A audiência debateu questões como a capacidades produtiva e o equilíbrio ecológico, tornando o sistema alimentar mais sustentável
Parlamentares ressaltaram esforços da ALMG em prol da agricultura orgânica
Agricultores familiares cobram implementação de políticas públicas

Defesa da agroecologia marca audiência pública

Participantes da reunião exaltaram modelo de produção de alimentos sem uso de agrotóxicos.

16/09/2019 - 20:35

O fortalecimento da agroecologia e da segurança alimentar em Minas motivou audiência pública na Comissão de Participação Popular da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta segunda-feira (16/9/19).

Durante a reunião, entidades pediram prioridade no cumprimento de três normas sobre o assunto: a Lei 23.207, de 2018, que institui o Polo Agroecológico e de Produção Orgânica na região da Zona da Mata; a Lei 21.147, de 2014 , que institui a Política Estadual para o Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais de Minas Gerais; e a Lei 21.146, de 2014, que cria a Política Estadual de Agroecologia e Produção Orgânica.

A professora da Universidade Federal de Viçosa e integrante da Associação Brasileira de Agroecologia, Irene Maria Cardoso, fez um panorama da história da agricultura no País, marcada pelo modelo técnico-científico implantado no período da ditadura militar. “Esse modelo nos foi vendido prometendo aumento da produtividade para acabar com a fome do mundo. Porém, a fome e a má nutrição persistem, mesmo com a taxa de produção de alimentos ultrapassando a população mundial. A questão não é a superpopulação, mas sim a pobreza. E esse modelo atual de agricultura é compromissado com os lucros”, explicou. Segundo ela, o conhecimento científico e o popular precisam andar juntos.

A pesquisadora conceituou a agroecologia como um campo do conhecimento transdisciplinar que estuda os agroecossistemas para desenvolvimento das relações entre capacidades produtiva, equilíbrio ecológico e eficiência, tornando o sistema alimentar mais sustentável.

“Precisamos de uma agricultura com menos agrotóxicos. Como fazemos isso? Introduzindo inimigos naturais das pragas para atuarem, no lugar de usarmos químicos. É possível de ser feito e teremos comida mais saudável nas nossas mesas”, pontuou.

O superintendente de Integração e Segurança Alimentar da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese), Henrique Oliveira Carvalho, ressaltou a necessidade de fortalecimento de órgãos como a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater), o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) e a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), que são os “braços operacionais do Estado” na área de agricultura familiar.

“Sem esses braços e recursos humanos e financeiros, não dá para entregar o que precisamos. Tem um concurso da Emater que está para chamar pessoas e não conseguimos. Contamos com a ALMG para nos ajudar a universalizar essas políticas para todo o Estado”, completou.

Questão agrária - A diretora do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), Ester Hoffmann, ressaltou que no País terra sempre foi sinônimo de poder, concentrada nas mãos de poucos.

“Falar em agroecologia é falar em questão agrária. Os poderosos implementaram esse modelo de agricultura pautado no agronegócio, pensando em lucro. Os pequenos agricultores querem produção de vida, a agroecologia é esse modelo. É possível, sim, alimentar a humanidade de forma saudável”, completou.

Compareceram à reunião os deputados Andréia de Jesus (Psol), Antonio Carlos Arantes (PSDB), Cristiano Silveira (PT), Beatriz Cerqueira (PT), Professor Cleiton (PSB), Betão (PT) e Leninha (PT), além dos deputados federais Margarida Salomão (PT-MG), Padre João (PT-MG), Leonardo Monteiro (PT-MG), Vilson da Fetaemg (PSB-MG) e Rogério Correia (PT-MG). Eles exaltaram a agricultura familiar e destacaram a necessidade de incentivá-la.

Os deputados anunciaram a criação, na ALMG, da Frente Parlamentar em Defesa da Agroecologia, Agricultura Familiar e Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável, para apoiar e fortalecer a luta das entidades, movimentos e coletivos da sociedade civil que atuam nessas áreas.

O deputado federal Vilson da Fetaemg destacou que, atualmente, a agricultura no Brasil está sendo colocada “dentro de um pacote”, mas a agricultura familiar nunca será a mesma coisa que o agronegócio.

"Nós estamos preocupados com a natureza, o governo federal não. Queremos colocar na mesa do povo alimentos saudáveis e seguros”, declarou. A deputada Leninha enfatizou que a Frente Parlamentar trabalhará para que Minas se torne um Estado referência para a segurança alimentar.

Consulte o resultado da reunião.