Se fosse vivo, Paulo Freire, patrono da educação brasileira e um dos educadores mais respeitados em todo o mundo, estaria completando, nesta quinta-feira (19/9/19), 98 anos. Assim, não foi por acaso que a Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) escolheu a data para visitar a Escola Municipal Professor Paulo Freire, localizada no bairro Ribeiro de Abreu, região Nordeste de Belo Horizonte.

Mas não foi essa a única razão que motivou a visita. Fundada em 2001, a partir do envolvimento da comunidade local no processo de orçamento participativo, a instituição tornou-se referência para o município como a primeira a adotar a educação integrada na Capital, modalidade de ensino que mescla meio período com período integral, cabendo às famílias dos alunos a decisão por aderir ou não ao modelo.

Desde a sua inauguração, a escola, premiada inclusive em nível internacional, tem apresentado resultados muito positivos, provando que é possível, sim, fazer educação pública de qualidade.

“Além de denunciar o que está errado, fazer a luta e a resistência, é preciso também mostrar o que está certo no serviço público. Se não, fica a falsa ideia de que o que é público é ruim. A Escola Municipal Paulo Freire é um exemplo positivo, mostra que o ensino público dá certo”, afirmou a presidenta da Comissão de Educação da Assembleia, deputada Beatriz Cerqueira (PT), autora do requerimento para a visita.

Professora de alfabetização, a deputada ressalta a importância do método de ensino de Paulo Freire, que privilegia as tradições e as raízes culturais da comunidade onde está inserido o aluno, despertando nele “o sentimento de pertencimento, respeito e diálogo” e, desta forma, facilitando o aprendizado.

Escola mantém fortes laços com a comunidade

Localizada numa área populosa, de risco social, na periferia da Capital mineira, a Escola Municipal Paulo Freire destaca-se por manter estreita e saudável relação com a comunidade desde a sua fundação. É também o educandário da rede municipal que mantém o maior número de alunos inclusivos, cerca de 50.

Com 40 professores e funcionando em três turnos, a instituição atende aproximadamente a 850 alunos do Ensino Fundamental I e II, incluindo 70 alunos da EJA, a Educação de Jovens e Adultos, à noite.

Dos 850 estudantes, 347 estão matriculados na modalidade de ensino integrado. São crianças de seis a 14 anos, que estudam pela manhã e permanecem na escola durante o turno da tarde, quando participam de outras atividades lúdicas e pedagógicas.

Além das disciplinas da grade curricular normal, a instituição oferece oficinas diversas, como as de dança, informática e meio ambiente, dispondo de ginásio esportivo, sala de informática, horta e seis minhocários, entre outros espaços de aprendizagem. Aos sábados e domingos, a escola é aberta à comunidade, que participa de atividades esportivas e culturais.

A direção e o corpo docente buscam se envolver com os alunos e “conhecer a história de cada um, suas famílias, sempre visando melhorar a qualidade do aprendizado”, ressalta a diretora Adriana Viana de Souza, há dez anos na instituição. Ela exaltou também a proposta pedagógica do educador Paulo Freire, aplicada na escola.

Mobilização - Esse envolvimento também é nítido nos demais trabalhadores da instituição. A monitora Adalgisa Laura Correia, responsável pela horta, é um exemplo. “Lutamos muito para conseguir esse espaço. Nos mobilizamos, colhemos assinatura para o orçamento participativo e conquistamos”, diz, com orgulho, ressaltando que trabalha na escola desde a sua fundação.

Para os estudantes, o sentimento de pertencimento também é evidente, como admitiram as alunas Thalita Stefany Pereira Silva, 8 anos, e Gabriela Silva Oliveira, 9. Por sua vez, Theresa da Silva Chagas Souza, também de 8 anos, não esconde sua alegria por estar matriculada no ensino integrado, “pra aproveitar cada cantinho da escola”. “Eu não gosto, eu amo a escola”, resume.

Paulo Freire é o terceiro autor mais citado em Ciências Humanas no mundo

Filósofo e professor, o educador Paulo Freire nasceu em Pernambuco, em 1921. Formado em Direito pela Universidade de Recife, acabou se dedicando à educação e escreveu uma vasta obra conhecida e admirada em todo o mundo, sendo agraciado com dezenas de títulos de doutor honoris causa e outras honrarias concedidas por universidades e outras instituições.

Um dos seus livros mais importantes, a Pedagogia do Oprimido, é o terceiro mais citado em trabalhos acadêmicos de Ciências Humanas em todo o mundo.

O educador desenvolveu um método diferenciado para alfabetização de jovens e adultos, utilizado com trabalhadores rurais no Rio Grande do Norte, usando o vocabulário do cotidiano e da realidade deles, além de conscientizá-los sobre seus direitos.

Acusado pela Ditadura Militar de subverter a ordem, foi preso e exilado do Brasil por 16 anos, período em que se manteve atuante como pesquisador e docente, lecionando, inclusive, na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

Nos muros da escola que leva seu nome, a filosofia e a pedagogia do Patrono da Educação Brasileira estão por toda parte, em textos, colagens, desenhos e cartazes. E foi com entusiasmo e alegria que os alunos participaram da homenagem prestada pela escola aos visitantes, cantando, no pátio, o Hino a Paulo Freire.

Semana Paulo Freire - Para homenagear o educador, a escola planejou uma extensa programação, a Semana Paulo Freire, de 14 de agosto a 30 de setembro, da qual fez parte a visita da Comissão de Educação da Assembleia. Da programação constam ainda palestras, oficinas, rodas de conversa e lançamento de livro. Informações pelo e-mail: sp.freire@gmail.com.