Alunos, professores e gestores da Escola Estadual Santos Dumont foram ouvidos pelos deputados

Corte de turmas em escola de Venda Nova gera transtornos

Durante visita da Comissão de Educação, alunos e professores relataram superlotação de salas e perdas no aprendizado.

28/08/2019 - 20:40

Professores e alunos da Escola Estadual Santos Dumont, na região de Venda Nova, em Belo Horizonte, reclamaram da redução de sete turmas no estabelecimento, o que provocou inúmeros transtornos. Já a direção da escola e a superintendência responsável, Regional de Ensino Metropolitana C, alegaram que a redução se deu com a fusão de classes que tinham cerca de 30 alunos e foi influenciada pelo grande número de transferências e pela evasão escolar.

Todos eles participaram de visita que a Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) fez à instituição na tarde desta quarta-feira (28/8/19). Solicitado pela presidente da comissão, deputada Beatriz Cerqueira (PT), o encontro teve ainda a participação dos deputados Betão (PT) e Bartô (Novo), respectivamente vice-presidente e membro da comissão.

Segundo Beatriz Cerqueira, o corte no número de turmas decorre de medida adotada pelo Governo de Minas com base na Lei estadual 16.056, de 2006, a qual permite que cada sala na rede estadual tenha até 40 alunos. Por sua vez, o deputado Bartô avaliou que a decisão teve que ser tomada em função da crise que o Estado enfrenta.

Superlotação - Os parlamentares se reuniram separadamente com alunos, professores e gestores da escola, que tem turmas apenas do ensino médio. Entre os primeiros foi comum a reclamação de que estavam em turmas superlotadas em salas muito pequenas. Vários deles disseram que, mesmo antes da fusão, o espaço já era insuficiente.

Laura Camilo, do 3º ano noturno, criticou ainda o modo autoritário como a medida foi adotada, sem comunicação prévia à comunidade escolar. Ela lembrou que, este ano, fará o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e a mudança brusca a prejudicará, bem como a todos os seus colegas. Na nova classe onde foi encaixada, foram colocados 39 alunos, sendo que na anterior, eram 30.

Outros estudantes abordaram o problema dos alunos com deficiência intelectual: a escola tem cerca de oito com autismo e nem todos contam com professor de apoio. Dayane Ketelen, do 2º ano da E.E. Geraldina Gomes reclamou que a realidade das escolas estaduais, que já não era boa, foi piorada com a mudança. Ela reclamou que é comum faltar material didático para os professores, além de cadeiras e mesas.

Os parlamentares entraram em algumas salas de aula e confirmaram a superlotação, atrelada a um agravante: como o quadro não fica no sentido longitudinal do espaço, as fileiras de alunos são muitas e os que se sentam no canto não conseguem ler o que está escrito. Além disso, com a fusão, estudantes têm que ficar praticamente “colados” ao quadro e o professor conta com espaço mínimo para circulação.

Professores reclamam das perdas no aprendizado

Na reunião com professores, além das queixas de superlotação e mudança sem o devido tempo para adaptação, muitos lamentaram que ficarão com pouquíssimas aulas na escola, o que compromete seus planos. Há casos de docentes que tinham 16 turmas e passaram a ter apenas quatro, com a dificuldade adicional de que a medida foi tomada no meio do ano, o que torna sua situação ainda mais instável.

A professora Sérgia Sapori destacou os danos pedagógicos que a escola enfrentará com a mudança abrupta e extemporânea. Os planos de aula e de projetos são sempre realizados antes do início das aulas, no começo do ano e, desta vez, terão que ser refeitos, adaptados, com perdas no aprendizado dos estudantes.

Transferências - Em outro momento, a diretora da E.E. Santos Dumont, Naihara Dutra, justificou a fusão de turmas ao informar que, do início do ano até agora, 350 estudantes de um total de 1560, pediram transferência para outras escolas e outros 28 desistiram de estudar.

Ela acrescentou que foram fechadas duas turmas de manhã, duas à tarde e três à noite, sendo duas do primeiro ano, duas do segundo e três do terceiro. Afirmou ainda que entende a insatisfação da comunidade escolar, mas ponderou que a direção está adotando as medidas com o maior cuidado possível de forma a reduzir os transtornos.

ENEM - Em entrevista à TV Assembleia, Beatriz Cerqueira avaliou como inacreditável a falta de sensibilidade do governo estadual com a Escola Santos Dumont. Para ela, a mudança prejudica muito os alunos, que são obrigados a se apertarem em salas pequenas. O prejuízo ainda seria maior para os estudantes do último ano, que terão que fazer o Enem, após todo esse tumulto. “Vamos tentar reverter essa situação e buscar soluções junto ao Ministério Público do Estado”, propôs.

Na mesma linha, o deputado Betão disse que tem familiaridade com os problemas da educação pública no Estado, por ser também professor. Ele afirmou que a comissão vai lutar pela revogação da medida.

Já o deputado Bartô considerou precária a situação da escola e inadequada a forma como foi tomada a decisão governamental, no meio do ano, gerando transtornos. “Mas o governo está com uma situação financeira complicada e foi obrigado a fazer assim”, defendeu. Sobre a quantidade de alunos por turma, ele avaliou que os parâmetros atuais talvez devam ser rediscutidos para se chegar a um número mais adequado.