Fiocruz é referência em pesquisas epidemiológicas, como sobre a febre amarela e a dengue

Comissão defende pesquisa como caminho para desenvolvimento

Em visita à Fiocruz, parlamentar quer começar agenda de divulgação dos impactos da ciência no cotidiano das pessoas.

19/08/2019 - 15:02

“Pesquisas autônomas e isentas são essenciais para garantir qualidade de vida para a população e, nesse momento em que a ciência é colocada em descrédito, precisamos deixar claro para as pessoas como essas pesquisas impactam nas suas vidas”, disse a deputada Beatriz Cerqueira (PT) na primeira de uma série de visitas que a Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) deve realizar nas próximas semanas.

A primeira organização que recebeu a comissão foi o Instituto René Rachou, unidade mineira da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ao longo da manhã desta segunda-feira (19/8/19), a diretora do Instituto, Zélia Profeta, falou aos visitantes sobre a história da instituição, suas principais atividades e alguns dos seus resultados já alcançados.

Referência em pesquisas epidemiológicas, como sobre a febre amarela e a dengue, o instituto tem atuado também em questões de saúde coletiva, como estudos a respeito do envelhecimento da população.

Foi por meio de pesquisas realizadas pela Fiocruz, com participação intensa da sua unidade mineira, que se descobriu, por exemplo, que a vacina contra a febre amarela aplicada em concentração dez vezes menor tem o mesmo efeito benéfico que sua versão concentrada, até então utilizada.

Assim, possibilitou-se que, em meio às últimas epidemias da doença, o Poder Público pudesse fornecer vacinas a um número pelo menos duas vezes superior de pessoas sem aumento de custos.

Atualmente, os pesquisadores do Instituto René Rachou estão buscando, por exemplo, formas de utilização de remédios contra leishmaniose que tenham menores efeitos colaterais.

Outra área importante de atuação agora, mais ligada à saúde coletiva, é o estudo de longo prazo a ser realizado com as populações afetadas pelo rompimento da barragem de Vale em Brumadinho, em janeiro deste ano. Ao longo de 20 anos, 4 mil pessoas serão acompanhadas para se saber como a tragédia afetou sua saúde física e mental.

“As mineradoras não querem que ninguém saiba as consequências dos seus crimes, assim, essas pesquisas são fundamentais”, elogiou Beatriz Cerqueira. Será o primeiro estudo de longo prazo com vítimas de desastres de grandes proporções como esse no Brasil.

Zélia Profeta, assim como outros pesquisadores que acompanharam a visita, ressaltaram que a instituição é parte do Sistema Único de Saúde (SUS) e oferece subsídios não só para produção de medicamentos ou vacinas, mas também para proposição de políticas públicas de saúde a partir, por exemplo, do mapeamento de áreas de incidência epidemiológica ou de aumento da idade média da população.

Corte de recursos terá efeitos para a ciência e para a renda dos estudantes

Também foi assunto tratado na visita as ameaças às atividades em função de cortes orçamentários federais e estaduais. De acordo com Zélia Profeta, a Fiocruz está ligada ao Ministério da Saúde, que fornece recursos para o funcionamento básico, com pagamento, por exemplo, de contas de água ou de rações para animais que participam das pesuquisas. Já os estudos em si são, em sua maioria, financiadas por agências de fomento a partir da participação dos pesquisadores em editais dessas agências. Esses últimos estão, agora, sob ameaça.

A principal agência fomentadora, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPQ), já deixou de publicar editais no início deste semestre e anunciou que, caso não seja feito um repasse de mais de R$ 200 milhões pelo governo federal, não será possível pagar as bolsas de pesquisa já ativas até o fim deste ano. Isso, segundo a diretora do Instituto René Rachou, pode descontinuar estudos importantes.

Também no âmbito estadual, há problemas: segundo ela, as mais de 5 mil bolsas oferecidas pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) já foram canceladas.

Segundo Zélia Profeta, são dois os problemas. Além do prejuízo para o desenvolvimento científico do País, o fim dos financiamentos geram problemas sociais ao retirar dos estudantes sua principal forma de sustento.

A deputada Beatriz Cerqueira reforçou que mostrar à população o que fazem os cientistas e como seu trabalho impacta na vida diária de cada um é o principal desafio no momento para combater o discurso que desmerece o conhecimento científico e o coloca como menos importante.

A pesquisadora e professora da UFMG Adelina Reis, que também acompanhou a visita, lembrou que a ciência é, inclusive, um caminho para ampliar a arrecadação de recursos pelo País por meio do desenvolvimento cientifico.

“Em outras épocas, países que enfrentavam grandes crises finaceiras optaram por investir mais na ciência como forma de enfrentar o problema – e conseguiram. É o caso, por exemplo, da Coréia do Sul. Nós estamos na contramão”, disse.