Parlamentares da CPI ouviram moradores de Brumadinho que tiveram suas vidas afetadas pelo rompimento da barragem da Vale
Em visita, moradores da comunidade do Pires disseram estar apreensivos com obra da mineradora

Obra para acomodar resíduos preocupa moradores de Brumadinho

Vale estaria preparando terreno para receber a lama depositada no Paraopeba, proveniente do rompimento de barragem.

20/05/2019 - 20:15

Relatos de dor, perdas e preocupação com o presente e o futuro marcaram uma visita e uma audiência pública que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Barragem de Brumadinho realizou, nesta segunda-feira (20/5/19), no município da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

A preocupação mais imediata atinge os moradores da comunidade do Pires, receosos acerca de uma obra que a mineradora Vale faz próximo ao local em que vivem, supostamente para abrigar resíduos do rompimento da Barragem B1 da Mina Córrego do Feijão. A estrutura se rompeu em 25 de janeiro, causando a morte de mais de 200 pessoas e devastação ambiental.

Na visita, os parlamentares da CPI da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) ouviram os relatos da comunidade do Pires, enquanto na audiência, foram ouvidos os moradores do Córrego do Feijão e do Parque da Cachoeira.

Segundo denúncia apresentada aos deputados, a cerca de um quilômetro da comunidade do Pires, situada perto do Centro de Brumadinho, está sendo desmatada pela Vale uma grande área recém-adquirida pela empresa, com a finalidade de receber os resíduos da barragem rompida, que atualmente se encontram no fundo do Rio Paraopeba.

De acordo com moradores da comunidade, para cumprir ordens judiciais de limpeza do rio, a mineradora pretende acomodar os resíduos dentro de sacos impermeáveis e enterrá-los na área. A movimentação de terraplanagem nesse local causou apreensão entre os moradores, que querem ser removidos de lá. São cerca de 68 famílias, em torno de 200 pessoas.

“Como vamos confiar na palavra deles? A barragem era segura. Éramos agricultores, agora não podemos usar a água do rio, quem tinha plantação não pode colher mais nada. A obra lá em cima traz trincas para nossas casas, estamos sofrendo com alergia, poeira, epidemia de dengue”, relatou Rosilene Fonseca, moradora da comunidade .

Desrespeito - Na audiência pública, os relatos continuaram, com muitas reclamações de descaso por parte da mineradora. Moradora do Córrego do Feijão, a comerciante Sarah Souza disse que as comunidades impactadas foram esquecidas e a Vale “não sabe o que fazer” com os atingidos pelo desastre.

“Os nossos filhos foram os mais afetados. Não conseguem expressar a raiva que estão sentindo. Nosso lençol freático foi comprometido, nossa vida acabou e somos tratados como criminosos e idiotas. Nunca fomos à Vale pedir nada esses anos todos. Estamos sendo desrespeitados”, afirmou.

A deputada Beatriz Cerqueira (PT) acusou a mineradora de provocar divisões nas comunidades atingidas, para controlar as informações sobre a tragédia e evitar que os moradores se organizem. “Eles mentem, omitem, não se importam com a vida, se autoprotegem e cuidam para que seja difícil chegar à responsabilização dos culpados. Não foi o primeiro crime desse tipo e, se nós não tomarmos cuidado, não será o último”, declarou a parlamentar.

O deputado Bartô (Novo) pediu às pessoas que continuem mobilizadas e não parem de lutar por seus direitos.

O deputado André Quintão (PT) alertou para o perigo das negociações individuais com a empresa, levando as vítimas a desistirem de reparações coletivas futuras. “Quem aceita está desesperado, mas esquece do peso das consequências, como doenças que ainda podem surgir”, disse.

O deputado Noraldino Júnior (PSC) prometeu empenho da CPI na busca pelos culpados do rompimento da barragem.

O presidente da comissão, deputado Gustavo Valadares (PSDB), reforçou o papel da CPI. “Não cabe a nós prender ninguém, mas sim investigar. E buscar aprimoramento da nossa legislação ambiental, para evitar que essa tragédia se repita. No relatório final, temos a expectativa de encaminhar recomendações”, declarou.

Consulte o resultado da visita e da reunião.