação das concessões.

Ele citou, entre outros dados, os 1,1 milhão de passageiros transportados em 2018 pela Vitória a Minas (EFVM), da Vale, e o fato de 88% dos municípios mineiros estarem a, no máximo, 100 quilômetros da linha férrea. A ANTF representa seis concessionárias que operam ferrovias no País, entre as quais as três que atuam em Minas: Vale, VLI e MRS Logística.

FDC vai checar sustentabilidade das iniciativas

Diversos projetos ferroviários serão testados pela FDC na mais avançada plataforma de estudos de transporte da América Latina e com o maior banco de dados de controle de vias. Softwares de última geração trazem respostas, por exemplo, sobre a existência ou não de demanda, impactos em empregos, efeitos econômicos e até emissão de gás de efeito estufa, além do georreferenciamento.

“Aqui vão entrar todos os projetos sugeridos. E teremos condições de separar o que pode ser real, do ponto de vista da sustentabilidade”, acrescentou o professor da FDC Paulo Resende. Gargalos e soluções faltantes também serão identificados e comporão o portfólio final. Tudo será precificado, permitindo avaliação sobre a pertinência de investimentos privados ou a necessidade de recursos públicos.

“Minas Gerais não pode mais ser operada apenas como corredor ferroviário. É preciso adicionar valor aqui”, reiterou Paulo Resende. Ele apresentou dados que comparam a produção e o transporte de produtos via ferrovias em Minas para concluir que “alguém rouba nossa carga” e que é preciso investir em novos trechos. Também acentuou a predominância da cadeia do minério de ferro nos trens mineiros, com 94% de todo o transporte.

Os levantamentos apresentados são os primeiros relativos ao PEF e já revelam, também, que Minas perde o transporte da chamada carga geral (manufaturados industrializados), que têm maior valor agregado e menor peso bruto. Também deixa de transportar grãos agrícolas, entre outros produtos.

Passageiros – Especialistas que participaram da audiência sugeriram a adoção de alguns critérios aos estudos, sobretudo quanto ao transporte de passageiros e aos valores agregados de produtos transportados. “Na renovação das concessões temos que ter metas para passageiros. Não pode ser o quartinho dos fundos dos contratos”, reforçou Antônio de Faria, conselheiro da ONG Trem.

O presidente da comissão, deputado João Leite (PSDB), tratou o momento como histórico, também pelo fato de o governo de Minas dispor de uma estrutura específica na Seinfra dedicada às ferrovias. Ele foi o autor do requerimento para audiência, juntamente com os deputados Gustavo Mitre (PSC), Coronel Henrique (PSL) e Antonio Carlos Arantes (PSDB) e a deputada Marília Campos (PT).

Gustavo Mitre, Coronel Sandro (PSL), Luiz Humberto Carneiro (PSDB), Roberto Andrade (PSB), Raul Belém (PSC), Tadeu Martins Leite (MDB) e a deputada Celise Laviola (MDB) se manifestaram na audiência, com demandas para suas respectivas regiões, dentre as quais o contorno ferroviário de Governador Valadares e uma linha que permita escoamento de produtos do Norte de Minas, como as frutas do Projeto Jaíba, medicamentos e minério.

Consulte o resultado da reunião.