Reunião que debateu o movimento junino no Estado foi aberta com apresentação de crianças da Quadrilha Infantil Balão Dourado, do bairro 1º de Maio, na Capital
Convidados e autoridades destacaram importância do movimento para a cultura

Grupos de quadrilha cobram apoio para festival estadual

Movimento junino reivindica que evento tenha data confirmada e recursos para viabilizar participação.

08/07/2019 - 23:50 - Atualizado em 09/07/2019 - 11:27

Com mais de 200 grupos de quadrilheiros estimados em Minas, cerca de 40 deles em Belo Horizonte, o movimento junino cobrou nesta segunda-feira (8/7/19) apoio do governo para a realização do festival estadual de quadrilha e defendeu, ainda, a criação do Dia Estadual do Quadrilheiro como forma de valorizar essa tradição cultural de Minas. 

As reivindicações foram apresentadas em audiência realizada na presença de diversos grupos, entidades do movimento e gestores públicos, que discutiram na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) a importância das manifestações juninas.

O debate, realizado na Comissão de Cultura, a pedido da deputada Ana Paula Siqueira (Rede), foi aberto com uma apresentação de crianças da Quadrilha Infantil Balão Dourado, do bairro 1º de Maio, na Capital, que emocionou a platéia.

“Essa quadrilha alegrou a reunião e traduz o ambiente junino que queremos fortalecer em Minas”, contrapôs a parlamentar ao cenário de incertezas que quadrilheiros expuseram quanto à indefinição de recursos que garantam a realização do festival estadual deste ano.

A deputada se solidarizou com as cobranças. “Pensar em movimento junino não é só falar de dança ou de espetáculo, mas também ter em mente que esse é um tipo de manifestação da cultura popular que mobiliza famílias e movimentos comunitários, muitas vezes se transformando em projetos sociais importantes em suas localidades”, frisou a parlamentar.

Foi nesse sentido que ela defendeu um novo olhar dos gestores públicos para o movimento e frisou ter apresentado projeto que institui o dia 1º de junho como o Dia Estadual do Quadrilheiro Junino, a exemplo do Dia Municipal e do Dia Nacional, já existentes em Belo Horizonte e no País.

Trata-se do Projeto de Lei (PL) 161/19, que segundo destacou a parlamentar é uma reapresentação de projeto anterior, de autoria do ex-deputado Paulo Lamac.

Belo Horizonte quer sediar concurso nacional

Hoje vice-prefeito de Belo Horizonte, Paulo Lamac também defendeu o movimento dizendo que as quadrilhas, além de sua importância cultural, têm ainda grande potencial turístico e econômico.

“Em que pesem as dificuldades econômicas do Estado, essa cultura não pode ser vista como despesa, e sim como investimento num ativo dos mais importantes”, defendeu ele, para quem a cultura junina é ainda essencial como identidade mineira.

Nesse sentido, o vice-prefeito disse ser necessário valorizar e divulgar melhor as quadrilhas mineiras no País e anunciou esforços da Prefeitura de Belo Horizonte para trazer para a Capital em 2020 o concurso nacional de quadrilhas, que este ano tem como sede a cidade de Brasília.

“Precisamos mostrar para todos que temos um dos cinco principais festejos juninos do País”, disse ele, lembrando do tradicional Arraiá de Belô, cuja edição deste ano foi encerrada neste final de semana.

Incertezas - Na mesma direção, Jadison Nates, presidente da União Junina Mineira, disse que o arraial de Belo Horizonte é o concurso de quadrilha mais antigo do País. Segundo ele, a tradição junina em Minas iniciou sua história há mais de quatro décadas, sendo que poucas quadrilhas do Nordeste do Brasil teriam isso de vida.

Se na Capital ele aponta um cenário mais positivo, no Estado vê incertezas. “No País o protagonismo da quadrilha é de Minas, mas vivemos esse momento delicado na expectativa do nosso festival estadual”, criticou Jadison.

O mesmo sentimento foi partilhado pelo presidente do grupo Arraiá do Pequizá, de Montes Claros (Norte de Minas), Rafael Borges. Segundo ele, seu grupo, criado há 17 anos, tem participado de festivais desde 2011, é tetracampeão do festival estadual e bicampeão do concurso regional, sendo formado por 50 integrantes que este ano estão sem saber qual será o próximo passo.

Posição do Estado não satisfaz entidades

A representante da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo, Ana Tereza Fernandes, disse que apoiava a criação do Dia Estadual do Quadrilheiro por entender que símbolos contribuem para o fortalecimento de movimentos importantes.

Quanto a investimentos, contudo, ela disse que há cerca de um mês a pasta recebeu solicitação de apoio ao festival estadual de quadrilha, mas afirmou que o atendimento à reivindicação esbarraria em impedimentos financeiros.

“Hoje não dispomos de mecanismos de aporte direto de recursos, mas podemos dar apoio institucional”, afirmou ela, argumentando que o mecanismo vigente está calcado na legislação de incentivo à cultura, mediante a aprovação de projetos.

Ela acenou com a construção futura de possíveis formas de fomento, fala que motivou vários protestos de grupos de quadrilheiros quanto à indefinição para este ano.

Ana Tereza respondeu se dizendo solidária ao movimento e tocada pelos desafabos e relatos emocionados. Ao mesmo tempo, pediu o apoio de deputados, por meio de emendas parlamentares destinadas a fortalecer os movimentos de quadrilheiros, e ainda à ALMG, de forma a rever ou sugerir novas formas de incentivo à cultura.

Entre futuras ações da pasta, ela cogitou a oferta de capacitação de grupos de quadrilheiros, para que eles possam buscar mecanismos de incentivo financeiro de forma mais planejada.

Desabafo - “Ensaiamos o ano inteiro, a lei de incentivo para a cultura popular do mais pobre não funciona”, desabafou Claúdio Márcio Silva, do grupo Arraial do Sem Nome, surgido no bairro Minaslândia, em Belo Horizonte.

Por sua vez, Thiago Lemos, Do Pé na Braza, grupo de Santa Luiza (RMBH), indagou o que as famílias fariam com os vestidos e roupas que vem sendo confeccionadas desde o fim do ano passado à espera do festival mineiro. 

Assim como outros quadrilheiros, Thiago ainda disse que o grupo já não conta com o apoio de seu município, tendo conseguido participar de eventos muito devido ao esforço e empenho pessoal do grupo, além do estímulo da prefeitura da Capital por realizar festividades juninas na cidade.

Entre requerimentos a serem apresentados à comissão sobre o assunto, a deputada Ana Paula Siqueira disse que pedirá que a Secretaria de Estado de Governo se empenhe em articulações que possam resultar na realização do festival deste ano.

Consulte o resultado da reunião.