Moradores de Sarzedo temem rompimento de barragem
Eles relataram, em audiência da Comissão de Direitos Humanos, descaso do poder público e da mineradora Itaminas.
28/05/2019 - 12:55Representantes da população de Sarzedo (Região Metropolitana de Belo Horizonte) relataram descaso por parte da prefeitura da cidade, de vereadores e da mineradora Itaminas Comércio de Minérios, responsável pela Barragem B4, que fica no município. Eles participaram de audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), realizada na noite de segunda-feira (27/5/19), com o objetivo de discutir os impactos da mineração na cidade.
Representando a Comissão dos Moradores de Sarzedo pelo Fim das Barragens, Henrique Lazarotti de Oliveira explicou que, desde 2017, já circulavam pela cidade rumores sobre o risco de rompimento da Barragem B4, que fica próxima de onde era a barragem da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho (RMBH), rompida no dia 25 de janeiro deste ano.
“O poder público e a empresa estão totalmente despreparados para lidar com essa situação. Queremos interesse da empresa e da prefeitura de Sarzedo pela vida das pessoas. Nos sentimos abandonados. A Itaminas não comprou nem instalou as sirenes, não fez treinamento da população, não instalou placas de advertência", disse ele.
O coordenador da Comissão Pastoral da Terra de Minas Gerais, frei Gilvander Luís Moreira, defendeu o fim do modelo de mineração vigente e um processo de licenciamento ambiental mais transparente, além da desativação das barragens e a indenização pelos danos causados. “O Ministério Público precisa defender o povo, não o capital”, enfatizou.
Comunidade relata drama de viver com medo de nova tragédia
Militante do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Ravel Marques afirmou que os municípios mineiros não podem mais depender da mineração para se desenvolver. “Precisamos investir em agroecologia, turismo e investir em conhecimento, nos diversos potenciais que nosso município tem. Estamos vivendo um pesadelo. Pessoas dormindo dentro de carros em Barão de Cocais com medo do desabamento da barragem. Estamos psicologicamente muito abalados”, declarou.
"É um drama que não desejo a ninguém. Estamos vivendo os três estágios da mineração: o risco de abrir uma nova mineradora, o risco da barragem romper e a dor cotidiana do que ocorreu em Brumadinho, muito próximo de nós", relatou o agricultor e morador de Sarzedo Bruno Lopes.
Diálogo - O presidente do Sindicato dos Servidores Públicos do Meio Ambiente (Sindsema), Adriano Tostes de Macedo, falou pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e trouxe informações relativas à fiscalização da barragem em Sarzedo.
Ele disse que a Lei 23.291, de 2019, que institui a Política Estadual de Segurança de Barragens e teve origem no Projeto de Lei 3.676/16, da Comissão Extraordinária das Barragens da ALMG, trouxe mais clareza sobre quais elementos considerar, com relação à análise de licenciamentos.
“Todas as questões estão sendo consideradas. A B4 está com a operação paralisada, o licenciamento retido, os técnicos estão analisando. O processo está suspenso pela secretaria”, esclareceu. Adriano Macedo também falou da intenção da secretaria de ouvir a população e estabelecer com ela um diálogo direto.
Alerta - A deputada Beatriz Cerqueira (PT) disse que a Itaminas não participou da reunião porque não foi convidada, pois o objetivo da audiência era ouvir a população livremente, sem a relação de poder com os moradores que a empresa estabelece.
“O crime da Vale em Brumadinho acendeu um alerta. Não confiamos nas informações que eles estão nos fornecendo. Eles criam inimizade dentro da comunidade, é assim que eles atuam e sobrevivem dentro dos nossos territórios, nos dividindo. Não podemos permitir, temos de nos unir. E fico feliz com a intenção de diálogo apresentada pela secretaria”, ressaltou.
O coordenador do Núcleo de Vulneráveis em Situação de Crise (DPMG), Antônio Lopes de Carvalho Filho, recomendou que a comunidade procure técnicos de sua confiança para fazer a transcrição das informações repassadas da linguagem técnica para uma linguagem compreensível. “Precisamos de um fluxo de informações que sejam seguras e confiáveis e aí buscar construir um sistema de reparação justo, efetivo e eficiente. Essa equação com socialização do prejuízo e privatização dos lucros está errada”, afirmou.